Tag Archive for: qualidades do líder

Competência do treinador [Subscrição Anual]

“A sorte é quando a competência encontra a oportunidade.”

(Elmer Letterman)

 

 

Publicamos um novo tema. Desta vez publicamos sobre a Competência do Treinador. Por vezes algo pouco claro e abstracto, aqui procuraremos identificar o que de facto traz competência a um Treinador de Futebol.

O tema Competência do Treinador, no nosso trabalho, situa-se em:

Este tema é constituído pelos seguintes capítulos:

  1. A sorte na competência ou… a competência na sorte?
  2. Uma missão concreta, porém… desafiadora
  3. Compreender a tão aclamada… competência
  4. As qualidades que alicerçam a competência
  5. A competência enquanto um todo complexo
  6. A competência, o rendimento e o resultado
  7. A competência e a comunicação

Deixamos alguns excertos do tema Competência do Treinador.

Perante tal complexidade do fenómeno, engana-se redondamente aquele que pensa que a função do treinador de Futebol é básica e simples, como por vezes assistimos nos meios de comunicação social. Em determinada fase da evolução do jogo, estava mesmo difundida a ideia errada de que o treinador era apenas uma mera peça na “engrenagem” da equipa, dependendo o seu trabalho de forma quase exclusiva da qualidade dos seus jogadores, e que podia facilmente ser substituído por outro seu par. Os autores (Jordi Urbea, et al., 2012), descrevem que “Pep Guardiola e o Barça, e Mourinho e o Real Madrid deram importância ao que representou Helenio Herrera relativamente à forma de influenciar e revolucionar o mundo dos bancos de suplentes. Não foram os únicos, mas a sua projecção mediática ajudou a que hoje já não se olhe para um técnico como uma pessoa que fala em público e coloca onze jogadores em campo. Não. Agora entendemos que os mesmos jogadores alcançam resultados diferentes com treinadores diferentes. Teria o Barcelona ganho seis títulos na mesma época sem Guardiola? Teria o FC Porto sido capaz de ganhar a Liga dos Campeões sem Mourinho? Teria a Espanha ganho o Mundial sem Vicente del Bosque? Ou o Europeu sem Luis Aragonés? Não, seguramente que não”. Assim, ao longo de várias décadas, acentuando-se nos últimos anos, assistimos a lideranças técnicas de enorme sucesso que transformaram equipas, até aí sem sem grandes resultados desportivos, em equipas históricas, sublinhando assim a importância do treinador no Futebol.

(…)

Neste sentido, os autores (Maria Brandão, et al., 2009) referem que “alguns autores (Brandão & Valdés, 2005) complementam, afirmando que treinar desportistas requer um planeamento meticuloso, criativo, reflexivo, com uma filosofia sólida, amor pelo desporto e ser capaz de conhecer as diferentes características psicológicas e comportamentais dos membros do grupo. Em suma, o treinador é o ponto de equilíbrio entre dois tipos de unidades, a organização ou clube a qual deve cumprir as suas exigências em termos de produção e rendimento e, os atletas, os quais precisa de influenciar e motivar, assegurando-se de que as suas necessidades e aspirações são atingidas e de que estão satisfeitos com a sua participação na equipa ou organização (Cruz & Gomes, 1996). Deste ponto de vista, fica claro, que é preciso que o treinador ou líder seja sensível, não só às exigências da tarefa, mas também às pessoas envolvidas”. Os mesmos autores, acrescentam ainda que “estudos realizados por pesquisadores da The Ohio State University, nos Estados Unidos da América, sobre o comportamento do líder bem-sucedido perante o seu comportamento, apontam que os líderes mais eficientes são aqueles que propiciam a manutenção e realização dos objetivos comuns de sua equipa de trabalho nas duas dimensões comportamentais de liderança: execução de tarefas e relações sociais (Simões, 1994; Simões et al., 1993)”. O treinador Gérard Houllier em (UEFA.com, 2012), explica que “para nos tornarmos médicos temos que tirar o respectivo curso. Para se ser um professor é preciso treinar. Para se ser engenheiro é preciso treinar. Ser treinador é um trabalho à parte. É preciso treinar e gerir a nossa equipa e também é preciso treinar o staff técnico que está por detrás da equipa, o staff técnico e o staff médico, por vezes até a equipa administrativa ou de análise de jogos. Um treinador é um gestor, um líder e um treinador no terreno de jogo”.

(…)

Um jornalista não identificado, aponta ao autor (Nuno Pinho, 2009), existirem três dimensões que me parecem vitais:

  • conhecimento do jogo nas múltiplas acepções,
  • o domínio do treino em vista ao modo mais eficaz de reproduzir as suas consequências no jogo e
  • capacidade para liderar, na qual tem lugar decisivo a capacidade de comunicar (para dentro e fora do grupo).

Esta é uma visão na qual nos revemos, não só pelo conteúdo de cada dimensão, mas antes ainda pelo próprio conceito “dimensão“. Procurando ir mais fundo, no domínio da função do Treinador, portanto no domínio da sua competência, podemos então destacar três grandes áreas. Uma composta pelo auto-conhecimento e domínio de si próprio em usufruto das «relações humanas» que estabelece com a equipa e com o seu meio envolvente, as quais se constituem nas suas relações de Liderança. Outra, composta pelo Conhecimento do Jogo que possui, a sua sistemática, história e contexto cultural. Todo este conhecimento para convergir numa Ideia de Jogo rica, que traga à equipa organização, mas que simultaneamente não a torne mecânica e incapaz de dar resposta à aleatoriedade e caoticidade do jogo. Por outro lado, uma Ideia, que tenha também em conta a sua adaptação ao tal “espaço” / contexto e “tempo” / evolução do jogo. Por último, uma outra composta pelo conhecimento e desenvolvimento de uma Metodologia, portanto, uma forma rentável de trabalhar nas sessões de treino, para que a equipa e todas as suas sub-estruturas, adquiram a Ideia / Organização / forma de jogar. Tudo isto, para que um derradeiro objectivo se concretize: “jogar bem”, e que o mesmo se manifeste com regularidade. Assim, em concordância com estas ideias, enquadramos:

  • As relações humanas no contexto da gestão de Equipas, Empresas e outras organizações similares, na dimensão: Liderança;
  • A forma como, uma equipa técnica, transmite ideias à equipa e desenvolve todo o trabalho técnico no clube, na dimensão: Metodologia;
  • O conhecimento da modalidade, dos seus contextos culturais e fundamentalmente do próprio jogo. Conhecimento esse que consubstancie uma organização teórica do jogo para a equipa, ou seja, uma concepção táctica-estratégica que procure aproximar a equipa do sucesso, na dimensão: Conhecimento do Jogo.

(…)

“(…) a competência do treinador exprime-se pela capacidade de encontrar uma forma racional de organização do treino numa situação real e traduzi-la num programa concreto (Verchoshanskij, 2001c).”

(Jorge Braz, 2006)

(…)

Dimensões da intervenção do treinador e Modelo de Jogo.

(…)

Assim sendo, torna-se importante clarificar que a competência é algo mais, ou melhor, anterior ao resultado desportivo. E que rendimento pode não significar resultado. Não só o resultado do processo de um treinador é naturalmente dependente do contexto, ou seja, dependente da qualidade dos jogadores e da estrutura envolvente, como também é influenciado por condições externas ao processo, praticamente impossíveis de controlar pelo Treinador. O melhor exemplo será a qualidade dos adversários. Ninguém compete sozinho. Por outro lado, o próprio resultado é relativo. Diferentes equipas e mesmo clubes, terão certamente objectivos mais ou menos diferentes entre si. Não existem duas realidades exactamente iguais.

(…)

“[Um bom treinador] é em primeiro lugar, um gestor de conhecimento. Tem de se dizer isto, porque nós vivemos na sociedade do conhecimento. Uma pessoa que saiba organizar e organizar-se. Se sabe que vai treinar pessoas e não objectos, deve organizar-se mais para dirigir do que para comandar. Quem dirige põe os outros a pensar com ele, quem comanda normalmente não ouve os outros e quem ouve os outros aprende muito com eles. O treinador é especialista em humanidade.”

(Manuel Sérgio, 2017)

Formação e experiência do Treinador de Futebol [Subscrição Anual]

Publicamos um novo tema para subscrições Saber Sobre o Saber Treinar. Como sub-tema de Liderança / Qualidades do líder, desenvolvemos o pensamento sobre a formação e experiência do Treinador de Futebol. Que perfil para determinado contexto? E uma discussão recorrente: o que se torna mais importante, a experiência enquanto jogador ou a formação académica?

Capítulos:

  1. A escolha do perfil do treinador
  2. A experiência como jogador
  3. O conflito
  4. A academia e a competência
  5. Os cursos de treinadores
  6. No final do dia… a competência

“Supomos também necessário, assumir, que é importante ultrapassar a habitual desvalorização do conhecimento do senso comum “dos-do-terreno”, quando se hierarquiza ao nível do domínio científico sobre futebol. Convirá ainda, pensamos, não identificar o pretenso alto nível da hierarquia com fidelidade do saber académico, e o outro com “empirismos”, se estamos empenhados nas questões do conhecimento do futebol. O “pensar” não me parece que seja, atributo de alguma classe particular…”

(Vítor Frade, 1990)

Valores humanos – Capítulo VII – A transmissão de valores [Subscrição Anual]

Finalizamos o tema Valores humanos, com o seu sétimo capítulo – “A transmissão de valores“. Como referimos na publicação anterior, voltaremos ao tema no futuro, principalmente para aprofundar os valores que entendemos ser fundamentais. Não só na dimensão colectiva, mas também na individual. Não só no papel de treinador mas primeiramente enquanto seres integrados numa sociedade. Perante esta ideia, voltamos a sentir a teia complexa em que nos movemos e a interdependência de todas as dimensões humanas. Nesta linha de pensamento, se podemos analisar, teoricamente, os valores humanos do ponto de vista abstracto, por outro lado, no “terreno”, se nos orientamos pelo tal Supraprincípio da Especificidade, para que a comunicação seja coerente e específica do Futebol, os valores terão que se manifestar em em todas as atitudes e ideias transmitidas pelo treinador. A tal noção de teia complexa, de interdependência e de interactividade leva-nos a este rumo. Portanto… em última, ou em primeira instância dependendo da perspectiva da observação, o jogo da equipa tem para nós, obrigatoriamente de manifestar estes valores.

O tema Valores Humanos encontra-se enquadrado em:

Por outro lado este tema será constituído pelos seguintes captítulos:

  1. Os alicerces do homem… e consequentemente do seu desempenho
  2. Uma sociedade em mudança
  3. Treinador e… educador
  4. O “jogar” expõe e cultiva valores
  5. Priorizar os (bons) valores humanos
  6. Que valores?
  7. A transmissão de valores

Deixamos um excerto do sétimo capítulo publicado, “A transmissão de valores“.

“No Futebol, portanto, o jogador deve desenvolver-se em equipa, sem ser reduzido à equipa. E assim o treinador, nos seus momentos de reflexão, poderá levantar, no mais íntimo de si mesmo, esta questão: qual o tipo de pessoa que eu quero que nasça dos jogadores que lidero? Reside aqui, no meu modesto entender, o momento essencial do treino.”

(Sérgio, 2011), citado por (Esteves, 2011)

(…)

Segundo (Gonçalves, 2012), “os valores… os princípios… as atitudes e comportamentos não são transmissíveis de pais para filhos, de acordo com as leis genéticas… o que implica a obrigatoriedade o seu ENSINO e fundamentalmente a sua prática”. O autor (Rosado) é claro quando aponta que “os valores devem ser reconhecidos e tornados explícitos através do treinador. Os atletas deverão ser ajudados a clarificar os seus valores pessoais e a determinar as suas posições relativamente ao que é defendido por outras pessoas ou grupos”. António Rosado expõe ainda que o treinador deve permitir aos jogadores que “identifiquem, revejam e avaliem os seus próprios valores e os da sociedade e reconheçam os que afectam os seus pensamentos e acções”. 

(…)

Nós vamos um pouco mais longe, nesse mesmo sentido de especificidade. Acreditamos que, seguindo uma metodologia que elege o “jogar”, ou seja, os comportamentos tácticos como centrais no processo, então, à imagem das especificidade que esse jogar cria ao nível da dimensão física, técnica e psicológica… o mesmo deve criar uma especificidade sócio-moral, fruto dos princípios e ideias que sustentam essa forma escolhida de ver e jogar Futebol. Dando exemplos práticos, se é eleita e trabalhada uma organização defensiva sustentada por princípios colectivos e não individuais, como será exemplo a Defesa Zona, onde a solidariedade e o respeito pela equipa enquanto um todo tem de imperar, será então, nesse contexto prático muito mais fácil e coerente ao líder, exigir um pensamento colectivo em detrimento de um individual em todos os aspectos que envolvam a equipa. O autor (Amieiro, 2004) explica que “no fundo, ao manifestar-se, a «zona» expressa:

  • Um «padrão defensivo colectivo»;
  • Complexo, é verdade;
  • Mas também dinâmico e adaptativo;
  • Compacto, homogéneo e solidário.

Serão estas «propriedades», emergentes da coordenação colectiva, a dar verdadeira coesão defensiva à equipa. Esta forma de organização defensiva revela-se, como tal, não só a mais eficaz defensivamente, mas também a que, de longe, melhor responde à «inteireza inquebrantável do jogo». Revela-se, assim, uma necessidade face à «inteireza inquebrantável» que o «jogar» deve manifestar. Não é de estranhar, portanto, que este seja o «padrão defensivo» das equipas de top”. O treinador alemão (Klopp, 2013), a propósito da influência de Wolfgang Frank, que treinou Klopp no Mainz e era um admirador dos métodos de Arrigo Sacchi no Milan descreve que então “apesar de estarmos II Divisão, fomos o primeiro clube alemão a jogar em 4x4x2 sem libero. Vimos um vídeo muito chato, mais de 500 vezes, com o Sacchi a treinar a defesa, sem bola, com o Maldini, Baresi e Albertini. Pensávamos que se os outros fossem melhores tínhamos de perder. Depois aprendemos que tudo é possível, podemos bater os melhores usando táticas“.

(…)

“O carácter não é um dom, é uma vitória.”

Ivor Griffith citado por (Cubeiro, et al., 2010)

Valores humanos – Capítulo VI – Que valores? [Subscrição Anual]

Publicamos a continuação do tema Valores humanos, e o seu sexto capítulo – “Que valores?“. Desta vez, procuramos, de uma forma geral, compreender que valores devem guiar o jogador e a equipa. Em futuras publicações, iremos aprofundar cada um dos valores que defendemos como fundamentais. Na nossa opinião, não só no desporto, como em todas as dimensões da nossa vida.

O tema Valores Humanos encontra-se enquadrado em:

Por outro lado este tema será constituído pelos seguintes captítulos:

  1. Os alicerces do homem… e consequentemente do seu desempenho
  2. Uma sociedade em mudança
  3. Treinador e… educador
  4. O “jogar” expõe e cultiva valores
  5. Priorizar os (bons) valores humanos
  6. Que valores?
  7. A transmissão de valores

Deixamos um excerto do sexto capítulo publicado, “Que valores?“.

“Um dos valores que ensinamos é que temos de ter espírito de superação. Muitos madridistas choraram ontem, mas hoje levantaram-se e é essa a grandeza.”

(Butragueño, 2004) citado por (Lemos, 2005)

(…)

O autor (Rosado) descreve que “existe um grande consenso em torno de valores sociais e morais tais como honestidade, justiça, cuidado, consideração e respeito pelos outros”. Na obra institucional, publicada por (Rosa, 2014) dedicada à Ética no Desporto, o autor identifica “os seguintes princípios como estruturantes dos valores do desporto:

  • Performance e realização: o desempenho deve ser sempre associado ao esforço utilizado para a concretização dos objetivos.
  • Cumprimento de Regras: o desempenho é meritório se efetuado no cumprimento das regras.
  • Igualdade de oportunidades: todos sem exceção têm acesso à prática desportiva, usufruindo nesta dos mesmos direitos e dos mesmos deveres. As condições de prática (e competição) devem também ser as mesmas para os diferentes praticantes, não devendo haver benefício prévio de uns sobre os outros.
  • Respeito: necessidade de manifestação de tolerância e aceitação em relação a todos os envolvidos no desporto e fora dele.
  • Saúde: a prática desportiva e os comportamentos a ela associados nunca devem colocar em causa a saúde e o bem-estar dos praticantes e seus companheiros/adversários.
  • Satisfação pelo esforço: desenvolvimento de habilidades
  • físicas e mentais através do permanente desafio a si próprio e aos outros.
  • Fair-play: desenvolvimento do fair-play nas diferentes dimensões da vida através da aprendizagem deste no contexto desportivo.
  • Respeito pelos outros: desenvolvimento da tolerância relativamente à diferença e à diversidade.
  • Busca pela excelência: desenvolvimento de cultura de excelência associada ao bem-fazer.
  • Equilíbrio entre corpo, mente e espírito: promoção de competências intelectuais e éticas através do desenvolvimento da literacia motora.”

(…)

O autor (Neto, 2012) sustenta que “a prática desportiva, que se define, primeiro que tudo, pela combinação entre a dimensão genuinamente lúdica e a dimensão agonística, isto é, a componente intersubjectiva no âmbito da qual duas vontades se confrontam em busca da vitória (Manuel Sérgio, 2001), constitui, por via disso e pelo facto de promover, acessória mas significativamente, o respeito pelas normas, a solidariedade, a festa e o convívio humano, perfila-se como instrumento privilegiado de socialização e de recreação (no duplo sentido: recreio e reestruturação interior)”. Desta forma, podemos então compreender os valores de cada pessoa como o seu carácter”. Também (Lemos, 2005) salienta que “segundo Sá, são três os principais valores fomentados ao longo do processo de formação: “o jogador tem de possuir espírito colectivo muito forte disponibilizando-se para as tarefas que o treinador lhe pede e que lhe solicite; que seja leal, que tenha espírito desportivo; e, que tenha uma grande capacidade de superação“.

(…)

 

Valores humanos – Capítulo V – Priorizar os (bons) valores humanos [Subscrição Anual]

Publicamos a continuação do tema Valores humanos, e o seu quinto capítulo – “Priorizar os (bons) valores humanos“. Porque numa interpretação lata, podemos considerar um conjunto de valores que vai sendo expresso pelo ser humano, constituído por bons e maus, interessa-nos então compreender aqueles que nos permitem viver em sociedade, quer no geral, quer no jogo, aqueles que nos fazem evoluir enquanto espécie, mas no fundo, os que nos tornam humanos.

O tema Valores Humanos encontra-se enquadrado em:

Por outro lado este tema será constituído pelos seguintes captítulos:

  1. Os alicerces do homem… e consequentemente do seu desempenho
  2. Uma sociedade em mudança
  3. Treinador e… educador
  4. O “jogar” expõe e cultiva valores
  5. Priorizar os (bons) valores humanos
  6. Que valores?
  7. A transmissão de valores

Deixamos um excerto do quinto capítulo publicado, “Priorizar os (bons) valores humanos“.

“A acção humana caracteriza-se pelo seu aspecto acontecimental. Ela é função dos valores, das crenças, das finalidades e da racionalidade daqueles que agem e caracteriza-se também pela situação concreta e complexa na qual se desenvolve.”

Susman & Evered (1978), citados por (Garganta, 1997)

Compreendendo a condição humana, o autor (Carvalho, 2006) expõe, através do neurocientista português António Damásio, que os seres humanos são guiados por mecanismos reguladores que “asseguram a sobrevivência ao accionarem uma disposição para excitar alguns padrões de alteração do corpo (um impulso), o qual pode ser um estado do corpo (fome) ou uma emoção (medo) ou uma combinação de ambos. Estes mecanismos pré-organizados não precisam de uma instalação especial, estando apenas sintonizados para o meio ambiente que nos rodeia. A sua importância não se limita à regulação biológica. O organismo possui um conjunto básico de preferências, também designadas de critérios ou valores. Sob a influência destas preferências e da experiência, o repertório de coisas categorizadas como boas ou más cresce rapidamente, assim, como a capacidade de detectar novas coisasDeste modo, é fundamental “regular” que coisas são apontadas como “boas” “más”E mais importante ainda, quando o contexto é o de crianças e jovens. Assim, neste cenário, (Goleman, 1995) acredita que as escolas “desempenham um papel essencial no cultivo do caráter, ensinando a autodisciplina e a empatia, o que, por sua vez, possibilita o compromisso autêntico com valores cívicos e morais. Mas, para isso, não basta doutrinar as crianças sobre os valores, é absolutamente necessário praticá-los, algo que só ocorre quando a criança está a consolidar as habilidades emocionais e sociais fundamentais. Nesse sentido, a alfabetização emocional anda de mãos dadas com a educação de carácter, desenvolvimento moral e civismo”.

Segundo o autor (Lourenço, 2007), lembrando Shein (2004), a cultura de uma organização, ou de um grupo, constitui-se pelos seus valores básicos, a sua ideologia, a razão de ser de quem está ali, da forma como está e como é“. Deste modo, o autor (Goleman, 1998) descreve que na empresa Egon Zehnder International antes de um trabalhador ser contratado, o próprio Zehnder realiza uma entrevista de cerca de duas horas com o candidato. Zehnder pretende saber “quais são seus hobbies, se ele gosta de ópera, que livros ele lê, quais são seus valores e se é ou não capaz de defendê-los”. Portanto, de acordo com (Santos, 2012), os valores constituem a essência de qualquer cultura (Pinto, 2002), assim como a enorme importância que tal variável assume no processo de gestão e, logo, no processo de liderança de qualquer organização (Schein, 1992; Hofstede, 1997)”. Pedro Santos acrescenta ainda que “o respeito por esses mesmos valores e pelos códigos éticos que a sociedade, onde se encontra inserida a organização, requer e exige, na consecução dos objetivos que persegue, é um ponto a favor das instituições pela imagem que deixa transparecer. A imagem de uma pessoa coletiva séria, honesta, que joga limpo e não trapaceia”. No entanto, o autor (Santos, 2008) explica que estamos perante um excelente exemplo do que pode ser, no sentido metafórico, uma faca de dois gumes“. Segundo o autor, “tal como se podem promover estes valores que serão os mais correctos, também se poderão incentivar os jovens atletas a adoptar valores incorrectos”. Artur Santos explica que “a socialização no desporto implica a adopção de atitudes, normas e comportamentos que distinguem a identidade dos grupos, levando o indivíduo a assumir a particular subcultura da sua equipa, do clube ou da sua, especialmente quando maior for a influência na formatação da identidade grupal exercida pelos pares e pelos treinadores“.

(…)

“A maneira como o indivíduo apreende e interpreta a informação depende da sua experiência, dos seus valores, das suas aptidões, das suas necessidades e das suas expectativas. Temos tendência para reter os dados que são compatíveis com as nossas convicções e as nossas ideologias, e que nos convêm.”

(Abravanel, 1986), citado por (Gomes, 2006)

 

Valores humanos – Capítulo IV – O “jogar” expõe e cultiva valores [Subscrição Anual]

Publicamos a continuação do tema Valores humanos, e o seu quarto capítulo – “O “jogar” expõe e cultiva valores“. Ainda no contexto da importância fundamental que determinados valores têm não só no futebol, mas também na ligação que todo o seu contexto cultural tem com outras dimensões sociais humanas, desta vez abordamos a relação dos mesmos com a especificidade de cada jogar. Insistindo na ideia de estarmos perante um todo complexo, se diferentes formas de jogar, potenciam diferentes culturas, consequentemente irão também emergir daí, diferentes valores humanos. Na perspectiva inversa, enquanto gerador de cultura, se é uma responsabilidade do futebol, alicercar a sociedade de melhores valores, então há que idealizar formas de jogá-lo que sejam coerentes com essa pretensão.

O tema Valores Humanos encontra-se enquadrado em:

Por outro lado este tema será constituído pelos seguintes captítulos:

  1. Os alicerces do homem… e consequentemente do seu desempenho
  2. Uma sociedade em mudança
  3. Treinador e… educador
  4. O “jogar” expõe e cultiva valores
  5. Priorizar os (bons) valores humanos
  6. Que valores?
  7. A transmissão de valores

Deixamos um excerto do quarto capítulo publicado, “O “jogar” expõe e cultiva valores“.

“Aquilo que eu sou reflete-se no meu jogar e este jogar faz-me ser quem eu sou.”

(Miguel Cardoso, 2018)

Perante a visão analítica do homem, que o parte em indivíduo social, indivíduo desportista, indivíduo religioso, etc., o autor (Capra, 2005, p.09), citado por (Almeida, 2009), defende que “precisamos, pois, de um novo “paradigma — uma nova visão da realidade, uma mudança fundamental em nossos pensamentos, percepções e valores. Os primórdios dessa mudança, da transferência da concepção mecanicista para a holística da realidade, já são visíveis em todos os campos e susceptíveis de dominar a década actual”. Nesta nova perspectiva, o homem que joga é o homem que vive em sociedade e vice-versa. Como tal, os valores que ele transporta para o jogo, ou os valores que o jogo lhe transfere, serão os mesmos que o guiam socialmente. Neste enquadramento, o autor (Moita, 2008) descreve que na formação desportiva, o cuidado e a atenção atribuídos à formação ética são na generalidade muito reduzidos. A sociedade aponta, como referência quase exclusiva, para modelos de sucesso com resultados práticos imediatos, relegando para segundo plano outras questões menos palpáveis de carácter moral, social, etc…(Ramos, 2006). No entanto, os valores do desporto não se situam no plano de um “corpo motor”, mas sim, de um “corpo” que, ao realizar determinados movimentos, suscita o aparecimento de atitudes e condutas que reivindicam uma certa dimensão cultural, com consequências no plano educativo e formativo (Ramos, 2006). Segundo Pacheco (2001), a formação desportiva deve ser encarada como “um processo globalizante, que visa não só, o desenvolvimento das capacidades específicas (físicas, táctico-técnicas e psíquicas) do futebol, como também, a criação de hábitos desportivos, a melhoria da saúde e a aquisição de um conjunto de valores tais como a responsabilidade, a solidariedade e a cooperação, contribuindo desta forma para uma formação integral dos jovens“. No contexto de outro desporto colectivo, o Rugby, também o ex-seleccionador português (Tomaz Morais) defende que “é importante transmitir os valores do jogo para se atingir os mais jovens”.

Para (Lourenço, 2007), e “segundo Edgar Schein (2004), a cultura é um conjunto tácito de pressupostos básicos sobre como o mundo é e como deve ser, o qual é partilhado por uma comunidade de pessoas e determina as suas percepções, pensamentos, emoções, e em grande parte o seu comportamento. A cultura de uma organização, de um grupo, de uma equipa de futebol, no seu nível mais profundo, é os seus valores básicos, a sua ideologia, a razão de ser de quem está ali, da forma como está e como é. A cultura organizacional, seja de uma organização formal – como, por exemplo, uma empresa ou uma equipa de futebol –, seja de uma organização informal – como, por exemplo, um grupo de amigos –, constitui-se nos pressupostos que guiam e modelam os comportamentos dos indivíduos e do grupo. Trata-se como que de um filtro, através do qual tudo é percepcionado e imediatamente valorizado num sentido ou noutro”. Na mesma linha de pensamento surge (Cardoso, 2006), que concordando com (Figueiras, 2004), sustenta que as concepções e modelos de jogo são condicionados pela cultura e valores vigentes na sociedade em que se insere e assim, se a cultura dos povos se altera ao longo dos tempos, também esses necessariamente se alteram. Deste modo podemos verificar que esta dialéctica (ou interacção) entre a cultura e a cultura de jogo também se verifica“.

A autora (Gomes, 2008), expõe que “segundo Kaufmann & Quéré (2001), nos fenómenos colectivos o sujeito apreende normas, valores e desenvolve capacidades, adquire hábitos na socialização do todo ou seja, nas relações com os demais. Neste contexto, o desenvolvimento de uma dinâmica colectiva – entenda-se jogar – faz com que as exigências individuais sejam sobrecondicionadas pelo papel que desempenham nessa equipa. Novamente (Gomes, 2008), explica que “de acordo com esta perspectiva, a exacerbação da equipa enquanto colectivo faz com que as repercussões individuais adquiram determinados contornos. Por isso, José Mourinho (in Oliveira et al., 200:93) refere que a sua prioridade é o desempenho colectivo, que a equipa jogue como pretende, acrescentando ainda que não concebe a evolução de um jogador descontextualizada da equipa. A dinâmica colectiva resulta da participação individual dos jogadores de um modo Específico ou seja, enquadrado pelos princípios de acção que caracterizam a equipa. Através deles estabelece-se um conjunto de normas e valores sobre o qual se compreende a participação individual ou seja, os jogadores participam no jogo de acordo com determinados princípios. Desta forma, o jogador é um «agente normativo» ou seja, os comportamentos resultam de determinadas normas e valores (Ogien, 2001). De acordo com esta lógica, os jogadores apropriam-se desses valores e princípios no próprio processo de socialização ou melhor, nas relações que estabelecem com os colegas no desenvolvimento do jogo”.

(…)

Valores humanos – Capítulo III – Treinador e… educador [Subscrição Anual]

Publicamos a continuação do tema Valores humanos, e o seu terceiro capítulo – “Treinador e… educador”. Neste capítulo é abordado o papel do treinador. Sendo um processo intencional, ou não, devemos compreender que o treinador para além de uma fonte de conhecimentos técnicos e orientador metodológico, será sempre, paralelamente, uma fonte de transmissão de valores e cultura. Em todos os escalões e níveis competitivos. Porém, sendo naturalmente a sua importância mais relevante no Desporto de Formação. Assim sendo, a importância do Treinador supera claramente a esfera do desporto.

O tema Valores Humanos encontra-se enquadrado em:

Por outro lado este tema será constituído pelos seguintes captítulos:

  1. Os alicerces do homem… e consequentemente do seu desempenho
  2. Uma sociedade em mudança
  3. Treinador e… educador
  4. O “jogar” expõe e cultiva valores
  5. Priorizar os (bons) valores humanos
  6. Que valores?
  7. A transmissão de valores

Deixamos um excerto do terceiro capítulo publicado – Treinador e… educador.

(…)

“Um bom treinador ensina-te a jogar o jogo e a jogar a vida.”

Luís Castro, 2018, citado por (Bouças, 2018)

No Futebol, a palavra formar está intrinsecamente ligada ao Futebol Jovem… ao Futebol de Formação. De acordo com (Santos, 2008), “o jovem ao aderir ao desporto conta com o treinador para o iniciar na cultura, regras e práticas desportivas. O desportista tem habilidades, crenças e valores construídos a partir de experiências de aprendizagem formais e informais e, o treinador vai influenciar todas essas suas experiências”. Porém, no contexto geral do desporto, formar, estende-se muito para além do Desporto de Formação. É reconhecido por muitos que o indivíduo encontra-se em constante formação. Assim, o papel do treinador, na forma como procura desenvolver outra pessoa para “melhor”, não se circunscreve ao desporto para jovens. Segundo (Moita, 2008), “uma maneira global, segundo o Dicionário de Língua Portuguesa (2004), formação é definida como: “disposição ou organização, grupo de pessoas com objectivos comuns, conjunto de conhecimentos adquiridos referentes a uma área ou exigidos para exercer uma dada actividade, transmissão de conhecimentos valores ou regras, conjunto de valores morais e intelectuais“. Moita acrescenta ainda que “no que concerne à transmissão e recepção de conhecimentos, a formação é, actualmente, essencial em qualquer actividade humana e social (Neves, 2003). O mesmo autor refere que os aspectos relacionados com a formação, nas mais diversas áreas, são fundamentais na criação de novas sociedades, pois os desafios que hoje se deparam são cada vez mais complexos”. Neste processo, o treinador italiano (Ancelotti, 2013) destaca o papel fundamental dos valores na comunicação. Para si, “comunicar significa pôr comum o que é nosso, isto é, transmitir conteúdos, compartilhar. O primeiro pressuposto para uma comunicação eficaz é ter claros os próprios valores e a própria filosofia“. Neste seguimento, o autor (Almeida, 2011) sustenta que “temos de ter a sensibilidade de perceber que tudo o que o treinador valoriza, tem impacto sobre a sua equipa. Muitas vezes, os treinadores desconhecem o impacto que os seus valores têm sobre a vida de outras pessoas, neste caso dos seus jogadores. Mas a verdade é que a cada dia que o líder interage com a sua equipa, este marca a mesma com os seus valores”.

A autora (Mendes, 2009) explica que “são vários os investigadores que têm acentuado a enorme responsabilidade que os treinadores assumem no mundo do desporto principalmente para as crianças e jovens, através da filosofia da sua actuação, dos objectivos que perseguem, dos valores que defendem e do valor formativo dos programas desportivos em que estão envolvidos”. Ângela Mendes vai mais longe, descrevendo que “Ping e Ogilvie (1993, cit. por Garcia, 2003, p. 6) referem, segundo esta perspectiva, a importância do treinador como modelo e agente socializante para os seus atletas, “influenciando-os não apenas nas habilidades físicas, skills técnicos, emoções sociais e valores, mas ainda no desenvolvimento moral e mesmo na sociedade, tendo um grande poder de influência sobre o atleta, e impacto desde os primeiros estádios da sua evolução. Sendo o treinador a figura principal no processo de formação desportiva da criança verifica-se que, “a influência que este vai exercer sobre as atitudes e comportamentos, sobre os princípios, valores, orientações e sentidos de vida dos atletas é inegável” (Bento, 1999). Para Araújo (1994) “os treinadores são elementos transmissores de princípios, regras, conhecimentos desportivos, educativos, pessoais, sociais, culturais e, por vezes, também políticos e religiosos””. Também para (Rosa, 2014), “os treinadores, enquanto agentes centrais no processo de desenvolvimento desportivo, desempenham um papel fundamental na transmissão de valores éticos a todos os que com eles se relacionam, em particular os seus praticantes, sendo esta responsabilidade também partilhada pelas instituições às quais estes estão vinculados, na medida em que estas representam a sua comunidade de prática, desenvolvimento e partilha”.

O autor (Santos, 2008), vai mais longe e descreve que “Greendorfer faz ainda referência a Harris (1983, 1984) o qual verificou que relativamente a comportamentos e orientações dos treinadores, as crianças conceptualizam a sua experiência no basebol de acordo com a dos seus treinadores. Sendo alarmante o facto de o efeito da socialização ser tão forte que as orientações do treinador sobrepõem-se às orientações dos valores éticos e culturais da criança“. Paralelamente (Santos, 2008), reforça que “Greendrofer e Lewko (1978) e Weiss e Knoppers (1982) referem que, se no período da infância, a influência dos pais é determinante na vida desportiva das crianças, já no período da adolescência, 12-17 anos, essa influência decresce significativamente passando os treinadores e os companheiros de equipa, ou de actividade, a desempenharem esse papel e a marcarem decisivamente o envolvimento dos jovens na prática desportiva”. Este pensamento é corroborado por (Altair et al., 2004), descrevendo que “para pertencer ao grupo e, consequentemente, ter a possibilidade de garantir uma vaga na equipa titular, prémios, reconhecimento, dinheiro, confiança do técnico, o atleta chega a renunciar seus próprios valores morais para comungar com os valores e regras estabelecidas pelo grupo ao qual deseja pertencer”.

Também, (Almeida, 2011), defende que “é inegável a influência que o treinador exerce sobre as atitudes e comportamentos, sobre os princípios, valores, orientações e sentido de vida dos atletas”. O autor reforça, descrevendo que “com a tomada de posição do líder e a sua atitude proactiva por intermédio das regras de acção, valores e princípios que instituiu em consonância com os jogadores, faz com que todos tenham uma linha de conduta, uma linha comum de pensamento e acção, a qual permite que todos estejam devidamente orientados”. Neste quadro, Fernando Pinto, Diretor Executivo da Escola de Futebol Geração Benfica, citado por (Oliveira, 2012), descreve que a escolha dos treinadores para o projecto que lidera “passa por ter sempre em conta os seus valores humanos e a forma como os consegue transmitir“.

“Eu dou muito valor à escolaridade. É verdade que encontramos jovens com os quais não há muito a fazer, porque são muito avessos para os estudos, e enviamo-los para cursos de informática ou de idiomas, mas todos recebem educação e valores. Uma vez, um jogador disse a Johan Cruyff que ia abandonar a escola. E Johan, sem mudar o rosto, disse: “Não há problema. Deixa de estudar se quiseres”. Mas ele convocou-o para o dia seguinte, no Camp Nou, às oito da manhã. E o miúdo chega ao estádio, muito tranquilo, e encontra-se com o mesmo Cruyff que o ordena a limpar as botas de todos os seus companheiros. Após três dias, voltava para a escola.”

Albert Benaiges, citado por (Perarnau, 2011)

(…)

Valores humanos – Capítulo II – Uma sociedade em mudança [Subscrição Anual]

Publicamos a continuação do tema Valores humanos, e o seu segundo capítulo – “Uma sociedade em mudança”. Desta vez são abordadas as mudanças sociais e morais que vivemos e a sua influência no Desporto, particularmente, no Futebol.

O tema Valores Humanos encontra-se enquadrado em:

Por outro lado este tema será constituído pelos seguintes captítulos:

  1. Os alicerces do homem… e consequentemente do seu desempenho
  2. Uma sociedade em mudança
  3. Treinador e… educador
  4. O “jogar” expõe e cultiva valores
  5. Priorizar os (bons) valores humanos
  6. Que valores?
  7. A transmissão de valores

Deixamos um excerto do segundo capítulo publicado – Uma sociedade em mudança.

(…)

“Estou absolutamente convencido de que fama e dinheiro são valores insignificantes. Acontece que, são descritos com um peso tão significativo que parece impossível resistir a valorizá-los.”

Marcelo Bielsa, citado por (Marvel, 2012)

Num editorial da Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, (Olímpio Bento, 2005) desabafa que “todos os dias surgem novos dados a confirmar a suspeita e a justificar o receio. A desertificação está a aumentar em todo o Mundo. Do céu ou não cai água suficiente ou então ela não é repartida por igual, desobedecendo assim aos desígnios e à bondade da divina providência. Em consequência diminui, em muitos pontos do globo, a verdura dos campos, das florestas e dos rios, das perspectivas e horizontes; e aumenta o deserto das areias, dos terrenos secos e calcinados. Com isso crescem também a fome e a pobreza, a desolação e o desencanto, a indiferença e a falta de motivos para sorrir e cantar. Os olhos desaprendem de ver, o coração de sentir e a razão de inteligir. Enfim, a beleza e a harmonia cedem o lugar à estética da aridez e fealdade. A desertificação aumenta gravosamente em muitos outros sectores. Até há não muito tempo um dos traços marcantes da pessoa era a vergonha na cara. Pois bem, a vergonha foi igualmente atacada pela moléstia da seca e esta vai alastrando de forma vertiginosa. Atingiu já a consciência, que por causa disso caiu num estado de letargia e dormência, do qual não dá mostras de acordar. Não se pode, pois, esperar dela que distinga com presteza entre a verdade e a mentira, entre a rectidão e a justiça, entre a correcção e a falsidade, entre a lisura e a falcatrua, entre a nobreza e a mesquinhez, entre a probidade e a desfaçatez, entre a honra e a desonra, entre a dignidade e a baixeza, entre o belo e o horrendo, entre o bem e o mal, entre a humanidade e a animalidade. De sonhos e ideais fala-se pouco. O silêncio vai-se abatendo sobre eles, reduzindo o tamanho do homem e da vida. Ademais aquilo que não tem palavras, aquilo que não se diz e deixa de ser nomeado deixa forçosamente de existir. De princípios e valores ainda há resquícios e sinais”.

Também (Jorge Bento, 2004) revela que “constatamos atónitos que a batalha pelo homem como pessoa moral é muito difícil de ganhar e carece de ser retomada em todas as épocas e lugares e por todos os meios. Sentimo-nos tomados de desânimo, impotência e pessimismo face ao crescendo de uma pseudo-ética ausente de tudo quanto implique respeito de compromissos e mandamentos. Admite-se o vale tudo e o sucesso a todo o custo, até mesmo com o atropelo dos mais elementares valores cívicos e morais. Agora tudo é permitido. Como se deveres e direitos não fossem as duas faces da moeda da vida”. O mesmo autor, (Bento, 2002), aludindo-se à perspectiva dos professores, descreve que “sentimos sobretudo que a educação está a conhecer um falhanço rotundo. O que está em causa não é só a verdade desportiva, é um mundo de verdade em primeiro lugar, porque é do contexto mais geral do grande mundo que todos os pequenos mundos (como é o caso do desporto) e a sua configuração brotam. Ou se está do lado de um mundo que se pauta por valores éticos e estéticos, ou se alinha com um mundo que se forja na batotice, na trafulhice, na fealdade e negrume de emoções e sentimentos”. O autor (Rosado) concorda com esta perspectiva explicando que “a comunidade desportiva reflecte muitos dos valores presentes na sociedade. Os jovens são influenciados pelos valores comunicados explícita e implicitamente no clube, na escola e na comunidade”.

A importância destas ideais intensifica-se perante uma sociedade que muda. De acordo com (Santos, 2017), “num estudo realizado em 2011 pelas psicólogas de UCLA, Yalda Uhls e Patricia Greenfield, foram analisados os programas televisivos dos últimos 50 anos nos Estados Unidos e quais os valores transmitidos nos programas para a faixa etária dos 6 aos 9 anos. O que se verificou foi uma mudança drástica! Entre 1967 e 1997, os valores mais presentes eram o espírito de comunidade, a benevolência, a imagem, a tradição e a popularidade. No final da lista encontravam-se a fama, a condição física, o hedonismo o espiritualismo e o sucesso financeiro. Avançando até 2007 (ano em que os programas de maior sucesso foram Hannah Montanna e American Idol) os valores mais estimulados passaram a ser a fama, a realização, a popularidade, a imagem e o sucesso financeiro, seguidos de perto pelo egoísmo, ambição, materialismo e prepotência. No final da lista encontramos agora o espiritualismo, a tradição, a segurança, a conformidade e a benevolência. Com a globalização da internet e as centenas de canais televisivos, são cada vez mais os programas para a faixa etária dos 6 aos 9 sobre crianças que buscam a fama através da indústria do entretenimento. A consequência? A “Fama” é agora o valor mais presente na mente das crianças destas idades. Outro estudo recente revelou que, para as crianças com menos de 10 anos, os objectivos mais importantes são: 1) ser famoso, 2) ser atraente e 3) ser rico”.

(…)

Valores humanos – Capítulo I – Os alicerces de cada indivíduo… e consequentemente do seu desempenho [Subscrição Anual]

Estamos a publicar mais um tema do trabalho Saber Sobre o Saber Treinar, conteúdos exclusivos a assinantes do projecto. Desta vez dentro da dimensão Liderança, e Qualidades do Líder, abordamos os Valores Humanos. No passado já publicámos excertos e artigos relacionados com este tema, porém, iremos agora aprofundá-lo em vários capítulos. Dada a sua extenção, optámos por publicar, de forma faseada, cada um desses capítulos. Prevemos ainda, no futuro desenvolver cada um dos valores humanos que identificamos como fundamentais não só numa função de liderança, como em qualquer momento das nossas vidas.

Assim, o tema Valores Humanos encontra-se enquadrado em:

Por outro lado este tema será constituído pelos seguintes captítulos:

  1. Os alicerces do homem… e consequentemente do seu desempenho
  2. Uma sociedade em mudança
  3. Treinador e… educador
  4. O “jogar” expõe e cultiva valores
  5. Priorizar os (bons) valores humanos
  6. Que valores?
  7. A transmissão de valores

Deixamos um excerto do primeiro capítulo publicado – Os alicerces do homem… e consequentemente do seu desempenho.

“Tudo aquilo o que aprendi sobre a moral dos homens, aprendi-o nos campos, jogando futebol.”

Albert Camus

(…)

Por outro lado, o autor, (Vilela, 2000) sustenta que “as nossas estratégias internas, em maior ou menor grau, conduzem-nos a escolher: fazer ou não fazer, fazer isto ou aquilo. Podemos também escolher valores, objetivos, crenças. Embora tenhamos objetivos e valores, nada efetivamente obriga-nos a fazer qualquer coisa, podemos ficar estáticos para o resto da vida. Podemos ter estratégias de decisão, que nos proporcionam alternativas e critérios, mas ainda assim será necessário o elemento adicional da vontade pessoal”. O autor acrescenta que os seres humanos são sistemas, com muitas partes integradas e funcionando harmónicamente, mesmo que por vezes o que acontece não agrade a pessoa. Essa harmonia entre objetivos, valores, crenças e todos os elementos é chamada ecologia interna. Todo ser humano é um sistema ecológico nesse sentido”. Porém, os valores têm uma importância vital pela forma como guiam o ser humano. Segundo (Markos Peña et al, 2003), “os valores são princípios que regulam o comportamento humano em qualquer momento e situação; as atitudes, são determinados comportamentos que manifestamos perante diferentes situações; as normas, são regras de comportamento que temos para dirigir as actividades e determinar os valores”.

O treinador português (Queiroz, 2003) citado por (Lemos, 2005), defende que “um país não se mede pela dimensão das fronteiras, mas pelas ambições, valores e ideias”Mais especificamente, de acordo com (Castelo, 1996), “dentro do contexto da nossa civilização, o desporto é considerado por inúmeros autores como um fenómeno que está profundamente associado aos aspectos sociais (é um facto institucional que tem a sua própria organização, as suas regras, as suas infra e super-estruturas) e aos aspectos culturais (considerado como um processo de actualização de valores culturais, morais, estéticos, militares e sociais), os quais derivam fundamentalmente da sua popularidade e da sua universalidade. Todavia, embora as opiniões divirjam no que diz respeito ao sistema de valores sobre os quais este fenómeno assenta, a sua importância não sofre qualquer tipo de contestação“. O treinador português, Leonardo Jardim, entrevistado por (Almeida, 2011) defende o respeito pela individualidade, descrevendo que “somos todos iguais mas somos todos diferentes”, contudo, é claro para si que isto “sabendo que têm de existir comportamentos, atitudes, valores, etc., que devem ser coincidentes, de forma a que consigamos superar as nossas adversidades internas e externas (…)”.

Num trabalho sobre Liderança, os autores (Guerreiro & Silva, 2012), defendem que o desempenho e a satisfação com o trabalho tendem a serem maiores quando os valores do trabalhador coincidem com os da empresa. Os valores podem variar de indivíduo para indivíduo. A liderança por ideal busca integrar e alinhar esses valores, de modo que possa desenvolver para a sua cadeia produtiva resultados econômicos, sociais e culturais. Os líderes por ideal geram valor social quando conseguem resultados positivos para a sociedade por meio de valores, convicções e modelos mentais que propiciam uma visão sustentável. Valores sustentáveis geram também eliminação de desperdícios, o que diminui consideravelmente custos e aumenta a eficiência da produção. A liderança por ideal gera resultados culturais quando agrega, por meio de suas convicções, novos valores para o seu ambiente interno e externo”. Os autores dão um exemplo e descrevem que “Steve Jobs foi um grande líder por ideal. Ditou tendências tecnológicas, passou suas convicções e valores para a cultura organizacional da Apple e formou uma empresa capaz de inovar e gerar resultados”.

Na opinião do treinador português (Carvalhal, 2014), “a sociedade pode evoluir ou (in)voluir, mas há coisas que nunca passarão de moda e serão sempre importantes no êxito de qualquer actividade: o caráter humano”. O autor (Sérgio, 2016) explica que “Edgar Morin, n’Os Sete Saberes para a Educação do Futuro, diz-nos que “o ser humano é, simultaneamente, físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. É esta unidade complexa da natureza humana, que está completamente desintegrada no ensino, através das várias disciplinas e tornou-se assim impossível aprender o que significa ser humano (…). A condição humana deveria ser o objeto primeiro de todo o ensino”. Eu permito-me adiantar: a condição humana deveria ser o objeto primeiro de uma cuidada preparação científica de uma equipa de qualquer uma das modalidades desportivas e portanto o paradigma organizador do trabalho, no âmbito do desporto, deverá situar-se entre as ciências hermenêutico-humanas. Assim, os problemas desportivos não são, sobre o mais, de ordem tática, mas humana. Por isso, a liderança, a coragem, o espírito de grupo, a generosidade, um querer à altura do dever, a fé são problemas desportivos. A fé? Sim, a fé em ideais, em valores, que fazem de um número uma comunidade, um grupo sólido e coeso. A propósito deste tema, Jesus Cristo, Sócrates, S. Francisco de Assis, Gandhi, Luter King, Buda, Nelson Mandela, o Papa Francisco podem citar-se como exemplos de um funcionamento eficaz da prática desportiva. No desportista, liberdade e dever andam juntos, porque só quem é livre pode assumir o dever de ser livre. O campeão, no desporto, é um aristocrata moral – que o não esqueça os que muito sabem de desporto e ainda os Messis e os Ronaldos. No desporto, tão importante como a aprendizagem de métodos é a aprendizagem de conteúdos. Os métodos, sem conteúdos, para pouco servem. É o conteúdo que torna, ou não, apetecível o método. E, no conteúdo, não há só tecnociência, há também filosofia e pedagogia e poesia e amor. Sabem estas coisas os especialistas em Desporto?”.

“Eu colocaria um jovem a praticar um desporto colectivo, porque ele aprenderá os valores que não encontraria nos desportos individuais. O futebol, que é o mais importante desporto do Mundo, é, fundamentalmente, um evento social. Na minha opinião, a melhor forma de uma criança se integrar numa região ou numa cidade é inscrever-se no clube local de futebol.”

(Andy Roxburgh, 2005)

(…)

Qualidades do líder [Subscrição anual]

Os autores (Lourenço & Guadalupe, 2017) citam (Druker, 2008) que defende que “[não] Existem coisas como “qualidades de liderança” ou uma “personalidade liderança”. Franklin D. Roosevelt, Winston Churchill, George Marshall, Dwight Eisenhower, Bernard Montgomery e Douglas McArthur foram todos os líderes altamente eficazes – altamente visíveis – durante a Segunda Guerra Mundial. Não havia dois destes que partilhassem quaisquer “traços de personalidade” ou “qualidades”. No entanto, os mesmos autores explicam que apesar de ser verdade o que afirma Peter Drucker, “contudo, também aqui Drucker é demasiado redutor. Lá por existirem líderes com personalidades totalmente distintas, não quer dizer que não existam “qualidades de liderança”. Elas existem, sim, mas para diferentes contextos, diferentes realidades, diferentes processos sociais… diferentes qualidades de liderança e diferentes traços de personalidade. Por isso poderemos dizer que, em nossa opinião, a liderança tem muito de intuitivo mas também muito de aprendizagem. Um líder, ao fim de um ano de liderança, será diferente porque… aprendeu“.

Assim, da mesma forma que as grandes dimensões, que na nossa perspectiva influenciam decisivamente a competência do treinador: Liderança, Metodologia e Modelo de Jogo, e por sua vez, as sub-dimensões de Liderança: Qualidades do líder, Estilos de liderança, Situações contextuais e Características do líder, não podem ser compreendidas de forma isolada. Investir em qualidades na liderança de forma analítica, pode ser um caminho errado, ou pelo menos, mais desfasado da complexidade da realidade e consequentemente da complexidade da natureza humana. Isto porque, por exemplo, todos atravessamos momentos de maior confiança e vitalidade emocional e isso influencia decisivamente a nossa coragem, criatividade, lucidez e portanto… inteligência. Depois, podíamos continuar e procurar compreender desde já, o Erro de Decartes e perceber o todo Mente-Corpo.

(…)

Continua…

ACEDA À PÁGINA COMPLETA AQUI