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Valores humanos – Capítulo II – Uma sociedade em mudança [Subscrição Anual]

Publicamos a continuação do tema Valores humanos, e o seu segundo capítulo – “Uma sociedade em mudança”. Desta vez são abordadas as mudanças sociais e morais que vivemos e a sua influência no Desporto, particularmente, no Futebol.

O tema Valores Humanos encontra-se enquadrado em:

Por outro lado este tema será constituído pelos seguintes captítulos:

  1. Os alicerces do homem… e consequentemente do seu desempenho
  2. Uma sociedade em mudança
  3. Treinador e… educador
  4. O “jogar” expõe e cultiva valores
  5. Priorizar os (bons) valores humanos
  6. Que valores?
  7. A transmissão de valores

Deixamos um excerto do segundo capítulo publicado – Uma sociedade em mudança.

(…)

“Estou absolutamente convencido de que fama e dinheiro são valores insignificantes. Acontece que, são descritos com um peso tão significativo que parece impossível resistir a valorizá-los.”

Marcelo Bielsa, citado por (Marvel, 2012)

Num editorial da Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, (Olímpio Bento, 2005) desabafa que “todos os dias surgem novos dados a confirmar a suspeita e a justificar o receio. A desertificação está a aumentar em todo o Mundo. Do céu ou não cai água suficiente ou então ela não é repartida por igual, desobedecendo assim aos desígnios e à bondade da divina providência. Em consequência diminui, em muitos pontos do globo, a verdura dos campos, das florestas e dos rios, das perspectivas e horizontes; e aumenta o deserto das areias, dos terrenos secos e calcinados. Com isso crescem também a fome e a pobreza, a desolação e o desencanto, a indiferença e a falta de motivos para sorrir e cantar. Os olhos desaprendem de ver, o coração de sentir e a razão de inteligir. Enfim, a beleza e a harmonia cedem o lugar à estética da aridez e fealdade. A desertificação aumenta gravosamente em muitos outros sectores. Até há não muito tempo um dos traços marcantes da pessoa era a vergonha na cara. Pois bem, a vergonha foi igualmente atacada pela moléstia da seca e esta vai alastrando de forma vertiginosa. Atingiu já a consciência, que por causa disso caiu num estado de letargia e dormência, do qual não dá mostras de acordar. Não se pode, pois, esperar dela que distinga com presteza entre a verdade e a mentira, entre a rectidão e a justiça, entre a correcção e a falsidade, entre a lisura e a falcatrua, entre a nobreza e a mesquinhez, entre a probidade e a desfaçatez, entre a honra e a desonra, entre a dignidade e a baixeza, entre o belo e o horrendo, entre o bem e o mal, entre a humanidade e a animalidade. De sonhos e ideais fala-se pouco. O silêncio vai-se abatendo sobre eles, reduzindo o tamanho do homem e da vida. Ademais aquilo que não tem palavras, aquilo que não se diz e deixa de ser nomeado deixa forçosamente de existir. De princípios e valores ainda há resquícios e sinais”.

Também (Jorge Bento, 2004) revela que “constatamos atónitos que a batalha pelo homem como pessoa moral é muito difícil de ganhar e carece de ser retomada em todas as épocas e lugares e por todos os meios. Sentimo-nos tomados de desânimo, impotência e pessimismo face ao crescendo de uma pseudo-ética ausente de tudo quanto implique respeito de compromissos e mandamentos. Admite-se o vale tudo e o sucesso a todo o custo, até mesmo com o atropelo dos mais elementares valores cívicos e morais. Agora tudo é permitido. Como se deveres e direitos não fossem as duas faces da moeda da vida”. O mesmo autor, (Bento, 2002), aludindo-se à perspectiva dos professores, descreve que “sentimos sobretudo que a educação está a conhecer um falhanço rotundo. O que está em causa não é só a verdade desportiva, é um mundo de verdade em primeiro lugar, porque é do contexto mais geral do grande mundo que todos os pequenos mundos (como é o caso do desporto) e a sua configuração brotam. Ou se está do lado de um mundo que se pauta por valores éticos e estéticos, ou se alinha com um mundo que se forja na batotice, na trafulhice, na fealdade e negrume de emoções e sentimentos”. O autor (Rosado) concorda com esta perspectiva explicando que “a comunidade desportiva reflecte muitos dos valores presentes na sociedade. Os jovens são influenciados pelos valores comunicados explícita e implicitamente no clube, na escola e na comunidade”.

A importância destas ideais intensifica-se perante uma sociedade que muda. De acordo com (Santos, 2017), “num estudo realizado em 2011 pelas psicólogas de UCLA, Yalda Uhls e Patricia Greenfield, foram analisados os programas televisivos dos últimos 50 anos nos Estados Unidos e quais os valores transmitidos nos programas para a faixa etária dos 6 aos 9 anos. O que se verificou foi uma mudança drástica! Entre 1967 e 1997, os valores mais presentes eram o espírito de comunidade, a benevolência, a imagem, a tradição e a popularidade. No final da lista encontravam-se a fama, a condição física, o hedonismo o espiritualismo e o sucesso financeiro. Avançando até 2007 (ano em que os programas de maior sucesso foram Hannah Montanna e American Idol) os valores mais estimulados passaram a ser a fama, a realização, a popularidade, a imagem e o sucesso financeiro, seguidos de perto pelo egoísmo, ambição, materialismo e prepotência. No final da lista encontramos agora o espiritualismo, a tradição, a segurança, a conformidade e a benevolência. Com a globalização da internet e as centenas de canais televisivos, são cada vez mais os programas para a faixa etária dos 6 aos 9 sobre crianças que buscam a fama através da indústria do entretenimento. A consequência? A “Fama” é agora o valor mais presente na mente das crianças destas idades. Outro estudo recente revelou que, para as crianças com menos de 10 anos, os objectivos mais importantes são: 1) ser famoso, 2) ser atraente e 3) ser rico”.

(…)

Valores humanos – Capítulo I – Os alicerces de cada indivíduo… e consequentemente do seu desempenho [Subscrição Anual]

Estamos a publicar mais um tema do trabalho Saber Sobre o Saber Treinar, conteúdos exclusivos a assinantes do projecto. Desta vez dentro da dimensão Liderança, e Qualidades do Líder, abordamos os Valores Humanos. No passado já publicámos excertos e artigos relacionados com este tema, porém, iremos agora aprofundá-lo em vários capítulos. Dada a sua extenção, optámos por publicar, de forma faseada, cada um desses capítulos. Prevemos ainda, no futuro desenvolver cada um dos valores humanos que identificamos como fundamentais não só numa função de liderança, como em qualquer momento das nossas vidas.

Assim, o tema Valores Humanos encontra-se enquadrado em:

Por outro lado este tema será constituído pelos seguintes captítulos:

  1. Os alicerces do homem… e consequentemente do seu desempenho
  2. Uma sociedade em mudança
  3. Treinador e… educador
  4. O “jogar” expõe e cultiva valores
  5. Priorizar os (bons) valores humanos
  6. Que valores?
  7. A transmissão de valores

Deixamos um excerto do primeiro capítulo publicado – Os alicerces do homem… e consequentemente do seu desempenho.

“Tudo aquilo o que aprendi sobre a moral dos homens, aprendi-o nos campos, jogando futebol.”

Albert Camus

(…)

Por outro lado, o autor, (Vilela, 2000) sustenta que “as nossas estratégias internas, em maior ou menor grau, conduzem-nos a escolher: fazer ou não fazer, fazer isto ou aquilo. Podemos também escolher valores, objetivos, crenças. Embora tenhamos objetivos e valores, nada efetivamente obriga-nos a fazer qualquer coisa, podemos ficar estáticos para o resto da vida. Podemos ter estratégias de decisão, que nos proporcionam alternativas e critérios, mas ainda assim será necessário o elemento adicional da vontade pessoal”. O autor acrescenta que os seres humanos são sistemas, com muitas partes integradas e funcionando harmónicamente, mesmo que por vezes o que acontece não agrade a pessoa. Essa harmonia entre objetivos, valores, crenças e todos os elementos é chamada ecologia interna. Todo ser humano é um sistema ecológico nesse sentido”. Porém, os valores têm uma importância vital pela forma como guiam o ser humano. Segundo (Markos Peña et al, 2003), “os valores são princípios que regulam o comportamento humano em qualquer momento e situação; as atitudes, são determinados comportamentos que manifestamos perante diferentes situações; as normas, são regras de comportamento que temos para dirigir as actividades e determinar os valores”.

O treinador português (Queiroz, 2003) citado por (Lemos, 2005), defende que “um país não se mede pela dimensão das fronteiras, mas pelas ambições, valores e ideias”Mais especificamente, de acordo com (Castelo, 1996), “dentro do contexto da nossa civilização, o desporto é considerado por inúmeros autores como um fenómeno que está profundamente associado aos aspectos sociais (é um facto institucional que tem a sua própria organização, as suas regras, as suas infra e super-estruturas) e aos aspectos culturais (considerado como um processo de actualização de valores culturais, morais, estéticos, militares e sociais), os quais derivam fundamentalmente da sua popularidade e da sua universalidade. Todavia, embora as opiniões divirjam no que diz respeito ao sistema de valores sobre os quais este fenómeno assenta, a sua importância não sofre qualquer tipo de contestação“. O treinador português, Leonardo Jardim, entrevistado por (Almeida, 2011) defende o respeito pela individualidade, descrevendo que “somos todos iguais mas somos todos diferentes”, contudo, é claro para si que isto “sabendo que têm de existir comportamentos, atitudes, valores, etc., que devem ser coincidentes, de forma a que consigamos superar as nossas adversidades internas e externas (…)”.

Num trabalho sobre Liderança, os autores (Guerreiro & Silva, 2012), defendem que o desempenho e a satisfação com o trabalho tendem a serem maiores quando os valores do trabalhador coincidem com os da empresa. Os valores podem variar de indivíduo para indivíduo. A liderança por ideal busca integrar e alinhar esses valores, de modo que possa desenvolver para a sua cadeia produtiva resultados econômicos, sociais e culturais. Os líderes por ideal geram valor social quando conseguem resultados positivos para a sociedade por meio de valores, convicções e modelos mentais que propiciam uma visão sustentável. Valores sustentáveis geram também eliminação de desperdícios, o que diminui consideravelmente custos e aumenta a eficiência da produção. A liderança por ideal gera resultados culturais quando agrega, por meio de suas convicções, novos valores para o seu ambiente interno e externo”. Os autores dão um exemplo e descrevem que “Steve Jobs foi um grande líder por ideal. Ditou tendências tecnológicas, passou suas convicções e valores para a cultura organizacional da Apple e formou uma empresa capaz de inovar e gerar resultados”.

Na opinião do treinador português (Carvalhal, 2014), “a sociedade pode evoluir ou (in)voluir, mas há coisas que nunca passarão de moda e serão sempre importantes no êxito de qualquer actividade: o caráter humano”. O autor (Sérgio, 2016) explica que “Edgar Morin, n’Os Sete Saberes para a Educação do Futuro, diz-nos que “o ser humano é, simultaneamente, físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. É esta unidade complexa da natureza humana, que está completamente desintegrada no ensino, através das várias disciplinas e tornou-se assim impossível aprender o que significa ser humano (…). A condição humana deveria ser o objeto primeiro de todo o ensino”. Eu permito-me adiantar: a condição humana deveria ser o objeto primeiro de uma cuidada preparação científica de uma equipa de qualquer uma das modalidades desportivas e portanto o paradigma organizador do trabalho, no âmbito do desporto, deverá situar-se entre as ciências hermenêutico-humanas. Assim, os problemas desportivos não são, sobre o mais, de ordem tática, mas humana. Por isso, a liderança, a coragem, o espírito de grupo, a generosidade, um querer à altura do dever, a fé são problemas desportivos. A fé? Sim, a fé em ideais, em valores, que fazem de um número uma comunidade, um grupo sólido e coeso. A propósito deste tema, Jesus Cristo, Sócrates, S. Francisco de Assis, Gandhi, Luter King, Buda, Nelson Mandela, o Papa Francisco podem citar-se como exemplos de um funcionamento eficaz da prática desportiva. No desportista, liberdade e dever andam juntos, porque só quem é livre pode assumir o dever de ser livre. O campeão, no desporto, é um aristocrata moral – que o não esqueça os que muito sabem de desporto e ainda os Messis e os Ronaldos. No desporto, tão importante como a aprendizagem de métodos é a aprendizagem de conteúdos. Os métodos, sem conteúdos, para pouco servem. É o conteúdo que torna, ou não, apetecível o método. E, no conteúdo, não há só tecnociência, há também filosofia e pedagogia e poesia e amor. Sabem estas coisas os especialistas em Desporto?”.

“Eu colocaria um jovem a praticar um desporto colectivo, porque ele aprenderá os valores que não encontraria nos desportos individuais. O futebol, que é o mais importante desporto do Mundo, é, fundamentalmente, um evento social. Na minha opinião, a melhor forma de uma criança se integrar numa região ou numa cidade é inscrever-se no clube local de futebol.”

(Andy Roxburgh, 2005)

(…)

“O carácter não é um dom, é uma vitória”

A frase que intitula o artigo é de Ivor Griffith e encaixa naquelas que deveriam ser as verdadeiras vitórias do desporto de formação. Ao invés, semanalmente assistimos a uma deterioração dos valores e consequentemente dos comportamentos de todos os agentes desportivos. Num enquadramento em que a vitória na competição é o mais importante, onde vale tudo para atingi-la, e onde também se assiste a uma incrível normalização violência verbal, não é então para nós surpresa que a escalada para a violência física, protagonizada nas situações sucedidas recentemente nos vários níveis do jogo, suceda.

Também semanalmente, num programa raro na televisão portuguesa tendo em conta os temas abordados, são sublinhados os problemas, as causas e por vezes até são apontadas algumas soluções. Várias vezes da boca de um homem que percebe verdadeiramente o que é liderar e da responsabilidade que a função carrega. Não é difícil perceber onde está a raiz do problema, mas Tomaz Morais, com a ajuda dos companheiros de programa, explicam. Sendo verdade, que pelas funções que ocupam, existem uns mais culpados que outros, como Tomaz Morais sublinha, todos somos culpados.

Somos todos culpados e deixamos um exemplo. Antevemos que muitos dos que se calhar até concordam com esta visão e criticam os outros múltiplos programas da televisão portuguesa que fomentam estes problemas, mas que ainda assim despendem horas da sua semana garantindo-lhes audiência, não gastem onze minutos com o vídeo acima, e no fundo com o tema mais importante de todos.

“A liderança ética deve prevalecer.”

Tomaz Morais

“Tudo aquilo o que aprendi sobre a moral dos homens, aprendi-o nos campos, jogando futebol.”

Albert Camus

Valores Humanos V e a “formação”… do dirigente desportivo

O ex-selecionador nacional de Rugby, Tomaz Morais, sempre com intervenções interessantes na dimensão Liderança, toca em dois temas fundamentais no desporto, nomeadamente no desporto de formação. No primeiro, os valores humanos, ao qual temos dado grande relevância neste espaço, dada a nossa convicção da sua importância basilar em todo e qualquer processo educativo, e o segundo, também consequência do primeiro, sobre a formação do dirigente desportivo.

Esta é uma questão que nos assola, igualmente pela importância capital que tem numa estrutura desportiva. Pensando no caso do Futebol, e em particular do contexto português, hoje presenciamos uma evolução exponencial da qualidade dos treinadores, desde a formação até ao futebol profissional, e também por consequência disso, da quantidade e qualidade dos praticantes. A exigência pela formação dos treinadores, a competitividade dentro da classe e a difusão por diferentes meios de novos conhecimentos e ideias foram causas para esta evolução. Contudo, se pensarmos estruturalmente, numa hierarquia de decisão, encontramos hoje o maior défice de conhecimento, formação e preparação no topo dessa hierarquia, portanto, em quem toma as decisões mais importantes e consequentemente tem o poder para influenciar mais pessoas. Tomaz Morais, toca precisamente nesse ponto.

Valores Humanos IV

Como já referido antes, não sendo objectivo deste espaço o destaque individual a jogadores e treinadores que se mantêm em actividade, isto pela visão colectiva que temos do jogo, existirão porém sempre excepções, às quais não devemos fugir. E com toda a justiça. Maior importância ganham, se por motivos de natureza humana, pois como já salientámos por diversas vezes, são para nós os alicerces de tudo o resto. O caso em questão é valorizado ainda pelo contexto não profissional em que se insere, contexto esse muitas vezes não abordado nestes espaços.

Conhecendo o homem e o trabalho de Filipe Martins, não foi surpresa para nós o que sucedeu hoje na Taça de Portugal. Num tempo em que a dimensão liderança surge hiper valorizada, acumulam-se os exemplos de lideranças premeditadas e artificiais, que muitas vezes têm grande impacto nos momentos de sucesso, mas que facilmente se desmoronam perante o insucesso. A sua liderança, construída sobre respeito, autenticidade, ambição, e como até refere no vídeo, crescendo de forma progressiva, garantiram-lhe solidez e o respeito de todos. Não é só no futebol profissional que teremos exemplos a seguir.

Mário Wilson

Faleceu ontem Mário Wilson. A alcunha “Capitão” subentende desde logo o reconhecimento da sua liderança. Diversos relatos transmitem que a mesma acompanhou-o de jogador a treinador. O ex-jogador e treinador Carlos Manuel em (SportTV, 2016) confirma esta qualidade ao explicar que Mário Wilson tinha “liderança em todos os sítios por onde passou. (…) A alcunha vem da Académica onde já o tratavam por capitão. (…) Ele era realmente uma pessoa extremamente afável e com uma liderança enorme. Era um líder nato”. Talvez a melhor homenagem a Mário Wilson esteja no facto de estar entre os treinadores que marcaram o futebol pelos valores humanos que transportava. Toni, citado em (Record, 2016), transmite isso mesmo referindo que era “um um homem bom, uma figura incontornável do desporto português. Um treinador que marcou os jogadores que treinou e que se vai embora. O seu “filho branco” verga-se perante aquele que foi o seu segundo pai“. João Vieira Pinto citado em (Record, 2016) segue a mesma linha elogiosa ao referir que “todos nós temos de fazer uma vénia ao ‘capitão’. De facto, onde o ‘capitão’ estava presente havia força, sabedoria e paz. Quando estávamos ao pé dele sentíamos isso tudo. (…) do ‘mister’ Mário Wilson vou ficar com muitas e boas, porque foi uma pessoa que me marcou imenso. Ganhei uma Taça de Portugal com ele, fiz questão de festejar com ele, porque quando havia turbulência e ele aparecia as pessoas ficavam mais calmas. Era um grande homem, era um ótimo treinador e foi uma pessoa que me marcou imenso”. João Vieira Pinto não tem problemas em assumir que com Mário Wilson teve uma relação de quase de pai para filho“.

Mário Wilson - Mário Wilson e Toni

Com certeza pelas mesmas qualidades, Mário Wilson era também elogiado pelos seus discursos. Alguns foram mesmo públicos, mas ex-jogadores referem que as suas palavras nos balneários tocavam-lhes intensamente. Pedro Henriques em (SportTV, 2016) descreveu que “talvez tenha sido o único homem do futebol que me tenha empolgado com um discurso. Tinha essa capacidade. Tinha uma oratória fantástica, pelo timbre, pela voz e do bater da mão tradicional e característico nele. (…) Um homem fantástico”. Mas Pedro Henriques salienta acima de tudo a autenticidade de Mário Wilson. O ex-jogador defende que “é muito difícil encontrar alguém com disponibilidade para ouvir, ainda para mais no futebol que muitas vezes os discursos são tão ocos e é tudo mais do mesmo. É tudo dito com interesse e com segundas intenções. Aquilo é que eram de facto discursos. (…) O que ele dizia causava impacto”.

Se temos dificuldade em diferenciar a importância das, para nós, três dimensões da intervenção do treinador: Liderança, Metodologia de Treino e Modelo de Jogo (explicação desta visão aqui), sentimos que pela condição humana e a consequente importância das relações, nomeadamente num jogo colectivo, que a Liderança pode marcar uma maior diferença em muitos momentos e contextos. Manuel Sérgio defende que a condição humana deveria ser o objeto primeiro de todo o ensino. Procurando ir mais longe, dentro da Liderança, e como iremos no futuro publicar, dentro das “Qualidades do Líder”, sentimos ainda que os “Valores Humanos” são de basilar importância. Será em cima deles que tudo o resto se edificará. Se estes forem frágeis”, todo o edíficio materializado na qualidade do trabalho do treinador, tenderá a ruir. Tendo em conta a grande evolução que o Futebol viveu, com naturalidade Mário Wilson poderia até estar longe do actual conhecimento metodológico e táctico, porém, baseando-nos na multiplicidade de relatos que nos chegam, em Liderança e principalmente, em termos humanos, todos teríamos a aprender com ele.

Mário Wilson - Mário Wilson e João Vieira Pinto

Valores Humanos III

Pela responsabilidade que transporta, mais importante que discutir ideias de jogo ou metodologia de treino, é para nós fundamental falar de valores humanos e consequentemente de liderança. Nomeadamente perante exemplos que observamos todas as semanas nos campos de futebol. Justificamos ainda, da mesma forma que iniciámos um segundo artigo sobre este tema:“Porque na nossa opinião não vale tudo para obter rendimento. E também, porque esse “tudo”, poderá no futuro ser uma causa para o insucesso. No Futebol e na vida.”

“Segundo (Urbea, et al., 2012), “qualquer departamento de uma empresa é o reflexo do seu chefe. Qualquer família é o reflexo dos seus líderes. Se um chefe é caótico, o departamento é caótico. Se os pais são desorganizados, os filhos são desorganizados. Não vale a pena lamentarmo-nos. Somos responsáveis pelo que transmitimos, fazemo-lo querendo ou sem querer”. O autor (Neto, 2012) vai mais longe e descreve que “a expressão de uma prática de futebol é o reflexo e o projecto da sociedade donde nasce. O reflexo, porque nele está a sociedade que o gerou; o projecto, porque também o futebol pode e deve ajudar à transformação da sociedade. Como pode negar-se, atendendo à paixão multitudinária que ainda o vai envolvendo, que o Futebol tenha todas as condições para concorrer à transformação da sociedade?” O autor acrescenta que o “Futebol, para ser um jogo solidário, terá de existir sempre, como dizíamos, uma aliança entre o saber e a vida, porque só sabe quem vive e só a partir deste conhecimento vivido que é possível falar de valores que humanizam o Futebol”. Esta ideia é reforçada pela opinião de René Meulensteen sobre o treinador escocês Alex Ferguson, em (Brackley, 2011), que não considera Ferguson como apenas um dos melhores treinadores de sempre, mas também “um dos melhores seres humanos, com elevados normas, elevados valores para as coisas normais que são importantes na vida. Para além de ser um grande treinador é um fantástico “treinador” de vida”.

Portanto, é para nós claro que… não vale tudo para ganhar.

Valores Humanos II

Hélton Arruda conforma adversário.

“Um gesto vale mais que muitas palavras. A frase está propositadamente adulterada para corresponder às pretensões do nosso artigo, mas foi assim mesmo, fazendo, que Helton provou o porquê de ser tão respeitado em Portugal. Depois de defender uma grande penalidade, e ao invés de ir celebrar com os seus colegas de equipa, o guardião brasileiro perdeu alguns minutos a falar com Douglas Abner. Num abraço, o experiente jogador disse ao jovem compatriota para levantar a cabeça, até porque o futebol é isto mesmo: derrota, vitória, fair-play e aprendizagem.”

in http://www.noticiasaominuto.com/desporto/519711/gesto-de-capitao-helton-valeu-aplauso-em-unissono

“Este tipo de comportamento foi considerado um puzzle por Charles Darwin quando da elaboração da sua teoria de evolução por selecção natural, pois comportamento deste tipo traria prejuízo para quem o produz, mas a selecção natural não elimina estes comportamentos. Uma solução apontada é que o comportamento traria benefício para um grupo de organismos, surgindo o conceito de selecção de parentesco”. (Wikipédia, 2012)

Valores Humanos

Porque na nossa opinião não vale tudo para obter rendimento. E também, porque esse “tudo“, poderá no futuro ser uma causa para o insucesso. No Futebol e na vida.

(…)

Na opinião do treinador português (Carvalhal, 2014), “a sociedade pode evoluir ou (in)evoluir, mas há coisas que nunca passarão de moda e serão sempre importantes no êxito de qualquer atividade: o caráter humano”.

Segundo (Urbea, et al., 2012), “qualquer departamento de uma empresa é o reflexo do seu chefe. Qualquer família é o reflexo dos seus líderes. Se um chefe é caótico, o departamento é caótico. Se os pais são desorganizados, os filhos são desorganizados. Não vale a pena lamentarmo-nos. Somos responsáveis pelo que transmitimos, fazemo-lo querendo ou sem querer”. O autor (Neto, 2012) vai mais longe e descreve que “a expressão de uma prática de futebol é o reflexo e o projecto da sociedade donde nasce. O reflexo, porque nele está a sociedade que o gerou; o projecto, porque também o futebol pode e deve ajudar à transformação da sociedade. Como pode negar-se, atendendo à paixão multitudinária que ainda o vai envolvendo, que o Futebol tenha todas as condições para concorrer à transformação da sociedade?” O autor acrescenta que o “Futebol, para ser um jogo solidário, terá de existir sempre, como dizíamos, uma aliança entre o saber e a vida, porque só sabe quem vive e só a partir deste conhecimento vivido que é possível falar de valores que humanizam o Futebol”. Esta ideia é reforçada pela opinião de René Meulensteen sobre o treinador escocês Alex Ferguson, em (Brackley, 2011), que não considera Ferguson comoa apenas um dos melhores treinadores de sempre, mas também “um dos melhores seres humanos, com elevados normas, elevados valores para as coisas normais que são importantes na vida. Para além de ser um grande treinador é um fantástico “treinador” de vida”.

(…)

O treinador alemão (Klopp, 2009), descreve que através dos seus valores deve “fazer tudo o que está ao meu alcance para mudar o lugar onde estou para melhor. Para mim, em variadíssimas situações, é importante que as pessoas que me rodeiam estejam bem. Eu estou sempre bem. Desejo verdadeiramente fazer um trabalho que torne o Mundo melhor. Infelizmente, esse desejo não significa que seja bem-sucedido na tarefa de aceitar que há coisas – como as doenças ou a dor – que não posso mudar”.

(…)

O treinador português José Mourinho, citado por (Lourenço, 2010), considera que “relativamente ao mundo do futebol, se perguntarmos, hoje, à grande maioria dos jogadores que comigo trabalharam quais os momentos que eles guardam de mim, que momentos os marcaram mais, acredito que, mais do que responderem que foi esta ou aquela substituição no jogo tal, ou que na vitória X foi a decisão Y, mais do que qualquer aspecto técnico das minhas decisões, o que verdadeiramente os marcou, o que mais lhes ficou na memória foram as características da minha personalidade, se quisermos, as características da minha liderança, a forma como liderei o grupo, enfim, a forma como os marquei em termos humanos. É isto que eu acho, sem ter feito nunca esse tipo de pergunta a alguém, nomeadamente, a qualquer jogador com quem já tenha trabalhado no passado.”

“O carácter não é um dom, é uma vitória.”

Ivor Griffith citado por (Cubeiro, et al., 2010)

“No Futebol, portanto, o jogador deve desenvolver-se em equipa, sem ser reduzido à equipa. E assim o treinador, nos seus momentos de reflexão, poderá levantar, no mais íntimo de si mesmo, esta questão: qual o tipo de pessoa que eu quero que nasça dos jogadores que lidero? Reside aqui, no meu modesto entender, o momento essencial do treino.”

(Sérgio, 2011), citado por (Esteves, 2011)

Jürgen Klopp


“Devo fazer tudo o que está ao meu alcance para mudar o lugar onde estou para melhor. Para mim, em variadíssimas situações, é importante que as pessoas que me rodeiam estejam bem. Eu estou sempre bem. Desejo verdadeiramente fazer um trabalho que torne o Mundo melhor. Infelizmente, esse desejo não significa que seja bem-sucedido na tarefa de aceitar que há coisas – como as doenças ou a dor – que não posso mudar”.

(Jürgen Klopp, 2009)

O treinador alemão Jürgen Klopp em (UEFA.com, 2012), descreve a propósito do seu comportamento altamente emocional durante os jogos que “nada disso é para benefício dos outros. Este é o verdadeiro Jürgen Klopp e talvez não seja sempre a melhor forma de ser, mas penso que uma equipa apenas pode actuar intensamente se for acompanhada de igual modo de fora. Não se tem uma grande influência de fora, mas aquilo que se procura durante a semana é ter um desempenho especial no fim-de-semana e não posso manter-me afastado disso, seja de forma negativa ou positiva. Pode haver uma melhor forma de treinar, mas pelo menos o risco de ter uma úlcera estomacal não é tão alto, porque não mantenho tudo dentro de mim”. O autor (Simão, 2013) cita Klopp, solicitando que “olhem para mim durante os jogos… eu festejo quando pressionamos, quando recuperamos a posse de bola ou quando ganhamos um lançamento lateral. E digo yesssss!”