Valores humanos – Capítulo I – Os alicerces de cada indivíduo… e consequentemente do seu desempenho [Subscrição Anual]

Estamos a publicar mais um tema do trabalho Saber Sobre o Saber Treinar, conteúdos exclusivos a assinantes do projecto. Desta vez dentro da dimensão Liderança, e Qualidades do Líder, abordamos os Valores Humanos. No passado já publicámos excertos e artigos relacionados com este tema, porém, iremos agora aprofundá-lo em vários capítulos. Dada a sua extenção, optámos por publicar, de forma faseada, cada um desses capítulos. Prevemos ainda, no futuro desenvolver cada um dos valores humanos que identificamos como fundamentais não só numa função de liderança, como em qualquer momento das nossas vidas.

Assim, o tema Valores Humanos encontra-se enquadrado em:

Por outro lado este tema será constituído pelos seguintes captítulos:

  1. Os alicerces do homem… e consequentemente do seu desempenho
  2. Uma sociedade em mudança
  3. Treinador e… educador
  4. O “jogar” expõe e cultiva valores
  5. Priorizar os (bons) valores humanos
  6. Que valores?
  7. A transmissão de valores

Deixamos um excerto do primeiro capítulo publicado – Os alicerces do homem… e consequentemente do seu desempenho.

“Tudo aquilo o que aprendi sobre a moral dos homens, aprendi-o nos campos, jogando futebol.”

Albert Camus

(…)

Por outro lado, o autor, (Vilela, 2000) sustenta que “as nossas estratégias internas, em maior ou menor grau, conduzem-nos a escolher: fazer ou não fazer, fazer isto ou aquilo. Podemos também escolher valores, objetivos, crenças. Embora tenhamos objetivos e valores, nada efetivamente obriga-nos a fazer qualquer coisa, podemos ficar estáticos para o resto da vida. Podemos ter estratégias de decisão, que nos proporcionam alternativas e critérios, mas ainda assim será necessário o elemento adicional da vontade pessoal”. O autor acrescenta que os seres humanos são sistemas, com muitas partes integradas e funcionando harmónicamente, mesmo que por vezes o que acontece não agrade a pessoa. Essa harmonia entre objetivos, valores, crenças e todos os elementos é chamada ecologia interna. Todo ser humano é um sistema ecológico nesse sentido”. Porém, os valores têm uma importância vital pela forma como guiam o ser humano. Segundo (Markos Peña et al, 2003), “os valores são princípios que regulam o comportamento humano em qualquer momento e situação; as atitudes, são determinados comportamentos que manifestamos perante diferentes situações; as normas, são regras de comportamento que temos para dirigir as actividades e determinar os valores”.

O treinador português (Queiroz, 2003) citado por (Lemos, 2005), defende que “um país não se mede pela dimensão das fronteiras, mas pelas ambições, valores e ideias”Mais especificamente, de acordo com (Castelo, 1996), “dentro do contexto da nossa civilização, o desporto é considerado por inúmeros autores como um fenómeno que está profundamente associado aos aspectos sociais (é um facto institucional que tem a sua própria organização, as suas regras, as suas infra e super-estruturas) e aos aspectos culturais (considerado como um processo de actualização de valores culturais, morais, estéticos, militares e sociais), os quais derivam fundamentalmente da sua popularidade e da sua universalidade. Todavia, embora as opiniões divirjam no que diz respeito ao sistema de valores sobre os quais este fenómeno assenta, a sua importância não sofre qualquer tipo de contestação“. O treinador português, Leonardo Jardim, entrevistado por (Almeida, 2011) defende o respeito pela individualidade, descrevendo que “somos todos iguais mas somos todos diferentes”, contudo, é claro para si que isto “sabendo que têm de existir comportamentos, atitudes, valores, etc., que devem ser coincidentes, de forma a que consigamos superar as nossas adversidades internas e externas (…)”.

Num trabalho sobre Liderança, os autores (Guerreiro & Silva, 2012), defendem que o desempenho e a satisfação com o trabalho tendem a serem maiores quando os valores do trabalhador coincidem com os da empresa. Os valores podem variar de indivíduo para indivíduo. A liderança por ideal busca integrar e alinhar esses valores, de modo que possa desenvolver para a sua cadeia produtiva resultados econômicos, sociais e culturais. Os líderes por ideal geram valor social quando conseguem resultados positivos para a sociedade por meio de valores, convicções e modelos mentais que propiciam uma visão sustentável. Valores sustentáveis geram também eliminação de desperdícios, o que diminui consideravelmente custos e aumenta a eficiência da produção. A liderança por ideal gera resultados culturais quando agrega, por meio de suas convicções, novos valores para o seu ambiente interno e externo”. Os autores dão um exemplo e descrevem que “Steve Jobs foi um grande líder por ideal. Ditou tendências tecnológicas, passou suas convicções e valores para a cultura organizacional da Apple e formou uma empresa capaz de inovar e gerar resultados”.

Na opinião do treinador português (Carvalhal, 2014), “a sociedade pode evoluir ou (in)voluir, mas há coisas que nunca passarão de moda e serão sempre importantes no êxito de qualquer actividade: o caráter humano”. O autor (Sérgio, 2016) explica que “Edgar Morin, n’Os Sete Saberes para a Educação do Futuro, diz-nos que “o ser humano é, simultaneamente, físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. É esta unidade complexa da natureza humana, que está completamente desintegrada no ensino, através das várias disciplinas e tornou-se assim impossível aprender o que significa ser humano (…). A condição humana deveria ser o objeto primeiro de todo o ensino”. Eu permito-me adiantar: a condição humana deveria ser o objeto primeiro de uma cuidada preparação científica de uma equipa de qualquer uma das modalidades desportivas e portanto o paradigma organizador do trabalho, no âmbito do desporto, deverá situar-se entre as ciências hermenêutico-humanas. Assim, os problemas desportivos não são, sobre o mais, de ordem tática, mas humana. Por isso, a liderança, a coragem, o espírito de grupo, a generosidade, um querer à altura do dever, a fé são problemas desportivos. A fé? Sim, a fé em ideais, em valores, que fazem de um número uma comunidade, um grupo sólido e coeso. A propósito deste tema, Jesus Cristo, Sócrates, S. Francisco de Assis, Gandhi, Luter King, Buda, Nelson Mandela, o Papa Francisco podem citar-se como exemplos de um funcionamento eficaz da prática desportiva. No desportista, liberdade e dever andam juntos, porque só quem é livre pode assumir o dever de ser livre. O campeão, no desporto, é um aristocrata moral – que o não esqueça os que muito sabem de desporto e ainda os Messis e os Ronaldos. No desporto, tão importante como a aprendizagem de métodos é a aprendizagem de conteúdos. Os métodos, sem conteúdos, para pouco servem. É o conteúdo que torna, ou não, apetecível o método. E, no conteúdo, não há só tecnociência, há também filosofia e pedagogia e poesia e amor. Sabem estas coisas os especialistas em Desporto?”.

“Eu colocaria um jovem a praticar um desporto colectivo, porque ele aprenderá os valores que não encontraria nos desportos individuais. O futebol, que é o mais importante desporto do Mundo, é, fundamentalmente, um evento social. Na minha opinião, a melhor forma de uma criança se integrar numa região ou numa cidade é inscrever-se no clube local de futebol.”

(Andy Roxburgh, 2005)

(…)