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Erros metodológicos comuns: Ideia de jogo e treino ambíguos

Publicamos um novo sub-tema na área Metodologia.Abordamos um erro metodológico comum: Ideia de jogo e treino ambíguos.

“é por isso fundamental saber o que se quer. Quer em termos de ideias (concepção do Modelo) que ao nível da operacionalização no plano prático (concretização do Modelo em Especificidade)”.

(Pedro Pereira, 2009)

O Desporto Escolar enquanto oportunidade para passar valores. A jogadores, treinadores e pais.

“O técnico aponta para o desporto escolar como caminho para criar a cultura desportiva que falta e que poderia gerar interesse e aumentar a presença em estádios e pavilhões para jogos ao vivo, algo ainda em falta num país que já consegue formar atletas incríveis.”

(Vítor Matos, 2024)

O pensamento de Vítor Matos sobre o Desporto Escolar é sem dúvida interessante e importante, sendo fundamental a reflexão sobre o papel do mesmo no desenvolvimento do Desporto associativo.

Se do ponto de vista desportivo, um maior investimento neste contexto propiciaria mais um espaço que procurasse colmatar o desaparecimento das práticas e jogos que se realizavam na “rua”. Simultaneamente permitiria oportunidade de prática e evolução aos jovens que, ou ainda não manifestam o desejo de progredir no seu percurso desportivo, ou que não são seleccionados para o desporto formal (clubes). É sabido que os timings de maturação e desenvolvimento são diferentes para cada um e que muitos, também por essas razões acabam por não encaixar imediatamente nos clubes. Esse é outro problema, outra discussão.

“Está a acontecer uma espécie de fabricação de campeões em laboratório, o que é uma ilusão. Tem de haver um trabalho correto ao nível do clube, da escola, do desporto escolar, da educação física… Porque o trabalho no clube e no desporto escolar é para os que têm mais jeito, mas a educação física é para todos. Mas em todos estes casos há que respeitar as tais etapas de desenvolvimento das crianças e dar-lhes autonomia e liberdade de participação.”

(Carlos Neto, 2017)

Porém, o Desporto Escolar nunca será o verdadeiro substituto da “rua” e o principal meio introdutório da criança ao jogo e ao desporto. Deste modo tudo deverá ser feito para preservar a “rua” e todas as suas qualidades. Desde logo por ser genuinamente prática deliberada, território sagrado da autonomia, da auto-aprendizagem, da criatividade e derradeiramente, da… liberdade. Porque o Desporto Escolar será sempre dirigido por adultos, com tudo o que de bom e mau estes potencialmente podem trazer. Paralelamente, se no mesmo também há assistência, nomeadamente dos pais, isso torna o contexto abissalmente diferente.

E sobre estas duas últimas características, torna-se importante dar dois exemplos negativos, até para percebermos o que urge mudar. No actual Desporto Escolar existem treinadores que o conduzem como se tratasse do desporto de rendimento dos adultos. Existem exemplos de treinadores que, em competição, deixam, sistematicamente, jovens jogadores e jogadoras com pouca ou sem qualquer minuto de utilização. Tudo pelo resultado. Se já seria altamente questionável em treinadores de formação, quando são professores de Educação Física a fazê-lo, se a situação já era grave, torna-se ainda mais perversa. Ou, noutro exemplo, quando o feedback e o estilo de liderança na relação como os jogadores / jogadoras é tão agressivo e autocrático que até com adultos os mesmos seriam questionáveis.

Por outro lado, os maus exemplos também vêm da assistência, propriamente dos pais. Exemplos de palavras agressivas, injuriosa e repletas de ódio, contra árbitros, adversários e os próprios filhos chegam-nos com uma frequência assustadora. Inclusive relatos de agressões entre pais. Futsal, basquetebol, voleibol. Não é o desporto em si e até os maus exemplos que possam vir do desporto de rendimento que são decisivos. O que é decisivo, são a falta de regras, de educação, de valores. Dos adultos. Sendo que a crescente desvalorização dos contextos informais, semi-formais, formais e da própria educação física contribuem decisivamente para sintomas preocupantes que vamos assistindo na nossa sociedade. Porque, quer acreditem, quer não, o desporto e o jogo, são um dos principais veículos de transmissão de… bons… valores.

Assim, concordando com as palavras de Vítor Matos, mas mais do que cresçam em número, preocupa-nos que os espectadores cresçam em qualidade. Será um enorme desafio para o Desporto Escolar, mas também para o federado, a educação desses espectadores. Até porque o cenário alternativo, a proibição de espectadores no Desporto Escolar e mesmo no federado de Formação, colocando a possibilidade de resolver o problema a curto prazo, criará um ambiente hermético que não preparará os jovens desportistas para a pressão que mais tarde irão ser sujeitos na eventualidade de progredirem para o desporto de rendimento. Mas até podemos até acrescentar… em muitas outras vias profissionais. Por outro lado, proibindo espectadores nesses contextos, perder-se-á essa oportunidade preciosa de fazer reflectir e passar valores em quem frequenta a bancada. Porque nunca é tarde para crescer.

“Devemos olhar para os espaços de treino com mais cuidado; devemos olhar para a formação de treinadores com mais cuidado; devemos olhar para o desporto escolar com muitíssimo cuidado e atenção, pois é o desporto escolar que é o início de tudo. Se Espanha, Alemanha e Inglaterra avançaram, esteve tudo muito na base do desporto escolar, na forma como os professores e a dinâmica do ensino despertou os alunos para aquilo que são as necessidades da prática desportiva e despertou os pais para esse fenómeno.”

(Luís Castro, 2018)

O talento, a qualidade e a relação da “rua” no desenvolvimento de ambos. E ainda o potencial.

“Que saudades… (de Jackson Martínez e de James Rodríguez). Com os jogadores que fui tendo depois… percebi que não sou Deus…” 

(Vítor Pereira, 2017)

Os treinadores de Futsal, Nuno Silva e Cláudio Moreira, vão ao encontro de uma ideia que temos vindo a desenvolver. O que é o talento, o que é a qualidade individual e a relação da tão falada “rua” no desenvolvimento de ambos.

Apesar de muito referidos, quer por quem joga e treina, quer em bibliografia e por quem pensa o processo, a verdade é que não estão claros. Nem o que realmente significam, nem a sua abrangência. Nós temos uma proposta aparentemente idêntica à visão destes dois treinadores.

“Como família, éramos naturalmente rijos. Os meus pais eram rijos e o ambiente em que crescemos era rijo. Caíamos e voltamos a levantar-nos. E damos sempre o nosso melhor e tentamos ganhar. Detestávamos perder.”

irmão de Michael Jordan, Ronnie Jordan em (The Last Dance, 2020)

Antes, há ainda outra ideia que é a propensão genética. Ou seja, a influência que os genes herdados terão no talento. Uma noção clássica que ditou durante séculos vários papéis sociais e que também surgiu no desporto. Porém, vários autores como por exemplo Daniel Coyle, Anders Ericsson e Robert Pool têm-se dedicado ao tema e têm descrito um papel residual da genética no desenvolvimento do talento. Mais do que uma propensão genética, referem a importância de uma propensão social ou contextual. Seja qual for a sua influência, é o talento que apontamos como o primeiro patamar para obtenção de um elevado nível qualitativo no jogo de futebol.

“O jogador de futebol ‘faz-se’. Levei esta ideia para o Barcelona e foi uma confusão total. Eles acreditavam que o jogador de futebol nasce feito. Quase toda a gente no futebol ainda pensa assim hoje em dia. Veja, perguntei a jogadores de futebol: quantas horas na tua infância, todos os dias, dedicavas ao futebol? As respostas dos mais velhos variavam entre 6 e 8 e os atuais nunca menos de 4. E Maradona e Messi deram-me a mesma resposta: ‘Quantas horas? Todas!!’. Acreditar que o jogador de futebol nasce ensinado é um grande erro, nem mesmo acontece com os grandes craques. Cruyff é um bom exemplo; os que o viram jogar com aquela espantosa facilidade para tornar fácil o mais difícil, pensavam que ele tinha nascido jogador. Não acreditem, Johan teve a sorte de nascer junto ao campo do Ajax e de a sua mãe ser funcionária do clube. Se tivesse nascido num lar eminentemente musical, com pais profissionais e apaixonados por esta arte, Cruyff, dada a sua grande inteligência natural, teria sido um grande músico, mas não jogador de futebol.”

(Laureano Ruiz, 2014)

Em cima da propensão genética e contextual constrói-se então o talento. Para nós este surge principalmente em regime autónomo, em auto-descoberta, auto-aprendizagem e prática intensiva deliberada. Portanto, na rua, em casa, na escola, etc., mas quase sempre em auto-iniciativa e através de um desenvolvimento não assistido e liderado. É no fundo o estado mais puro do jogador de futebol, porque ainda não foi aculturado por nenhum treinador / clube e nenhuma Ideia específica de jogo ou no mínimo cultura de clube. É certo que durante o processo autónomo, naturalmente a criança e o adolescente também não estão imunes a influências culturais, aliás, desde logo estas levaram-no a jogar futebol… no entanto, nesta fase estas serão sempre uma escolha sua e não imposição.

“Ter talento não é suficiente. Porque o Futebol é um desporto de equipa.” 

(Leonardo Jardim, 2017)

Se entretanto a criança ou adolescente entrarem num clube e na prática federada, então, de forma mais ou menos intensiva de acordo com o escalão, ideias do treinador para o Futebol de Formação e eventualmente a Coordenação Técnica do clube, haverá a tal aculturação mais profunda e dirigida por terceiros, conhecimento do jogo transmitido, valores, etc.  Bons e maus. Tudo isso numa procura da optimização da eficiência e eficácia do jogador no jogo num contexto colectivo, portanto, num objectivo de alcançar qualidade. Porém, se nos aludimos ao Futebol de Formação, é seguro referir que durante este processo praticamente todas as crianças e adolescentes, paralelamente, também continuam a praticar o jogo no contexto informal, continuando assim a fazer crescer o seu talento.

“Entre as muitas histórias contadas por Vilà, sobre Messi, Xavi, Iniesta e outros tantos, apareceu uma particularmente interessante sobre Puyol. O defesa, que só chegou aos 15 anos ao Barcelona, não tinha, no entender de quem mandava, qualidades técnicas suficientes para ficar no clube. Mas aquele rapaz demonstrou tanta vontade, tanta determinação, tanto querer… que, no final, acabou por ficar. Foi aprendendo, foi melhorando, foi ficando. E, mesmo já na equipa A do Barcelona, continuava a treinar-se com Vilà, por fora, porque queria disfarçar os defeitos que tinha e, no fundo, ser melhor. E, até ao final da carreira, foi sempre melhorando. Jogadores ou treinadores, estamos sempre a aprender – e isso vai muito além dos resultados. Basta querer.”

(Mariana Cabral, 2019)

Regressando ao contexto do clube, o desenvolvimento da qualidade individual deveria ser objectivo prioritário em idades mais baixas do Futebol de Formação, e a qualidade colectiva de forma progressiva. Nomeadamente ao nível da complexidade e exigência das imposições comportamentais aos jogadores no seio de uma equipa. E finalmente já perto do escalão de seniores, um desenvolvimento, optimização e exigência sobre o seu rendimento. Individual e colectivo. Mas importa referir que qualidade individual e qualidade colectiva são interdependentes, e portanto que uma cresce com a outra, sendo o inverso também constatável. Tantos são os casos de jogadores que apresentam um alto rendimento em determinado contexto e depois noutro cai abismalmente.

“Aqui no City acho que ainda fiz um upgrade. Há uma preocupação enorme pelo detalhe e em perceber como esta equipa joga. Sinto que cresci imenso.”

(Bernardo Silva, 2019)

E aqui chegamos ao potencial. O potencial é a qualidade que perspectivamos, quer individual, quer colectivamente, e que ainda não produz, ou deixou de produzir rendimento. Deste modo, talento obviamente também perspectiva potencial. Mas num estado muito cru. A construção de uma qualidade em cima do talento, fará crescer esse potencial e aproximará a concretização desse talento em rendimento. E mais ainda em equipa. Porque num jogo colectivo ninguém verdadeiramente joga sozinho.

“Aparente paradoxo então

a auto-eco-hetero afirmação

no crescer colectivo

exalta o da individualidade

mas sem equipa consigo

nenhum jogador é bom,

e o inverso pode também

ser verdade

e assim qualidade tem.”

(Vítor Frade, 2014)

Memórias do Futebol de Rua. O golo ao ângulo.

A infância e adolescência imprimiu-nos memórias incríveis. Num plano de imaginação e criatividade infindável, as brincadeiras e os jogos que realizávamos na rua tinham um poder fenomenal para nos fazer sonhar. O futebol, culturalmente o jogo de maior impacto na maioria das sociedades, absorvia muitas crianças nesses contextos, fazendo-as visualizar feitos incríveis no próprio jogo da rua. Porém, em paralelo, também um dia num grande estádio numa final de uma grande competição.

Mas essa imaginação levava-nos a sonhos concretos. Na galeria dos mais notáveis, tínhamos o golo em pontapé de bicicleta, o golo em em remate “de primeira”, a jogada em que driblávamos todos os adversários e marcávamos ou assistíamos, a intercepção imperial sobre a linha de golo, o desarme limpo em tackle a um adversário que se preparava para ficar isolado, o túnel perfeito, o drible que desorientava por completo o adversário, a defesa do guarda-redes completamente em voo que interceptava um remate extraordinariamente colocado, e claro está… o fenomenal golo ao ângulo da baliza. Indiscutivelmente um local místico do campo de futebol. Símbolo da perfeição, de lendas e de mitos.

O golo ao ângulo da baliza ou lá próximo, era até antecedido por uma sensação de sucesso na execução de quem rematava, imediatamente após a bola sair do seu pé. Era como que uma espécie de premonição do que estava para acontecer. E nesse caso, no mínimo a bola encontrava o poste ou a barra da baliza, o que não providenciando eficácia, seria na mesma espectacular.

Na rua, ou no jogo de rendimento, este golo lendário promove uma sensação de admiração e êxtase entre jogadores e adeptos, pois é visto como um momento de pura genialidade. Assim, é muitas vezes lembrado e revivido, tornando-se parte da história e da mitologia do jogo.

Um “detalhe” pode tornar o talento indecifrável

“(…) a importância de falar primeiro com um pai de um jogador é decisiva.”

(Aurélio Pereira, 2013)

O relato de George Best não é uma novidade. Recordamo-nos de uma grande referência do nosso Futebol no processo de Scouting, Aurélio Pereira, que revelava consciência dos muitos erros cometidos quando, na década de 80, tinha de filtrar e selecionar, em conjunto com a restante estrutura do Sporting, centenas de jogadores em pouquíssimo tempo de jogo para cada um deles. Eram as condições possíveis no momento e só não erra quem não está no processo e não toma decisões.

Porém, hoje o conhecimento e experiência cresceram. Os grandes clubes, e até os de média dimensão têm outras condições e têm obrigatoriamente que errar cada vez menos. Muitos destes têm departamentos de Scouting profissionais, com acesso a muita informação e possibilidades de verem diversos jogos de um determinado jogador. Mas sejamos claros: o erro será sempre uma constante de processos de enorme complexidade como estes. Aqui, tal como no papel de treinador, o fundamental é ter consciência dessa mesma complexidade inerente ao processo, partir daí para uma análise e avaliação e procurar perceber o máximo de ângulos possíveis.

No panorama actual, tal como no treino, na eminência de entrar numa crise existencial, scout, treinador e clubes, ainda se procuram agarrar a dados mensuráveis, por vezes quantitativos, e a “métricas” com que se possam justificar. A si e a terceiros. Não que tudo isto não ajude, mas acabam por afastar tudo o que seja “ruído” e factos difíceis de mensurar ou perceber a sua influência no sistema complexo – jogador. O problema é que o tal efeito borboleta é mesmo real. E para o responsável, o que não passa de um detalhe, poderá influenciar decisivamente a análise e avaliação de um jogador. Quer falemos de rendimento, quer de potencial. Quer falemos de Futebol de Formação, quer de Futebol de Rendimento.

Se o pai de George Best não tivesse explicado a Matt Busby o que se passava com o filho, seria provável que Best não tivesse atingido o panteão dos jogadores lendários em que hoje se encontra. Uma vez mais, não é uma critica a Busby, um dos maiores da história do futebol que até ficou célebre pela aposta que fez em jovens jogadores e pelo crescimento e rendimento que os fez alcançar. O nosso foco vai para a extrema importância de todos os detalhes e da consciência que quem realiza estas escolhas tem de ter sobre isso. Ser mais “técnico”, mais “alto”, mais “inteligente”, mais “rápido”, menos “maturado”, fazer muitos golos, etc., podem ser qualidades importantes para predizer um talento. Porém, um “detalhe” pode ser o suficiente para anular tudo isto. E como no caso ilustrado, um “detalhe” pode tornar esse talento indecifrável. 

“Repara às vezes as pessoas raciocinam duma forma impeditiva, ou seja, parece um contrassenso, então como é que raciocinam? Porque estão possuídas de juízos de valor ou preconceitos. Às vezes até dizem assim: é inato. Não. Sabe-se que o inato é em sí adquirido. E o inato, a genética passou a utilizar termos novos, como epigenético, ecogenético… Precisamente para a importância de que qualquer pentelho, mesmo qualquer gene, na importância da relação com o meio envolvente. E daí que alterações bruscas ou sistemáticas possam lesar isso. É por isso que filogénese e ontogénese são coisas diferentes.”

(Vitor Frade, 2012)

“Tudo influencia. Não há uma parte que joga Futebol”

“Em primeiro lugar temos que entender o fenómeno como complexo, e se o é, jamais poderá deixar de ser complexo o modo como intervimos, reflectimos e actuamos sobre ele. (…) Há que estar perante esta realidade, reconhecendo-a como não linear e assim todo o pensamento tem de ter esta base, não linear.”
(Vítor Frade, 2013)

A importância do desenvolvimento do pé não dominante

Uma justificação mais profunda sobre a importância do desenvolvimento do membro inferior não dominante ficará para mais tarde e para o tema Metodologia do Saber Sobre o Saber Treinar. No entanto, tal como noutros temas, iremos abordá-lo sempre que uma situação da actualidade nos demonstre a sua importância.

É o caso da acção que trazemos de Di María, até porque seria difícil encontrarmos um exemplo melhor. Pelo jogador em causa e pelo contexto. É conhecida a mestria do Argentino na execução com o seu pé dominante, o esquerdo. Faz praticamente tudo com ele, inclusive cruzamentos e remates de trivela, mesmo quando a maioria dos jogadores, com maior ou menor dificuldade, sentiria-se mais confortável em recorrer ao pé direito. Na situação em causa, o remate de trivela, ou com a face externa do pé esquerdo, seria extremamente difícil dada a elevação da bola e a orientação corporal de Di María. Perante um enquadramento privilegiado com a baliza, para fazê-lo rapidamente e evitar a intercepção adversária, o remate teria que ser de pé direito. Foi o que sucedeu, e numa acção rara do argentino, acabou por revelar que o seu pé não dominante não é inábil.

Mas o mais importante, é percebermos a importância da lateralidade, neste caso, da funcionabilidade dos dois pés, e mais que isso, que eventualmente o não dominante atinja um nível similar ao dominante. Até porque, e regressando ao exemplo, mesmo para um destro o remate naquela situação apresentava um nível de dificuldade elevado.

“Da análise dos resultados destes estudos emergem duas ideias: que a capacidade de utilização dos dois pés, com semelhante proficiência, aumenta a qualidade de desempenho do jogador, e ainda que o aumento de proficiência do pé não preferido resulta de uma exercitação direcionada para esse efeito. Todavia a qualidade técnica de um jogador não pode ser analisada de uma forma isolada e descontextualizada do jogo, pois, é aí que se encontram as adversidades e variabilidades no espaço e no tempo que permitem ao jogador melhorar a sua performance (Garganta, 2006).”

(Edgar Cambão, 2014)

Uma proposta de análise qualitativa. Como exemplo, e na dimensão individual, os jogos de preparação de Di Maria.

“The dumb ones go for quantity

The wise ones go for quality

I’ve got the answer now

It’s not how much is how”

(Shirley Horn, 1963)

Há muito que é questionada a validade, mas principalmente a objectividade das análises de jogo quantitativas. Nomeadamente as construídas com base em dados estatísticos muito centrados em acções técnicas, mas por vezes também tácticas, contudo, descontextualizadas e interpretadas isoladamente do jogo da equipa. Deste modo, na maioria das equipas, hoje é usual que a análise de desempenho colectivo seja realizada em video, através de uma avaliação qualitativa tendo por referência a Ideia de Jogo a que a equipa técnica aponta. Depois, nalguns casos, são somadas à mesma avaliações individuais na mesma lógica. E nesse caso estas, ainda hoje, são muitas vezes reforçadas com dados estatísticos resultantes de dados quantitativos descontextualizados do todo… jogo da equipa e da sua interacção com os seus adversários. 

“Por muito que nos vendam estatísticas que queiram quantificar performances individuais, o jogo, o bom jogo, está completamente longe de poder ser interpretado ou quantificado por números que queiram trazer avaliações qualitativas.”

(Pedro Bouças, 2017)

Importa então clarificar já a nossa visão. Também questionamos as análises quantitativas que partem dessa base. No entanto, em 2018 desenvolvemos um modelo de análise que parte de uma análise em video, portanto de uma interpretação qualitativa do jogo e dos comportamentos da equipa ou jogador em função de uma Ideia de Jogo. Partindo daí podemos depois chegar a dados estatísticos quantitativos. Deste modo teremos quantidades e taxas de eficácia de acções qualitativas. Claro que será em função da nossa Ideia, da nossa interpretação do jogo, mas dessa forma será também altamente específica e útil ao trabalho a desenvolver posteriormente.

Exemplificando, se a equipa, por exemplo, em 10 acções de criação pelo corredor central conseguiu colocar 3 vezes jogadores em condições de finalização, chegamos a uma eficácia desse comportamento / princípio de 30%. Fazendo ele parte do sub-momento de criação, irá, numa escala superior ligar-se a outros números de acções de criação, totalizando determinado valor para esse sub-momento do jogo. Juntando esse valor aos obtidos em Construção e Finalização, chegaremos a outro número de escala ainda maior relativo ao total de comportamentos em Organização Ofensiva. Juntando os 4 momentos do jogo, teremos ainda uma eficácia decisional global.

Paralelamente podemos também avaliar o jogo na escala mais reduzida observável: ao nível da execução. Pegando no mesmo exemplo, se dessas 10 acções de criação pelo corredor central, as 3 bem sucedidas resultaram de 3 passes de qualidade, porém, se das 7 mal sucedidas, por exemplo, 2 delas foram bons passes mas foi o jogador que se desmarcou que falhou a desmarcação de ruptura ou noutro exemplo, foi-lhe assinalado fora-de-jogo claramente por erro desse jogador, teremos então no total 5 últimos passes de qualidade. Se das restantes 5 acções mal sucedidas, apenas 3 foram consequência de últimos passes falhamos, teremos então 5 passes de sucesso em 8 tentativas, resultando numa eficácia de 63%. Só para esse comportamento, porque ao mesmo se juntarão todas as acções de passe.

“Um dos processos utilizados na vertente táctica da análise de desempenho é a análise de jogo, que segundo Garganta (2001) é o termo mais utilizado para se referir ao estudo do jogo a partir da observação do comportamento dos jogadores, por englobar diferentes fases dos processos. De acordo com Carling, Williams e Reilly (2005) o processo de observação e análise do jogo deve possibilitar uma descrição do desempenho realizado em contexto de jogo, codificando acções individuais, grupais ou colectivas, de forma que sintetize informações relevantes e transforme, de maneira positiva, o processo de aprendizagem / treino. Geralmente, a informação é transmitida sob forma de feedback e utilizada para preparar para novas competições. A utilização de vídeos tem aparecido como uma ferramenta importante para fornecer feedback e modificar o comportamento dos atletas (GROOM & CUSHION, 2004). A análise de desempenho ganha uma grande importância uma vez que norteia a equipa técnica sobre os caminhos a serem seguidos após uma partida, ou seja, trazendo informações importantes para o planeamento dos treinos subsequentes ao jogo analisado.”

(Kaio Fonseca, 2018)

Tudo isto é naturalmente subjectivo à luz dos critérios de avaliação, relativos à especificidade da Ideia de Jogo adoptada e às orientações de análise do Treinador Principal. Depois, para além disso, subjectivo ao conhecimento do jogo, experiência, precisão e sensibilidade do analista. Mas tendo em conta a complexidade e imensidão de comportamentos no jogo não pode ser de outro modo. Claro que perante isto também não teremos como resultado uma análise limpa de erros, contudo acreditamos que se aproximará, não só da especificidade do jogo, mas principalmente da Especificidade do jogo de determinada equipa. Mas acima de tudo, às reais necessidades da equipa técnica e do trabalho a desenvolver. Desta forma, este trabalho permitirá formas de actuação e gestão também elas mais precisas.

Nesta lógica, o produto final são de facto, números, mas sobre a eficácia da equipa nos 4 momentos do jogo. De forma mais específica, nos 12 sub-momentos do jogo, e a partir daí nos diferentes comportamentos / princípios que categorizamos para cada sub-momento do jogo. Recordamos que na base desta metodologia de análise está a sistematização do jogo que propusemos no passado. A partir daí, se os recursos nos permitirem, podemos reduzir ainda mais a escala de análise. Não só em sub-princípios, requerendo para isso um ainda maior conhecimento do jogo do analista, mas como vimos atrás, avaliando paralelamente as acções ao  nível da execução sem procurar descontextualizá-las da sua lógica acontecimental na Ideia de Jogo, para eventualmente a partir daí poderem ser trabalhadas em fases específicas das sessões de treino ao longo do ciclo semanal. Isto naturalmente numa lógica de programação semanal e não anual, ou numa metodologia que permita esse ajuste de conteúdos em função de avaliação semanal. Porém, num processo que se baliza num plano mais macro, por exemplo, anual, uma avaliação continuada do desempenho de jogadores e equipas permitirá realizar ajustes no planeamento e programação do ciclo anual seguinte. Este processo, sentimos que tem sido um upgrade decisivo à nossa actuação no crescimento de uma equipa.

Referir-mo-nos até aqui, essencialmente à análise colectiva da equipa. Contudo, este modelo também pode ser aplicado a cada jogador à luz da sua actuação individual, tendo por base exactamente as mesmas acções e lógica estrutural de análise. Isto permitirá que a equipa técnica potencie o desenvolvimento individual, ou noutro contexto, que o jogador se consciencialize dos seus erros, lacunas e qualidades, e partir daí, preferencialmente no contexto do clube, mas caso o nível de rendimento em que actua não lhe permita essa possibilidade, que recorra a auxilio de técnicos especializados tendo por objectivo o seu crescimento individual.

Como exemplo, trazemos os jogos de preparação de Ángel Di María no seu regresso ao Benfica. Claro que sendo um período de preparação, os resultados deverão ser contextualizados e entendidos nesse enquadramento. Por outro lado, não estando dentro do processo e não possuindo um conhecimento maior desse mesmo enquadramento facilmente podemos cometer erros de análise por situações fora desse conhecimento, contudo, decisivas. Deste modo, abstemo-nos de tecer grandes conclusões ao desempenho do Argentino. Este trabalho serve principalmente como exemplo do potencial que esta ferramenta apresenta, nomeadamente utilizada no seio de uma equipa técnica ou como recurso extra solicitado pela mesma.

Mas nalguns breves pontos, identificámos os momentos de Transição Defensiva, nos quais Di María apresentou grandes dificuldades, nomeadamente no Sub-Momento de Recuperação Defensiva. Como referido, sendo o argentino um jogador que tem apresentado compromisso nos momentos defensivos das suas equipas, poderá ser o desgaste do actual período da época a principal razão para tal. Tanto que no plano colectivo foi também notória fadiga em toda a equipa, reflectindo-se a mesma na lucidez das decisões, velocidade de execução, criatividade e disponibilidade nos momentos de transição. Depois haverá também a necessidade de enquadrar a qualidade, as características e o nível de preparação de cada adversário. Regressando a Di María, as principais qualidades do Argentino estão intactas. Quer ao nível dos recursos que evidencia, quer em Transição e Organização Ofensiva, mostrando-se ainda particularmente preparado para a Ideia de Jogo de Roger Schmidt e nomeadamente ao papel ofensivo que terá, que poderá potenciar as suas qualidades pelos corredores laterais e central.

Importa referir que expomos apenas os dados decisionais globais, dos momentos e sub-momentos do jogo. E ainda os dados ao nível execução nas Acções Ofensivas e Defensivas. Os princípios, reservamos para técnicos ou clubes que demonstrem um interesse superior por este modelo de análise. Esta análise não contempla sub-princípios. Esse nível de detalhe remetemos para uma análise altamente específica de determinado(s) comportamento(s) de um jogador ou equipa. Por outro lado, para além da enorme utilidade à equipa técnica, este modelo também poderá ser adoptado pelos departamentos de Scouting, caso desejem dotar de um maior rigor e exactidão às análises individuais realizadas e eventuais jogadores alvos de contratação pelo clube. Os potenciais interessados nesta processo poderão contactar ricardo.ferreira.1978@gmail.com.

“É, portanto, nas tomadas de decisão e na interação com companheiros e adversários que se deve avaliar o desempenho individual e coletivo. A estatística ajuda a explicar alguma coisa, mas repito, não traduz o essencial. Hoje, é nisto que eu acredito. Amanhã, ficará o futebol nas mãos da inteligência artificial? Será o treinador, no futuro, substituído por um avatar? Um Cyber treinador, inteiramente cientifico-tecnológico? Tem a palavra a ciência e a tecnologia. E o homem. Recordando Thomas Huxley (biólogo, filósofo e um dos principais cientistas britânicos do século XIX), segundo o qual «a ciência é apenas senso comum treinado e organizado», talvez haja alguma esperança para os treinadores se prepararem para o avanço das máquinas!”

(Miguel Quaresma, 2021)

40’s e 50’s [Subscrição Anual]

Publicamos um subtema da História do treino do futebol, Trata-se do segundo capítulo denominado 40’s e 50’s.

O tema 40’s e 50’s no nosso trabalho, situa-se em:

Deixamos excertos do tema 40’s e 50’s:

“não é possível falar de Periodização do treino, com clareza, até ao surgimento de um artigo de Letunov, em 1959 “Sobre o Sistema de Planeamento do Treino”. O referido autor apresenta críticas aos modelos de planeamento, sobretudo, pela falta de bases fisiológicas e individualização do processo, apresentando neste artigo, a sua proposta que incorporava conhecimentos sobre a adaptação biológica aos modelos de treino e uma divisão da temporada em períodos de treino geral e específico, destinados à aquisição da forma, período competitivo e um outro destinado à diminuição do nível de treino (Silva, 1998; López et al., 2000)”

(Jorge Braz, 2006)

(…)

O treinador e no momento seleccionador nacional de Futsal (Jorge Braz, 2006) identifica na sua tese que “em 1940 surge G. Dyson a defender ideias sobre treino anual ininterrupto e propõe a divisão da temporada de preparação em cinco períodos”. Posteriormente, em 1949, de acordo com (Gonçalo Carvalho, 2019), “Ozolin propõe uma divisão do período preparatório em dois momentos: preparação geral e específica e período competitivo. Este último era dividido em seis momentos, nomeadamente competitivo inicial, competitivo propriamente dito, descarga, preparação imediata, conclusiva e competição principal. Deste modo, Ozolin defendia a inexistência de um descanso total e uma duração semelhante de todas as etapas, divergindo os conteúdos de desporto para desporto”. Os autores (Juan Bordonau & José Villanueva, 2018) acrescentam que Ozolin “também defendeu que o descanso completo seja limitado a casos especiais por um tempo limitado (5 a 7 dias), dizendo que as etapas da temporada devem ter a mesma duração para todos os desportos, mas com distribuição de conteúdo diferente”. O espanhol (Francisco Seirul·lo Vargas, 1987) corroborado por (Rui Faria, 1999) e (Jorge Braz, 2006), reforça que “o mesmo autor, juntamente com N. Ozolin, desenvolve, nos anos 50, modelos aplicados ao atletismo cuja base assenta numa preparação multilateral que culmina numa especialização no momento da competição”.

(…)

Outros destaques que (Forteza de La Rosa, 2000) identifica nesta fase da evolução do treino, surgiram “na segunda metade do nosso século”, denominando este período como o período científico no treino desportivo, sendo decisivo para este desenvolvimento os resultados alcançados entre 1945-1965″. Então, o autor expõe que Woldemar Gerschler, um investigador dedicado ao método prático de Zatopek, em conjunto com Reindell e outros colaboradores, fundamentou cientificamente o Interval Training e fez algumas modificações ao método original de treino de Zatopek. Os médicos cardiologistas Reindell, Roskman e Keull chegaram à conclusão de que o verdadeiro efeito do treino de intervalos no sistema ocorria durante as pausas, e não durante o esforço. Por essa razão, essas pausas foram denominadas como pausas ativas ou benéficas”. Paralelamente, “na Austrália, o treinador Percy Ceruty adotou o método dos suecos, ou seja, treino em contato com a natureza, banhos, descanso, saunas, entre outros. Na Nova Zelândia, Arthur Lidiard foi influenciado pela leitura de materiais ingleses sobre treino e extraiu o que havia de melhor nos sistemas de resistência. O atleta mais destacado que ele treinou foi Peter Snell. No Reino Unido, Morgan e Adamson criaram o Treino em Circuito, baseado no Body Building americano. O método é fundamentado no uso de pesos, cordas e outros elementos em forma de “estações”, onde os participantes mudam de uma para outra e trabalham em vários grupos musculares de forma alternada, com alta intensidade. Esse método permite o treino de vários atletas ao mesmo tempo, com o objetivo de melhorar principalmente a potência muscular e a resistência anaeróbia. Nos Estados Unidos, destacam-se os treinadores James Counsilman na natação e William O’Conor no atletismo, entre outros. Nesse país, desenvolve-se o método do Power Training ou treino com sobrecarga progressiva para o desenvolvimento da força e potência. Além disso, o Dr. Kenneth Cooper desenvolveu o programa de exercícios aeróbios denominado Aerobismo, baseado em exercícios que estimulam a atividade cardíaca e pulmonar por um período prolongado, com baixa intensidade. Ele estudou o consumo de oxigénio e, após várias pesquisas, criou o Teste de Cooper”. Deste modo, o autor sublinha que “este período científico resultou em um grande número de concepções científicas em diferentes partes do mundo, levando a quatro escolas distintas que possuem estilos diferentes de abordar o processo de treino esportivo, devido a fatores como regiões geográficas, condições sociopolíticas, eventos históricos, religiões, modos de vida, entre outros”. Essas escolas foram as seguintes:

ESCOLAS PAÍSES CENTRO DE INVESTIGAÇÃO AUTORES
Saxónica Nova Zelândia. Austrália. Canadá. África do Sul. Estados Unidos da América Harvard. Indiana. Quebec. Ohio Curenton. Cousilman. Mathews. Morehause. Cooper. Ceruty. Lidyard. Bompa
Socialista R.D.A. Cuba. Polónia. Hungria. Bulgária. Checoslováquia. U.R.S.S. Leipzig. Moscovo. Varsóvia. Bucareste. Sofia. Bratislava. Havana. Simkim. Matveyev. Ozolin. Harre. Yeremin. Platonov. Volkov. Verchoshanskij
Europa Ocidental R.F.A. Inglaterra. França. Itália. Espanha. Suécia. Bélgica. Colónia. Friburgo. Paris. Estocolmo. Bruxelas. Roma. Madrid. Gerschller. Reindell. Nett. Hollman. Astrand. Morgan
Asiática Japão. Coreia. China. Tokio. Pequim. Matsusawa. Ikai. Fukunaga. Hirata. Matsudaika

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20’s e 30’s [Subscrição Anual]

Publicamos um subtema da História do treino do futebol, Trata-se do segundo capítulo denominado 20’s e 30’s.

O tema 20’s e 30’s no nosso trabalho, situa-se em:

Deixamos excertos do tema 20’s e 30’s:

“Até à década de 40, o futebol era visto como um malefício, físico e mental. A ginástica, obrigatória na altura, era vista como uma forma de compensar os problemas que o futebol trazia. Desse modo, surgia nas equipas técnicas a figura do professor de ginástica.”

(Monge da Silva, 2017)

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Segundo (Jorge Gomes, 2004), baseando-se em Raposo (2002), “este conjunto de leis, que visa melhorar a participação nas competições, em alguns aspectos mantém uma certa actualidade, tendo a divulgação das mesmas permitido o aumento da frequência semanal de treinos e a diferenciação das tarefas segundo o índice de especificidade e intensidade”. Assim, (Jorge Braz, 2006) defende que “começam, assim, a surgir alguns princípios da periodização do treino. Em 1922 Gorinovski escreveu o primeiro livro com o título “Bases fundamentais do treino”. Em 1928, L. Mang, é pioneiro na história do treino ao formular o desenvolvimento paralelo do treino físico orgânico, técnico e táctico, coordenando diversas variáveis de preparação“. Pelo exposto, ao longo da história do treino existiram sempre mentes disruptivas que pensavam para além dos paradigmas e influências culturais vigentes.

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Novamente (Jorge Braz, 2006), descreve que “em 1939, K. Grantyn publica em Moscovo um estudo que se intitula “Conteúdos e princípios gerais da preparação do treino desportivo“, onde tenta enunciar as características essenciais que deve ter a periodização do treino em todos os desportos”. Também (Jorge Gomes, 2004) aponta que Grantyn também alertou “para a manutenção da união entre especialização desportiva e formação geral e polidesportiva (Gomes, 2002)”. De acordo com (Rui Faria, 1999), o autor russo apresenta pela primeira vez “um ciclo anual de treino sem interrupção”, divide-o em “três grandes períodos”, aponta “conteúdos precisos para cada período” e “tem como objectivo encarar a competição no melhor estado de forma”. Especificando, o autor (Filipe Martins, 2003) acrescenta ainda que Grantyn “lança as bases de uma teoria geral do treino, propondo a divisão do ciclo anual em três etapas (de preparação, principal e de transição), com durações e objectivos determinados pelas características das modalidades”. Também (Francisco Seirul·lo Vargas, 1987) confirma estas ideias, reforçando que deste modo, com conteúdos precisos em função da modalidade permitiria “enfrentar a competição no melhor estado de forma”.

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O início do século XX [Subscrição Anual]

Publicamos um subtema da História do treino do futebol, Trata-se do segundo capítulo denominado O início do século XX.

O tema O início do século XX, no nosso trabalho, situa-se em:

Deixamos excertos do tema O início do século XX:

 

“A evolução do Homem passa, necessariamente, pela busca do conhecimento.”

Sun Tzu

Após tentarmos compreender as origens e evolução do treino desportivo ao longo da história da humanidade aproximámo-nos rapidamente do presente. Alguns relatos descrevem que a meio do século XIX, as práticas desportivas apresentavam-se focadas no espectáculo e nas apostas sobre o resultado competitivo, concretamente através do Hipismo, Boxe e corridas pedestres. Neste enquadramento, dada a pressão para obtenção de resultados, tornou-se expectável um crescente investimento no treino desportivo. Contudo, como vimos atrás, foram os Jogos Olímpicos da era moderna que imprimiram outra evolução ao Treino Desportivo.

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O autor (Filipe Martins, 2003) aponta que “tal como nos refere Silva (1998), as primeiras noções sobre a periodização do treino foram elaboradas por Murphy e Kotov (anos 10-20) que, pela primeira vez, evidenciaram a preocupação em organizar as actividades de treino com o intuito de melhorar o rendimento desportivo. Assim, agruparam os conteúdos e tarefas do treino em fases, visando uma progressão que permitisse obter um estado de forma no momento desejado da competição“. Segundo (Gonçalo Carvalho, 2019), “Murphy, em 1913, já considerava necessário um programa mínimo de 8 / 10 semanas para que o atleta pudesse competir ao seu mais alto nível”. Já (Francisco Seirul·lo Vargas 1987), acrescenta que “Murphy (1913) e Kotov (1916) que, se bem que não apresentavam ciclos de treino claramente definidos, agrupavam os conteúdos e as tarefas de treino em fases, que pretendiam uma progressão para obter o estado de forma no momento da competição“.

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