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Jorge Jesus

“Um treinador não é bom porque ganha. Ganha porque é bom.”
Pedro Bouças

https://www.facebook.com/SaberSobreOSaberTreinar/videos/2559447837618059/

“As pessoas riram-se muito quando Jesus disse que tinha inventado uma ciência, fartaram-se de rir disso, e é uma estupidez porque uma ciência é um corpo organizado de conhecimentos, e portanto o que o Jorge Jesus fez foi isso de facto. Ele tem, provavelmente até tomou apontamentos e armazenou, um conjunto sistematizado de conhecimentos sobre uma determinada matéria e que põe em prática com óptimos resultados, coisa que boa parte dos cientistas não se pode gabar.”

Ricardo Araújo Pereira

Se a vitória, também for, a consequência do trabalho de um treinador, então a vitória também pode ser a celebração da qualidade do mesmo. Recuperamos alguns textos e frases sobre Jorge Jesus:

“Reforçamos que este espaço não procura avaliar competências, sejam elas individuais ou colectivas, mas consolidar e construir conhecimento. Inevitavelmente que para isso procuramos compreender como os melhores jogam ou trabalham. Ser melhor será para muitos, relativo, pois dependerá do conhecimento e perspectiva com que se analisa. No entanto, quando se trabalha melhor, está-se sempre mais próximo do rendimento. Sendo o Futebol um jogo, o rendimento, portanto, vencer, será sempre o destino. Aqui, uma vez mais, procuramos o(s) caminho(s) para atingir esse destino.

Jorge Jesus é um bom exemplo para nós, principalmente pelas suas ideias e consequente desempenho das suas equipas, mas também porque já passou por diferentes clubes. No passado, trabalhando noutro clube, trouxemos uma sua palestra na Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa sobre as suas ideias e trabalho. Pareceu-nos pertinente, pelas ideias, mas também pela contínua qualidade do seu trabalho, agora noutro clube, trazer algumas declarações em entrevistas recentes.”

Jornalista: Tem noção também que tudo isto é um pouco contingente até aquele minuto 92. Se calhar o desfecho da história era diferente. Ou seja todo um trabalho bem feito poderia ter ido por água abaixo?

Vítor Pereira: Mas o trabalho estava lá. O que é que isso mudaria? Mudaria o titulo, mas o trabalho estava lá.”

(Vítor Pereira, 2014)

“Não há um bom treinador sem bons jogadores e não há uma boa equipa sem um bom treinador.”

(Jorge Jesus, 2015)

“Os treinadores portugueses, são actualmente os melhores treinadores do mundo, são os que têm mais conhecimento em todas as áreas que definem o crescimento de uma equipa de Futebol, e portanto se tiveres a possibilidade de trabalhar numa equipa que tem condições financeiras para teres isto tudo, eles têm muito mais facilidade de ganhar esses títulos que qualquer outro treinador do mundo. Tirando o Pep Guardiola porque também penso que é um pouco parecido com os treinadores portugueses”.

(Jorge Jesus, 2015)

“Óbvio que ganhar títulos é importante, mas não é tudo. O que me interessa é que, a certa altura, os meus jogadores me digam: “Treinador, você ajudou-nos e tornou-nos melhores jogadores. Aprendemos muito consigo””

(Guardiola, 2013)

Deixamos de novo a palestra de Jorge Jesus na Faculdade de Motricidade Humana, em 2013.

“Mais vale dizer coisas certas com as palavras erradas do que que dizer coisas erradas com as palavras certas”.

(Manuel Sérgio, 2013)

O treinador português: um “produto” de qualidade II

https://www.facebook.com/SaberSobreOSaberTreinar/videos/1004035786604403/

 

“(…) tentámos reajustar mas o posicionamento deles era melhor, jogavam uns para os outros. O Benfica foi melhor em todos os setores e dói perceber isso. Individualmente temos tanta qualidade quanto o Benfica mas não como equipa”.
Jan Vertonghen, citado por (Bouças, 2014), sobre o Benfica de Jorge Jesus

http://www.sabersobreosabertreinar.pt/…/avaliacao-da-compe…/

Avaliação da competência do treinador

“(…) fui mudando de canal e encontrei dois ou três iluminados pumba, pumba, a bater no Jesus. Mas a falar de pormenores e de treino e a dizer que tinha de fazer assim e assado. E eu penso: mas quem é que eles treinaram? Nunca treinaram ninguém na vida. Nunca lideraram ninguém. Mesmo os ex-jogadores. Quem é que eles treinaram? Foram jogadores e alguns deles nem foram exemplo para ninguém. Quando é que eles tiveram de tomar decisões sobre pressão? Onde é que eles foram avaliados e criticados ao mesmo tempo por tanta gente? Não foram. Mas chegam ali e o Jesus isto e isto e isto. Mas o Jesus ao pé deles dá-lhes dez a zero. Ou vinte a zero. E isso custa-me. Tal como eu não tenho hipótese nenhuma de estar aqui a falar de política, porque eu não estudo política e não sei o suficiente. Por exemplo, gosto muito de música, mas é só de ouvir, gosto disto ou daquilo. Não começo a discutir a música como se soubesse alguma coisa daquilo, porque não sei. Tudo bem, as pessoas podem discutir futebol e dar a sua opinião, mas não podem fazê-lo sem respeito.”
(Vítor Pereira, 2017)

Fórum da ANTF 2019

“Nós, portugueses, temos a capacidade de ligar as pessoas. Pelo jogo, pelo nosso trabalho.”

(Carlos Carvalhal, 2019)

Sendo este projecto, prioritariamente direccionado para treinadores de Futebol, e sendo ele também Português, faz-nos todo o sentido abordar o Fórum da Associação Nacional de Treinadores de Futebol. Para mais, numa edição em que marcaram presença vários dos, reconhecidamente, melhores treinadores Portugueses.

Estes eventos, como é referido muitas vezes pelos seus participantes, mais do que um reforço ao conhecimento, surgem com uma excelente oportunidade para trocar experiências e promover ligações. A frase de Carlos Carvalhal, é assim, nos mais diversos contextos, extremamente feliz.

Na edição de 2019, foram abordados vários temas extremamente pertinentes, sem contudo sentirmos estar a viver um período de ruptura ou grande evolução no conhecimento do treinador. Mas, como no treino, nem sempre o percurso é feito de aquisição. Têm, obrigatoriamente de existir momentos de consolidação.

Sentimos, ao nível metodológico, estar perante um deles. Se há cerca de 10 anos atrás ainda se discutia sobre o que devia ser o núcleo das preocupações do treinador na construção do seu treino, hoje sentimos haver uma crença generalizada, de que o “jogar” da equipa deverá assumir esse papel. Deste modo, a Periodização Táctica, nos seus alicerces fundamentais, passou para muitos, de adversária a companheira de viagem. Na sua especificidade, nomeadamente ao nível dos seus princípios metodológicos, ainda subsiste um longo caminho a percorrer, muito devido à enorme complexidade que protagoniza. Porém, como vimos a referir há anos, a ruptura epistemológica mais importante ao nível metodológico, parece-nos ter vindo para ficar. Hoje, o treinador, e não nos referimos a alguns técnicos que gravitam à sua volta, acredita que treina-se para jogar, fundamentalmente… jogando.

O conhecimento do jogo, e o contexto cultural que o treinador encontra foi um dos temas mais abordados. Dadas as diferentes experiências culturais dos intervenientes no Fórum, a importância que o treinador deve dar ao contexto onde se insere, é hoje tida como decisiva. É fundamental o treinador ter ideias para o jogo da sua equipa, ter a sua metodologia, ter consciência e ideias para a sua liderança. Mas é também fundamental, que considere e tenha em conta o contexto cultural onde trabalha nas suas decisões. Só neste domínio, o seu papel exige que pense de forma bidimensional, interagindo entre as suas ideias e convicções, e as dos que lidera e suas características. Um treinador que é autista em relação a qualquer uma delas, coloca-se perante uma grande probabilidade de fracasso.

“Um treinador que chega ao Futebol Chinês ou Árabe, tem de estar preparado para ensinar o jogo e o treino, tem de estar preparado para ensinar coisas básicas.”

(Vítor Pereira, 2019)

Como também o será se igualmente ignorar a relação do Modelo de Jogo com a Dimensão Estratégica. É outra discussão que se encontra em cima da mesa: o peso da dimensão estratégica nas decisões do treinador. José Mourinho referiu que acredita que uma tendência evolutiva nas equipas será “as equipas terem vários sistemas tácticos dentro do mesmo Modelo, nomeadamente na Organização Ofensiva. As equipas já defendem tão bem e estão tão bem organizadas que para fazer face a isso, quem ataca tem de conseguir dar resposta com várias soluções”. Também o seleccionador português de Futsal, Jorge Braz, apresentou-se na mesma linha de pensamento, ao explicar que no seu trabalho pensa “a estratégia, procurando perceber quem tenho do outro lado, e procurando ter várias soluções e um pensamento aberto”. Se este tem sido um dos nossos pensamentos, de há muito para cá, parece-nos que a ideia de que uma Ideia de Jogo é muito mais do que um sistema, se está a generalizar entre os treinadores. A ideia, é tanto mais rica quando mais soluções conseguir garantir a problemas que os diferentes adversários e contextos poderão trazer ao jogo. Deste modo, sem cair numa amálgama de ideias com pouca coerência entre si, a necessidade que a realidade competitiva traz às equipas, potencia o crescimento de Modelos ricos e adaptáveis ao envolvimento. Para nós, objectivamente, as fronteiras dessa coerência, por motivos tácticos e consequentemente… humanos, estarão entre “jogares” que sustentem ideias colectivas e ideias individuais. Deste modo, não nos parece coerente conjugar métodos Defensivos e Ofensivos Colectivos, com métodos Individuais. São formas muito distintas de ver a realidade, de estar… e consequentemente… de jogar.

Mas esta evolução… tem obrigatoriamente… como constantemente defende o professor Manuel Sérgio, de surgir de uma relação entre a prática e a teoria. Se durante muito tempo se criticaram os dogmas dos que fundamentavam o conhecimento, exclusivamente pela prática, hoje parece assistir-se à inversão dessa lógica. Foi outra questão, pertinente, colocada no Fórum.

“Na nossa geração, tínhamos que vencer e depois fazíamos doutrina, hoje faz-se doutrina antes de se vencer.”

(José Mourinho, 2019)

Mas vejamos… estes debates que hoje estão em cima da mesa, relacionam-se com o jogo. Com a forma de jogar das equipas e sua relação com o envolvimento. Isto é para nós uma enorme prova da evolução do nosso conhecimento. Até porque em muitas culturas ainda se acredita que o físico-energético deve ser a grande preocupação do treinador no treino…

Paralelamente, actualmente, parece-nos que é ao nível da Liderança que o treinador está também perante grandes desafios. Os vários intervenientes no Forúm, relatando variadíssimas experiências, sublinham que são inúmeros os potenciais problemas com que o treinador se confronta diariamente nos mais diferentes contextos de jogo e realidades culturais. Na gestão da equipa e também do seu envolvimento. Hoje torna-se também fundamental ao treinador conhecer o homem que lidera. Na sua generalidade e na sua especificidade. Actualmente, apenas dirigir, deixou de funcionar. É fundamental interagir. As redes sociais, como abordado, são um bom exemplo das tremendas mudanças que a sociedade enfrenta, e consequentemente, o papel do Treinador. Como referimos atrás noutro contexto, ser autista também em relação a este domínio… é condenar-se ao fracasso. Por arrasto, por exemplo, como Vítor Pereira referiu, no Futebol Profissional acabaram-se os contratos de uma página. São agora às dezenas, contemplando os mais ínfimos pormenores. O que traz ao treinador, a necessidade de reforçar a sua equipa técnica com especialistas de mais áreas. Contudo… partindo e reduzindo… “sem empobrecer”… e sem perder o sentido e o controlo do “todo”.

Mas há um ponto em que, nós portugueses, somos unânimes. A qualidade das ideias do treinador português, a sua criatividade como não se cansa de referir Jorge Jesus, mas também o sublinhou Rui Quinta, e fundamentalmente, o impacto do seu trabalho. Mesmo, como abordámos há pouco tempo noutro artigo, em condições de trabalho na maioria dos casos, paupérrimas. Rui Quinta, ilustrou precisamente isso no seu trabalho no Sporting Clube de Espinho, no terceiro escalão do Futebol Português. Partilhou que operacionaliza várias sessões de treino por semana num campo secundário, que mais parece um terreno baldio, com piores condições que muitos espaços onde as crianças jogam na Rua. Mas em vez de encarar o cenário como um problema, encara-o como um desafio e uma oportunidade para estimular outras coisas, muitas que eram vividas pelo próprio Futebol de Rua.

Isto levantará sempre uma questão: será que é por essas dificuldades que o treinador português é uma referência a nível mundial? Naturalmente, que inventar soluções para os mais diversos problemas, a precariedade na sua profissão, juntando a uma enorme concorrência e competitividade para o desempenho da mesma, ajudam. Mas, dados os sentimentos que a maioria expressa, o mais importante acreditamos ser a sua paixão pelo jogo, pelo treino e pela missão. Por outro lado, os enormes benefícios que poucos alcançam serão “apenas” um bónus e não será por isso que é movida, a maioria. Se a premissa fosse simplesmente a falta de condições de trabalho, os melhores treinadores do mundo surgiriam de muitos países Africanos, Asiáticos e até da América do Sul. A realidade não é essa.

Para os que são principais responsáveis pela precariedade da função e das condições de trabalho, não adianta apontar que… perante algumas realidades… será bom não ter as melhores condições. É definitivamente um pensamento errado. Para o treinador e para a sua equipa, é sempre melhor ter o máximo de condições. Onde se inclui o campo pelado cheios de buracos. Para que algumas vezes, o treinador possa optar (e não ter que obrigatoriamente recorrer a ele), em detrimento do campo do relvado perfeito. Porque… estímulos diferentes, adaptações diferentes. Porque… é pelo conhecimento, pelo sentir, planear, operacionalizar e liderar, que a gestão do treinador desses recursos se deve realizar. E então aí, eventualmente surgirá também a sua genialidade.

E vamos ainda mais longe… imaginamos o cenário onde a maioria dos treinadores não tem a mente ocupada por preocupações mais básicas, como contas para pagar no final do mês ou o seu futuro. Um cenário, onde simplesmente tem a possibilidade de ser… profissional… numa área em que lidera a nível mundial e eleva Portugal a um reconhecimento e a mais valias económicas… incríveis.

Infelizmente, perdeu-se mais uma oportunidade para abordar este problema basilar. Com quem realmente interessa, porque muitos dos presentes, apesar de terem atingido o topo ao nível profissional, também passaram pelas dificuldades da maioria. Mas como é habitual, a representação política no Fórum, foi extremamente elogiosa ao treinador português, porém parece apenas preocupar-se com a minoria dos treinadores. Sendo assim, voltamos a lembrar: são estes “responsáveis” que estão no topo da hierarquia. Portanto, mais do que são com estes com quem os treinadores trabalham… são contra estes que o treinador trabalha.

“Se não fores feliz, não podes ser treinador.”

(Fernando Santos, 2019)

O treinador português: um “produto” de qualidade

“Há sempre que estudar mais. Não compreendo o treinador de futuro sem estudo.”

Manuel Sérgio, 2017

Numa reportagem de Janeiro de 2017, um canal de desporto brasileiro procurava explicar a “moda” em que se tornou o treinador português.

https://www.facebook.com/quezada.arthur/videos/1776565645938732/

Num artigo de Fevereiro do mesmo ano, tocávamos na questão.

“(… ) é evidente a enorme a evolução que o jogo, o treino e a liderança das equipas registaram, resultado da qualidade que muitos treinadores portugueses hoje apresentam, colocando-os no top mundial. Simultaneamente, em todos os níveis do jogo muitos outros crescem, nas ideias e na experiência e preparam-se para mais uma vaga, quem sabe ainda melhor. Facto, valorizado ainda, pela menor dimensão do país, no número de praticantes e de equipas, comparativamente com muitos outros. Também não é assunto novo neste espaço, pois ainda noutro artigo recente, trazíamos o professor Silveira Ramos elogiando o treinador português, pelo seu conhecimento do jogo e pensamento estratégico. Hoje, em vários pontos do mundo o treinador português é visto como sinónimo de qualidade. Constitui-se como mais um “produto” português de enorme sucesso.”

A reportagem foca o processo formativo. Conhecendo o mesmo, reconhecemos a sua evolução e incontestável contributo para este sucesso. Mas este é um processo que não se reduz aos cursos de treinadores. Passa também pelo trabalho desenvolvido das Universidades nas últimas décadas, por diversas obras publicadas por inúmeros autores e actualmente pelos inúmeros espaços na internet que desenvolvem ideias, debatem e contribuem de forma decisiva para a exponenciação do conhecimento. Como grande exemplo, reconhecido por muitos treinadores, alguns deles até focados na reportagem, está o incontornável www.lateralesquerdo.com, online há quase uma década e percursor de centenas de outros espaços, de ideias e até linguagem que hoje se tornou convencional.

Porém, esta é só uma parcela da explicação. Desde logo, (Manuel Sérgio, 2012) descreve que “em Portugal não é a mesma coisa ser treinador de Futebol ou treinador de Basquetebol… as pressões são outras. O autor (Bouças, 2016) sustenta este pensamento com “os rótulos que os “carneiros” sempre colocam quando alguém que não entendem nem querem esforçar-se para entender foge da norma. Será sempre assim, até que a realidade lhes bata de frente. Por isso há quem vá à frente, afirme, defenda e prove. E há os que atrás se limitam a acenar concordando sempre com o que estará mais aceite e enraizado no pensamento global”. Sem dúvida que José Mourinho marcou uma nova era para o treinador português, indo com enorme coragem mais “à frente, afirmando-se, defendendo-se e provando”. Segundo o treinador (André David, 2017), “após Mourinho aparecer no nosso futebol, a imagem do treinador e da formação dos treinadores ganhou especial relevância e notoriedade, ao ponto de actualmente haver imensos jovens a quererem ser treinadores de futebol”.

Neste âmbito, é também fundamental sublinhar a base metodológica de José Mourinho. A Periodização Táctica idealizada por um homem que personifica todas as qualidades e genialidade do treinador Português. O ex-treinador e professor Vítor Frade. O treinador português (Jesus, 2010), defende que Portugal tem uma metodologia de treinos que está dez anos avançada em relação ao resto do Mundo. (…) No futuro vão aparecer mais Mourinhos”. O próprio (José Mourinho, 2001), explica que os dados actuais, indicam que a componente Táctico-técnica e cognitiva sejam as que direccionam todo o processo de treino e um projecto de jogo. Estão assim criados os pressupostos para que seja efectuada uma ruptura epistemológica na periodização e planeamento do processo de treino, e por conseguinte designarmos o novo processo de treino como Periodização Táctica”. De acordo com (Tamarit, 2007),a “Periodização Táctica” é uma Metodologia de Treino que surge há mais de trinta anos na cabeça do Professor Vítor Frade quando, através de experiências que lhe ocorreram, começa a questionar as Metodologias de Treino existentes até o momento”. O autor acrescenta que Frade exerceu, durante trinta e três anos, como professor na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto e foi treinador adjunto em várias equipas da primeira liga Portuguesa, nomeadamente no F. C. do Porto durante mais de vinte anos. Xavier Tamarit ressalva que, portanto, esta metodologia, “não surgiu de um dia para o outro, como por magia, nem é algo extraído de qualquer outra área e extrapolado para este fenómeno de massas chamado Futebol”. Finalmente Tamarit sublinha que “ele é o criador da metodologia de treino conhecida como Periodização Táctica, transgressora com a lógica que era aceite como verdade absoluta pelas teorias e metodologias de treino, assim como, possivelmente, pela totalidade dos desportos. Esta “nova” metodologia surgiu há aproximadamente trinta anos, porém começou a ser mais conhecida através dos êxitos conseguidos pelo treinador português, (…), José Mourinho, que junto da sua equipa técnica conseguiu levá-la à excelência ao nível prático.

Por outro lado, Paulo Sousa, citado por (Ferreira, 2014), justifica a qualidade dos treinadores portugueses com múltiplas presenças nos níveis competitivos mais elevados. O técnico português sustenta que “é extraordinário e isso só confirma o que disse, que temos qualidade e estamos preparados. Claro que há factores que determinarão os resultados que cada um deles irá obter mas isso não porá em dúvida a competência de todos eles que, com o tempo, irá sendo cada vez maior”.

Assim, segundo Jorge Jesus, citado por (Braz, 2009) e abordando os melhores, “os treinadores portugueses são dos melhores do mundo, ao nível dos holandeses e dos italianos”. O treinador português (Jorge Jesus, 2013), reforça esta ideia, colocando os treinadores “à frente dos outros, mas que estão a frente é garantido. Todos querem aprender connosco”. Ainda (Jorge Jesus, 2015), vai mais longe e opina que os treinadores portugueses, são actualmente os melhores treinadores do mundo, são os que têm mais conhecimento em todas as áreas que definem o crescimento de uma equipa de Futebol, e portanto se tiveres a possibilidade de trabalhar numa equipa que tem condições financeiras para teres isto tudo, eles têm muito mais facilidade de ganhar esses títulos que qualquer outro treinador do mundo. Tirando o Pep Guardiola porque também penso que é um pouco parecido com os treinadores portugueses”.

Para (Silveira Ramos, 2015), o treinador português encontra-se à frente de colegas de outros países, pois para o treinador e autor, há décadas que o treinador português perspectiva o treino de uma forma mais global, mais holística, contrariando o pensamento analítico e a divisão das dimensões do rendimento protagonizada pela maioria das outras culturas futebolísticas. Porém, para tal, o autor defende que foi preciso errar, foi preciso “trilhar o caminho”, foi necessário inovar, e também aí o treinador português foi corajoso e pioneiro. Qualidades conjugadas com a inteligência. Segundo o treinador português (Nuno Manta, 2017), “o treinador português é super inteligente. Sabe trabalhar o músculo principal, que é o cérebro, e põe o jogador a pensar, português ou não. Independentemente da nacionalidade, os jogadores vêm para cá e normalmente crescem aqui, antes de dar o salto para a Europa”.

Neste enquadramento, novamente (Silveira Ramos, 2017) descreve que “há algo que herdamos da chamada velha guarda dos treinadores portugueses: a estratégia. Portugal foi pioneiro nessa capacidade de aliar a vertente estratégica às metodologias de treino de vanguarda. Isso produziu alguns dos melhores treinadores do mundo. Não percamos isso, não nos agarremos a preconceitos. Identidade não é jogar sempre com os nossos argumentos expostos. Nenhum grande general faria isso… Estratégia é utilizar o que temos de melhor. Uma frase mais para a tal simbiose entre velha guarda e os tempos modernos. Os treinadores portugueses eram aqueles bons malandros, no bom sentido do termo. Eram atrevidos e essas características espero que nunca se percam porque é a nossa natureza e também a explicação para a afirmação de muitos deles no estrangeiro“.

O treinador português (Leonardo Jardim, 2017) acha que o treinador português é um treinador muito bem visto em toda a Europa e todo o mundo pelo seu conhecimento e pela sua capacidade de adaptação. Nós portugueses temos esta capacidade. Nós temos famílias de emigrantes e temos capacidade de nos adaptar. Mesmo em cenários de alguma dificuldade nós conseguimo-nos adaptar e ultrapassar essas dificuldades e fazer aquilo que mais gostamos que é o nosso trabalho, e apresentar resultados. Ao contrário do que no passado podíamos pensar, a adaptação é uma mais valia.

O autor (Luís Freitas Lobo, 2010), parece subscrever esta ideia ao defender que “tacticamente, o treinador português é dos mais inteligentes do mundo. Domina o treino e a leitura de jogo. É multicultural, sem complexos de ouvir outras escolas mas, ao mesmo tempo, tem um orgulho pessoal que não o deixa converter-se, pelo que, no fim, impõe a sua filosofia”. Lobo, acrescenta que o treinador português, “prova, como diz Capello que “o melhor treinador é o maior dos ladrões”. Aprende em todos os sítios e com todos os outros técnicos, mas, no fim, aproveitando tudo, mete a suas ideias e cria uma filosofia própria global. O Futebol português, não duvidem, sempre esteve cheio de grandes “ladrões””. O autor (Pinheiro, 2013) destaca três pontos que fortes no treinador português:

  • Trabalho realizado em ambiente de adversidade. O autor refere que “treinador português está acostumado a trabalhar com poucos recursos, tanto ao nível humano quanto ao material. Vejamos o exemplo de algumas equipas fantásticas que se alicerçam em jogadores “aparentemente” normais, mas que com grande rigor e organização conseguem resultados fantásticos”;
  • Formação académica. Para Valter Pinheiro, “o advento de técnicos com formação em Educação Física trouxe ao futebol maior rigor e cientificidade”;
  • Capacidade de adaptação. Finalmente o autor sublinha “a capacidade “camaleónica” do treinador português, capaz de se adaptar a contextos difíceis e muitas vezes hostis. Já se tornou normal ver equipas com muitos meses de salários em atraso que em campo revelam uma motivação feroz. Em muitas destas situações o treinador assume-se como a pedra angular que congrega a união da equipa”.

Portanto, no fundo o que faz a diferença no treinador português é o conhecimento que este conquistou, fruto da sua ambição, coragem, inteligência, criatividade, experiências e ideias produzidas, num contexto tão competitivo e adverso como o Futebol Português.

“Sempre fui muito autocrítico e nunca me chega aquilo que faço. Quero sempre mais porque sei que consigo mais. É como o nosso cérebro: nós só exploramos uma parte muito pequena do nosso cérebro. E eu sinto que bem estimulado e motivado sou capaz de virar uma equipa de pernas para o ar.”

Vítor Pereira, 2017

Saber sobre o saber treinar II

Reforçamos que este espaço não procura avaliar competências, sejam elas individuais ou colectivas, mas consolidar e construir conhecimento. Inevitavelmente que para isso procuramos compreender como os melhores jogam ou trabalham. Ser melhor será para muitos, relativo, pois dependerá do conhecimento e perspectiva com que se analisa. No entanto, quando se trabalha melhor, está-se sempre mais próximo do rendimento. Sendo o Futebol um jogo, o rendimento, portanto, vencer, será sempre o destino. Aqui, uma vez mais, procuramos o(s) caminho(s) para atingir esse destino.

Jorge Jesus é um bom exemplo para nós, principalmente pelas suas ideias e consequente desempenho das suas equipas, mas também porque já passou por diferentes clubes. No passado, trabalhando noutro clube, trouxemos uma sua palestra na Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa sobre as suas ideias e trabalho. Pareceu-nos pertinente, pelas ideias, mas também pela contínua qualidade do seu trabalho, agora noutro clube, trazer algumas declarações em entrevistas recentes.

Jornalista: Tem noção também que tudo isto é um pouco contingente até aquele minuto 92. Se calhar o desfecho da história era diferente. Ou seja todo um trabalho bem feito poderia ter ido por água abaixo?

Vítor Pereira: Mas o trabalho estava lá. O que é que isso mudaria? Mudaria o titulo, mas o trabalho estava lá.”

(Vítor Pereira, 2014)

“Mais vale dizer coisas certas com as palavras erradas do que que dizer coisas erradas com as palavras certas”.

(Manuel Sérgio, 2013)

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“Não há um bom treinador sem bons jogadores e não há uma boa equipa sem um bom treinador.”

(Jesus, 2015)

“Os treinadores portugueses, são actualmente os melhores treinadores do mundo, são os que têm mais conhecimento em todas as áreas que definem o crescimento de uma equipa de Futebol, e portanto se tiveres a possibilidade de trabalhar numa equipa que tem condições financeiras para teres isto tudo, eles têm muito mais facilidade de ganhar esses títulos que qualquer outro treinador do mundo. Tirando o Pep Guardiola porque também penso que é um pouco parecido com os treinadores portugueses”.

(Jesus, 2015)

“Óbvio que ganhar títulos é importante, mas não é tudo. O que me interessa é que, a certa altura, os meus jogadores me digam: “Treinador, você ajudou-nos e tornou-nos melhores jogadores. Aprendemos muito consigo””

(Guardiola, 2013)

Formação e Metodologia

“Muitas vezes há jovens treinadores que saem das universidades para o terreno e têm muitas dificuldades em expressar qualquer tipo de conhecimento e por em prática uma metodologia. E é engraçado que ele diz ter uma metodologia sua no Futebol, e isso é muito importante. A maior parte dos treinadores não têm metodologia e essa é que é a grande verdade e aí tenho que enaltecer e realçar a entrevista do Jorge Jesus, porque hoje em dia o que se faz e eu vejo muito isso, por estar cem por cento ligado ao desporto, são cópias puras e duras e depois as pessoas acabam por esbarrar na falta de aplicabilidade que essas cópias que querem fazer têm no dia-a-dia, e Jorge Jesus toca com o dedo na ferida. É uma reflexão que todos aqueles que formam treinadores têm que fazer, porque o treino, como Jesus também diz, é uma área cientifica e não é qualquer pessoa que pode ser treinador ao contrário do que está vulgarizado na nossa sociedade”.

O ex-seleccionador de Rugby e professor universitário Tomaz Morais, no programa MaisFutebol de 30 de Maio de 2014, sobre a entrevista de Jorge Jesus à BenficaTV de 29 de Maio de 2014

Saber sobre o saber treinar

“As pessoas riram-se muito quando Jesus disse que tinha inventado uma ciência, fartaram-se de rir disso, e é uma estupidez porque uma ciência é um corpo organizado de conhecimentos, e portanto o que o Jorge Jesus fez foi isso de facto. Ele tem, provavelmente até tomou apontamentos e armazenou, um conjunto sistematizado de conhecimentos sobre uma determinada matéria e que põe em prática com óptimos resultados, coisa que boa parte dos cientistas não se pode gabar.”

Ricardo Araújo Pereira

Manuel Sérgio sobre a comunicação

Apresentação de Jorge Jesus na Faculdade de Motricidade Humana de 11 de Março de 2013, na íntegra em:

http://www.youtube.com/watch?v=JgY_mTD9HR4