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Planeamento [Subscrição Anual]

Publicamos o tema Planeamento. Trata-se de uma abordagem geral partindo do entendimento do conceito no plano teórico, para que mais tarde publiquemos ideias mais práticas, relativas ao plano operacional. Porém, como referido, “constatamos que a importância das ideias sobre o processo de Planeamento não se resumem ao domínio teórico e conceptual. A ideia com que se parte deste plano irá influenciar de forma decisiva, entre outros aspectos, as decisões na definição dos objectivos, conteúdos, operacionalização do trabalho e avaliação”.

O tema “Planeamento” encontra-se enquadrado em:

Por outro lado este tema será constituído pelos seguintes capítulos:

  1. Enquadramento
  2. Um destino e o caminho para o alcançar
  3. Antecipar o caminho

Deixamos alguns excertos do tema “Planeamento“:

“(…) o planeamento parte sempre de uma ideia de futuro, e é, antes de tudo, a consequência dessa ideia.”

(Pires, 1995) citado por (Pedro Silva, 2006)

(…)

Também de acordo com Sérgio Figueiredo em (Carlos Filipe Mendonça, 2006), uma das condições de sucesso é a “perspectiva de médio prazo, a sustentabilidade do projecto”. É fundamental compreendermos o passado, fazermos “bem” no presente, mas torna-se igualmente decisivo pensar no futuro. O mesmo autor sublinha que “é um a frase feita, mas conserva a utilidade: mais difícil que chegar ao topo é manter o nível“. Para (Ângela Mendes, 2009), “num Desporto cada vez mais desenvolvido e profissionalizante o treinador deve então ser um agente embrenhado e consciente das suas tarefas: que concebe (planeia), orienta a acção (comanda os treinos e jogos) e faz o enquadramento geral das acções executadas (avalia o processo) pois tal como diz Bento (1993) “a prática (treino e competição) do treinador é um campo de realização de decisões tomadas e consciencializadas anteriormente pelos momentos da reflexão, da análise, da avaliação, do planeamento, de preparação“”. Neste contexto, (Filipe Cândido, 2012) descreve que o metodólogo “Bompa (1999) concebe o treino desportivo como uma atividade sistemática de longa duração, a qual é progressivamente e individualmente nivelada. Depreendemos que esta situação requer um planeamento refletido e só assim será possível estruturar a atividade de treino, de modo a ajustá-la as suas necessidades e ao que condiciona a realidade envolvente”. Consequentemente, (Jorge Gomes, 2004) aponta que “do ponto de vista da metodologia do treino, parece ser fundamental planear e organizar racionalmente o processo de preparação desportiva para um atleta / equipa alcançar resultados de elevado nível. Nesta perspectiva, o planeamento do treino é nuclear para o treinador (Bompa, 2002), na medida em que, contribui para um maior controlo do processo e para a rentabilização do tempo, do espaço e das condições materiais (Garganta, 1991; 1993). Contudo, entendemos também, que o papel do treinador na determinação dos princípios e características do planeamento do treino é igualmente relevante, apesar de se revelar uma área que urge aprofundar“.

(…)

Torna-se importante definir o nosso entendimento dos conceitos, uma vez que tal irá condicionar todo o trabalho. Assim, a organização do processo de uma forma global, entendemo-lo como planeamento. Os autores incluem no mesmo, o programa, as actividades, tarefas, estratégias, objectivos, e a sua organização temporal. Desta forma, a programação constituir-se-á como um aspecto específico do planeamento. Aquele que apontará o que treinar, definindo com precisão os conteúdos a adquirir e consolidar, do ponto de vista colectivo e individual. Finalmente, a periodização apresentar-se-á como outra especificidade do planeamento que contemplará, de forma precisa, o como e o quando treinar. Deste modo, os métodos para que a operacionalização do trabalho obtenha eficiência e eficácia. Assim, como o autor Tudor Bompa refere, a Periodização dependerá do Planeamento e da Programação, pois será da inteligibilidade dos conteúdos e da relação destes com o tempo disponível para os desenvolver que emergirá o método. Porém, algumas decisões de Planeamento e Programação também dependerão da Periodização. O método e os timings que a Periodização propõe influenciarão a selecção, hierarquização e organização dos conteúdos. Se por exemplo, o objecto do método escolhido for a dimensão física do atleta / jogador, então as actividades, os meios, as estratégias e os conteúdos deverão respeitar esse objecto. Concluindo, a consciência sobre a relação entre os três é decisiva para o sucesso do processo.

Planeamento, Programação e Periodização.

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Também (José Santos, 2010) defende que “planear é uma das tarefas fundamentais no Processo de Treino. No entender de Garganta (1991), planear implica descrever e organizar previamente, as condições em que o treino irá decorrer, os objectivos a atingir, bem como a metodologia a aplicar. Ou seja, o treinador tem que saber o que pretende, traçando um rumo para si e para a equipa. Por outro lado, tem que reflectir sobre a prática, no sentido de conferir qualidade ao Processo de Treino. A partir do planeamento percebe-se que os aspectos estão interligados. O Treinador planeia, conduz o que planeia e avalia o que conduz e planeia. O Treinador planeia no sentido de melhorar o estado inicial, comparando posteriormente esse estado com um estado final. No entanto, a reflexão (avaliação) não tem necessariamente que se tratar de um período final. Pode e deve ser levada a cabo de modo permanente durante todo o Processo de Treino nas mais diversas escalas. Reflectir sobre o treino, sobre os desempenhos dos jogadores de modo individual e colectivo, sobre os desempenhos da equipa nos jogos, sobre a evolução da forma de jogar, sobre as informações que emanam do contexto. A reflexão vai permitir ajustar ou reajustar a condução do Processo de Treino“.

(…)

O autor (Figueiredo, 2015), conclui então também que ser treinador implica possuir conhecimento em várias áreas para depois ter a capacidade de planear. O treinador deve ser versado em domínios de organização, área administrativa, financeira e de comunicação. O treinador é um gestor de recursos e estratégias, ao contrário da representação social que lhe é atribuída, isto é, não é apenas uma pessoa que orienta o processo de treino e lidera somente os jogadores do plantel. Assim, a multidisciplinariedade dos treinadores nos clubes evidencia o reducionismo da ideia de que o treinador apenas se limita a operacionalizar o processo de treino. Liderar, neste contexto de elevada exigência, trata-se de uma tarefa árdua que não se esgota nas competências inerentes ao planeamento e operacionalização do treino, mas antes transforma a liderança numa forma de gestão de recursos humanos e põe em perspetiva o conhecimento em acção do treinador. A natureza multidisciplinar, bem como estas necessidades de gestão, tornam a aquisição de competências para se “Ser Treinador” bastante morosa. Obriga a uma aprendizagem constante, onde a dúvida tem lugar-chave e o pensamento crítico é instrumento determinante“.

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Também (Ribeiro, 2008) vai ao encontro disto mesmo referindo que “a modelação do jogo de Futebol de uma equipa, irá condicionar e orientar o processo de planeamento e de periodização (Santos, 2006) no caminho da construção de um “Jogo” para essa equipa. Neste caso, quanto maior for o grau de correspondência entre os modelos utilizados e o “Jogo”, melhores e mais eficazes serão os seus efeitos (Queiroz, 1986)”. Nesta lógica (Almeida, 2016) acrescenta que “para desenvolverem um processo de treino em que esteja de acordo com a lógica interna do jogo, o foco dos treinadores tem sido em planeamentos e programações fortemente influenciadas pelo: modelo de jogo, modelo de treino e modelo de jogador (Garganta & Pinto, 1998)”. Deste modo, o mesmo autor defende que uma reciprocidade em elevado grau do modelo de treino, através de metodologias a disposição do treinador, e o modelo de jogo idealizado pelo mesmo, aumentará as possibilidades de superação por parte da equipa e seus integrantes. Sendo assim, é de extrema importância que o modelo de jogo seja reproduzido sistematicamente através do modelo de treino no planeamento (sessões de treino) (Castelo, 2014)”.

(…)

Reforçado a importância do tempo no processo de planeamento, o autor (Rui Almeida, 2014) explica que “se por um lado existe a imprescindibilidade de se proceder a um criterioso e adequado processo de planeamento para o treino de futebol, pelo outro temos igualmente de considerar que este processo carece de tempo de elaboração devido à multiplicidade de competições existentes nos dias de hoje no contexto do futebol profissional. É por isso que segundo Meinberg (2002), o treinador deve evidenciar a “competência do tempo” permitindo o seu uso através de uma gestão eficiente. Neste sentido importa portanto escolher e adotar os meios e métodos mais eficazes e mais estimulantes que correspondam ás necessidades específicas da equipa e dos seus praticantes dentro do seu contexto de atuação, sabendo-se que são diversos e diversificados os fatores que determinam o sucesso desportivo”. Ainda sobre o processo de periodização, o mesmo autor reforça que “Garganta, (1993), diz-nos que esta divisão ajuda a organizar o processo de treino, tornando mais efetivo o conteúdo da preparação, face aos objetivos e o tempo a gerir”.

(…)

“Ninguém está tão sujeito ao erro como os que só fazem reflexões. A prática é o que afina o que pensamos.”

(Vítor Frade, 2017)

O exercício de treino… na perspectiva da terceira pessoa… e a intervenção na sua operacionalização

“A intervenção do próprio treinador também é contexto!”

(Marisa Gomes, 2015)

Assistia-se a um exercício de treino. Procurando analisar o mesmo, várias pessoas opinavam sobre o seu objectivo e organização. No entanto, ignoravam uma dimensão fundamental na sua operacionalização… a intervenção do treinador. Sem este dado, todas elas podiam estar certas… ou erradas. Isto, porque tratando-se de um exercício que respeite as características do jogo, mesmo que represente apenas numa fracção do mesmo, será consequentemente, um exercício rico em comportamentos, assim, posicionando-se externamente ao processo, diferentes pessoas podem-lhe atribuir diferentes objectivos.

Assim, perante o “mesmo” exercício, alterando-lhe “apenas pequenas” coisas, como por exemplo a forma ou o momento como ele se inicia, este poderá servir objectivos de planeamento muito distintos. No fundo, para sermos correctos, na verdade já não será o mesmo exercício, nem sequer uma sua variante se o analisarmos na perspectiva dos objectivos. A este propósito, (Maciel, 2011), explica que na concepção do exercício “modela-se os contextos para que estes, não perdendo a sua natureza aberta, sejam facilitadores e catalisadores dos propósitos desejados. Em tais configurações de exercitação o papel principal é dos jogadores, devem ser eles a decidir e a interagir, desencadeando uma dinâmica que não deixando de ser determinística, por estar sobredeterminada a determinados propósitos, intencionalidades, não perde a dimensão imprevisível”. Jorge Maciel reforça que a ideia de propensão tem a ver com o facto de ser mais propício ou provável a ocorrência de determinado acontecimento, no caso do treino de Futebol, determinada interacção. Daí a ideia de modelar o contexto no sentido de tornar mais provável aquilo que se deseja que aconteça. Um aspecto relevante prende-se com o facto de ter de ser deliberadamente propenso, isto é, deve ter subjacente uma intencionalidade ou conjunto de intencionalidades conformes com o modo como queremos que a nossa equipa jogue e conforme as preocupações que entendemos mais prioritárias naquele momento do processo”. Importa salientar que, se o exercício de facto expressa a riqueza do jogo, a oposição será à partida garantida, portanto, o objectivo de planeamento estará numa das equipas / jogador, porém, a equipa / jogador adversário também estará a ser estimulada/o noutros comportamentos.

É deste modo que a intervenção do treinador na operacionalização do exercício se torna fundamental, por forma a incidir o foco, a concentração, para determinado comportamento ou acção, ou melhor, como explica Maciel… interacção. A sua intervenção, a sua expressão corporal, a sua emotividade, o seu feedback, ou mesmo a intencional ausência do mesmo, torna-se decisiva no processo aquisitivo, ou, no conceito mais generalista… na adaptação que o estímulo mesmo provoca no jogador. Na mesma linha de pensamento, Maciel acrescenta que “somente deste modo se torna possível que a configuração dada ao contexto, juntamente com uma intervenção condizente durante a exercitação, despoletem interacções que ao acontecerem façam emergir de forma exponenciada os critérios subjacentes aos nossos princípios de jogo. (…) Destaquei também o papel da intervenção, porque é esta que conjuntamente com a modelação do contexto que vai servir de catalisador e de meio para aproximar os critérios que os jogadores manifestam com os desejáveis para a forma como queremos jogar“. Também (Campos, 2007), defende que “Se tivermos que fazer essa intervenção e parar imediatamente o exercício para fazer perceber claramente que algo é errado, que algo não está correcto ou que algo pode ser importante, também não é só quando as coisas acontecem de negativo é também quando elas acontecem de positivo (…) “. Portanto, o autor acredita que “a focalização da atenção dos jogadores é direccionada pela configuração prática do exercício e por uma intervenção do treinador centrada nos aspectos hierarquicamente mais importantes”.

Como defendemos, esta intervenção não será uma qualquer, nem sobre a totalidade dos comportamentos que emergem do exercício. Deverá ser específica relativamente ao objetivo pretendido, principalmente na perspetiva do treinador que lidera o exercício. Neste contexto, (Casarin, et al., 2010), sustentam que a intervenção do treinador deve “fazer com que uma palavra signifique mil imagens” para o jogador e isto só se constrói com intervenção específica e constante durante o processo de treino”. Também para (Azevedo, 2011), “mesmo que os exercícios estejam em sintonia com o modelo de jogo, se não existir intervenção ou se esta não for adequada, eles podem tornar-se desajustados”. Citado por (Romano, 2007), Vítor Frade (2003, cit. por Martins, 2003), defende existir a necessidade de ser interventivo antes, durante e depois do processo.” Romano reforça assim, que “em primeiro lugar, parece importante a formação de uma «intenção prévia», de modo a antecipar a activação do córtex pré-frontal (Goleman et al., 2002). Interessa portanto, antes de iniciar o exercício, defini-lo claramente, assim como os objectivos que, através do mesmo, se pretendem alcançar, já que, de acordo com Goleman et al. (2002), quanto maior for a activação antecipada maior é a capacidade da pessoa para executar a acção. Posteriormente, durante o exercício, a intervenção do treinador é também ela decisiva. Ela pode (e deve) condicionar um exercício para os aspectos que se pretendem trabalhar, através de uma intervenção específica, centrada nos princípios que se pretendem abordar. Carvalhal (2003; 2005) afirma que o mesmo exercício pode ter objectivos diferentes consoante o momento, e que a forma como o treinador o conduz e direcciona é que é fundamental”.

Assim, desconhecendo o planeamento do treinador, sem a sua intervenção na operacionalização do mesmo, será uma tarefa extremamente difícil, e perigosa na perspectiva da avaliação do trabalho realizado, procurar identificar os objectivos e consequentemente o sucesso de determinado exercício ou sessão de treino.

“(…) a edificação do Modelo de jogo, dos vários momentos do jogo e a Especificidade é conseguida através dos exercícios propostos pelo treinador e pela sua intervenção nos mesmos.”

(Pedro Batista, 2006)

Só faz sentido existir o treinador se este for interventivo, mas interventivo no sentido de catalisador da apreensão de tudo aquilo que é conveniente e importante para o crescimento do processo.

(Vítor Frade, 2003)