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Exercício e contra-exercício

“escolher o jogo reduzido é um acto complexo, desafiador, onde o escolher e não escolher, tem igual peso na resultante da resposta do futebolista e onde os efeitos podem ser claramente diferentes para os distintos futebolistas envoltos no jogo.”

(Filipe Clemente, 2022)

O exercício, tal como o seu propósito, o próprio jogo, emanam uma incrível complexidade. Essa é provavelmente uma das razões do imenso fascínio e desafio que provoca a quem o planeia e operacionaliza.

Um dos reflexos que essa complexidade gera está na outra “face” do exercício. O contra-exercício. Esta é a denominação com que nos referimos, num exercício competitivo, ao(s) jogador(es) que estão na oposição ao(s) outro(s) que estão dentro do objectivo proposto. Dando um exemplo simples, propomos um jogo reduzido de GR+2×2+GR, de objectivos ofensivos de Organização Ofensiva + Transição Defensiva, mais especificamente de progressão, penetração, cobertura ofensiva e mobilidade. Articulando isso com a Reacção à perda da bola da Transição Defensiva como segundo objectivo. Então, para lhes garantir propensão e estímulo a estes objectivos, propomos que sempre que a equipa marque golo, reinicie a situação com bola. Neste contexto, a equipa que está na oposição à que está a jogar nos objectivos do exercício, referimos que está no contra-exercício. Neste exemplo, essa equipa estará, por exemplo, na Organização Defensiva e Transição Ofensiva, especificamente na contenção, cobertura defensiva, Reação ao ganho da bola e decisões posteriores de transição.

Parece algo simples porque também trazemos um exemplo mais simples. Simples do ponto de vista da percepção sobre o exercício e objectivos, mas complexo do ponto de vista comportamental. Contudo, em exercícios de maior número de jogadores, eventualmente maior espaço e principalmente, com mais regras, nem sempre se torna fácil a sua análise, planeamento e operacionalização. Até porque a manipulação do jogo em função de objectivos para determinado exercício promove a perda ou deterioração de outros comportamentos. Manipular o jogo tem este efeito, por isso torna-se fundamental perceber e antecipar o que se promove e o que se prejudica. 

Noutro exemplo, temos uma situação similar à anterior. Mas agora de GR+2(+1)x2+Gr, ou seja, adicionamos um apoio interior que joga sempre pela equipa que ataca. Nesta função específica colocamos um médio-centro para que tenha propensão em comportamentos de apoio, cobertura ofensiva, mobilidade e passe, pródigos para um jogador nesta função. Porém, sendo apoio de quem ataca, fica portanto castrado dos comportamentos de Transição e Organização Defensiva, algo igualmente fundamental nessa função. Terá que ser o treinador a definir e priorizar o que será mais importante naquele momento, mas não pode ignorar que estará a degradar esses comportamentos àquele jogador. Desse modo, torna-se fundamental que os promova noutros momentos.

Por outro lado, esta complexidade também traz outra riqueza ao exercício. Se teremos uma equipa dentro dos objectivos propostos, a oposição estará eventualmente em objectivos antagónicos. Assim, identifá-los e dar-lhes relevância durante o exercício, enriquecerá o mesmo do ponto de vista aquisitivo. Uma solução para tal passa por definir um dos treinadores para acompanhar essa equipa que estará em oposição à que estará mais tempo nos objectivos do exercício, ou seja, a que está no contra-exercício. Deste modo, garantindo-lhe apoio, feedback e relevância. Em exercícios nos quais, dadas as regras dos mesmos, as equipas repartem a propensão em exercício e contra-exercício, caberá ao treinador definir se nos papéis dos treinadores responsáveis por cada equipa se torna importante o feedback a objectivos secundários.

Flexibilidade e adaptabilidade do Programa de Treino

“Os exercícios apenas são potencialmente específicos”

Guilherme Oliveira, citado por (Esteves, 2010)

Continuamos a explorar o Programa de Treino que temos vindo a desenvolver, aprofundando a flexibilidade do mesmo.

Sublinhamos que o Programa não é dirigido a nenhuma Ideia de Jogo Específica. Porém, será ele exequível para todas as Ideias? Essa foi uma das nossas preocupações e intenções, mas lançamos um verdadeiro desafio à criatividade. Será possível criar uma Ideia de Jogo que não seja operacionalizável desta forma? Caso afirmativo, por outro lado, será um óptimo tónico à evolução do trabalho realizado.

À imagem de um Microciclo ou Morfociclo padrão, no qual a preocupação seja transmitir uma Ideia de Jogo à equipa, enquadrando uma série pressupostos para que a “óptima” aquisição deva acontecer, por sua vez o Programa enquadra um ciclo mais alargado (quatro semanas), nas quais são abordadas todas as dimensões da Ideia de Jogo da equipa.

Se a Ideia de Jogo (o projecto do treinador) é o ponto de partida e o Modelo de Jogo (o jogar propriamente dito da equipa) o ponto de chegada, o Programa será um dos veículos, através dos quais podemos fazer esse trajecto. Cremos nós, e esse foi o principal objectivo na sua elaboração, com grande eficiência e eficácia.

No passado texto escrevemos o seguinte sobre o tema:

“Também procurámos que o Programa fosse, por um lado, suficientemente fechado para se conseguir um razoável controlo do processo de aquisição e repetição num plano macro, por outro, que também fosse suficientemente aberto para poder ser implementado com diferentes Ideias de Jogo, diferentes níveis competitivos e ainda diferentes escalões etários.”

Para tal, usámos a Sistematização do Jogo que desenvolvemos no passado, para definir diferentes escalas de actuação. Os momentos, os sub-momentos, os princípios, os sub-princípios e as acções individuais.

Relativamente aos momentos, temos uma sessão por semana direccionada para cada um deles. Quanto aos sub-momentos, procurámos dar maior volume aos que surgem mais vezes no jogo. Por exemplo, em relação à Transição Defensiva é facilmente perceptível que as equipas passam mais tempo na Reação à perda e menos na Defesa do contra-ataque, logo, será lógico dar maior propensão a um sub-momento que pode até evitar que a equipa não tenha que defender um contra-ataque adversário.

Em relação aos princípios, tratam-se de ideias comuns a todas as equipas. No mesmo enquadramento, Transição Defensiva, sub-momento de Reação à perda, damos o exemplo da “Pressão imediata na bola”. É algo que todas as equipas procuram. Se é para procurar recuperar imediatamente a bola ou apenas para conter, não permitindo o contra-ataque adversário e procurar garantir a reorganização defensiva da equipa, isso será território específico da Ideia de Jogo de cada treinador. Como exemplo de sub-princípio, “Referências de pressão”, ou seja, em que circunstâncias a equipa passa da contenção à pressão para recuperar a bola, ou se simplesmente não o faz nunca. Importa referir que os sub-princípios são comuns a diferentes princípios. O exemplo que acabámos de dar confere isso, pois “Referências de pressão” estará também presente noutros sub-momentos do jogo, nomeadamente nos de Organização Defensiva.

O mesmo sucede com as Acções Individuais. Neste caso, defensivas, e damos o exemplo da “Posição de base”, através da qual o defensor procura orientar-se, posicionar-se, adoptar determinada postura corporal, etc., para, da forma mais eficiente possível, passar da contenção à eventual pressão com objectivo de recuperar a bola.

Ora bem, nesta lógica, o Programa define o quando (momentos e sub-momentos do jogo) e o quê (princípios, sub-princípios e acções individuais). Contudo, não define o como e porquê, ficando esse domínio contemplado na Ideia de Jogo Específica de cada treinador.

Deste modo, o Programa também se torna ajustável a cada nível de jogo. Se, por exemplo, o nível é o da Etapa de Iniciação do Futebol de Formação, a Ideia (extremamente simples, reduzida, necessariamente aberta e ampla) e a intervenção do treinador deverão ter determinado carácter. O que não implica que não hajam conteúdos programados, tal como sucede nos programas nacionais do ensino básico. De uma forma geral, abordados de forma mais elementar e muitas vezes apenas usando um exercício / jogo simples como estímulo ao conteúdo desejado, e sem grande intervenção do treinador. Noutro exemplo, se o Programa é aplicado no Futebol de Rendimento Profissional, o detalhe, a exigência, o plano estratégico, etc., deverão estar contemplados através da Ideia de Jogo, conteúdos e da actuação do treinador em cada exercício. Mesmo que não haja intervenção do treinador no exercício. Isso deve ser deliberado e fruto de um pensamento estratégico e operativo naquele contexto específico. Não porque o nível de intervenção pressupõe isso.

Haverá sempre uma questão pertinente no nível de Rendimento. Se o Programa engloba quatro semanas, dado que uma não será suficiente para se atingir todas as dimensões do jogo da equipa na propensão desejada, então, atendendo à eventual necessidade de investimento na dimensão estratégica em função do próximo jogo, essa semana do Programa poderá não atingir em volume de forma satisfatória determinado sub-momento do jogo e / ou da forma desejada (espaço do campo onde determinados princípios se desejam trabalhar). Neste caso, a manipulação do exercício, nomeadamente na sua operacionalização, torna-se decisiva.

Não modificando conteúdos, ao longo da semana o treinador vai encontrar momentos e sub-momentos contrários aos objectivos estratégicos que persegue. Nesses momentos, pode usar o contra-exercício, ou seja, os objectivos inversos aos do Programa em determinado exercício para intervir e tornar-se o protagonista maior no foco e, possivelmente feedback, que pretende. Por exemplo, na semana C do Programa, no exercício C-3OO2B:

Os objectivos, sub-momentos da Organização Ofensiva, são a Criação e Finalização, e ainda com ligação à Reacção à perda na Transição Defensiva. O exercício é passado no meio-campo adversário.

Se, em função do próximo adversário, o treinador tem a preocupação de preparar determinado(s) princípio(s) da Organização Defensiva, sub-momento, Impedir a Criação em bloco médio ou baixo, poderá escolher este e eventualmente outro(s) exercício(s) para garantir essa intervenção. Nesta semana do programa, para além deste, surgem mais 5 exercícios em que pode atingir, ou no objectivo principal, ou no contra-exercício, este propósito. Assim, no enquadramento da equipa técnica e definição de tarefas no treino, poderá trocar o seu papel, inicialmente no objectivo principal, com outro treinador responsável pela equipa / grupo de jogadores que se encontram no objectivo inverso. Ou seja, trocar a sua intervenção para a equipa que, com maior propensão no exercício em causa, defende e transita ofensivamente no exercício. Deste modo, o programa não perde os objectivos iniciais e a estimulação sistemática de determinadas ideias. Simultaneamente o treinador encontra o espaço e o momento para dar mais ênfase a determinada preocupação e objectivo estratégico.

Estamos, e não nos cansamos de repetir, perante um processo altamente complexo. O Programa de Treino, torna-se para nós um caminho muito interessante para o treinador ter um satisfatório controlo sobre o jogo da sua equipa. No caso particular do Futebol de Rendimento, controlo sobre a dimensão da sua Ideia de Jogo e também sobre a dimensão estratégica.

“Treinar deve implicar

que a percepção cumpra sua função

não é a de memorizar, mas de percepcionar

a complexidade do jogo na complexificação.

Resultante…

De cada instante

duma e outra equipa na acção.”

(Vítor Frade, 2014)

Exercício 138 [Subscrição Anual]

Publicamos o exercício 138, denominado como Meinho em duplas com baliza e Guarda-Redes. Este exercício encontra-se no nosso arquivo e estará disponível para subscritores.

A identificação meinho, pode sugerir que estamos na presença de um exercício de dimensão mais lúdica, ou de um exercício de complexidade reduzida, no qual no momento da recuperação da bola, o mesmo é interrompido para que os jogadores troquem de função. Não é o caso. Utilizamos a palavra meinho como forma mais fácil e prática de explicar a generalidade do exercício. No fundo trata-se de um exercício de posse de bola que se inicia e se joga em condições muito específicas e que traz características interessantes, não só do jogo, como também do ponto de vista da especificidade de uma determinada ideia de jogo. Aqui destacamos também a oportunidade para uma possível adaptação às novas regras do Pontapé de Baliza.

Dada a sua estrutura mais micro, quer em número, quer em espaço, será apropriado como um exercício introdutório ou complementar durante a Sessão de Treino. Dada a continuidade do jogo, garante ainda a Articulação de Sentido do ponto de vista dos momentos do jogo, pois para quem ataca vivencia, pelo menos, Organização Ofensiva e Transição Defensiva, e quem defende, pelo menos, Organização Defensiva e Transição Ofensiva.

Neste domínio, o exercício também apresenta no seu contra-exercício um estímulo de qualidade, ou seja, para a equipa que se encontra em oposição aos objectivos prioritários, nomeadamente no seu momento de recuperação da bola e consequente decisão sobre o Contra-ataque ou a Valorização da posse de bola. Desta forma, do ponto de vista do planeamento, o exercício poderá então, também servir esses propósitos opostos.

Exercício 138 | Meinho em duplas com baliza e Guarda-Redes

Exercício gratuito

Publicamos mais um exercício gratuito: Saída de jogo do Guarda-Redes em “quem perde sai”

Desta vez trazemos um exercício cujo objectivo principal é o sub-momento de construção do momento ofensivo do jogo, especificamente a Saída de jogo do Guarda-Redes, a Construção pela primeira linha e a penetração da primeira linha de pressão adversária. Contudo, tem também uma preocupação com a articulação de sentido para o momento da Transição Defensiva e defesa da baliza após a perda da bola. O exercício aproxima-se de uma fase de consolidação, uma vez que tem um carácter competitivo muito acentuado, o que pode desfocalizar a aquisição destes comportamentos numa primeira fase de trabalho.

O exercício garante propensão aos comportamentos identificados, porém não condiciona para uma forma de jogar específica e sua consequente estrutura. É assim aberto ao modelo idealizado por cada treinador, permitindo diferentes formas de saída do Guarda-Redes, através de passe curto e médio, garantindo também espaço para diferentes ideias para ultrapassar a primeira linha de pressão e nesse seguimento chegar ao interior do bloco adversário, neste caso, a finalização nas balizas sobre o meio-campo. Por outro lado, no contra-exercício, a equipa que inicia o exercício a defender, pode, por sua iniciativa ou por determinação estratégica do treinador, posicionar-se num bloco médio junto ao meio-campo ou num bloco mais alto procurando desde logo condicionar o primeiro passe do Guarda-Redes. Desta forma, o exercício pode ser invertido nos seus objectivos, caso a preocupação seja o momento defensivo do jogo e o condicionamento da construção adversária, caso a mesma seja curta.

De acordo com (Manna, 2009), “sair jogando é dar prioridade ao passe desde o início da construção de jogo. O pontapé de baliza ou a participação dos defesas na construção ofensiva torna-se fundamental. Uma perda de bola na zona dos defesas centrais pode ser terrível. Todos evitam realizar o que Pep dá prioridade. Riscos que permitem, facilitar o ciclo de jogo, no qual Pep irá sempre tentar construir desde a sua baliza”. Guardiola sublinha que saindo a jogar bem, podemos chegar ao alvo jogando bem, ao contrário de um mau início de construção que torna tudo mais difícil e aleatório. E lembra que se o primeiro passe é bom, tudo é mais fácil a seguir.

“É de estética vazia

e o Futebol assim jaz…

Jogo directo nada cria

correm, correm, mas nenhum sabe o que faz.”

(Frade, 2014)

Um golo rico para análise

O golo que trazemos, será identificado por muitos como consequência de um contra-ataque. Compreensível para quem não assistiu ao início da situação, um lançamento lateral para o Manchester United, como comprova uma das repetições. Ou seja, não partiu de uma recuperação de bola, logo não estamos perante um contra-ataque. Estamos sim, na presença de uma situação de ataque rápido, que consiste em acelerar acções de progressão, portanto acções na sua maioria de sentido vertical do campo, perante espaço(s) existente(s). A confusão entre contra-ataque e ataque-rápido é um clássico na análise dos jogos, mas não é o assunto que trazemos hoje.

Neste caso a situação evidencia uma fraca organização defensiva de quem está a defender um lançamento lateral. Não há uma cobertura defensiva adequada ao defensor que pressiona a linha de passe para Wayne Rooney. Depois, a má abordagem do defensor e a qualidade individual do inglês apesar do seu desenquadramento com a baliza adversária, resolvem o 1×1, ficando este com espaço para conduzir e progredir.

Num primeiro momento, sem percebermos o início da situação, chamou-nos a atenção a decisão de Rooney após o seu enquadramento com a baliza adversária. O inglês encontra-se sem apoios próximos, percebe que um defensor vai recuperar a contenção antes que consiga fixar um dos três defensores da última linha adversária, o que tornará mais difícil a possibilidade de ser ele a comandar o ataque. Assim, dificilmente conseguirá conduzir para o corredor central, no qual como em situação de contra-ataque, deverá ter mais opções para resolver a situação. Mas Rooney, num passe de alguma dificuldade dada a distância e contexto, com um risco elevado de atrasar a progressão, consegue colocar a bola em Ibrahimovic para que este lhe dê continuidade no corredor central, com mais soluções. Depois o inglês desmarca-se entre a última linha, e sendo certo que beneficia da queda de um adversário, garante porém uma solução de último passe entre a última linha adversária, que acaba mesmo por ser a opção do sueco para resolver a situação. Este, pelo meio, e também com muita qualidade, fixa um dos defensores atraindo ainda atenção das suas coberturas defensivas, simplificando uma situação de inferioridade numérica, mas que beneficiava de espaço. Em última análise do momento ofensivo, Ibrahimovic e os outros dois companheiros nesta situação, mostram uma vez mais que o número – as relações numéricas – são apenas uma dimensão do todo complexo que é o jogo, sendo o espaço e o tempo outras dimensões, também elas de grande influência nas decisões tomadas.

Mas por outro lado, podemos analisar o comportamento defensivo do Feyenoord. Já o fizemos em relação ao início da situação. Depois, no princípio que nós chamamos a “defesa do contra-ataque”, mas que aqui, pela situação identificada antes se transforma numa “defesa do ataque-rápido”, se a equipa holandesa revela uma contenção interessante no início, não precipitando a tentativa de intercepção da bola e mantendo um posicionamento zonal inicial de GR+2+1, na sequência do movimento de Mata acaba por revelar referências individuais que levam a um desposicionamento dessa estrutura. Igualmente grave, não pára a contenção grupal no local ideal: a linha da grande área. Defendemos que aí, perante o adversário com bola no corredor central, deverá estar o limite referência para as coberturas defensiva e restante última linha, não devendo nenhum defensor entrar na grande área, obrigado o atacante com bola a tomar uma decisão. Isto porque caso contrário permitirá uma maior aproximação do atacante com bola à baliza e possibilitará um passe para outro atacante posicionado no interior da grande-área. Caso contrário, todos os atacantes têm de se posicionar fora da mesma, tirando os defensores também partido da regra do fora-de-jogo. Finalmente, o interior da grande área deverá ser espaço do Guarda-Redes, que no fundo se constituirá como uma derradeira cobertura defensiva em situação de último passe.

Esta análise leva-nos a outra questão. A análise da acção de uma equipa e da “contra-acção” do adversário. Este termo provém de outro problema deste mesmo plano, o exercício e o contra-exercício. Se num exercício competitivo de treino, o objectivo do mesmo estará no comportamento de um grupo / equipa, do outro lado encontra-se o outro grupo / equipa no oposto momento do jogo, e com o qual a equipa técnica também se deverá preocupar, mesmo que pretenda o seu erro. Aliás, mais ainda se pretende esse mesmo erro e portanto se o exercício dá propensão a que isso aconteça. Em qualquer situação do jogo coloca-se o mesmo problema, que desagua na eterna questão: onde termina o mérito do ataque e começa o demérito de quem defende. É sem dúvida um dos maiores desafios que o jogo levanta aos técnicos. Uma possível resposta, poderá estar na identificação de eventuais erros de Organização Defensiva no Modelo de Jogo proposto. Caso estes não sejam fáceis de identificar, deverá ser dado mérito ao ataque. Mas neste caso, é óbvio que estamos perante uma avaliação muito dependente do contexto e da riqueza das ideias tácticas de cada treinador.

Na situação anterior, há sem dúvida mérito ofensivo do Manchester United, contudo são para nós facilmente identificáveis erros defensivos do Feyenoord, que apresentando outros comportamentos tornaria muito mais difícil a resolução ofensiva da situação aos ingleses.