Ambição
“o desejo de vencer e de ser campeão, não tanto porque se ganhou, mas porque se é um “ganhador”; a combatividade que transmite a vontade de vencer…”
(Manuel Sérgio, 2013)
“o desejo de vencer e de ser campeão, não tanto porque se ganhou, mas porque se é um “ganhador”; a combatividade que transmite a vontade de vencer…”
(Manuel Sérgio, 2013)
“Tinha o desejo de se tornar o melhor jogador do mundo e possuía a determinação para o conseguir.”
(Alex Ferguson, 2018)
“É o homem que se é que triunfa no treinador que se pode ser.”
(Manuel Sérgio, 2009)
“O técnico aponta para o desporto escolar como caminho para criar a cultura desportiva que falta e que poderia gerar interesse e aumentar a presença em estádios e pavilhões para jogos ao vivo, algo ainda em falta num país que já consegue formar atletas incríveis.”
(Vítor Matos, 2024)
O pensamento de Vítor Matos sobre o Desporto Escolar é sem dúvida interessante e importante, sendo fundamental a reflexão sobre o papel do mesmo no desenvolvimento do Desporto associativo.
Se do ponto de vista desportivo, um maior investimento neste contexto propiciaria mais um espaço que procurasse colmatar o desaparecimento das práticas e jogos que se realizavam na “rua”. Simultaneamente permitiria oportunidade de prática e evolução aos jovens que, ou ainda não manifestam o desejo de progredir no seu percurso desportivo, ou que não são seleccionados para o desporto formal (clubes). É sabido que os timings de maturação e desenvolvimento são diferentes para cada um e que muitos, também por essas razões acabam por não encaixar imediatamente nos clubes. Esse é outro problema, outra discussão.
“Está a acontecer uma espécie de fabricação de campeões em laboratório, o que é uma ilusão. Tem de haver um trabalho correto ao nível do clube, da escola, do desporto escolar, da educação física… Porque o trabalho no clube e no desporto escolar é para os que têm mais jeito, mas a educação física é para todos. Mas em todos estes casos há que respeitar as tais etapas de desenvolvimento das crianças e dar-lhes autonomia e liberdade de participação.”
(Carlos Neto, 2017)
Porém, o Desporto Escolar nunca será o verdadeiro substituto da “rua” e o principal meio introdutório da criança ao jogo e ao desporto. Deste modo tudo deverá ser feito para preservar a “rua” e todas as suas qualidades. Desde logo por ser genuinamente prática deliberada, território sagrado da autonomia, da auto-aprendizagem, da criatividade e derradeiramente, da… liberdade. Porque o Desporto Escolar será sempre dirigido por adultos, com tudo o que de bom e mau estes potencialmente podem trazer. Paralelamente, se no mesmo também há assistência, nomeadamente dos pais, isso torna o contexto abissalmente diferente.
E sobre estas duas últimas características, torna-se importante dar dois exemplos negativos, até para percebermos o que urge mudar. No actual Desporto Escolar existem treinadores que o conduzem como se tratasse do desporto de rendimento dos adultos. Existem exemplos de treinadores que, em competição, deixam, sistematicamente, jovens jogadores e jogadoras com pouca ou sem qualquer minuto de utilização. Tudo pelo resultado. Se já seria altamente questionável em treinadores de formação, quando são professores de Educação Física a fazê-lo, se a situação já era grave, torna-se ainda mais perversa. Ou, noutro exemplo, quando o feedback e o estilo de liderança na relação como os jogadores / jogadoras é tão agressivo e autocrático que até com adultos os mesmos seriam questionáveis.
Por outro lado, os maus exemplos também vêm da assistência, propriamente dos pais. Exemplos de palavras agressivas, injuriosa e repletas de ódio, contra árbitros, adversários e os próprios filhos chegam-nos com uma frequência assustadora. Inclusive relatos de agressões entre pais. Futsal, basquetebol, voleibol. Não é o desporto em si e até os maus exemplos que possam vir do desporto de rendimento que são decisivos. O que é decisivo, são a falta de regras, de educação, de valores. Dos adultos. Sendo que a crescente desvalorização dos contextos informais, semi-formais, formais e da própria educação física contribuem decisivamente para sintomas preocupantes que vamos assistindo na nossa sociedade. Porque, quer acreditem, quer não, o desporto e o jogo, são um dos principais veículos de transmissão de… bons… valores.
Assim, concordando com as palavras de Vítor Matos, mas mais do que cresçam em número, preocupa-nos que os espectadores cresçam em qualidade. Será um enorme desafio para o Desporto Escolar, mas também para o federado, a educação desses espectadores. Até porque o cenário alternativo, a proibição de espectadores no Desporto Escolar e mesmo no federado de Formação, colocando a possibilidade de resolver o problema a curto prazo, criará um ambiente hermético que não preparará os jovens desportistas para a pressão que mais tarde irão ser sujeitos na eventualidade de progredirem para o desporto de rendimento. Mas até podemos até acrescentar… em muitas outras vias profissionais. Por outro lado, proibindo espectadores nesses contextos, perder-se-á essa oportunidade preciosa de fazer reflectir e passar valores em quem frequenta a bancada. Porque nunca é tarde para crescer.
“Devemos olhar para os espaços de treino com mais cuidado; devemos olhar para a formação de treinadores com mais cuidado; devemos olhar para o desporto escolar com muitíssimo cuidado e atenção, pois é o desporto escolar que é o início de tudo. Se Espanha, Alemanha e Inglaterra avançaram, esteve tudo muito na base do desporto escolar, na forma como os professores e a dinâmica do ensino despertou os alunos para aquilo que são as necessidades da prática desportiva e despertou os pais para esse fenómeno.”
(Luís Castro, 2018)
Kiki Afonso toca num ponto fundamental da relação treinador / jogador. É recorrente um jogador insatisfeito culpar o treinador por não ser opção. De certa parte é humano um sentimento de auto-defesa e de orgulho na sua qualidade. O que se torna excessivo, e muitas vezes impulsionado por pessoas próximas de si como familiares, amigos e empresário, será um sentimento egocêntrico em que os companheiros / concorrência têm sempre menos valor, ou pior ainda, que não é apreciado pelo treinador. A manifestação directa ou indirecta de tais sentimentos, certamente não ajudará na relação, mas o importante aqui é perceber a profundidade de tal ideia / sentimento / atitude.
Deste modo, tal demonstra do ponto de vista individual, ao nível do auto-conhecimento, compromisso, entrega e superação, sérias lacunas. E principalmente… respeito. Referimo-nos, neste caso, ao respeito do jogador por si próprio, pelo talento e qualidade que construiu, fruto de tantos anos de paixão pelo jogo, dedicação e escolhas por vezes difíceis.
Tal como o erro se torna uma oportunidade de aprendizagem, não ser opção torna-se uma oportunidade de alguém creditado para tal, e que com certeza desejará o rendimento máximo do jogador, apontar lacunas, pontos de melhoria e oportunidades de crescimento. No fundo, o caminho para a superação. E tal só será obtido com compromisso. Como o reconhecido treinador de Atletismo, Moniz Pereira dizia, “há treino todos os dias”. Tal atitude ambiciosa só poderá ser valorizada por quem decide a selecção da equipa, como torna a mentalidade do jogador mais forte e saudável, portanto, mais próxima do melhor rendimento.
“Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes.”
Ricardo Reis
Na sequência da primeira publicação sobre a extraordinária história do Manchester United de Matt Busby, publicamos a segunda parte.
O Manchester United de Matt Busby foi um exemplo inspirador de liderança e valores humanos, especialmente perante o terrível acidente aéreo que a equipa, o treinador e o clube sofreram em 1958. O desastre de Munique, como ficou conhecido, foi uma tragédia que abalou todo o universo do futebol, tirando a vida de vários jogadores e membros da equipa técnica, além de deixar muitos outros gravemente feridos. Um deles, o próprio treinador.
Apesar de destroçado, Busby foi um exemplo de enorme coragem. O que se seguiu ao desastre mostrou a resiliência, a solidariedade e a coesão que caracterizavam o Manchester United sob a sua liderança. Apesar da devastação, Busby e o clube recusaram-se a desistir. Com determinação e coragem, reconstruíram a equipa e continuaram a lutar em honra daqueles que perderam as suas vidas. Este período difícil na história do Manchester United demonstrou não apenas a força do carácter de Matt Busby como líder, mas atrás disso, o seu profundo compromisso com os valores humanos. Ele não dirigiu a equipa apenas com competência e visão, mas também cuidou dos seus jogadores como uma família, mostrando empatia, compaixão e apoio inabalável.
O legado deixado por Matt Busby e pelo Manchester United após o desastre de Munique vai muito além do futebol. É um testemunho inspirador de como uma liderança virada para as pessoas pode superar até as adversidades mais terríveis. O Manchester United de Busby permanece um símbolo de esperança e perseverança, lembrando-nos da importância de nunca desistir, mesmo nos momentos mais sombrios.
“O sucesso nunca é permanente, e o fracasso nunca é total. O que importa é o coração que colocamos em cada jogo.”
Matt Busby
No passado dia 6 de Fevereiro fizeram-se 66 anos desde o terrível desastre aéreo que a então equipa do Manchester United sofreu, no qual perderam-se 23 vidas, das quais 8 eram jogadores da primeira grande equipa de Matt Busby. Reconhecido como um incrível líder de valores humanos excepcionais, Busby ergueu-se das lesões e tremenda amargura sentida e voltou a reconstruir a equipa levando-a novamente ao sucesso. Sucesso que ficou marcado com a conquista da Taça dos Campeões Europeus frente ao Benfica em Wembley, passados 10 anos do acidente, constituindo o Manchester United como o primeiro clube Inglês a vencer a competição.
O video, extraído do filme The Three Kings, relata uma das grande histórias que o jogo viveu. Aqui publicamos a primeira parte, ficando a promessa de publicarmos a segunda brevemente.
“O desastre aéreo de Munique tornou-se parte da alma do Manchester United. Está lá enraizado com o sonho de Matt Busby quando ele estava nas ruínas bombardeadas de Old Trafford em 1945 e na realização desse sonho com os Busby Babes. No seu cerne há uma paixão e uma determinação inabalável; uma paixão não apenas para vencer, mas para vencer com estilo, para jogar o belo jogo, para atacar e entreter; e uma determinação inabalável para lutar contra todas as probabilidades. Ambos estavam evidentes naquela primeira temporada após Munique, quando, para espanto de grande parte do mundo do futebol, a equipa que eu agora ia ver regularmente com os meus amigos em vez do meu pai terminou como vice-campeã, atrás do Wolves. Estavam lá quase uma década depois, no Bernabéu, quando um Bill Foulkes envelhecido e lesionado saiu a galope da defesa para marcar o dramático golo tardio contra o grande Real Madrid, colocando o United na Final da Taça Europeia; e lá na própria final, em Wembley, quando Bobby Charlton saltou mais alto do que alguma vez o tinha visto saltar para marcar o golo inaugural, e na ala brilhante do jovem John Aston, que desfez a defesa do Benfica e contribuiu muito para selar a vitória que finalmente tornou o United campeão da Europa.”
(David Hall, 2008)
“Jock Stein é um homem que tem o sangue de Bruce nas veias. Um dos homens mais notáveis que já esteve no mundo do futebol.”
Bill Shankly em (The Three Kings, 2020)
No seu tempo o escocês Jock Stein destacou-se pelo seu pensamento sobre o jogo. Como Bertie Peacock, colega de equipa no Celtic referiu em (The Three Kings, 2020), “ele era muito conhecedor do jogo. Ele comia e dormia futebol”. No entanto, nas relações que estabelecia eram as suas qualidades humanas que não deixavam-lhe ninguém indiferente. O respeito que emanava pelo jogo, pelo Celtic, pela equipa, pelo seu trabalho e pelos seus jogadores tornou-o um dos grandes exemplos de Liderança que o Futebol conheceu.
“De repente uma equipa que não parecia uma equipa, tornou-se uma equipa.”
Jimmy Reid em (The Three Kings, 2020)
Juntando a isto a solidariedade e ambição, tornou-se um dos treinadores britânicos mais brilhantes de sempre. Entre os muitos títulos que alcançou, maioritariamente obtidos no Celtic de Glasgow, destaca-se a Taça dos Clubes Campeões Europeus, também por ela ter sido a primeira a ser conquistada por equipas britânicas.
“É difícil imaginar um líder melhor do que Jock.”
(Alex Ferguson, 2015)
“Em primeiro lugar temos que entender o fenómeno como complexo, e se o é, jamais poderá deixar de ser complexo o modo como intervimos, reflectimos e actuamos sobre ele. (…) Há que estar perante esta realidade, reconhecendo-a como não linear e assim todo o pensamento tem de ter esta base, não linear.”(Vítor Frade, 2013)
O que torna este jogo tão especial é sem dúvida o poder social que exerce sobre tanta gente, e fundamentalmente, tanta gente tão diferente entre si. Nunca é demais repetir isto. Dentro do jogo, entre tantas outras coisas, não existem credos, religiões, cor de pele, orientação política ou nacionalidade, entre tantas outras características que traçam a nossa individualidade. Existem sim, diferentes culturas… de jogo… que se não respeitarem a essência do mesmo, e que no fundo é a essência da própria humanidade, estarão condenadas ao insucesso. Mas podemos ir mais longe. Passando para uma perspectiva macro, condenadas ao insucesso como a própria humanidade o estará se não respeitar o que há de mais precioso em si.
O próprio jogo, mesmo sem a presença de adultos, ensina às crianças o valor do respeito, da solidariedade e da ambição. E a saborosa felicidade resultante do sucesso que a vivenciação desses valores proporciona. Dentro e fora do campo.
“Educar é formar, e neste caso através do desporto. Há que ensiná-los a obedecer, a competir, a superarem-se, a serem humildes… Com estes valores serão melhores pessoas e desportistas.”
Vicente Del Bosque citado por (Jordi Urbea & Gabriel García de Oro, 2012)