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Exercício A-4TD3A

Adicionamos aos conteúdos Saber Sobre o Saber Treinar, especificamente ao Programa de Treino, a apresentação do Exercício A-4TD3A. Como referido, no Programa de Treino, o exercício Exercício A-4TD3A situa-se no primeiro Ciclo Semanal (A) dos quatro que o compõem, segunda sessão de treino (-4), objectivo de Transição Defensiva (TD, terceira parte da sessão (3A) e último exercício da sessão.

“eu me revolto quando dizem o treino de tensão, não é nada disso. Não é nada o dia da tensão, ele não é o dia da tensão! Porque isso leva as pessoas a estarem preocupadas com a tensão, e então fazem uma merda qualquer com tensão e já está. Não! É o dia dos detalhes, dos «pequenos» princípios, das coisas pequenas, dos planos mais micro e não sei quê… sendo do ataque ou sendo da defesa, mas com a garantia que há uma densidade significativa de contracções excêntricas, portanto, há um aumento da tensão, mas em pormenores, pormaiores do jogar! Tenho que estar preocupado, para dar variabilidade ao treino em inventar e discorrer essas situações de jogo, que são para o jogar o que me interessa. Portanto tenho duas coisas, tenho que inventar isso e tenho que saber que a tensão está acrescida. Não é o dia da tensão, senão punha uma merda qualquer ou faço uns skippings, não é nada disso, é preci­samente o contrário!”

Vítor Frade em entrevista a (Xavier Tamarit, 2013)

Exercício A-4TD2A

Adicionamos aos conteúdos Saber Sobre o Saber Treinar, especificamente ao Programa de Treino, a apresentação do Exercício A-4TD2A. Como referido, no Programa de Treino, o exercício Exercício A-4TD2A situa-se no primeiro Ciclo Semanal (A) dos quatro que o compõem, segunda sessão de treino (-4), objectivo de Transição Defensiva (TD) e primeiro e único exercício da segunda parte da sessão (2A).

“o momento de transição defensiva começa no preciso instante em que a equipa perde a bola e tem que reagir muito rápido! A questão que se levanta é, o que fazer? O que fazer evidentemente que depende dos princípios de jogo que o treinador estabeleceu para este momento do jogo: Recuperar rapidamente a bola? Defender mais perto da minha baliza? Etc…”

(Carlos Carvalhal, 2010)

Exercício A-5TO3A [Subscrição Anual]

Publicamos um primeiro elemento do Programa de Treino. O exercício A-5TO3A. Lembramos que não se trata de um exercício concreto, mas de um tema numa perspectiva micro do Programa, que obedece a determinada lógica da respectiva sessão, do ciclo semanal e do programa ao nível da distribuição de conteúdos. Porém, associado a ele, publicamos também 6 propostas de exercícios concretos. Deixamos uma amostra do que ficará disponível na subscrição anual.

Deixamos alguns excertos da página do exercício A-5TO3A:

(…)

Ainda abordando a duração na sua relação com a pausa, mais concretamente, a densidade, torna-se fundamental que o(s) treinador(es) responsáveis pela operacionalização dos exercícios A-5TO3A e A-5TO3B, num ciclo semanal que sucede à competição, promovam pausas óptimas entre repetições e entre exercícios, para que os objectivos se mantenham em aquisição ou consolidação e paralelamente ajudem na recuperação e não resultem em significativo aumento de fadiga acumulada. Para tal, é fundamental a sensibilidade dos treinadores aos indicadores subjectivos de fadiga e engenho, criatividade e comunicação de forma a manipular a competitividade dos exercícios e os “quandos” e formas de os pausar. Neste contexto, de acordo com a treinadora (Marisa Gomes, 2011), jogadores em estado de fadiga, apresentam-se “contraídos, lentos e com uma enorme incapacidade para jogar com sucesso, com passes errados, com más decisões e com uma execução (drible, remate, desmarcação, etc)”. Segundo Paco Seirul·lo em (Zona Mister, 2016) um jogador fatigado apresenta “músculos tensos, menor tempo de reacção, e menor destreza mental”. Carlos Queiroz citado por (João Romano, 2007), partilha a mesma opinião ao referir “que quando uma equipa tem de enfrentar um jogo sem conseguir uma regeneração completa, do ponto de vista fisiológico e emocional, se ressente, através de menor concentração, menor entusiasmo, menor alegria, menor disponibilidade e menor eficiência. Assim, o surgimento da fadiga reflecte-se, em suma, numa diminuição da intensidade das acções”. Jogadores e outros autores, entre outras qualidades, referem também uma perda substancial de criatividade quando o jogador está sob fadiga, o que se torna facilmente explicável pela menor disponibilidade nervosa para a tarefa, levando o jogador a procurar se concentrar no essencial e no que apresenta padrão e conforto.

(…)

““como” tirar da zona de pressão para manter a posse de bola poderá estar no “proteger, rodar, passar”. Mas, tão importante como os “comos” são os “porquês”. Partindo do princípio que a equipa pretende ter a bola, quando não a tem deve ter o objectivo de a recuperar. Por sua vez, quando a recupera deve ter o objectivo… de a manter! Manter, com a consciência do que se pretende com essa manutenção. Não a posse pela posse, que fique claro. O que se pretende é desequilibrar a equipa adversária.”

(Mauro Santos, 2010)

 

Deixamos algumas ideias para o desenvolvimento deste exercício:

Exercício 166 | A-5TO3A-1 | Impedir a criação + Reação ao ganho + Valorização da posse de bola | Garantir imediatos apoios ao portador + Garantir imediata cobertura ofensiva + Tirar a bola da pressão + Aproveitar os espaços livres + Reorganização ofensiva + Critério na posse

Exercício 167 | A-5TO3A-2 | Impedir a criação + Reação ao ganho + Valorização da posse de bola | Garantir imediatos apoios ao portador + Garantir imediata cobertura ofensiva + Tirar a bola da pressão + Aproveitar os espaços livres + Reorganização ofensiva + Critério na posse

Exercício 168 | A-5TO3A-3 | Impedir a criação + Reação ao ganho + Valorização da posse de bola | Garantir imediatos apoios ao portador + Garantir imediata cobertura ofensiva + Tirar a bola da pressão + Aproveitar os espaços livres + Reorganização ofensiva + Critério na posse

Exercício 169 | A-5TO3A-4 | Impedir a criação + Reação ao ganho + Valorização da posse de bola | Garantir imediatos apoios ao portador + Garantir imediata cobertura ofensiva + Tirar a bola da pressão + Aproveitar os espaços livres + Reorganização ofensiva + Critério na posse

Exercício 170 | A-5TO3A-5 | Impedir a criação + Reação ao ganho + Valorização da posse de bola | Garantir imediatos apoios ao portador + Garantir imediata cobertura ofensiva + Tirar a bola da pressão + Aproveitar os espaços livres + Reorganização ofensiva + Critério na posse

Exercício 171 | A-5TO3A-6 | Impedir a criação + Reação ao ganho + Valorização da posse de bola | Garantir imediatos apoios ao portador + Garantir imediata cobertura ofensiva + Tirar a bola da pressão + Aproveitar os espaços livres + Reorganização ofensiva + Critério na posse

Exercício 138 [Subscrição Anual]

Publicamos o exercício 138, denominado como Meinho em duplas com baliza e Guarda-Redes. Este exercício encontra-se no nosso arquivo e estará disponível para subscritores.

A identificação meinho, pode sugerir que estamos na presença de um exercício de dimensão mais lúdica, ou de um exercício de complexidade reduzida, no qual no momento da recuperação da bola, o mesmo é interrompido para que os jogadores troquem de função. Não é o caso. Utilizamos a palavra meinho como forma mais fácil e prática de explicar a generalidade do exercício. No fundo trata-se de um exercício de posse de bola que se inicia e se joga em condições muito específicas e que traz características interessantes, não só do jogo, como também do ponto de vista da especificidade de uma determinada ideia de jogo. Aqui destacamos também a oportunidade para uma possível adaptação às novas regras do Pontapé de Baliza.

Dada a sua estrutura mais micro, quer em número, quer em espaço, será apropriado como um exercício introdutório ou complementar durante a Sessão de Treino. Dada a continuidade do jogo, garante ainda a Articulação de Sentido do ponto de vista dos momentos do jogo, pois para quem ataca vivencia, pelo menos, Organização Ofensiva e Transição Defensiva, e quem defende, pelo menos, Organização Defensiva e Transição Ofensiva.

Neste domínio, o exercício também apresenta no seu contra-exercício um estímulo de qualidade, ou seja, para a equipa que se encontra em oposição aos objectivos prioritários, nomeadamente no seu momento de recuperação da bola e consequente decisão sobre o Contra-ataque ou a Valorização da posse de bola. Desta forma, do ponto de vista do planeamento, o exercício poderá então, também servir esses propósitos opostos.

Exercício 138 | Meinho em duplas com baliza e Guarda-Redes

Três ideias (exercícios) para desenvolver a decisão e a qualidade do contra-ataque [Subscrição Anual]

“(…) (o contra-ataque tem por) objectivo principal, a partir da recuperação da bola, a desorganização da equipa adversária, de forma a progredir para espaços abandonados e conseguir encontrar condições significativas que nos possibilitem oportunidades de golo antes da reorganização do adversário.”

(Moreno, 2009)

Na sequência de recentes artigos que abordaram o sub-momento contra-ataque, publicamos três ideias, pela forma de exercícios, dentro do mesmo tema, juntando-os a outros presentes no nosso arquivo de exercícios. Como abordado recentemente, para o contra-ataque suceder, tem de existir uma reacção ao ganho da bola, manifestada essencialmente pela saída da primeira zona de pressão adversária, e antes disso, tem de existir obrigatoriamente, recuperação da bola. Deste modo, estes exercícios visam essencialmente a decisão da equipa pelo contra-ataque e o seu desenvolvimento. Dois deles possibilitam mesmo, a decisão entre o contra-ataque ou a valorização da posse de bola, uma decisão que cremos ser fundamental no jogo ofensivo da equipa e que tendo em conta a articulação de sentido do jogo, terá também assim, consequências no seu jogo defensivo.

O treinador português (Miguel Cardoso, 2018), está de acordo com a importância desta decisão, referindo a propósito do trabalho realizado no Rio Ave, que sentiu o sucesso no “critério na transição ofensiva, porque nós conseguimos muito bem tirar a bola da pressão em muitos momentos, fosse para a frente, fosse para a largura, e depois tínhamos critério suficiente para entender se devíamos entrar em ataque organizado ou em (contra-ataque)“. Na mesma linha de pensamento, o autor (Santos, 2010), explica o “caso específico de uma equipa que ataca precipitadamente. Obviamente não percebe os “quandos” e o resultado é um jogo em transições permanentes, com perdas e conquistas de bola sucessivas”. O autor confessa que “ver uma equipa a jogar em transições sistemáticas, sabendo que essa mesma equipa tem jogadores com capacidade para jogar de uma forma que lhe confere mais sucesso, privilegiando a posse de bola e a circulação objectiva, é algo que me inquieta. É como se visse um grande actor num filme fraco e sem reconhecimento nenhum por parte da indústria cinematográfica”. Contudo, o treinador espanhol Julen Lopetegui, confesso devoto de equipas que hiper-valorizam a posse de bola, citado por (Bouças, 2014) sustenta que uma equipa que “queira ter a bola não significa que não possa jogar em contra-ataque quando o adversário deixa espaços. Nesses casos podemos fazer transições rápidas, com amplitude e velocidade”. Deste modo, a autora (Gomes, 2015) explica a importância do Contra-Ataque, pois “quando a bola é recuperada o adversário pode:

  • “Estar desorganizado;
  • Ficar em inferioridade numérica;
  • Ser lento a reagir;
  • Ter uma reacção rápida e impetuosa;
  • Criar muito espaço entre os sectores;
  • Criar muito espaço entre a sua linha defensiva”.

Se o jogo e o seu treino são complexos, elevar a complexidade dos exercícios, também o é. É redutor pensar que elevar ou baixar essa complexidade passa apenas por relações numéricas, ou pela introdução de determinadas regras. Ela surge da manipulação do todo complexo constituído pelo espaço-tempo-número-regras, sempre em função do contexto, ou seja, do nível / ideias / evolução dos jogadores ao qual o exercício é proposto. O técnico português Rui Faria, citado por (Sousa, 2007), explica que quando diz que a complexidade é dada pelo estorvo mental é, no fundo, pela necessidade de fazer uma determinada acção pretendida num conjunto de condicionantes que envolvem e que pode ser a dificuldade natural da própria acção, o espaço, o número de jogadores. É óbvio que o número de jogadores condiciona essa acção e condiciona esse pensamento ou a complexidade é condicionada pelo número de jogadores envolvidos, pelo espaço de jogo envolvido e a partir daí o comportamento que tens de ter é condicionado por isso tudo. No fundo, isto é que aumenta a complexidade ou diminui a complexidade do exercício. Toda esta relação entre estas componentes“. 

A exclusão da idade neste pensamento, não é inocente. Na realidade há exercícios, tendo principalmente em conta as suas dimensões espaço e número, que não deverão ser utilizados frequentemente em idades mais baixas, mas mesmo aqui, as características de alguns jogos escolhidos pelas crianças no Futebol de Rua e o que eles lhes podem potenciar demonstram-nos muitas vezes que o pensamento “nunca”, torna-se perigoso. A idade não é indicador do nível de jogo. Há crianças aptas para um jogo, que no pensamento do treinador se perfila de maior complexidade, e simultaneamente há adultos sem nível para tal. Por outro lado, também porque a “bagagem” de conhecimento constitui-se como mais uma variável decisiva em tudo isto, e nem sempre essa bagagem significa melhores ideias e evolução. O treinador português (Jesus, 2013), explica que “existem jogadores que para renderem aquilo que tu queres tens de lhes explicar concretamente qual é a tua ideia, caso contrário eles perdem-se, e existem outros que sem lhes determinar alguma tarefa eles conseguem desenvolver o que tu pretendes”. Deste modo, novamente Rui Faria, citado por (Campos, 2007) defende que “em primeiro lugar temos que perceber em que nível nos encontramos. É decisivo percebermos o que é a cultura individual dos jogadores em termos do jogo, é fundamental perceber as qualidades dos jogadores e perceber isso em função do que se pretende. Se pretendemos que haja sucesso em termos do que fazemos no treino e queremos que isso se constitua como uma aprendizagem em termos de cultura de jogo, em termos de comportamentos colectivos é necessário que se compreenda esta evolução em termos de complexidade. Isto é decisivo, mas também é decisivo fazer uma avaliação do que é a nossa equipa, os nossos jogadores e do que é o conhecimento do jogo por parte da equipa e portanto a antecipação é tão mais facilitada quanto maior for a cultura de jogo da equipa”.

Por outro lado, a explicação das regras, eventualmente dos objectivos, o feedback durante a operacionalização do exercício, a sua análise e avaliação, etc, são também fundamentais para o seu sucesso. E como é referido que Albert Einstein terá defendido… “é possível ensinar física quântica a uma criança. Desde que coloquemos a linguagem ao nível da sua compreensão”. Deste modo, o exercício de treino é no fundo um veículo de comunicação de ideias, e como tal, é fundamental perceber, que como em qualquer outro processo comunicacional, que a sua essência é interactiva e não diapositiva, portanto, o seu sucesso, depende de uma relação, estabelecida e influenciada, pelo menos por dois intervenientes. No caso do futebol, existindo mais intervenientes, o processo densifica-se. No entanto, torna-se para muitos treinadores, dada a sua consciência da tremenda complexidade do fenómeno, um enorme desafio e fonte de motivação e prazer. Tal como um maestro numa orquestra, o treinador procura sintonizar-se e sintonizar toda a equipa em torno de um projecto comum pelos meios que dispõe. O exercício de treino emerge como um dos fundamentais.

Perante esta ideia, os exercícios que trazemos, sendo formas jogadas procuram aproximar-se da realidade do jogo e apresentam uma progressão complexa em função do número de jogadores / estrutura da equipa, do espaço, dos alvos e principalmente da complexidade da decisão sobre o contra-ataque. No entanto, como referido atrás, essa complexidade estará também sempre condicionada pela qualidade de jogo dos jogadores. Se o exercício 131 garante propensão ao contra-ataque para a equipa que inicia a defender e recupera a bola, o exercício 132 já contempla a decisão sobre contra-ataque numa estrutura de equipa mais reduzida, e finalmente, o exercício 133 potencia estímulos idênticos, porém em mais espaço, número e sobre balizas regulamentares.

131 | Pressing e contra-ataque para qualquer das baliza (exercício grupal)

132 | Decidir atacar as mini-balizas ou resgatar o companheiro (exercício sectorial + intersectorial)

133 | Defender a baliza, posse ou sair da área e contra-atacar

O “espectáculo” e o jogar bem. Novamente o trinómio Estética-Eficácia-Eficiência.

“O Desporto enquanto fenómeno cultural” é o título do segundo capítulo da introdução do projecto Saber Sobre o Saber Treinar. Não é uma opinião é um facto. Idealizado e produzido por homens, o desporto manifesta de forma clara as tendências culturais da sociedade na qual se enquadra. O autor (Neto, 2014) descreve que “na dinâmica do jogo de futebol encontramos uma magia inigualável. Na sua prática é possível condensar várias histórias e reproduzir muitas graças e desgraças da vida. Daí um dos seus principais encantos, uma magnífica construção cultural, uma obra de arte cuja magnitude social ainda não foi entendida por muitos pseudo intelectuais”. Deste modo, a emocionalidade com que é vivido é também fruto do contexto cultural onde se insere. Ao explicar que “o futebol, o jogo e o treino expressam de forma muito clara o modo como o sentimos e consequentemente, como nos enquadramos no que acontece”, (Frade, 2014), confirma precisamente esta ideia.

O treinador Juan Manuel Lillo, citado por (Cabral, 2016) sustenta que “o problema não é só do futebol, mas de uma sociedade em constante mudança, fruto de uma evolução tecnológica que promoveu o imediatismo como norma. A essência pela qual as coisas se faziam perdeu-se. No meu tempo tinha de passar por muitíssimo para ter dinheiro para comprar uma caderneta de futebol. Hoje, compram-se os cromos todos da caderneta de uma vez só, para despachar. Queremos tudo para ontem, sem percorrer o trajecto. A sociedade actual criou outro tipo de homem, e creio que somos actualmente mais filhos da sociedade do que dos nossos pais”. A cultura do instantâneo apoderou-se das nossas decisões e emoções, promove-se a impaciência, mesmo quando o caminho para resolver um problema, está fechado, ou não é evidente. Ir contra o “muro” é preferível do que parar, pensar e procurar outra solução. Castra-se a inteligência e o critério, aplaude-se a emocionalidade e irracionalidade enquanto espectáculo. O Xadrês perde entusiastas, ao contrário dos Shoot ’em up” das consolas que atraem massas. O Barcelona de Guardiola era aborrecido, a Premier League nesse mesmo tempo, em geral, entusiasmante.

Escrevíamos noutro artigo que não só o espectador comum, mas também “muitos treinadores, associam o “jogar bem” como uma preferência por um determinado estilo de jogo, portanto remetendo o jogo para a sua dimensão estética. Da mesma forma que este pensamento separa eficiência de eficácia, a estética surge assim também isolada, como algo que se pode optar por ter ou não, de forma a agradar os espectadores e tornar o jogo um bom ou mau espectáculo. Esta interpretação do jogo como arte, torna-se então subjectiva e relativa à individualidade, cultura e preferência pessoal de cada indivíduo que observa o fenómeno. Nesta perspectiva, o “jogar bem” não é discutível. Torna-se uma preferência pessoal, como alguém que prefere uma pintura impressionista ao invés de outra expressionista. Não é esta a nossa abordagem ao jogo, portanto para nós jogar bem tem um significado muito mais objectivo: o jogo de qualidade, sendo esta qualidade a que aproxime a equipa dos objectivos do jogo: marcar golo e não sofrer. Portanto, remete-nos para a eficiência. Se depois essa qualidade agrada o espectador, será então uma consequência”.

Assim, um jogo que agrade, estéticamente, a todos os espectadores, é uma utopia. Um jogo que agrade à maioria torna-se cada vez mais difícil, tendo em conta a cultura que vivemos. Isto se desejamos paralelamente à estética… eficiência e eficácia, tendo naturalmente em conta as regras e características do jogo de Futebol. Caso contrário, a nossa equipa cai por falta de rendimento. O Futebol está então perante uma potencial “crise existencial”.

A situação é clara. Equipa em vantagem, perde a bola, recupera, sai da pressão, não identifica condições para contra-atacar porque há pouco espaço para muitos adversários, decide então valorizar a posse de bola e tão bem o faz que provoca o adversário e leva-o á falta e ao cartão amarelo. A decisão não agradou ao público pois desejava uma decisão mais vertical e que a equipa procurasse a baliza adversária.

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Depois, a equipa em construção, variação longa de corredor lateral, “os adeptos pedem que a equipa carrege… acelere”, o jogador cede à pressão vinda das bancadas, procura o ataque rápido em situação de inferioridade numérica e acaba por perder a bola.

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A bola chega novamente ao corredor lateral. Os adeptos exigem pressa e velocidade a atacar. A equipa, ao contrário, lê que a situação no corredor lateral não é favorável, temporiza, procura solução no corredor central, descobre espaço entre-linhas e solução de finalização.

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Finalmente, antes das três situações anteriores, a construção que permitiu a vantagem no resultado.Circulação curta e apoiada… corredor central… fechado. Circulação curta e apoiada… corredor esquerdo… fechado. Circulação curta e apoiada… corredor direito… fechado. Circulação curta e apoiada… espaço entre-linhas no corredor central, apoio frontal, passe vertical, recepção orientada, novo apoio frontal, fixa, temporiza e espera a superioridade numérica, último passe e… sucesso.

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A estética que envolveu este golo pode ser discutível. Afirmar que alguém tem que ser mais feliz assistindo a isto do que a um pontapé longo do Defesa-Central na profundidade, que é ganho pelo Avançado em velocidade aos adversários que não controlaram bem a sua profundidade… não é uma atitude democrática. Mas não compreender que a eficiência resultante do jogar manifestado nesta situação conduz muitas vezes à eficácia… também não é uma atitude racional. E por fim… como consequência, esta eficiência-eficácia gera “sentimento comum”, gera “sorrisos”, gera um… “namoro”. Produz-se cultura. Produz-se uma estética… apreciada.

“A proximidade

entre cada um

possibilitanto equidade

gera sentimento comum,

permitindo

apoios fáceis, curtos e viáveis

e sorrindo…

Se bem treinados

deles ficam enamorados

sentindo-os facilmente realizáveis.”

(Frade, 2014)

Momentos e Sub-Momentos do jogo… uma proposta

Como prometido no passado, publicamos a nossa interpretação do jogo de futebol e proposta para a sua sistematização.

Em primeiro lugar poder-se-á questionar a relevância de sistematizar o jogo de e interpretá-lo teoricamente. Apesar do próprio jogo mostrar caminhos e promover a auto-aprendizagem, potenciar essa aprendizagem com outras ferramentas, é para nós fundamental, nomeadamente no papel de treinador. Neste sentido, um modelo simples que explique os momentos do jogo e a sua ligação, garantirá uma enorme ajuda à compreensão do jogo e ao seu ensino aos jogadores.

Isto, independentemente da idade e nível de jogo em que trabalhamos, uma vez que vão surgindo diversos exemplos de alto e baixo conhecimento do jogo em todos os escalões etários e níveis competitivos. Porém, o jogador não se constitui como o único destinatário deste trabalho. Todos os que gostam do jogo, e desejam compreender um pouco mais a sua complexidade e dinâmica, acreditamos que vão encontrar nesta sistematização um caminho acessível.

Para o próprio treinador, não só permite, a partir daqui, uma organização mais complexa das suas ideias de jogo (princípios, comportamentos, acções, etc.) dentro de cada sub-momento do jogo, como também lhe permite categorizar exercícios de treino face à interpretação da sua dominância. Consequentemente, esta proposta, possibilita ainda ao treinador ou ao analista catalogar videos de acções de jogo da sua equipa ou de terceiras de forma acessível. Este tem sido um trabalho que temos desenvolvido, o qual já nos possibilitou uma biblioteca que ultrapassou o milhar de vídeos, e que entre outros objectivos, servirá para ilustrar os comportamentos de jogo defendidos no tema do nosso projecto, a publicar futuramente – Ideia de Jogo.

A sistematização do jogo de Futebol já leva uma considerável história. Desde o momento em que outras modalidades contribuíram para o desenvolvimento da teorização do jogo, destacando-se os trabalhos de Friedrich Mahlo,  Leon Teodorescu e Jean-Grancis Grehaigne, passando pelo contributo fundamental em Portugal de Carlos Queiroz e Jesualdo Ferreira, quando em 1983 apresentaram uma proposta de sistematização do jogo de Futebol, à actual visão do jogo sob quatro momentos fundamentais: Organização Ofensiva, Transição Defensiva, Organização Defensiva e Transição Ofensiva, que entretanto se generalizou.

Momentos do jogo

A nossa proposta surge, não só de uma necessidade de desconstruir os momentos de organização para que sejam mais facilmente entendidos e treinados, como principalmente explicar os momentos de transição, os quais, apesar de actualmente aceites e reconhecidos pela sua importância capital no jogo, geram no entanto, ainda muitas dúvidas e por vezes interpretações erradas.

Explicando-a concretamente, a partir dos quatro grandes momentos de jogo, criámos três sub-momentos para cada um deles. Nos momentos de Organização, sentimos que a proposta de Queiroz e Jesualdo continua a garantir resposta para as necessidade desses momentos do jogo. No entanto, necessitámos de distingui-los de forma mais objectiva, uma vez que nos fomos apercebendo de visões muito díspares do que seriam a construção, criação, finalização e em oposição, o impedir a construção, impedir a criação e impedir a finalização.

Assim, no momento de Organização Ofensiva, identificado pela cor verde, entendemos os três sub-momentos:

  1. Construção: quando ambas as equipas se encontram dentro da sua organização para atacar e defender e quando a bola se encontra fora do bloco da equipa que defende.
  2. Criação: quando a equipa que ataca consegue penetrar no bloco da equipa que defende e surge perante a última linha adversária ou a última linha e mais um médio em contenção. A excepção é quando a equipa que ataca procura um jogo mais directo, de ataque à profundidade, ou seja, de passe directo para o espaço entre a última linha de quem defende e o seu Guarda-Redes, o que acaba por se configurar como uma situação de último passe, independentemente do grau de dificuldade superior da acção. Neste sub-momento, integram-se também todas as situações de bola parada ofensivas que poderão permitir um último passe ou cruzamento e finalização. Devemos referir que compreendemos as opiniões que distinguem as situações de bola parada como um quinto momento do jogo, porém a nossa interpretação é que, independentemente do jogo estar parado ou em movimento, se uma equipa está organizada para defender essas situações e a outra para atacar, então estarão dentro da sua Organização Defensiva e Organização Ofensiva, respectivamente.
  3. Finalização: todas as acções que visam o momento final de ataque à baliza adversária, portanto, a acção individual ofensiva de remate, independentemente da superfície corporal envolvida. Aqui também se integram as situações de bola parada ofensivas que poderão permitir um remate directo à baliza. Importa ainda referir que a finalização pode até surgir quando a equipa que ataca tem pela frente todo o bloco adversário ou parte do mesmo. Contudo, se quem ataca conseguiu chegar ao remate, esses momentos de organização defensiva adversários falharam de alguma forma.

Em oposição o momento de Organização Defensiva, identificado pela cor vermelha, sub-divide-se em três sub-momentos que irão procurar garantir oposição aos anteriores comportamentos ofensivos:

  1. Impedir a construção: os momentos em que a equipa que defende procura não permitir a entrada da bola no interior do seu bloco. Os comportamentos de pressing, quer seja alto, médio ou baixo, são um bom exemplo para este sub-momento defensivo.
  2. Impedir a criação: quando a equipa que defende não consegue impedir que a bola entre no interior do seu bloco e a sua última linha é a penúltima barreira entre si e a sua baliza. Ou então as acções que visem impedir ou interceptar um passe longo e directo para o espaço entre a última linha da equipa e o seu Guarda-Redes.
  3. Impedir a finalização: quando toda a equipa, menos o Guarda-Redes, foi ultrapassada. Portanto, contrapondo ao sub-momento ofensivo de Finalização, aqui, a última barreira é o Guarda-Redes e os seus comportamentos de defesa da baliza.

Esta proposta de distinção entre os momentos de construção e criação, parece-nos altamente pertinente. Durante muito tempo apercebemo-nos que muitos autores e treinadores identificavam estes sub-momentos / fases pelo espaço do campo onde as equipas atacavam e defendiam. Essa interpretação parece-nos errada, uma vez que uma equipa pode estar em construção junto à sua área ou perto da área adversária, pois nos dois casos, perante por exemplo adversários que respectivamente defendam com o seu bloco, posicionado alto ou baixo no campo, poderá estar com todos os jogadores adversários ainda por bater. Por outro lado, uma equipa que posicione a sua última linha alta no campo, um momento de ruptura ou último passe de quem ataca pode surgir ainda no meio-campo de quem ataca. Deste modo, a correlação dos sub-momentos ofensivos e defensivos com espaços no campo está para nós desfasada da realidade que é o jogo. Então, a relação entre as duas equipas, e se quem defende ainda está usar toda a sua organização defensiva ou apenas parte da equipa, e se ao contrário, quem ataca ainda tem duas / três linhas adversárias para ultrapassar ou apenas uma, parece-nos uma visão mais aproximada da interacção e realidade dinâmica que o jogo promove, e assim um melhor caminho para distinguir esses sub-momentos ofensivos e defensivos do jogo.

Mas será nos momentos de transição que a nossa proposta pretende ir mais longe. Independentemente da interpretação dos sub-momentos / fases, da Organização Ofensiva e Defensiva, já Carlos Queiroz e Jesualdo Ferreira procuraram sistematizar essas estruturas complexas do jogo. Há cerca de 15 anos atrás, com a difusão e aceitação dos momentos de transição, surgiram então mais dois momentos do jogo para compreender. Neste âmbito tem surgido alguma confusão de conceitos, e simultaneamente sentimos a necessidade de interpretar a Transição Defensiva e a Transição Ofensiva de forma a encaixar-lhes comportamentos e acções, para posteriormente explicar a sua lógica aos jogadores e trabalhá-los pelo Modelo de Jogo que cada treinador idealiza. Neste sentido, sentimos ainda a necessidade de lhes atribuirmos uma lógica sequencial teórica, tal como sucede nos dois momentos de Organização.

Desta forma, para o momento de Transição Defensiva, para nós representado pela cor amarela, propomos os três sub-momentos:

  1. Reacção à perda da bola: os instantes, ainda no centro de jogo, imediatos à perda da bola. Os comportamentos defensivos a adoptar nessa situação. Para a maioria dos treinadores, o objectivo fundamental será não só tentar de imediato a recuperação da bola, mas não permitir ao adversário a possibilidade de contra-atacar. Portanto, impossibiltá-lo ou atrasá-lo em sair com a bola dessa zona de pressão e procurar espaços para desenvolver o contra-ataque.
  2. Recuperação defensiva: na tal lógica sequencial, se o adversário conseguiu sair da zona de pressão, independentemente dos jogadores fora do centro de jogo (primeira zona de pressão) já deverem está a fechar a equipa e a recuperar o seu posicionamento defensivo, neste sub-momento, torna-se ainda mais importante a recuperação do máximo número de jogadores, contemplados pela organização defensiva da equipa, para trás da linha da bola. Alguns poderão até estar a compensar companheiros, mas a urgência é não permitir espaço nem número vantajoso ao adversário para desenvolver situações de contra-ataque. A própria falta táctica pode ser contemplada neste sub-momento do jogo.
  3. Defesa do contra-ataque: se ambos os sub-momentos anteriores da transição defensiva falharam, então, antes das acções de defesa da baliza do Guarda-Redes, a equipa tem ainda a possibilidade de defender o contra-ataque adversário. Perante relações numéricas diferentes, poderão ser adoptados comportamentos que poderão reduzir as possibilidades de sucesso de quem ataca. Tal como, em oposição, o contra-ataque, estas são situações muito trabalhadas no Futsal, dada a quantidade de situações deste género que surgem nesse jogo. Porém, se no Futebol elas não só surgem, como são decisivas nos desfechos dos jogos, porque não devem também ser alvo de treino?

Em oposição ao momento de Transição Defensiva, surge então o momento de Transição Ofensiva, para nós representado pela cor azul, e ao qual propomos três sub-momentos:

  1. Reacção ao ganho da bola: em oposição à reacção à perda da bola, surgem neste sub-momento os comportamentos e acções de quem recuperou a bola, e a procura de sair da primeira zona de pressão adversária. Seja ela realizada por um jogador ou por mais. Se possível, alcançá-la no sentido da baliza adversária, porém, em muitos momentos, esses espaços encontram-se fechados e portanto será necessário garantir outras soluções e uma boa decisão do jogador com bola. A eficácia na reação ao ganho da bola e na saída da zona de pressão influenciará os sub-momentos seguintes da transição ofensiva, que aqui, provavelmente, já não surgem numa lógica sequencial, mas sim como alternativas de decisão.
  2. Contra-ataque: se a equipa conseguiu sair com eficácia e rapidamente da zona de pressão, poderá encontrar espaço e / ou uma relação numérica com o adversário interessante para optar pelo contra-ataque. Nesse caso, é nosso entender que deverá explorá-lo na larga maioria das situações, procurando as suas vantagens, pois parece-nos mais difícil ultrapassar uma boa organização defensiva adversária. As excepções irão surgir por influência da dimensão estratégica. Neste caso, por exemplo, quando uma equipa se encontra com uma vantagem mínima no resultado ou numa eliminatória, está a poucos minutos do final do jogo, e não lhe interessa explorar uma situação de contra-ataque, que em caso de insucesso irá, provavelmente, lhe retirar na resposta do adversário alguns jogadores da sua organização defensiva, e mais importante, porque privilegiando a posse de bola, não só poderá descansará com bola, como retirará a possibilidade de atacar ao adversário.
  3. Valorização da posse de bola: se após a saída da zona de pressão a equipa não encontrar espaço e / ou uma relação numérica interessante para atacar a baliza adversária, deverá evitar a decisão de contra-atacar numa situação desvantajosa e possivelmente perder a bola. Ao invés, deve assim garantir a sua posse, ganhando tempo para se reorganizar para atacar, procurando esse momento seguinte do jogo para criar desequilíbrios na organização adversária.

Pelas ideias apresentadas, propomos a seguinte representação gráfica dos momentos e sub-momentos do jogo:

Momentos e Sub-Momentos do jogo.

Interpretando o jogo desta forma, para nós não faz sentido catalogar uma equipa como “uma equipa de contra-ataque” ou uma “equipa de ataque organizado“. Todas as equipas têm de saber jogar em todos os momentos e sub-momentos, para que possam responder às necessidades circunstanciais que o jogo lhes vai apresentando. Contudo, partindo deste modelo, cada treinador, acreditando nas suas ideias, procurando uma adaptação à qualidade, cultura e características individuais dos jogadores com quem irá trabalhar, poderá desenvolver o jogo idealizado, de forma a responder a estes momentos e sub-momentos, o que consequentemente potenciará o seu jogo para mais ou menos tempo nalguns destes momentos e sub-momentos. Assim, procurando ir aos extremos, acreditando num jogo curto e apoiado ou longo e directo, na defesa zona ou na defesa individual, todas as ideias podem ser concebidas a partir deste modelo.

Sentimos ainda que a nossa proposta não se esgota no jogo de Futebol e que poderá ter transfer para outros desportos colectivos, nomeadamente os com características de invasão do meio-campo adversário.

Deixamos ainda um video que procura ilustrar diferentes comportamentos, identificando os momentos e sub-momentos do jogo propostos:

 

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