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Um contra-ataque 3×2+GR… ou melhor… 3×3+GR e possíveis soluções.

A situação sucedeu no México x Equador da Copa América. O momento para o Equador é de Transição Ofensiva, sub-momento de Contra-Ataque. No ângulo de análise que trazemos, o protagonista é Enner Valencia, atacante com bola que conduz o contra-ataque.

Num primeiro momento, sendo a situação inesperada por ser resultado de um ressalto, a recepção de Valencia é muito boa. Sendo orientada para a baliza adversária ganha imediato tempo e vantagem sobre a oposição, possibilitando uma situação de contra-ataque em 3×2+GR, que, se desenvolvida eficientemente, antecipava grande probabilidade de golo. Valencia toma ainda outra boa decisão. A condução, não caindo na tentação de passar para o companheiro à sua esquerda, que com mais espaço, aparentava estar em melhor condição para progredir para a baliza adversária. Não atendendo às especificidades individuais dos jogadores em causa, de uma perspectiva geral poderia ser um erro fatal ao contra-ataque porque não só este não se encontrava no corredor central, mas também porque o percurso para a baliza tinha uma elevada probabilidade de ser interceptado pelo opositor mais próximo, até porque este também se encontrava orientado e com os apoios virados para esse espaço.

Contudo, o equatoriano comete um erro de execução, deixando a bola para trás por um breve momento mas que numa situação com esta foi o tempo suficiente para permitir a recuperação de um terceiro defensor, tornando-se a situação num 3×3+GR, portanto elevando o grau de dificuldade para os atacantes.

Depois, a grande questão que na situação é colocada, torna-se a decisão sobre o último passe ou a opção tomada, a finalização. Sendo a simplificação da relação o desejável, ou seja, eventualmente colocar um segundo atacante em 1×0+GR, o ângulo em que este acabará para a baliza e tendo também em conta o seu pé dominante e qual ficará mais disponível para rematar, serão questões relevantes e uma análise e decisão extremamente difícil de fazer em tão pouco tempo e sob enorme desgaste. Deste modo, quando em condução pelo corredor central e já próxima da grande área, a opção pela finalização dificilmente se torna uma péssima opção porque existe um eventual enquadramento com a baliza e é possível que a contenção não esteja a ser muito agressiva por também ter a preocupação com os outros atacantes. Foi o caso. Nesta decisão, o que não correu bem foi a execução do remate.

Ainda assim, apesar da situação em causa não permitir o resposta fácil, podia ter surgido uma solução mais eficaz. Para decisão de último passe, para nós a decisão mais evidente seria realizá-lo quando, Chávez, o opositor mais próximo e que se encontra dividido por Valencia e pelo atacante mais à direita, decide rodar os apoios e enquadrar-se com o espaço exterior. O passe nesse momento encontraria-o em reduzida capacidade de reação e mobilidade o que colocaria o segundo atacante em 1×0+GR pela direita. Valencia também podia ter atacado o ímpar, ou seja, fixado esse defensor de forma a garantir que ficaria efectivamente fora da situação, tomando assim similar opção. Outra alternativa seria atacar o par, ou seja, atacar o espaço entre o defensor do meio e o à direita do portador, procurando criar indefinição entre os dois e possivelmente atraindo ambos à bola o que poderia permitir mais espaço para o mesmo último passe à direita ou, caso o defensor ao meio, Pacho, saísse à bola, poderia arrastar consigo a cobertura defensiva de Mena, o defensor da esquerda, abrindo dessa forma uma nova solução: o último passe para o terceiro atacante, mais à esquerda, Páez.

O Programa de Treino que desenvolvemos procura chegar a este nível de detalhe, garantindo propensão a diversas situações de relação numérica de contra-ataque para que surjam diversos contextos e possibilidades, e a eventual correção das decisões nos mesmos. A repetição é fundamental não só para compreender as melhores opções em diversos cenários, mas também para a apropriação dessas conclusões pelo sub-consciente do jogador, para o entrosamento entre os mesmos e em última instância para o crescimento do modelo de jogo da equipa. Desse modo, a tal velocidade e desgaste que o jogo proporciona torna-se menos condicionante e relevante na eficácia final da acção. Propiciar o crescimento da eficiência no jogo é o caminho para se atingir este derradeiro objectivo.

Os princípios de jogo e a necessidade dos mesmos na resolução de uma situação de contra-ataque II. Agora em 3×3+GR e 1×1+GR. Mas também o pensamento divergente de David Neres. Exemplos do Benfica x Vizela.

O contra-ataque, e… ou melhor… ou, o ataque rápido II

“Segundo Garganta (1997) e Castelo (2004) este Método de Jogo Ofensivo apresenta as características fundamentais que foram referidas para o Contra-Ataque. A diferença estabelece-se fundamentalmente no facto do contra-ataque procurar assegurar as condições mais favoráveis para preparar a fase de finalização antes da defesa contrária se organizar de forma efectiva. Enquanto que o Ataque Rápido terá de preparar a fase de finalização já com a equipa adversária organizada eficientemente no seu método defensivo.”

(José Lopes, 2007)

Como prometido na semana passada, hoje voltamos a falar do contra-ataque e de ataque rápido. Num artigo de 2019 abordámos o tema, explicando sob a nossa visão e sistematização do jogo, as diferenças entre ambos. Nesse momento escrevíamos:

“A relevância deste assunto, prende-se, para nós, com a confusão geral em que mergulhou, em trabalhos académicos e entre treinadores e jogadores, tal como o próprio tópico da discussão ilustra. Deste modo, o assunto assume especial importância uma vez que se trata de entendimento e conhecimento do jogo, portanto, questões fundamentais no papel do treinador.”

Como referido, tornou-se um lugar comum a associação, tantas vezes ouvida entre ataque rápido e contra-ataque, que acreditamos ter surgido de uma visão clássica do jogo, a qual apenas contemplava as “fases” ofensiva e defensiva, e os coorrespondentes métodos de jogo ofensivos disponíveis nos quais eram agrupados o “ataque organizado ou posicional”, o “ataque rápido” e o “contra-ataque”. Com a evolução para uma visão mais completa e complexa do jogo, contemplando quatro momentos de jogo, surgiu uma nova necessidade de organizar estas ideias. Foi o que procurámos fazer quando propusemos uma sistematização que ia além dos quatro momentos, contemplando então mais doze sub-momentos.

Porém, a mais simples e básica distinção entre ambos não foi sugerida por nós. Há muito que era transmitida nalgumas obras, Universidades e cursos de treinadores, por quem procurava pensar, enquadrar e justificar os diferentes comportamentos em jogo. O Contra-Ataque, como o próprio nome indica, pressupõe a recuperação da bola. Deste modo, tem obrigatoriamente de ser enquadrado no momento de Transição Ofensiva. E como surge imediatamente a seguir à perda de bola e desorganização defensiva de uma equipa e a recuperação de bola e procura de aproveitamento da desorganização defensiva adversária da outra, para nós, o Contra-Ataque continua a ser momento de Transição Ofensiva. Particularmente, um sub-momento, pois torna-se algo muito comum no jogo e uma forma altamente directa de chegar à finalização. Por outro lado, o ataque rápido, não pressupondo recuperação de bola, enquadra-se na Organização Ofensiva. Anteriormente como método, hoje, tendo em conta a evolução da visão sobre o jogo, como um princípio passível de ser adoptado para uma equipa passar do sub-momento de Construção para o sub-momento de Criação. Ou seja, à excepção de ataque à profundidade em jogo longo directo, só em raras situações que implicam tremendos erros defensivos adversários, é que um ataque rápido permitirá que uma situação passe de construção a finalização. Deste modo, enquanto princípio, tal como outros mais, a sua potenciação e utilização, estarão dependentes da ideia de jogo de cada treinador, ao contrário do Contra-Ataque, que enquanto sub-momento torna-se um comportamento transversal a praticamente todas as equipas.

Assim sendo, a situação que trazíamos na semana passada, enquadramos como ataque rápido porque surge em Organização Ofensiva, mais precisamente em Construção. Uma decisão permitida por um conjunto de princípios como a posse e circulação de bola, a atracção da pressão adversária que em conjunto com a profundidade provocada à última linha adversária por Haaland, Doku e Foden acabou por permitir espaço entre-linhas para o apoio frontal de Álvarez e o passe vertical de Ederson, que permitiram iniciar o ataque rápido.

Finalizando, trazemos mais dois exemplos que sucederam num jogo da selecção portuguesa de Sub17, e que possibilitaram mesmo dois golos. O jogo é de 21 de Novembro de 2023.

Na primeira situação, estamos então perante um ataque rápido, pois a equipa estava em Organização Ofensiva, sub-momento de Construção, mais especificamente num lançamento lateral ofensivo. A mobilidade que efectuou provocou espaço ao adversário no interior do seu bloco, e perante isto o lançamento tornou-se um passe vertical para o espaço entre-linhas, permitindo imediatamente à equipa ficar num ataque de 3×3+GR. Por outro lado isto reforça a nossa posição, a qual refuta as bolas paradas como um quinto momento do jogo. Isto porque se há bolas paradas ofensivas que nos permitem finalizar, outras criar situações de finalização, e outras ainda, como esta, que possibilitam passar do sub-momento de Construção para o de Criação. Estão portanto claramente integradas nos sub-momentos do jogo.

Na segunda situação, a equipa recupera a bola no seu meio-campo, logo, momento de Transição Ofensiva, consegue sair da pressão, possibilitando uma situação de contra-ataque, também de 3×3+GR.

Portanto, situações com alguma semelhança em espaço, tempo e número, e nos princípios que permitirão eficiência e eficácia à sua resolução. No entanto, antecedidas de momentos e comportamentos diferentes, o que acreditando na importância da Articulação de Sentido entre sub-momentos e entre momentos para que o todo tenha lógica e coerência, leve a que seja igualmente importante que o treino exija isto, e que a operacionalização de cada uma das situações parta então de contextos e princípios de jogo diferentes.

“Na transição defesa-ataque o objetivo fundamental é, caso existam condições para o efetuar, aproveitar a desorganização posicional do adversário e progredir em direção à baliza adversária, evitando ao máximo interrupções para criar, o mais rápido possível, situações de golo.”

(Carlos Queiroz, 1983)

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