Tag Archive for: pressing

Como sofrer um ataque rápido de um lançamento defensivo. E como reduzir de forma significativa a probabilidade disso suceder.

“Enquanto a referencia bola nos permite lazer um «varrimento» dos espaços em função da sua importância e, dessa forma, tornar o bloco defensivo compacto, a referência companheiros possibilita-nos o escalonamento permanente das diferentes linhas e, nessa medida, a existência do um «sistema do coberturas sucessivas». É a existência o a permanência deste «jogo do coberturas» no seio da equipa, que torna o bloco defensivo verdadeiramente solidário.”

(Nuno Amieiro, 2004)

A situação passou-se no Manchester United x Fulham de 24 de Fevereiro da presente época. O jogo encontrava-se no período de descontos, aos 97’.

Uma observação menos atenta da situação diria que o Fulham marcou o golo da vitória numa situação de contra-ataque. O que se torna ainda mais grave é que não foi isso que sucedeu. O Fulham encontrava-se em Organização Ofensiva, ainda na fase de Construção e numa situação de bola parada, mais especificamente num lançamento lateral, junto a um dos cantos do seu meio-campo. Será um desafio encontrar uma situação potencialmente menos perigosa para quem defende.

Com tempo para se reorganizar defensivamente (14 segundos), o Manchester United não o fez eficientemente. Se o objectivo era chegar à vitória, não pressionou convenientemente todas as linhas de passe próximas ao lançador e permitiu que o Fulham, no primeiro e segundo passes, saísse a jogar curto. A partir do passe longo, e apesar de ganhar a primeira bola, a equipa não se encontrava suficientemente concentrada espacialmente, ou seja, o seu bloco não estava suficientemente compacto para ganhar a 2ª bola e garantir cobertura defensiva a Maguire que também deveria ter realizado contenção e não tentar o desarme.

Deixamos uma proposta para defender mais eficientemente a situação em causa:

Poderá-se justificar a desorganização defensiva com a vontade de vencer e de assumir maiores riscos. Porém, a equipa estava num momento de organização defensiva e perante uma bola parada, com muito tempo para se reorganizar. Arriscar posicionamentos mais ofensivos e situações de igualdade numérica não fará sentido perante as circunstâncias. Além disso, o Manchester United nem se encontrava a perder. Um ponto é sempre melhor que nenhum…

“Eu vejo mais os nossos centrais a apertarem o espaço à sua frente do que a terem que recuperar, defensivamente, o espaço atrás de si. A equipa pressiona como um todo, pressiona como um bloco, quando há movimentos verticais de pressão a minha linha defensiva faz o mesmo tipo de movimento e, quando assim é, as linhas estão juntas.”

José Mourinho citado por (Nuno Amieiro, 2004)

Complicado, difícil e complexo. O exemplo das progressões do exercício B-3OD2A-1.

“a riqueza do Futebol é essa, na mesma proporção da complexidade que o constitui. Por isso é que ouvimos quem diga que o Futebol é simples, outros acham que é complicado mas os melhores dizem que é um fenómeno complexo. Porque reconhecem os problemas, sabem de MILHARES de formas para os resolver (de forma abstracta) mas também sabem que resolvê-los da forma ideal exige conhecimento, dedicação, precisão e inteligência”.

(Marisa Gomes, 2011)

Trata-se de uma confusão recorrente. Algo mais complexo não se torna obrigatoriamente mais complicado e difícil. Até porque algo “determinado” como complicado e / ou difícil, assim o é relativo ao conhecimento e interpretação do(s) observador(es). Por outro lado, apesar de também ser possível classificar complexidade à luz do conhecimento de cada indivíduo, esta também poderá ser entendida tendo em conta a forma como o universo está organizado, obviamente, algo que vai muito além do domínio e conhecimento do ser humano. Apesar de importante para a compreensão do todo, não é no significado lato de complexidade que se foca esta reflexão. O objectivo é algo muito mais específico, porém, também altamente complexo. O treino do Futebol.

“Quando os cientistas falam em sistemas complexos tal não significa que os sistemas são complicados na sua maneira formal. O termo “sistema complexo” foi adotado como um termo técnico específico, para definir os sistemas que têm tipicamente um grande número de peças ou componentes pequenos que interagem com as peças e os componentes próximos e similares. Estas interações locais conduzem frequentemente ao sistema que se organiza sem nenhum controlo hierárquico ou agente externo. Tais sistemas são entendidos como auto-organizantes, dinâmicos em constante mudança, não se afirmam como sistemas estáveis e equilibrados.”

(Vera Bighetti, 2008)

De forma a distinguirmos estes conceitos trazemos o exemplo do exercício B-3OD2A-1 do Programa de Treino. Não abordando a fundo a sua organização geral e reguladores de complexidade (tempo, espaço, número, regras, organização táctica), temos então o exercício na sua forma primária. Importa, no entanto, explicar que o próprio contém, durante a sua execução, uma regra progressiva automática ao nível do número de adversários em oposição à medida que a equipa atacante pontua. Esta regra estará presente nas 4 progressões gerais que o exercício propõe e são essas que vamos analisar. Mas trata-se de uma regra e não de uma progressão do exercício.

Na sua forma primária (também podemos chamar primeira progressão), o exercício estipula que para uma equipa pontuar, tem de realizar 10 passes no seu meio-campo. Nesse momento, apenas esse objectivo regulamentar permite às equipas obterem vantagem e estarem a vencer no exercício. Na segunda progressão já acrescenta uma regra. As equipas têm na mesma que realizar 10 passes, porém, pelo menos um deles tem de ser realizado no meio-campo adversário. 

Ora aqui começa o tema que pretendemos abordar. Mais uma regra, torna obrigatoriamente o exercício mais complexo. Mais varáveis, potencialmente mais acontecimentos a poderem suceder, mais coisas a analisar e assim maior complexidade na percepção, análise e decisão. E nesse momento, o exercício também se torna mais complicado na forma de pontuar para quem ataca, pois implica grande critério sobre o momento do passe no meio-campo adversário, possivelmente obrigando a equipa a atrair o adversário a determinada zona para depois explorar outra. Mas sendo um exercício de objectivo de Organização Defensiva, a nova regra torna também mais complicada a missão de quem defende. Esta obriga a equipa a ser mais criteriosa em quando e como pressionar de forma a não partir o seu bloco e permitir espaços atrás da primeira e segunda linha de pressão que têm que ser explorados pelo adversário.

A partir da terceira progressão, dada a introdução de novas regras, a complexidade continua a crescer, porém o mesmo não sucede de forma linear, para quem ataca e quem defende, com a dificuldade. Na terceira progressão, a equipa que defende e procura recuperar a bola tem uma segunda opção para pontuar, e que até acaba por ser mais valorizada: marcar golo na baliza adversária, o que potencia a articulação da Organização Defensiva com a Transição Ofensiva, nomeadamente ao nível da decisão sobre o Contra-ataque ou Valorização da posse de bola. Desde modo, como o exercício apresenta mais decisões a tomar e situações a resolver, cresce então em complexidade. Contudo, aumentam as formas de pontuar e obter vantagem passa a ser potencialmente mais fácil, o que também estimula ainda mais o objectivo do exercício: a Organização Defensiva e a recuperação da bola. Por outro lado, a equipa que se encontra em posse de bola no seu meio-campo passa a ter outras preocupações com a perda da bola, pois a Transição Ofensiva adversária passa a ser mais difícil de contrariar.

A quarta progressão traz uma terceira opção para pontuar, de ainda maior valorização pontual: a equipa em Organização Ofensiva em posse de bola no seu meio-campo, pode agora invadir o meio-campo adversário e finalizar nessa baliza. Uma vez mais… maior complexidade de escolhas, de variáveis, de acontecimentos que podem ocorrer. Mais hipóteses de pontuar e de maior valorização, situação potencialmente mais fácil para quem ataca. Porém, para o grande objectivo do exercício, torna-se cada vez mais difícil defender o que potenciará critério, inteligência, entrosamento, coesão, timing, entre outras qualidades fundamentais para equipa que procura recuperar a bola.

Portanto, ao fazer crescer a complexidade pretende-se a aproximação ao todo complexo que é o jogo de futebol, o que no fundo se torna o objectivo do treino do… jogo de futebol. 

“(a Periodização Táctica) aparece para permitir tratar fenómenos apercebidos complexos (jogo), ou seja, fenómenos que “a priori” se considera não poderem conhecer-se por decomposição analítica (Le Moigne, 1994). Esta desenvolveu-se precisamente para permitir uma passagem reflectida do complicado ao complexo, da previsibilidade certa à força de muito cálculo à imprevisibilidade essencial e todavia inteligível. É necessário uma modelização (periodização) que revele suficientemente a inteligibilidade dos fenómenos para que possa permitir a deliberação raciocinada, a invenção e a avaliação dos seus projectos de acção (Le Moigne, 1994)”.

(Carlos Carvalhal, 2002)

“Romário só tinha uma tarefa defensiva”

Saber jogar e o saber sobre o saber jogar

Nos últimos dias, o ex-jogador Marco Van Basten deu uma entrevista ao jornal alemão Bild na qual defendia algumas ideias que segundo o próprio “revolucionariam o futebol”. O holandês foi um dos melhores que vimos jogar, eternizando momentos geniais, e golos fabulosos. O golo marcado à antiga URSS na final do campeonato da europa de 1988 ficará para sempre na história do jogo como um dos melhores. Mas nós recordamos outro, curiosamente também destacado, ontem, no programa Maisfutebol enquanto estávamos a redigir este artigo, que não tendo o mesmo peso histórico, faz parte do imaginário de qualquer criança apaixonada pelo jogo, reproduzindo aquele momento mágico de Pelé no filme Fuga para a vitóriaMas aqui num contexto real, colocando a bola no melhor sítio possível e ao serviço de um clube que contribuiu de forma evidente para a evolução do jogo.

Van Basten fez também parte de uma das melhores equipas da história do Futebol, o AC Milan de Arrigo Sacchi. Uma equipa de facto marcada pela inovação que trouxe ao momento de organização defensiva, conseguindo, através da mudança de referências defensivas e fazendo uso da regra do fora-de-jogo, encurtar o espaço de jogo aos seus adversários e ser pressionante sobre eles. Porém, ao contrário do que uma visão redutora do jogo fará supor, esta incremento qualitativo da organização defensiva abriu também caminho a uma maior qualidade ofensiva. Como (Amieiro, 2004) descreveu, trata-se de “defender (bem) para atacar (melhor)“. Concretamente, poder ser pressionante, possibilita que uma equipa seja ofensiva quando defende. Possibilita-lhe poder recuperar a bola o mais rapidamente possível. Possibilita-lhe que defenda no meio-campo adversário. No fundo possibilita-lhe a iniciativa no jogo, mesmo no seu momento defensivo, e ser inteligente e colectiva a defender. E nada disto seria possível sem a regra do fora-de-jogo.

Por outro lado, antes disso, a própria cultura holandesa, através do próprio Ajax e selecção holandesa, pela mão de Rinus Michels, tinha também apresentado ideias revolucionárias, algumas das quais alicerçadas na regra do fora-de-jogo. De acordo com (Sá, 2011), o “futebol que então apresentou é um esboço daquilo que fazem hoje as muitas das grandes equipas, e representou um salto de gigante em relação a tudo o que antes se havia visto. Não menos importante do que a mobilidade com bola, eram aspectos como a pressão e a linha defensiva, que permitiam à equipa jogar alto e conseguir um número absurdo de recuperações no meio campo contrário“. Num artigo sobre a escola holandesa do site benefoot.net, refere-se que “o mais revolucionário aspecto da selecção holandesa de 1974 era que o fora-de-jogo era usado como arma para atacar. A última linha subia intempestivamente, limitando o espaço ao oponente recuperando muitas vezes a posse da bola. Para ser claro: jogar com o fora-de-jogo é uma acção atacante” escreveu Cruyff no De Telefraaf. “Porque o fora-de-jogo decide o tamanho do campo””. Noutro artigo sobre o legado de Johan Cruyff de 2016 de Jonathan Wilson no site da Eurosport, é explicado que “os princípios básicos continuaram os mesmos desde então: controlar a posse de forma a não sofrer golos. Pressionar alto quando perdida a posse para fazer o campo o mais pequeno possível para o opositor. Usar o fora-de-jogo de forma pro-activa para forçar o erro adversário“. Este legado foi valorizado pelo Barcelona de Pep Guardiola, que segundo (Manna, 2009), procurava “defender à frente, invadindo o território possível do adversário, provocando o fora-de-jogo a metros da linha de meio-campo, afogando zonalmente o adversário, juntando linhas, acompanhando o ataque por todo o bloco”. Guardiola, citado por (Manna, 2008), lembra que “atacaremos melhor se tivermos uma boa defesa e defenderemos melhor se tivermos um bom ataque”. Lembramos que Rinus Michels treinou Van Basten na sua segunda passagem pelo comando da selecção holandesa…

Portanto, exemplos de ideias revolucionárias, que trouxeram qualidade de jogo, resultando em sucesso competitivo, inclusive a nível continental. Alguém, no seu perfeito juízo, pode afirmar que estas equipas focavam-se exclusivamente na sua organização defensiva, e apenas exploravam o erro do adversário?

Van Basten disse que teria “curiosidade em perceber como funcionaria o futebol sem o fora de jogo. Muita gente vai estar contra mas, cada vez mais, o futebol parece-se com Andebol, com equipas a erguerem muros à frente da baliza”. Mas o holandês esquece-se que de facto, o Andebol, como o Hóquei em Patins e o Futsal, exemplos de desportos com balizas, não têm fora-de-jogo. E dadas as suas regras, as equipas têm duas opções. Ou defendem com o seu bloco junto à sua baliza de forma a não permitirem espaço junto à mesma, ou adoptam a defesa individual no seu mais puro conceito, desprovida de inteligência e sentido colectivo. Ambas as situações, no futebol, seriam corrosivas para a qualidade de jogo. Pensando nos casos do Andebol e Hóquei em Patins, as equipas podem pressionar de imediato no momento da perda da bola, mas o objectivo principal é quase sempre garantir tempo para que o restante bloco recupere um posicionamento defensivo junto à sua baliza… aquilo que Van Basten condena. Por outro lado, no Futsal surgem ideias de pressão no meio-campo adversário, porém, ficando tanto espaço entre a bola pressionada e a sua baliza para tão poucos jogadores, essas equipas acabam por optar pela defesa e responsabilização individual.

Se Van Basten não o consegue, nós imaginamos o que seria um futebol sem fora-de-jogo, no qual as equipas optariam por deixar jogadores nas áreas adversárias. Inclusive junto aos postes da baliza adversária como sucede em muitas situações de bola parada do Futsal. O jogo “partiria-se” como nunca, com alguns jogadores das duas equipas posicionados junto a cada uma das suas balizas e outros a procurarem disputar a posse da bola pelo campo todo. Comparativamente com o jogo que conhecemos, pareceria um jogo de loucos. Como Jurgen Klopp comentou, esse seria outro jogo. No mesmo artigo Christian Gourcuff, técnico do Rennes, descreveu que o fora-de-jogo é uma manifestação de inteligência colectiva. Não haveria mais espírito colectivo se o fora-de-jogo fosse abolido”. Também Arsene Wenger defendeu que o fora-de-jogo é o que dá coesão a uma boa equipa. É também uma regra inteligente.”

“Jogar avançado no terreno

opõe-se ao jogar p’ra frente

é fazer campo grande e pequeno

e nisto não se demite a mente.”

(Frade, 2014)

Como alguém referia nos últimos dias, Van Basten pode estar a revelar uma parte da cultura holandesa, a pior parte. Aquela, que não a de Michels ou Cruyff, mas a que descarta por completo o momento defensivo do jogo e que apenas valoriza o ofensivo. O holandês pode, consciente ou inconscientemente querer obrigar a um retrocesso no jogo, a que as equipas defendam mal, para que a sua cultura saia vitoriosa. Mas isto são suposições. O que Van Basten objectivamente revela é desconhecimento do jogo. Será isto possível em alguém que revelou tanto talento e qualidade como jogador e que inclusive conviveu com tantas ideias de qualidade? Sim. Assistimos a casos similares todos os dias nos meios de comunicação social, porventura não tão graves, de ex-jogadores que não compreendem e não sabem explicar o jogo.

Usando uma expressão simples mas precisa, Van Basten e outros tantos detêm um “saber fazer”, que na especificidade do jogo podemos denominar de “saber jogar”. Não há dúvidas que eles sabiam jogar este jogo. Simultaneamente, alguns deles, e outros que mesmo não jogando num nível profissional, desenvolveram durante o seu percurso como jogador ou mais tarde, um “saber sobre o saber jogar”, ou seja, conhecimento sobre o jogo. O autor (Campos, 2008) explica que o «saber sobre um saber fazer» e o «saber fazer» são duas faces da mesma moeda, mas aquilo que é decisivo é o saber fazer no momento do jogo independentemente de estar conscientemente subordinado a um «saber sobre esse saber fazer»”. Assim, na perspectiva do jogador, (Amieiro, 2005) refere que “segundo Frade (2003a) o hábito é um «saber fazer» que se adquire na acção e “a esfera fundamental do «saber fazer» está no subconsciente”portanto, a qualidade expressa no campo é na maioria dos jogadores… inconsciente. Ainda para (Campos, 2008), existem muitos exemplos de grandes profissionais em diferentes áreas que alcançam desempenhos fantásticos sem conseguirem explicar como o fizeram e porque possuem essas fantásticas qualidades. Assim, segundo o autor “nem tudo que temos em memória é conscientemente identificável e enquanto treinadores devemos privilegiar o “saber fazer” dos nossos jogadores independentemente de eles dominarem melhor ou pior o saber sobre esse “saber fazer” pois a importância deles situa-se no domínio prático da acção“.

Porém, no caso de um treinador, esta importância altera-se. O treinador tem obviamente que estar consciente do processo. Tem de (re)conhecer a qualidade do jogo, compreendê-la e explicá-la. A esfera da sua acção passa obrigatoriamente para o domínio do “saber sobre o saber fazer”. É um dos argumentos que explica o porquê, na história do jogo, do melhor jogador do mundo ainda não ter dado o melhor treinador ou o melhor dirigente desportivo…

Marco Van Basten, não é “apenas” um aposentado grande jogador de futebol. O holandês é o diretor técnico FIFA desde Setembro passado. O próprio presidente, Gianni Infantino, apresentou-o, descrevendo que “tivemos várias discussões com ele nos últimos meses e ouvimos as suas opiniões sobre o jogo, tendo consciência sempre de tudo o que ele fez pelo futebol. Para mim, ficou imediatamente claro que Marco é um reforço fantástico para a FIFA”.

“The offside rule is fundamental – if you do not understand that, you do not understand football.”

Christian Gourcuff

Tag Archive for: pressing