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A culpa não é sempre dos outros

Kiki Afonso toca num ponto fundamental da relação treinador / jogador. É recorrente um jogador insatisfeito culpar o treinador por não ser opção. De certa parte é humano um sentimento de auto-defesa e de orgulho na sua qualidade. O que se torna excessivo, e muitas vezes impulsionado por pessoas próximas de si como familiares, amigos e empresário, será um sentimento egocêntrico em que os companheiros / concorrência têm sempre menos valor, ou pior ainda, que não é apreciado pelo treinador. A manifestação directa ou indirecta de tais sentimentos, certamente não ajudará na relação, mas o importante aqui é perceber a profundidade de tal ideia / sentimento / atitude.

Deste modo, tal demonstra do ponto de vista individual, ao nível do auto-conhecimento, compromisso, entrega e superação, sérias lacunas. E principalmente… respeito. Referimo-nos, neste caso, ao respeito do jogador por si próprio, pelo talento e qualidade que construiu, fruto de tantos anos de paixão pelo jogo, dedicação e escolhas por vezes difíceis.

Tal como o erro se torna uma oportunidade de aprendizagem, não ser opção torna-se uma oportunidade de alguém creditado para tal, e que com certeza desejará o rendimento máximo do jogador, apontar lacunas, pontos de melhoria e oportunidades de crescimento. No fundo, o caminho para a superação. E tal só será obtido com compromisso. Como o reconhecido treinador de Atletismo, Moniz Pereira dizia, “há treino todos os dias”. Tal atitude ambiciosa só poderá ser valorizada por quem decide a selecção da equipa, como torna a mentalidade do jogador mais forte e saudável, portanto, mais próxima do melhor rendimento.

“Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes.”

Ricardo Reis

A juventude não está na quantidade… está na qualidade

“O valor das coisas não está no tempo em que duram, mas na intensidade com que acontecem. É por isso que existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”

Fernando Pessoa citado por (Romano, 2007)

É inegável que tempo traz consigo potencial para o ser humano se tornar mais conhecedor, mais complexo, mais competente, em qualquer que seja a área. Isto porque, por norma, mais tempo, eventualmente maior número de experiências e eventualmente maior conhecimento. Mas nem sempre. Algumas vezes tempo não traduz maior número de experiências e outras vezes essas experiências não são capitalizadas em ganhos e conhecimento. Acontece que por vezes o ser humano aprende algo e depois repete sem critério e auto-renovação, talvez porque o sistema social em que vive, lhe impõe pressa, rotina, mecanização, e não lhe torna fácil essa necessidade fundamental de auto-renovação. É mais um exemplo de que mais do que quantidade, interessa-nos a… qualidade. No caso, a qualidade da nossa acção sobre sobre o nosso tempo e as nossas experiências.

Isto para falarmos de Mateus Galiano. Quase nos 38 anos, com mais de 500 jogos como sénior, manifesta a juventude de um adolescente. Porque continua a capitalizar todas as experiências que usufrui, sendo um claro exemplo de que o jogador, espelhando o exemplo do homem em geral, está permanentemente em formação. E acima de tudo porque demonstra uma paixão genuína pelo jogo e dessa forma, naturalmente isso hierarquiza todas as outras coisas menos importantes na sua vida, permitindo-lhe apresentar uma motivação, alegria, “frescura” e disponibilidade incríveis. Para quem tem a felicidade de conviver com Mateus, testemunha o exemplo que é, e que sabendo-se a velha máxima de que o todo é maior que a soma das partes, aprende também que o todo ganha uma força maior quando há uma parte incrível.

No passado Sábado, após marcar, numa final, o golo com que todos sonhávamos quando éramos crianças, que ajudou a abrir caminho para um título de campeão nacional, o apetite de Mateus por mais felicidade, é fenomenal. Há algum tempo, em conversa com amigos, dizia que ao contrário do que muitas vezes se diz, o tempo não é o bem mais precioso. É a felicidade. Mateus é um exemplo incrível dessa ideia.

“A principal razão que me mantém assim, é o amor e a paixão enorme que tenho em jogar Futebol”.

(Mateus Galiano, 2022)

Coragem… Específica III

“Because life constantly poses challenges, living demands courage.”
Manuel Neuer