Um novo começo

Euro 2016 – «O Filme» – Tomás Rondão & Telmo Esteves 2016.

Seria para nós incontornável, até como forma de celebrar esta nova etapa do projecto Saber Sobre o Saber Treinar, que o primeiro artigo do blog deste novo site abordasse o recente êxito da Selecção Portuguesa no Campeonato da Europa. Após a ressaca emocional, na qual um pouco por todo o lado se produziram textos e videos marcantes, abordamos aqui também o momento histórico vivido. Sendo um objectivo deste projecto evitar fronteiras, subsistem no entanto naturais diferenças culturais entre os muitos povos que têm contribuído para a história deste jogo, tornando-se as mesmas oportunidade de reflexão. Não nos esquecemos ainda das nossas origens, as mesmas de um povo que apesar de pouco numeroso, habituou o mundo a grandes feitos, e origens essas que são também o berço de muitas das ideias aqui estudadas e desenvolvidas.

Neste sentido, sentimos que essas raízes foram os alicerces do sucesso da equipa portuguesa, e recuando na história do país, recordamos outros momentos tão ou mais marcantes que este que agora vivemos. Se for possível resumir tudo isso numa palavra, talvez esta seja, superação. Reforçada por uma criatividade sem paralelo que possibilita  a este povo a resolução dos problemas mais difíceis, no entanto, só essa superação permite que um país pequeno, em muitas situações perante escassos recursos, consiga realizar feitos à partida impossíveis. Se os Descobrimentos foram provavelmente o derradeiro exemplo de conquista que Portugal proporcionou ao mundo, a história do desporto português e em particular do futebol, encontra-se rica em feitos notáveis. Muitos não significaram títulos, mas constituíram desempenhos que colocaram selecções e clubes entre a elite do futebol mundial, facto que muitos apontam como presentemente inigualável para a maioria das áreas de actividade do país. Será que tem de ser mesmo assim? De qualquer forma, independentemente dos diferentes contextos, este acumular de conquistas, fez crescer a auto-confiança, a experiência e potenciou futuras gerações. A vitória da selecção Portuguesa no Euro 2016 é por um lado uma consequência de todo o trajecto realizado até aqui, e por outro, um enorme catalisador para o futuro.

Falando concretamente do jogo da equipa, não procuramos uma análise estética do mesmo, que entre adeptos é geralmente atribuído ao espectáculo que as equipas proporcionam. Também porque, tal qual uma obra de arte, este será sempre discutível perante os valores, sensibilidade e cultura de cada espectador. Esse não é nosso foco, até porque no futebol, a noção de espectáculo apresenta-se nesta fase da sua evolução  muito associada à intermitência da organização das equipas, e consequentemente à ausência de controlo do jogo pelas mesmas. Este contexto resulta em mais oportunidades de golo e assim, provavelmente, em maior número de golos, o que é imediatamente associado a essa ideia mais difundida de espectáculo. Portanto, se aqui procuramos e idealizamos uma forma de jogar futebol, coerente com as suas regras e contexto, que nos permita uma aproximação ao rendimento, isso não está directamente relacionado com o espectáculo que eventualmente pode ou não proporcionar à maioria das pessoas. Neste âmbito, o da forma de jogar, temos que dizer que a selecção portuguesa, apesar de ter apresentado abordagens ao jogo diferentes ao longo da competição, manteve-se nalguns momentos afastada das ideias que procuramos. Porém, isso não significa que o seu trajecto e a sua conquista não tenham sido meritórias, e que não tenha demonstrado outras qualidades exemplares. O contexto, tornou-se uma vez mais decisivo. Procuramos porém compreender, de todas as dimensões do seu desempenho, o que nos pode aproximar do sucesso mais vezes, e retirar daí experiência para o futuro.

Assim, e apesar das análises a desempenhos “mentais” serem por nós muitas vezes relativizadas dada a sua incrível complexidade, torna-se para nós evidente que a mentalidade demonstrada pela equipa portuguesa, expressa pela ambição na procura da superação foi sem dúvida algo em evidência.

Ainda na face visível do desempenho, o jogo da equipa, observou-se um crescimento táctico ao longo da competição. Abordámos aqui o primeiro jogo da equipa portuguesa, fundamentalmente pelos erros basilares de organização defensiva apresentados, e a realidade é que a equipa evoluiu e ultrapassou algumas dessas deficiências até ao final do campeonato. Naquele contexto competitivo isso foi para nós decisivo, e se isso não tivesse acontecido, mesmo não defrontando as equipas mais fortes do torneio, Portugal dificilmente teria chegado à final. O que importa sublinhar é que esta equipa mostrou-nos a todos que tudo é possível partindo de uma dimensão mental fortíssima. Como grande grande exemplo individual, temos Éder Lopes, que mostrou e transmitiu, que mesmo num momento em que praticamente ninguém do lado de fora da equipa acreditava na sua qualidade, foi mesmo possível ser decisivo no desfecho final da competição. Deste modo, mais do que táctica, organização ou cultura de jogo, este foi um momento que expôs qualidades a um povo que vivia acreditando que não as possuía. Tornou-se acima de tudo uma oportunidade para um novo começo. A oportunidade para uma cultura construir em cima das suas qualidades e conhecimentos ímpares, uma mentalidade que já não se satisfaz com o “quase”. Provou-se ser mesmo possível o derradeiro sucesso e assistiu-se no fundo, a uma mudança cultural no Futebol Português.

Mais recentemente, nos Jogos Olímpicos, Telma Monteiro reforçou esta ideia após a medalha conquistada:

Telma Monteiro, 2016.

Este momento surge então como uma enorme oportunidade para potenciar a mentalidade de todos os que actuam no Futebol, mas não só. Neste espaço é também nossa missão passar a convicção que as razões que levam os portugueses a tudo isto são bem mais profundas que o fenómeno desportivo. Tal como o poeta e filósofo Agostinho da Silva disse, “a nossa matéria-prima é o que temos entre as orelhas”.

Neste enquadramento, acreditamos que há muito que Portugal apresenta escolas de pensamento e ideias sobre o jogo e o treino mundialmente revolucionárias. Apesar de alargamos a nossa investigação a muitas mais culturas, não nos é indiferente o enorme contributo que os portugueses têm garantido ao Futebol, através de jogadores, treinadores e autores que ficarão para a história como referências no jogo. Acreditamos ainda que actualmente, também influenciada pelo sucesso de algumas dessas figuras, vivemos um momento ímpar de interesse sobre o papel do treinador, o que tem gerado enorme debate de ideias, nomeadamente na internet, que se constituiu como um suporte decisivo nesta evolução. Neste movimento, constatamos que proliferam pessoas, cada vez mais novas, a pensar e a discutir o jogo e isto só poderá resultar em evolução, melhores treinadores, melhores equipas e melhores jogadores. Como explicado desde a sua génese, este projecto procura contribuir também nessa missão. E este novo website irá proporcionar meios para tal.

É então oportunidade para um novo começo. No futebol português e neste projecto.

Qualidade Colectiva II

Não tínhamos intenção de publicar novos artigos nesta fase do projecto Saber Sobre o Saber Treinar, uma vez que, e avançamos já a notícia, nos preparamos para lançar um novo website. É também por esta razão que este espaço não tem sido actualizado com maior regularidade.
 
No entanto, pareceu-nos mais do que justo terminar esta primeira etapa com um tema que foi um dos grandes alicerces deste projecto e das ideias que o alimentam: a qualidade colectiva. É simultâneamente uma homenagem a um treinador que independentemente da qualidade e do estatuto dos jogadores que dispõe, apresenta regularmente ideias de qualidade, o que no âmbito de uma selecção nacional é ainda mais díficil, não só pela constituição de uma equipa de jogadores provenientes de diferentes contextos e culturas, como principalmente pela escassez de tempo para treinar. Apresenta ainda uma liderança diferente, calma mas próxima, aparentemente forte e influênciada por valores que aplaudimos. Falamos de Rui Jorge.
 
Após todas as contrariedades, chamemos assim, na constituição da selecção olímpica Portuguesa era natural que a expectativa em torno da mesma fosse baixa. Contudo, com vários jogadores que não foram primeira nem segunda escolha, Rui Jorge apresentou o mesmo discurso de sempre, a mesma mentalidade e as mesmas ideias. Como tal, independentemente da qualidade individual, no primeiro jogo do torneio a equipa apresentou organização, coesão, ambição, coragem e criatividade… no fundo, qualidade colectiva. Como já o tinha feito no passado, noutras competições, com outros jogadores. E logo contra uma selecção Argentina, onde a qualidade individual por norma abunda. 
 
Que fique claro, que independentemente do estatuto dos jogadores, também existe qualidade individual na selecção portuguesa, até porque um conceito não vive sem o outro. Aliás, facto no qual também se deve reflectir, porque se era uma ideia difundida que a geração de Figo, Rui Costa, Paulo Sousa, etc, era um “desvio padrão”, olhando mais para trás e vendo também o momento actual das equipas portuguesas, sentimos não haver falta de qualidade individual. Porém crescemos na mentalidade, organização e sentido colectivo do jogo e isso tem feito toda a diferença.
 
Assim, o que faz a diferença no jogo português é a qualidade colectiva, explícita na equipa de Rui Jorge, a qual este projecto acredita ser decisiva no jogo de futebol. Também o autor (Neto, 2014) acredita que a “a essência do jogo está na nobre alegoria que é viver e fundamenta-se no seu carácter lúdico transposto para um patamar cultural indispensável na formação de uma sociedade projectada para uma vida universal total, sendo o rastilho que promove o despertar para uma inteligência colectiva, subjacente a uma exigente adaptação às múltiplas situações, tão rigorosas quão simples, que a prática deste belo jogo impõe”.
 

“É processo

aquisição,

adaptabilidade

p’ro sucesso

vir então…

Sem ansiedade,

a construção

do ser equipa

cada um nela participa,

e de igual modo identifica

o macro referencial…

Critério colectivo

sem inibição do individual

tendo a subjectividade consigo,

é primordial…”

(Frade, 2014)

 
Sobre a selecção A Portuguesa? É um tema que fica guardado para o lançamento do novo website.
 
Despedimo-nos então deste espaço, agradecendo a todos os que seguem este projecto, e com a promessa de brevemente o fazer evoluir.

Filme

The Damned United (2009)

The Damned United (2009)

“The story of the controversial Brian Clough’s 44-day reign as the coach of the English football club Leeds United.” http://www.imdb.com/title/tt1226271/

Free the Kids II

O jornal Expresso publicou um artigo, contendo várias opiniões sobre o “ensino doméstico” enquanto alternativa ao tradicional ensino escolar.

http://expresso.sapo.pt/sociedade/2016-03-13-Viver-e-aprender-sem-ir-a-escola

Após publicarmos o video sobre a eventual ameaça à “liberdade” que as crianças vivem na sociedade actual em www.sabersobreosabertreinar.com/2016/03/free-kids.html, este artigo reforça o problema. No mínimo devemos reflectir sobre algumas ideias que descrevem a aprendizagem de crianças na ausência do meio escolar.””Até aí, Simone tinha aptidão para as letras (começou a escrever as primeiras linhas aos 3 anos). Com as aulas, que nem eram diárias, a mãe começou a reparar que a menina parecia estar a ganhar “relutância” a algo que gostava. “Quando me pergunta qual é aquela letra eu não vou negar a resposta à criança… Eles começam e nós apoiamos. Ela começou a escrever coisas muito interessantes com letras maiúsculas de ouvido. Ouvia, juntava e escrevia“.”

““A nível emocional são muito seguros de si e têm uma auto estima muito boa, são muito sinceros, espontâneos e nada envergonhados. Não pensam que têm de fazer as coisas para agradar aos outros, para fazer boa figura ou porque vão ser avaliados. Conhecem os seus próprios limites e param quando sentem que os estão a ultrapassar, sem para isso necessitarem de castigos, ameaças ou coerção”, conta a antiga professora. Timo “devora livros”. Por dia lê pelo menos dois. Agnes acredita que talvez o gosto pela leitura não fosse tanto, se o filho andasse na escola. “Aprendem muita coisa. Talvez os outros também aprendam, mas aprendem pela repetição e memorização, por medo de más notas e pela pressão de pais e professores. No ensino doméstico, as crianças têm a possibilidade de aprender por motivação intrínseca. A maioria das crianças da idade deles não gostam e ler”, acrescenta.”

“Lá para as 6h da manhã, os miúdos já estão a pé. Acordam cedo e cheios de “inspiração e vontade de fazer mil e uma coisas”. Passeiam pelo rio e o mato. Trepam às árvores e mergulham nas águas. Em casa, “brincam muito, constroem legos e ajudam na horta”. Um dia na vida de Timo e David não tem espaços em branco. Na aldeia, já todos sabem que os dois andam sempre por perto. “Eles veem a vida real: nos correios são eles que põem os selos e no café vão ter com a padeira para ver como se faz o pão, ajudam o moleiro a fazer a farinha… São muito amados e mimados por toda a gente, pois são os únicos que andam por lá enquanto todos os outros estão fechados na escola”. Agnes não prende os filhos e garante que se alguma vez lhe pedirem para irem à escola, irão. Mas por agora nem Timo nem David parecem interessados. “Coitados dos outros meninos, estão ali o dia todo presos, sem poderem fazer o que querem”, dizem os irmãos. “Dizem-me que quando crescerem querem ser exploradores multifacetados, o que na realidade já são. Exploram o mundo real diariamente, em todas as suas vertentes”, conta a mãe.”Noutro artigo, o matemático Edward Frenkel alinha-se na mesma perspectiva. Segundo ele, “muita gente tem uma relação traumática com a Matemática. Uma das razões tem a ver com o facto de o ensino da Matemática, tal como é feito na grande maioria das escolas, dar demasiado ênfase à resposta. Em vez de se encorajar os nossos alunos a serem curiosos e a procurarem a resposta, nós exigimos que eles a dêem. O ensino baseia-se quase exclusivamente em testes e em ver em quem é mais rápido a encontrar a resposta. E muitos sentem-se embaraçados e inferiores porque não conseguem fazê-lo. Essa dor fica. Até podem depois não se lembrar do incidente concreto, mas o trauma ficou lá”. Este testemunho reforça ainda a ideia transmitida no nosso artigo sobre a intensidade, particularmente o caminho educativo e consequentemente social que estamos a adoptar, no qual se coloca em causa a autonomia, a criatividade, a inteligência e a individualidade em troca da mecanização, da rapidez não pensada, da estandardização.Agravando tudo isto, temos ainda o crescente comportamento negativo de muitos pais…

Valores Humanos III

Pela responsabilidade que transporta, mais importante que discutir ideias de jogo ou metodologia de treino, é para nós fundamental falar de valores humanos e consequentemente de liderança. Nomeadamente perante exemplos que observamos todas as semanas nos campos de futebol. Justificamos ainda, da mesma forma que iniciámos um segundo artigo sobre este tema:“Porque na nossa opinião não vale tudo para obter rendimento. E também, porque esse “tudo”, poderá no futuro ser uma causa para o insucesso. No Futebol e na vida.”

“Segundo (Urbea, et al., 2012), “qualquer departamento de uma empresa é o reflexo do seu chefe. Qualquer família é o reflexo dos seus líderes. Se um chefe é caótico, o departamento é caótico. Se os pais são desorganizados, os filhos são desorganizados. Não vale a pena lamentarmo-nos. Somos responsáveis pelo que transmitimos, fazemo-lo querendo ou sem querer”. O autor (Neto, 2012) vai mais longe e descreve que “a expressão de uma prática de futebol é o reflexo e o projecto da sociedade donde nasce. O reflexo, porque nele está a sociedade que o gerou; o projecto, porque também o futebol pode e deve ajudar à transformação da sociedade. Como pode negar-se, atendendo à paixão multitudinária que ainda o vai envolvendo, que o Futebol tenha todas as condições para concorrer à transformação da sociedade?” O autor acrescenta que o “Futebol, para ser um jogo solidário, terá de existir sempre, como dizíamos, uma aliança entre o saber e a vida, porque só sabe quem vive e só a partir deste conhecimento vivido que é possível falar de valores que humanizam o Futebol”. Esta ideia é reforçada pela opinião de René Meulensteen sobre o treinador escocês Alex Ferguson, em (Brackley, 2011), que não considera Ferguson como apenas um dos melhores treinadores de sempre, mas também “um dos melhores seres humanos, com elevados normas, elevados valores para as coisas normais que são importantes na vida. Para além de ser um grande treinador é um fantástico “treinador” de vida”.

Portanto, é para nós claro que… não vale tudo para ganhar.

Coragem… Específica

Haverá tanto a dizer sobre o discurso de Paulo Fonseca, após uma derrota de “digestão” difícil. Porém, mais do que palavras, interessa-nos aplaudir. Pela mensagem que transmite aos seus jogadores e restante clube, mas não só. Pela mensagem que nos deixa a todos. Porque como o próprio Paulo Fonseca explica, entre um golo sofrido e uma derrota, e todos os outros ganhos a curto e longo prazo há um claro balanço positivo. Quer queria, quer não, também pela homenagem que acabou por fazer a Johan Cruyff.

Isto leva-nos a outra questão… a tão aclamada Especificidade e a própria reflexão sobre a Intensidade que temos realizado neste espaço.

A preocupação pela Especificidade impôs a táctica como nuclear no treino dos Desportos Colectivos, dada da caracterização do seu rendimento. Numa primeira fase dessa evolução, como uma táctica abstracta ou geral da modalidade, numa segunda fase, como uma táctica específica de um determinada ideia ou Modelo de Jogo. Surgia no horizonte o fim do treino físico descontextualizado, e a sua tentativa de adicionar rendimento aos jogadores.

Numa linha similar, apesar de menos discutida, surge a dimensão Psicológica-Mental. Sempre se procurou adicionar “mentalidade” por palavras e pelos discursos nos balneários. A coragem é um bom exemplo, mas também podemos falar em agressividade, solidariedade, da própria concentração, etc.. Se acreditamos que a forma de estar do treinador, os seus actos e as suas palavras são fundamentais na liderança que exerce, nos valores que incute e no próprio jogo que idealiza, também acreditamos que por si só, diluem-se no processo, nomeadamente a longo prazo. Pior ainda perante determinadas ideias para o jogo para a sua equipa, antagónicas a esses valores.

Assim, coragem… Específica, é isto mesmo que Paulo Fonseca defende até ao derradeiro momento… uma determinada ideia de jogo, também ela corajosa. Como (Neto, 2012) defende, acontece uma variedade de reacções humanas ao mesmo tipo de factores e de situações porque não é reacção o que propriamente se dá, mas, antes, uma acção – e esta é iniciada intencionalmente por um todo que, de todo, jamais o é da mesma forma que o todo de outro: é o todo que enforma as partes e não estas que determinam aquele“. Portanto, é a ideia de jogo que tem de levar à coragem e não a coragem abstracta à qualidade de jogo.

Uma vez mais, dada a realidade complexa que nos envolve, é fundamental não a esfacelar e aproximar as nossas ideias e conceitos da tal Especificidade que a realidade exige. A Intensidade, é outro bom exemplo.

Para fazermos uma equipa funcionar, para fazermos uma verdadeira equipa, nós temos que ter os onze jogadores com a coragem de ter iniciativa, terem a coragem de quererem a bola, a coragem de quererem assumir o jogo”.

Paulo Fonseca, no programa ReporTV, “O Jogo”

“O indivíduo todo, inteiro

emerge da cultura táctica

que sustenta o bom jogo, primeiro

no jogar o jogo como prática!”

(Frade, 2014)

Um estilo de Liderança

“Tu vens de uma forma de estar que te dá resultados, que te dá sucesso e acreditas nela, e pensas que ela funciona em todo o lado, e as coisas não são decididamente assim. Eu acho que a forma de liderar não deve ser exactamente a mesma em todo o lado.”

(Paulo Fonseca, 2016)

Cultura de jogo II

“O problema é entender o jogo. Depois de se entender o jogo, é necessário que se entendam os vários jogos (i.e., as várias formas de jogar). Só depois o objecto de preocupação passa a ser o “nosso” jogo”.

(Frade, 2003), citado por (Aroso, 2015)

“(..)quiero crear una conciencia colectiva. No entiendo el fútbol como un deporte de un jugador, sino como un equipo. Para que Messi juegue bien tenemos que crear buen juego. Quiero transmitir que todos se necesitan y que si lo saben eso nos llevará a ganar partidos. No tengo la sensación de que existan dos Barças, uno con Messi y otro sin él. Leo hace cosas diferentes, pero también gracias a que el equipo también hace otra cosas. No quiero que Messi lo resuelva todo. A Messi hay que ayudarlo porque él también nos ayuda. Debe sentirse parte de un grupo y sentir que cuando nos marquen un gol, también sea en parte culpa suya.”

 (Josep Guardiola, 2008) citado por (Manna, 2011)

Valores Humanos II

Hélton Arruda conforma adversário.

“Um gesto vale mais que muitas palavras. A frase está propositadamente adulterada para corresponder às pretensões do nosso artigo, mas foi assim mesmo, fazendo, que Helton provou o porquê de ser tão respeitado em Portugal. Depois de defender uma grande penalidade, e ao invés de ir celebrar com os seus colegas de equipa, o guardião brasileiro perdeu alguns minutos a falar com Douglas Abner. Num abraço, o experiente jogador disse ao jovem compatriota para levantar a cabeça, até porque o futebol é isto mesmo: derrota, vitória, fair-play e aprendizagem.”

in http://www.noticiasaominuto.com/desporto/519711/gesto-de-capitao-helton-valeu-aplauso-em-unissono

“Este tipo de comportamento foi considerado um puzzle por Charles Darwin quando da elaboração da sua teoria de evolução por selecção natural, pois comportamento deste tipo traria prejuízo para quem o produz, mas a selecção natural não elimina estes comportamentos. Uma solução apontada é que o comportamento traria benefício para um grupo de organismos, surgindo o conceito de selecção de parentesco”. (Wikipédia, 2012)

Valores Humanos

Porque na nossa opinião não vale tudo para obter rendimento. E também, porque esse “tudo“, poderá no futuro ser uma causa para o insucesso. No Futebol e na vida.

(…)

Na opinião do treinador português (Carvalhal, 2014), “a sociedade pode evoluir ou (in)evoluir, mas há coisas que nunca passarão de moda e serão sempre importantes no êxito de qualquer atividade: o caráter humano”.

Segundo (Urbea, et al., 2012), “qualquer departamento de uma empresa é o reflexo do seu chefe. Qualquer família é o reflexo dos seus líderes. Se um chefe é caótico, o departamento é caótico. Se os pais são desorganizados, os filhos são desorganizados. Não vale a pena lamentarmo-nos. Somos responsáveis pelo que transmitimos, fazemo-lo querendo ou sem querer”. O autor (Neto, 2012) vai mais longe e descreve que “a expressão de uma prática de futebol é o reflexo e o projecto da sociedade donde nasce. O reflexo, porque nele está a sociedade que o gerou; o projecto, porque também o futebol pode e deve ajudar à transformação da sociedade. Como pode negar-se, atendendo à paixão multitudinária que ainda o vai envolvendo, que o Futebol tenha todas as condições para concorrer à transformação da sociedade?” O autor acrescenta que o “Futebol, para ser um jogo solidário, terá de existir sempre, como dizíamos, uma aliança entre o saber e a vida, porque só sabe quem vive e só a partir deste conhecimento vivido que é possível falar de valores que humanizam o Futebol”. Esta ideia é reforçada pela opinião de René Meulensteen sobre o treinador escocês Alex Ferguson, em (Brackley, 2011), que não considera Ferguson comoa apenas um dos melhores treinadores de sempre, mas também “um dos melhores seres humanos, com elevados normas, elevados valores para as coisas normais que são importantes na vida. Para além de ser um grande treinador é um fantástico “treinador” de vida”.

(…)

O treinador alemão (Klopp, 2009), descreve que através dos seus valores deve “fazer tudo o que está ao meu alcance para mudar o lugar onde estou para melhor. Para mim, em variadíssimas situações, é importante que as pessoas que me rodeiam estejam bem. Eu estou sempre bem. Desejo verdadeiramente fazer um trabalho que torne o Mundo melhor. Infelizmente, esse desejo não significa que seja bem-sucedido na tarefa de aceitar que há coisas – como as doenças ou a dor – que não posso mudar”.

(…)

O treinador português José Mourinho, citado por (Lourenço, 2010), considera que “relativamente ao mundo do futebol, se perguntarmos, hoje, à grande maioria dos jogadores que comigo trabalharam quais os momentos que eles guardam de mim, que momentos os marcaram mais, acredito que, mais do que responderem que foi esta ou aquela substituição no jogo tal, ou que na vitória X foi a decisão Y, mais do que qualquer aspecto técnico das minhas decisões, o que verdadeiramente os marcou, o que mais lhes ficou na memória foram as características da minha personalidade, se quisermos, as características da minha liderança, a forma como liderei o grupo, enfim, a forma como os marquei em termos humanos. É isto que eu acho, sem ter feito nunca esse tipo de pergunta a alguém, nomeadamente, a qualquer jogador com quem já tenha trabalhado no passado.”

“O carácter não é um dom, é uma vitória.”

Ivor Griffith citado por (Cubeiro, et al., 2010)

“No Futebol, portanto, o jogador deve desenvolver-se em equipa, sem ser reduzido à equipa. E assim o treinador, nos seus momentos de reflexão, poderá levantar, no mais íntimo de si mesmo, esta questão: qual o tipo de pessoa que eu quero que nasça dos jogadores que lidero? Reside aqui, no meu modesto entender, o momento essencial do treino.”

(Sérgio, 2011), citado por (Esteves, 2011)

Jürgen Klopp


“Devo fazer tudo o que está ao meu alcance para mudar o lugar onde estou para melhor. Para mim, em variadíssimas situações, é importante que as pessoas que me rodeiam estejam bem. Eu estou sempre bem. Desejo verdadeiramente fazer um trabalho que torne o Mundo melhor. Infelizmente, esse desejo não significa que seja bem-sucedido na tarefa de aceitar que há coisas – como as doenças ou a dor – que não posso mudar”.

(Jürgen Klopp, 2009)

O treinador alemão Jürgen Klopp em (UEFA.com, 2012), descreve a propósito do seu comportamento altamente emocional durante os jogos que “nada disso é para benefício dos outros. Este é o verdadeiro Jürgen Klopp e talvez não seja sempre a melhor forma de ser, mas penso que uma equipa apenas pode actuar intensamente se for acompanhada de igual modo de fora. Não se tem uma grande influência de fora, mas aquilo que se procura durante a semana é ter um desempenho especial no fim-de-semana e não posso manter-me afastado disso, seja de forma negativa ou positiva. Pode haver uma melhor forma de treinar, mas pelo menos o risco de ter uma úlcera estomacal não é tão alto, porque não mantenho tudo dentro de mim”. O autor (Simão, 2013) cita Klopp, solicitando que “olhem para mim durante os jogos… eu festejo quando pressionamos, quando recuperamos a posse de bola ou quando ganhamos um lançamento lateral. E digo yesssss!”

Porque o Futebol também é isto

Porque o futebol também é emoção e sentimento… e porque a Liderança também é decisiva na intervenção do treinador.

“A alma de uma equipa é a alma do seu treinador”.

Miguel Delibes citado por (Urbea, et al., 2012)

 Há um grande neorologista que diz: nós, médicos passamos a vida a dizer aos doentes: faça exercício físico, não coma açucar, não coma sal, etc. e esquecemo-nos de lhes dizer que o primeiro factor de saúde é que a vida tenha sentido para nós, o primeiro factor de saúde é… ser feliz!”

(Sérgio, 2012)