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Qualidade Colectiva II

Não tínhamos intenção de publicar novos artigos nesta fase do projecto Saber Sobre o Saber Treinar, uma vez que, e avançamos já a notícia, nos preparamos para lançar um novo website. É também por esta razão que este espaço não tem sido actualizado com maior regularidade.
 
No entanto, pareceu-nos mais do que justo terminar esta primeira etapa com um tema que foi um dos grandes alicerces deste projecto e das ideias que o alimentam: a qualidade colectiva. É simultâneamente uma homenagem a um treinador que independentemente da qualidade e do estatuto dos jogadores que dispõe, apresenta regularmente ideias de qualidade, o que no âmbito de uma selecção nacional é ainda mais díficil, não só pela constituição de uma equipa de jogadores provenientes de diferentes contextos e culturas, como principalmente pela escassez de tempo para treinar. Apresenta ainda uma liderança diferente, calma mas próxima, aparentemente forte e influênciada por valores que aplaudimos. Falamos de Rui Jorge.
 
Após todas as contrariedades, chamemos assim, na constituição da selecção olímpica Portuguesa era natural que a expectativa em torno da mesma fosse baixa. Contudo, com vários jogadores que não foram primeira nem segunda escolha, Rui Jorge apresentou o mesmo discurso de sempre, a mesma mentalidade e as mesmas ideias. Como tal, independentemente da qualidade individual, no primeiro jogo do torneio a equipa apresentou organização, coesão, ambição, coragem e criatividade… no fundo, qualidade colectiva. Como já o tinha feito no passado, noutras competições, com outros jogadores. E logo contra uma selecção Argentina, onde a qualidade individual por norma abunda. 
 
Que fique claro, que independentemente do estatuto dos jogadores, também existe qualidade individual na selecção portuguesa, até porque um conceito não vive sem o outro. Aliás, facto no qual também se deve reflectir, porque se era uma ideia difundida que a geração de Figo, Rui Costa, Paulo Sousa, etc, era um “desvio padrão”, olhando mais para trás e vendo também o momento actual das equipas portuguesas, sentimos não haver falta de qualidade individual. Porém crescemos na mentalidade, organização e sentido colectivo do jogo e isso tem feito toda a diferença.
 
Assim, o que faz a diferença no jogo português é a qualidade colectiva, explícita na equipa de Rui Jorge, a qual este projecto acredita ser decisiva no jogo de futebol. Também o autor (Neto, 2014) acredita que a “a essência do jogo está na nobre alegoria que é viver e fundamenta-se no seu carácter lúdico transposto para um patamar cultural indispensável na formação de uma sociedade projectada para uma vida universal total, sendo o rastilho que promove o despertar para uma inteligência colectiva, subjacente a uma exigente adaptação às múltiplas situações, tão rigorosas quão simples, que a prática deste belo jogo impõe”.
 

“É processo

aquisição,

adaptabilidade

p’ro sucesso

vir então…

Sem ansiedade,

a construção

do ser equipa

cada um nela participa,

e de igual modo identifica

o macro referencial…

Critério colectivo

sem inibição do individual

tendo a subjectividade consigo,

é primordial…”

(Frade, 2014)

 
Sobre a selecção A Portuguesa? É um tema que fica guardado para o lançamento do novo website.
 
Despedimo-nos então deste espaço, agradecendo a todos os que seguem este projecto, e com a promessa de brevemente o fazer evoluir.

Da euforia à depressão, e o que realmente importa

Já referimos noutros momentos que não tem sido objectivo deste espaço a análise específica a equipas e jogadores. Contudo, por ter gerado variadas opiniões, por se tratar da Selecção Portuguesa que tantos sentimentos agrega, mas acima de tudo pelos diferentes acontecimentos que o jogo nos trouxe, decidimos apresentar uma reflexão sobre o jogo Portugal x Islândia do Euro 2016. Essencialmente procuraremos uma análise colectiva do jogo, porém esta levará eventualmente a leituras individuais.

Emocionalmente, e perante a euforia vivida nas últimas semanas, o desfecho do jogo traz-nos, culturalmente, um regresso antecipado do histórico “fado luso”, que nos transporta da euforia à depressão num ápice. Porém, sem nunca descurar as emoções e os sentimentos que fazem deste jogo um fenómeno mundial, procuramos aqui uma visão mais racional dos acontecimentos, e pese o potencial paradoxo, não racionalista, analítica ou quantitativa, mas complexa e qualitativa.

Seria natural, perante o mediatismo, a grande expectativa criada e também por alguns jogadores que se estreavam em grandes competições de selecções, que a equipa apresentasse alguma ansiedade nos primeiros minutos do jogo. Neste primeiro jogo, e perante um adversário, ao qual se antecipava um comportamento iminentemente defensivo e reactivo, seria uma boa opção estratégica a conservação da bola e a segurança nas acções nesses primeiros momentos do jogo. Mesmo que essa posse não contesse grande agressividade ofensiva, consumada na penetração do bloco adversário. Ultrapassando essa ansiedade inicial, ganhando confiança no jogo e encostando o adversário à sua área, seria então o momento para procurar essa penetração e a chegada a situações de finalização. A este propósito, comentando o jogo, o ex-jogador português Simão Sabrosa explicou que nesses “minutos iniciais, eu lembro-me quando jogava, eram sempre complicados, o mais importante era nós termos contacto com a bola, e aquilo que os jogadores precisam de fazer, é ter contacto com a bola, para poderem ganhar confiança. A confiança vem quando temos a bola no pé, por isso é que os Avançados vêm muitas vezes ao meio-campo só para tocarem na bola.” 

Portugal atrasou essa segurança e a conquista dessa confiança, o que levou a que a posse de bola fosse mais dividida no início do jogo e perante o jogo directo adversário também se jogou em mais espaço. Como consequência, a Islândia aproximou-se mais vezes da baliza Portuguesa, principalmente decorrentes desse jogo directo, no seu momento de transição ofensiva, mas também das suas bolas paradas, e nalguns momentos, no contra-ataque. Num desses contra-ataques conseguiram mesmo uma oportunidade clara de golo que surge de uma recepção falhada de João Mário, resultando numa perda de bola anormal, explicada provavelmente pela ansiedade acima referida. Depois, Pepe, na impetuosidade do seu jogo procura a intercepção em vez da contenção, é ultrapassado, conseguindo a Islândia uma situação de 2×2+GR. Nesta situação Danilo erra na contenção e defesa do espaço, pois dá o espaço interior ao adversário com bola, permitindo-lhe uma finalização mais fácil.

Através do seu jogo directo, a Islândia esteve naturalmente mais forte na discussão do jogo aéreo. Damos exemplos de situações em que a Islândia ganhou consecutivamente essas acções. Problemas evidentes para Portugal na discussão da primeira bola, mas também no ganho da segunda bola, várias vezes por não ser garantida a concentração espacial para essa conquista.

Se numa fase posterior do jogo, Portugal conseguiu mais posse e controlo da bola, portanto um domínio em construção, daqui raramente evoluiu para um domínio em criação, ou seja, pela obtenção de sucessivas entradas no bloco adversário e consequente criação de situações de finalização, preferencialmente mais simples. Desta forma, para chegar à baliza adversária, recorreu iminentemente aos corredores laterais e aos cruzamentos, muitas vezes de espaços anteriores à grande área. Noutra situação conseguiu ainda uma oportunidade num passe longo directo para as costas da última linha aversária. Em todas estas situações, à partida mais fáceis de anular, a Islândia revelou, no entanto, dificuldades em defender os cruzamentos, que apesar de fortes na discussão das primeiras bolas aéreas, revelaram debilidades posicionais fruto das referências individuais que principalmente os seus Defesas-Centrais apresentaram. A sua última linha revelou ainda dificuldades no controlo da profundidade. Tudo isto apesar da Islândia ter conseguido reduzir o espaço de jogo pela proximidade das suas linhas em Organização Defensiva, garantindo assim, pelo menos, o cumprimento do princípio fundamental do jogo nesse momento… “garantir superioridade numérica” (no centro do jogo).

“Tivemos mobilidade e dinâmica, mas faltaram dois aspectos: a aceleração no momento em que ganhávamos o espaço e a definição no cruzamento. No cruzamento, insistimos muitas vezes no cruzamento por alto, é verdade que nesse aspecto conseguimos duas grandes oportunidades, uma pelo Nani e outra pelo Cristiano que não concretizámos.”

Fernando Santos, na conferência de imprensa após o jogo Portugal x Islândia, 14 de Junho de 2016.

“Na minha perspectiva, numa equipa que se quer assumir e quer ganhar o jogo, tivemos muitos jogadores fora da estrutura da equipa da Islândia. Quando eu digo fora da estrutura é jogarmos contra uma equipa montada em 4:4:2, em que fora da estrutura é tudo o que acontece à volta da equipa adversária e nós tivemos muitos jogadores à volta da Islândia. Nós conseguimos circular a bola, mas à volta da sua estrutura, mas raramente conseguimos entrar com muito perigo por dentro da estrutura. E porque é que não entrámos por dentro da estrutura? Porque João Moutinho veio pegar muito no jogo fora dessa estrutura. Fora da estrutura já estava o Danilo que estava entalado no meio dos Avançados adversários. Os dois Defesas-Centrais entraram pouco em condução pela estrutura adversária. E quando assim é, se já estavámos a falar de dois Centrais, de um Médio-Defensivo e mais um Médio, já é muita gente a jogar contra onze adversários que se encontram atrás da linha da bola, e assim torna-se mais difícil. O que poderia ser feito? Creio que João Moutinho poderia ter jogado numa linha mais avançada, ou seja, dentro da estrutura adversária e os Defesas-Centrais podiam ter assumido a construção. Temos que fazer mais isto para nos assumirmos como uma equipa que quer ganhar. E perdemos muito tempo com isto. Quando o conseguimos fazer, como é que o fizémos? Infelizmente fizémo-lo muito espaçadamente. Começámos a confundir aquele alinhamento dos quatro médios da Islândia, fundamentalmente com o avanço do Vieirinha, não tanto do Rafael Guerreiro na primeira parte, mais do Vieirinha, que estava sozinho no corredor, com o Médio, João Mário numa zona mais interior, e a partir daí, desfazendo o alinhamento dos quatro Médios, nós conseguimos começar a criar dificuldades à equipa da Islândia, aliás o nosso golo de Portugal é numa situação deste género”.

Carlos Carvalhal, no programa Euro 2016 de 14 de Junho, RTP3, 2016

Carlos Carvalhal explicou e as situações anteriores assim o demonstram. Entrada no bloco adversário e situações de finalização para os pés no corredor central. Contudo, foram situações raras.

Se a Islândia chegou poucas vezes à baliza Portuguesa, nos momentos em que o fez, foi perigosa, por ter chegado a situações favoráveis de finalização. Isto sucedeu pelas características Islandesas, nomeadamente a sua agressividade ofensiva, mas principalmente derivadas de problemas defensivos patentes na selecção Portuguesa, essencialmente ao nível do posicionamento e da decisão. Isto levou também a problemas de articulação intra-sectoriais, como foi claro no golo da Islândia. Se na nossa forma de pensar este jogo, não há espaço para um jogo prioritáriamente individual assente numa responsabilização individual, quer nos momentos defensivos, quer nos ofensivos, então a Defesa Individual não encontra, para nós, espaço na evolução que o Futebol viveu. A justificação desta posição levaria-nos a um trabalho mais aprofundado, que ficará para outro momento. Deixamos no entanto este pensamento:

“Uma casa estava guardada por dois cães, ao ser assaltada um dos ladrões chamou a atenção dos cães e logo estes “atacaram” o ladrão e perseguiram-no abandonando a casa, o outro ladrão entrou nela sem dificuldade. Numa outra casa que tinha dois cães “guardiões”, os ladrões utilizaram a mesma estratégia, os cães mostraram-se na mesma agressivos mas não largaram a porta da casa…”

César Luis Menotti

Esta situação, mostrou uma vez mais, os problemas e consequentes erros decorrentes desta forma de “pensar” o jogo das equipas. O próximo video descreve a nossa leitura da situação, contudo reforçamos que defender o espaço e não o adversário, é para nós atacar defendendo, jogar em acção e não em reacção, no fundo… é antecipar o futuro. Sobre tudo isto aconselhamos um livro já com 11 anos, revolucionário do ponto de vista teórico, que justifica esta visão do jogo.

Defesa à Zona no Futebol, Nuno Amieiro, 2005.

Defesa à Zona no Futebol, Nuno Amieiro, 2005.

“Há uma marcação individual que origina toda esta descoordenação. Porque se o comportamento fosse zonal, era uma situação facilmente resolvida não só pelo Pepe como pelo Vieirinha. Mas como a opção, não sei se opção, é muito difícil para nós estarmos a dizer que isto é uma opção da própria filosofia de jogo da equipa ou não, porque eu não sei, porque nós não sabemos o que o seleccionador quer, ou o que o treinador quer neste tipo de situações, mas aconselhava-se uma situação zonal.

(…)

Nós vemos aqui, o Pepe com uma referência individual sobre o ponta-de-lança, o Vieirinha sobre o outro, depois há um arrastamento, depois fica o outro sozinho. Se eles tivessem um comportamento zonal de um alinhamento em função da linha da bola, ou da linha do último defesa, esta bola era uma situação facilmente controlável por estes dois jogadores”.
Carlos Carvalhal, no programa Euro 2016 de 14 de Junho, RTP3, 2016
“Não se viram muitos cruzamentos, mas não se viu isto acontecer mais vezes”.
Marco Silva, no programa Euro 2016 de 14 de Junho, RTP3, 2016
“O que estará pensado será um posicionamento zonal, portanto é o Pepe que se acaba por deixar ir muito na ligação directa na marcação ao Sigþórsson, mas só o seleccionador sabe verdadeiramente o que pede aos jogadores para fazerem num momento destes. Teóricamente, se Pepe está já alinhado à frente do Vieirinha, isto não tinha acontecido.  (…) Depois Vieirinha tenta trocar com o Pepe, tenta trocar de homem, mas o Pepe já não percebe.”
Carlos Daniel, no programa Euro 2016 de 14 de Junho, RTP3, 2016

Numa derradeira leitura da situação do golo da Islândia, pode-se dizer que a metade esquerda da Defesa portuguesa defendeu à zona, de forma colectiva, e a metade direita defendeu de forma individual. Na última situação ilustrada no video, onde na prática, independentemente que poder ter acontecido de forma acidental, a Defesa acaba por apresentar um um posicionamento razoável sobre o espaço e sobre a zona mais perigosa para o adversário obter uma finalização de cruzamento, acaba por interceptar essa bola. E isto é o que significa antecipar o futuro.

Com o golo do empate da Islândia, a ansiedade regressou, consequentemente a equipa procurou chegar à baliza adversária de forma mais apressada, recorrendo cada vez mais aos espaços exteriores e aos corredores laterais, às variações longas de corredor, acumulando mais perdas e maior desgaste decorrente dos momentos de transição. As substituições, que procuraram transmitir maior ofensividade à equipa, potenciaram no entanto cada vez mais o jogo exterior e a progressão por fora do bloco adversário, ao serem acrescentados aos Defesas-Laterais dois Extremos praticamente sempre em largura máxima, o que intensificou os cruzamentos, aos quais os Islandeses foram respondendo com cada vez maior confiança. Atacando por fora do bloco Islandês, fez-lhe crecer o conforto e a segurança na sua organização defensiva. Um antigo profissional do Futsal, dizia que nessa modalidade era muito importante que no momento ofensivo, as equipas “tocassem ao meio”, o que significava precisamente que jogadores recebessem entre-linhas, portanto uma procura da construção dentro do bloco adversário. Segundo ele, isso provocaria desconforto e insegurança nos defensores, para além das situações em que essa acção conseguia colocar um atacante enquadrado no corredor central com a baliza, com os companheiros e respectivas soluções de último ou penúltimo passe e o(s) último(s) defensor(es). Dadas as grandes semelhanças entre as duas modalidades, no Futebol passa-se exactamente o mesmo.

“Adversário fechado no seu meio-campo: “Temos que ter muita paciência, como aconteceu ontem no jogo da Espanha, a Espanha manteve sempre a forma de jogar, não mudou em nada, e nós temos muita qualidade e teremos que fazê-lo da mesma maneira. Não nos podemos precipitar.”

Simão Sabrosa, Transmissão Portugal x Islândia, Sporttv, 2016

 Numa derradeira análise global, não esteve tudo errado nos momentos ofensivos da equipa portuguesa, e após o jogo de estreia, sentimos haver espaço para fazer crescer a organização ofensiva da equipa Portuguesa e rectificar estas questões. Como referimos atrás se Portugal foi dominate em construção, necessita agora de se tornar dominante em criação. O problema maior reside mesmo no momento defensivo, pois o que mais uma vez este jogo provou, é que subsistem, em jogadores de equipas de topo no Futebol mundial, referências individuais e consequentemente comportamentos defensivos individuais. E quanto a isto, perante a cultura, idade, estatuto, mentalidade, inexistência de tempo e provavelmente de abertura para desmontar estes hábitos, a selecção apresenta problemas graves nos seus momentos defensivos.

Finalmente, ainda para mais perante os erros cometidos, responder às provocações do treinador adversário, é decididamente algo que realmente NÃO importa, por muitas razões, mas também por retirar concentração ao que realmente importa.

Saber sobre o saber treinar II

Reforçamos que este espaço não procura avaliar competências, sejam elas individuais ou colectivas, mas consolidar e construir conhecimento. Inevitavelmente que para isso procuramos compreender como os melhores jogam ou trabalham. Ser melhor será para muitos, relativo, pois dependerá do conhecimento e perspectiva com que se analisa. No entanto, quando se trabalha melhor, está-se sempre mais próximo do rendimento. Sendo o Futebol um jogo, o rendimento, portanto, vencer, será sempre o destino. Aqui, uma vez mais, procuramos o(s) caminho(s) para atingir esse destino.

Jorge Jesus é um bom exemplo para nós, principalmente pelas suas ideias e consequente desempenho das suas equipas, mas também porque já passou por diferentes clubes. No passado, trabalhando noutro clube, trouxemos uma sua palestra na Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa sobre as suas ideias e trabalho. Pareceu-nos pertinente, pelas ideias, mas também pela contínua qualidade do seu trabalho, agora noutro clube, trazer algumas declarações em entrevistas recentes.

Jornalista: Tem noção também que tudo isto é um pouco contingente até aquele minuto 92. Se calhar o desfecho da história era diferente. Ou seja todo um trabalho bem feito poderia ter ido por água abaixo?

Vítor Pereira: Mas o trabalho estava lá. O que é que isso mudaria? Mudaria o titulo, mas o trabalho estava lá.”

(Vítor Pereira, 2014)

“Mais vale dizer coisas certas com as palavras erradas do que que dizer coisas erradas com as palavras certas”.

(Manuel Sérgio, 2013)

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“Não há um bom treinador sem bons jogadores e não há uma boa equipa sem um bom treinador.”

(Jesus, 2015)

“Os treinadores portugueses, são actualmente os melhores treinadores do mundo, são os que têm mais conhecimento em todas as áreas que definem o crescimento de uma equipa de Futebol, e portanto se tiveres a possibilidade de trabalhar numa equipa que tem condições financeiras para teres isto tudo, eles têm muito mais facilidade de ganhar esses títulos que qualquer outro treinador do mundo. Tirando o Pep Guardiola porque também penso que é um pouco parecido com os treinadores portugueses”.

(Jesus, 2015)

“Óbvio que ganhar títulos é importante, mas não é tudo. O que me interessa é que, a certa altura, os meus jogadores me digam: “Treinador, você ajudou-nos e tornou-nos melhores jogadores. Aprendemos muito consigo””

(Guardiola, 2013)

Futebol Português

Futebol Português

“A nossa matéria-prima é aquilo que temos entre as orelhas.”

Agostinho da Silva

Segundo o ex-seleccionador nacional de Rubby (Morais, 2014), em Portugal “temos muito, muito, espírito de clube. Mais do que espírito desportivo e mais ainda que cultura desportiva”. Também o autor (Neto, 2012), descreve que “em Portugal os adeptos que vão aos estádios só lá vão para testemunhar a vitória do seu clube – uma vitória sentida como vital para cada um. Daí a  veemência condenatória da actuação dos árbitros.” José Neto acrescenta ainda que em Portugal o Futebol é predominantemente vivido “como drama – e para sofrer desgostos é preferível ficar em casa: “Intensamente vivido em quase todas as áreas e espaços sociais, menos onde seria suposto fazê-lo com maior facilidade e impacto: nos estádios” (João Nuno Coelho, Nina Clara Tiesler, “O paradoxo do jogo português: a omnipresença do futebol e ausência de espectadores nos estádios”, Análise Social, nº 179, pg. 523)”.

Na opinião de Sérgio Figueiredo em (Morais, 2006), “é verdade que os portugueses são uns pessimistas natos. Uns pessimistas compulsivos. E convocam esse pessimismo tanto para as questões mais essenciais, como para as circunstâncias mais simples do dia-a-dia”. O autor reforça que “se em Portugal não se sabe ganhar, também não se sabe perder”. Porém destaca: “no desporto como nos negócios, há portugueses que vingam, que se destacam, que se afirmam entre os melhores. Individualmente é mais comum. Difícil é que isso aconteça em equipa”. Também na opinião de (Morais, 2006), Portugal “não cresce por culpa do “individualismo, da inveja e do pensamento negativo de quem nos lidera”. Isabel Vaz, em (Lourenço, 2010) descreve que o estereótipo português: “não gostamos de vencedores, fomos educados a venerar a mediania e a nivelar por baixo como sinal de democracia”. Neste sentido, o autor (Sérgio, 2012) descreve que “em Portugal não é a mesma coisa ser treinador de Futebol ou treinador de Basquetebol… as pressões são outras”.

A propósito deste traço que subsiste na cultura portuguesa, (Amado, 2011), explica, noutro contexto, que “somos um povo mais conservador, damos demasiada importância ao “respeitinho” e temos ainda o vício salazarento de achar que há agentes soberanos, nas mais diversas áreas, que estão acima do diálogo e não precisam de justificar as suas decisões de modo racional. Obedecer caladinho e servilmente a um árbitro só porque é árbitro não faz sentido nenhum. O diálogo, a argumentação, a contestação, o protesto, fazem parte da vida pública e deveriam, a bem daquilo que é o jogo que melhor representa, nos dias que correm, a nossa sociedade, fazer parte desse jogo. Não é isso que se vê. Mais depressa um árbitro penaliza um jogador por discordar dele do que por ter uma entrada em que põe em risco a integridade física de um adversário. Isto não faz sentido nenhum. Esse árbitro parece preferir ser juiz de carácter do que juiz do jogo, ou seja, parece ter mais facilidade em exercer o poder que o estatuto de árbitro lhe concede quando esse exercício não depende de uma decisão técnica, o que é – convenhamos – absurdo. Isto é autoritário e politicamente primitivo. Faz parte de uma mentalidade ancestral que deveria estar arrumada nos livros de História, mas que sobrevive pela transmissão, de geração para geração, dos mais enraizados valores patriarcais”. Amado vai mais longe e sustenta que “o Futebol português, como aliás o rochedo à beira-mar plantado que é o país, continua a resistir à invasão da modernidade como pode, com um instinto de auto-preservação cuja natureza consiste em manter uma distinção hierárquica bem definida, dentro da qual aquele que tem o poder deve exercê-lo sem prestar contas do seu exercício. As nossas principais características, enquanto povo, continuam a ser o “bairrismo”, a defesa da paróquia de cada um, a família enquanto pilar social. Não somos uma nação moderna, nem existe em Portugal um sentido democrático assaz relevante. Aliás, somos uma democracia apenas institucionalmente, apenas porque temos a liberdade de eleger, por sufrágio universal, aqueles que queremos que nos representem. No que diz respeito a valores morais e a competências políticas, continuamos uma nação feudal; cada um tem por interesse único o modo como os interesses alheios beneficiam ou prejudicam os seus interesses privados. A população sente-se insatisfeita com o estado de coisas a que o país chegou e vai a correr às urnas votar em massa na conservação e na austeridade, de modo a poder preservar o feudo de cada um. Não está em causa, obviamente, a opção de voto de cada pessoa, mas a tendência das massas e a incompreensão colectiva do que é exigido, na verdade, pela responsabilidade democrática. As pessoas revoltam-se hoje contra a classe política como se revoltariam contra o monárquico que nos regesse, caso isto fosse uma monarquia; revoltam-se contra os soberanos quando se deveriam revoltar contra a ideia de soberania. O que está mal não é a classe política, nem os políticos; o que está mal e deveria ser combatido é a relação de soberania, subordinativa e hierárquica, entre quem representa e quem é representado. No actual sistema político, exercemos praticamente um único direito democrático, o de ir, de quatro em quatro anos, conceder poderes de decisão sobre tudo o que nos diz respeito a meia-dúzia de pessoas cujas ideias mal conhecemos. O nosso único sentido democrático, no intervalo que é cada legislatura, é insurgirmo-nos contra aqueles que elegemos anteriormente, é manifestarmo-nos contra a classe que nos governa, é fazer greves, é falar mal por falar mal. Tudo isso são idiotices sindicais e disparates das barata-tontas que somos. No fundo, somos como jogadores de Futebol que não aceitam uma decisão do árbitro, mas com a agravante de que, ao contrário do jogador de Futebol, que joga um jogo que não tem regulação democrática, estando por isso sujeito à arbitrariedade das regras que elementos exteriores ao jogo estipulam, nós estamos a jogar um jogo em cuja regulação podemos exercer um determinado papel”.

Por outro lado, para (Morais, 2006), os portugueses têm “a tendência para vacilar nos momentos decisivos. Deixamo-nos pressionar, desconcentramo-nos e tornamo-nos indisciplinados”. O ex-jogador português e actual treinador Paulo Sousa, citado por (Ferreira, 2014), defende que perante o insucesso, com as nossas características culturais “podemos entrar em depressões. Mas a História ensina-nos que o povo português sempre teve capacidade para ultrapassar os problemas. Temos de ser positivos mas muitas vezes, frente às dificuldades, não temos a capacidade necessária para o ser”.

Também no mesmo sentido, o autor (Ferreira, 2014), acha “que os portugueses, quando estão em grupo, quando têm que se enfrentar a outro grupo, por norma, entram com pensamentos negativos! Não confiam o suficiente em si próprios! É uma forma de estar na sociedade…somos simpáticos, bons anfitriões, acolhemos muito bem quem vem de fora…e é um pouco esta a postura que temos quando nos enfrentamos a outros adversários…” Nesta linha de pensamento, ainda Paulo Sousa, citado por (Ferreira, 2014), sente que “Portugal tem muita qualidade e que, muitas vezes, somos nós portugueses quem faz de nós próprios mais pequenos. Nós, treinadores portugueses, jogadores e não só, somos muito melhores do que, em geral, pensamos”. 

Em comentário ao seu próprio artigo, (Bouças, 2012) sustenta que “em Portugal sempre houve essa do frete de ir treinar. Mas isso quando o treino era só chutar umas bolas e não se fazia nada dirigido para o que se pretendia no jogo. Enfim, era encher chouriços com uma bola. Acredito que isto se passe na maioria dos clubes em Portugal, mas é um grande atestado de incompetencia a muitos treinadores. Mais ou pelo menos tanto quanto que o mau profissionalismo dos jogadores.” Para (Bouças, 2012), “em Portugal, haver quem se relacione entre si dentro do campo, de forma definida e treinada já é um upgrade grande em relação a demasiados colegas de profissão. Acredite que ainda há equipas na segunda divisão portuguesa a treinar combinações ofensivas sem oposição na fase principal do treino”. O autor (Bouças, 2011), sustenta que “no Futebol português, onde raras são as equipas com capacidade para sair a jogar quando pressionadas no seu meio campo defensivo, ter alguém muito forte no ataque à bola pelo ar para disputar a primeira bola, ajuda imenso a manter a equipa subida”. Ainda (Bouças, 2011), “os golos que se marcam na Liga Portuguesa no momento de organização ofensiva são pouquíssimos. Essencialmente, porque para além de ser o momento mais difícil para chegar ao golo, pela inferioridade numérica,  há também uma incapacidade ofensiva gritante da generalidade das equipas da nossa Liga”.

No entano (Bouças, 2013) ressalva excepções, na sequência do trabalho daqueles que são melhores treinadores portugueses. Em 2013, qualifica a qualidade de jogo colectiva de Porto e Benfica de “nível mundial”. Para o autor, o sucesso europeu dos dois clubes não tem maior continuidade pela “menor qualidade técnica, e de decisão e criatividade nas individualidades comparativamente com os grandes da Europa” e, acima de tudo, pelo estímulo. Segundo Bouças, mais forte será quem mais e maiores estímulos enfrentar. Quantos jogos desta exigência competitiva (sem espaço para jogar, um segundo mais tarde, um metro mais ao lado, e o jogo está perdido) enfrentam FC Porto e SL Benfica a cada ano? Na presente temporada apenas Celtic (na forma como retirou espaço de jogo ao adversário) e Barcelona tinham colocado semelhantes dificuldades aos lisboetas, e Paris SG e Braga aos nortenhos. Quando chega a hora de competir contra jogadores/equipas que estão habituados a níveis de concentração altíssimos todo o ano, fim de semana após fim de semana, é natural que quebre por quem enfrenta menor competitividade ano após ano. O que para uns será um esforço maior (mental/concentração/velocidade a reagir às diversas situações) por um jogo diferente, para outros será uma espécie de “just another day at the office”.”

Paulo Sousa, citado por (Ferreira, 2014), justifica esta opinião com o facto de nesse momento encontrarem-se seis treinadores portugueses na Liga dos Campeões: “é extraordinário e isso só confirma o que disse, que temos qualidade e estamos preparados. Claro que há fatores que determinarão os resultados que cada um deles irá obter mas isso não porá em dúvida a competência de todos eles que, com o tempo, irá sendo cada vez maior”. Assim, segundo Jorge Jesus, citado por (Braz, 2009) e abordando os melhores, “os treinadores portugueses são dos melhores do mundo, ao nível dos holandeses e dos italianos”. O treinador português (Jesus, 2013), reforça esta ideia, colocando os treinadores “à frente dos outros, mas que estão a frente é garantido. Todos querem aprender connosco”. Para (Ramos, 2015), o treinador português encontra-se à frente de colegas de outros países, pois para o autor, há décadas que perspectiva o treino de uma forma mais global, mais holística, contrariando a divisão das dimensões do rendimento protagonizada pela maioria das outras culturas futebolísticas. Porém, para tal, o autor defende que foi preciso errar, foi preciso “trilhar o caminho”, foi necessário inovar, e também aí o treinador português foi corajoso e pioneiro. O autor (Lobo, 2010), parece subscrever esta ideia ao defender que “tacticamente, o treinador português é dos mais inteligentes do mundo. Domina o treino e a leitura de jogo. É multicultural, sem complexos de ouvir outras escolas mas, ao mesmo tempo, tem um orgulho pessoal que não o deixa converter-se, pelo que, no fim, impõe a sua filosofia”. Lobo, acrescenta que o treinador português, “prova, como diz Capello que “o melhor treinador é o maior dos ladrões”. Aprende em todos os sítios e com todos os outros técnicos, mas, no fim, aproveitando tudo, mete a suas ideias e cria uma filosofia própria global. O Futebol português, não duvidem, sempre esteve cheio de grandes “ladrões””. O autor (Pinheiro, 2013) destaca três pontos que fortes no treinador português:

  • “Trabalho realizado em ambiente de adversidade. O autor refere que “treinador português está acostumado a trabalhar com poucos recursos, tanto ao nível humano quanto ao material. Vejamos o exemplo de algumas equipas fantásticas que se alicerçam em jogadores “aparentemente” normais, mas que com grande rigor e organização conseguem resultados fantásticos;
  • Formação académica. Para Valter Pinheiro, “o advento de técnicos com formação em Educação Física trouxe ao futebol maior rigor e cientificidade;
  • Capacidade de adaptação. Finalmente o autor sublinha “a capacidade “camaleónica” do treinador português, capaz de se adaptar a contextos difíceis e muitas vezes hostis. Já se tornou normal ver equipas com muitos meses de salários em atraso que em campo revelam uma motivação feroz. Em muitas destas situações o treinador assume-se como a pedra angular que congrega a união da equipa.”

Num âmbito geral, (Xavier, 2014), e de acordo com um levantamento que fez do futebol português e da forma como “as equipas são formatas, e é cíclico, é sistémico que as equipas são trabalhadas em 4:3:3. Triângulo invertido ou não, 1 + 2 ou 2 + 1, este é basicamente o sistema que está instalado no futebol português”.

Uma investigação do Observatório de Jogadores Profissionais de Futebol concluiu que em 2010 que “os clubes da Liga portuguesa de Futebol são os que menos jogadores aproveitam para as formações principais”. Segundo o estudo “apenas 6,4 por cento dos jogadores dos emblemas lusos alinharam nos respectivos clubes pelo menos três anos, entre os 15 e os 21 anos. Este é um valor muito abaixo da média europeia – quase um em cada quatro jogadores fizeram a formação no clube actual (23,33 por cento). Entre os 36 campeonatos estudados pelo O.J.P.F., os clubes da Islândia (50) e da Estónia (41) são os que mais jogadores promovem às equipas principais. Nas cinco principais ligas, apenas a francesa e a espanhola superam a média europeia, com 25,8 e 24,2 por cento de jogadores promovidos da formação, respectivamente, superando largamente as competições de Alemanha (19), Inglaterra (16,2) e Itália (8,9). Os clubes portugueses são os mais renitentes da Europa a lançar jovens defesas, apenas 3,3 por cento, e médios, só 8,0 por cento, enquanto os italianos lideram nos guarda-redes (13,3) e os turcos nos avançados (3,9), posições em que o aproveitamento luso não é muito melhor: 14 por cento nos guardiões e 4,1 por cento nos atacantes. No sentido oposto, os holandeses são os que mais apostam em médios (28,1) e avançados (20,6) da formação, enquanto os franceses destacam-se nos guarda-redes (36,2) e os espanhóis nos defesas (25,9).” Ao nível dos clubes, comprova-se que o Sporting é “a quinta equipa da Europa com mais jogadores colocados noutros clubes incluídos no estudo (39), menos cinco do que os ucranianos do Dínamo de Kiev, que lideram este “ranking”, que coloca o FC Porto no 19.º posto (24)”. Muitas opiniões convergem na redução do número de equipas presentes na primeira liga de Futebol. As razões passam pela fraca competitividade e incapacidade orçamental de alguns clubes. No entanto, para (Ramos, 2004), o caminho deve ser o oposto, o do alargamento. Mesmo que os orçamentos tivessem de ser mais reduzidos, a principal razão apontada seria no sentido de alargar o espaço competitivo a mais jogadores portugueses de qualidade que se encontram em equipas de divisões inferiores ou mesmo para os melhores juniores na sua transição para o Futebol de rendimento. Desta forma, todos estes jogadores poderiam competir e evoluir com os melhores, propiciando-se o crescimento das suas competências, melhorando assim o seu patamar de rendimento, e consequentemente, na globalidade, todo o Futebol português.

Segundo o treinador português Fernando Valente, em entrevista a (Lumueno, 2015), “os jogadores em Portugal não percebem o jogo, porque não sabem interpretar e aplicar os Princípios do Jogo”. Ainda assim, segundo (Matos, 2014), dois rankings da FIFA indicam que Portugal é o 70º país no número de jogadores que praticam futebol e o 5º nos resultados. Segundo o ex-jogador “alguma coisa se faz bem em Portugal na formação…” Porém, será mesmo que o potencial e qualidade do jogador português justifica-se pelo trabalho na generalidade do Futebol de Formação?

Na opinião de (Neto, 2012), Portugal “é dos poucos países que rivalizam com o Brasil no que concerne à produção de jogadores com capacidade de improvisação, com elevado espírito de jogo ofensivo, capacidade técnica elevada e improvisação. A pouca objectividade e algumas características do individualismo não destroem a espectularidade do criativo e do imaginativo”. Uma justificação para o facto, segundo (Lobo, 2002) citado por (Neto, 2012), o Futebol português ter sido “fortemente influenciado pela miscigenação, resultante da inclusão de jogadores das ex-colónias. O Futebol português “tem cheiro de África e do Brasil sul-americano, o toque, o bailado à brasileira, como gostavam de referir os analistas”, caracterizando-se pela dominância dos aspectos técnicos, pelo passe curto, a desmarcação constante, e pelo improviso dos jogadores”.

No entanto, na opinião do autor (Silva, 2013), em Portugal “o futebol de rua está a desaparecer e, com ele, as boas memórias de todos os que têm mais de 25 anos. A melhoria de condições nos clubes desportivos (longe vão os tempos em que o CAC fez furor em Lisboa com um dos primeiros sintéticos) teve também um efeito nefasto e o “laboratório” português tem-se limitado a repetir a mesma fórmula de incutir o colectivo, reprimindo a qualidade individual que possa existir. Não sou o primeiro a falar da falta que o futebol de rua faz a Portugal (e não só, porque a tendência é mundial), não serei o último. Mas junto-me ao coro de treinadores e comentadores que já perceberam as consequências revolucionárias que a tendência provocará. De uma forma ou de outra, ficaremos cada vez mais longe da alcunha de “Brasil da Europa” e mais próximo da “Itália da Península Ibérica”. A qualidade individual permitia-nos ser brasileiros, a mentalidade portuguesa jamais nos deixará ser verdadeiramente italianos”.

Na opinião de (Sá, 2011), “Brasil e Portugal são países irmãos em muitos pontos culturais, mas estão em pólos opostos no que respeita à forma como lidam com craques em final de carreira. No Brasil, há uma valorização várias vezes desmesurada desse tipo de jogadores. Em Portugal, ao contrário, o bilhete de identidade é mesmo sinónimo de preconceito na opinião que é tida sobre o valor desportivo dos jogadores”.