Valores humanos – Capítulo II – Uma sociedade em mudança [Subscrição Anual]

Publicamos a continuação do tema Valores humanos, e o seu segundo capítulo – “Uma sociedade em mudança”. Desta vez são abordadas as mudanças sociais e morais que vivemos e a sua influência no Desporto, particularmente, no Futebol.

O tema Valores Humanos encontra-se enquadrado em:

Por outro lado este tema será constituído pelos seguintes captítulos:

  1. Os alicerces do homem… e consequentemente do seu desempenho
  2. Uma sociedade em mudança
  3. Treinador e… educador
  4. O “jogar” expõe e cultiva valores
  5. Priorizar os (bons) valores humanos
  6. Que valores?
  7. A transmissão de valores

Deixamos um excerto do segundo capítulo publicado – Uma sociedade em mudança.

(…)

“Estou absolutamente convencido de que fama e dinheiro são valores insignificantes. Acontece que, são descritos com um peso tão significativo que parece impossível resistir a valorizá-los.”

Marcelo Bielsa, citado por (Marvel, 2012)

Num editorial da Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, (Olímpio Bento, 2005) desabafa que “todos os dias surgem novos dados a confirmar a suspeita e a justificar o receio. A desertificação está a aumentar em todo o Mundo. Do céu ou não cai água suficiente ou então ela não é repartida por igual, desobedecendo assim aos desígnios e à bondade da divina providência. Em consequência diminui, em muitos pontos do globo, a verdura dos campos, das florestas e dos rios, das perspectivas e horizontes; e aumenta o deserto das areias, dos terrenos secos e calcinados. Com isso crescem também a fome e a pobreza, a desolação e o desencanto, a indiferença e a falta de motivos para sorrir e cantar. Os olhos desaprendem de ver, o coração de sentir e a razão de inteligir. Enfim, a beleza e a harmonia cedem o lugar à estética da aridez e fealdade. A desertificação aumenta gravosamente em muitos outros sectores. Até há não muito tempo um dos traços marcantes da pessoa era a vergonha na cara. Pois bem, a vergonha foi igualmente atacada pela moléstia da seca e esta vai alastrando de forma vertiginosa. Atingiu já a consciência, que por causa disso caiu num estado de letargia e dormência, do qual não dá mostras de acordar. Não se pode, pois, esperar dela que distinga com presteza entre a verdade e a mentira, entre a rectidão e a justiça, entre a correcção e a falsidade, entre a lisura e a falcatrua, entre a nobreza e a mesquinhez, entre a probidade e a desfaçatez, entre a honra e a desonra, entre a dignidade e a baixeza, entre o belo e o horrendo, entre o bem e o mal, entre a humanidade e a animalidade. De sonhos e ideais fala-se pouco. O silêncio vai-se abatendo sobre eles, reduzindo o tamanho do homem e da vida. Ademais aquilo que não tem palavras, aquilo que não se diz e deixa de ser nomeado deixa forçosamente de existir. De princípios e valores ainda há resquícios e sinais”.

Também (Jorge Bento, 2004) revela que “constatamos atónitos que a batalha pelo homem como pessoa moral é muito difícil de ganhar e carece de ser retomada em todas as épocas e lugares e por todos os meios. Sentimo-nos tomados de desânimo, impotência e pessimismo face ao crescendo de uma pseudo-ética ausente de tudo quanto implique respeito de compromissos e mandamentos. Admite-se o vale tudo e o sucesso a todo o custo, até mesmo com o atropelo dos mais elementares valores cívicos e morais. Agora tudo é permitido. Como se deveres e direitos não fossem as duas faces da moeda da vida”. O mesmo autor, (Bento, 2002), aludindo-se à perspectiva dos professores, descreve que “sentimos sobretudo que a educação está a conhecer um falhanço rotundo. O que está em causa não é só a verdade desportiva, é um mundo de verdade em primeiro lugar, porque é do contexto mais geral do grande mundo que todos os pequenos mundos (como é o caso do desporto) e a sua configuração brotam. Ou se está do lado de um mundo que se pauta por valores éticos e estéticos, ou se alinha com um mundo que se forja na batotice, na trafulhice, na fealdade e negrume de emoções e sentimentos”. O autor (Rosado) concorda com esta perspectiva explicando que “a comunidade desportiva reflecte muitos dos valores presentes na sociedade. Os jovens são influenciados pelos valores comunicados explícita e implicitamente no clube, na escola e na comunidade”.

A importância destas ideais intensifica-se perante uma sociedade que muda. De acordo com (Santos, 2017), “num estudo realizado em 2011 pelas psicólogas de UCLA, Yalda Uhls e Patricia Greenfield, foram analisados os programas televisivos dos últimos 50 anos nos Estados Unidos e quais os valores transmitidos nos programas para a faixa etária dos 6 aos 9 anos. O que se verificou foi uma mudança drástica! Entre 1967 e 1997, os valores mais presentes eram o espírito de comunidade, a benevolência, a imagem, a tradição e a popularidade. No final da lista encontravam-se a fama, a condição física, o hedonismo o espiritualismo e o sucesso financeiro. Avançando até 2007 (ano em que os programas de maior sucesso foram Hannah Montanna e American Idol) os valores mais estimulados passaram a ser a fama, a realização, a popularidade, a imagem e o sucesso financeiro, seguidos de perto pelo egoísmo, ambição, materialismo e prepotência. No final da lista encontramos agora o espiritualismo, a tradição, a segurança, a conformidade e a benevolência. Com a globalização da internet e as centenas de canais televisivos, são cada vez mais os programas para a faixa etária dos 6 aos 9 sobre crianças que buscam a fama através da indústria do entretenimento. A consequência? A “Fama” é agora o valor mais presente na mente das crianças destas idades. Outro estudo recente revelou que, para as crianças com menos de 10 anos, os objectivos mais importantes são: 1) ser famoso, 2) ser atraente e 3) ser rico”.

(…)