O magnífico golo de Jovan Sljivic. Pela execução e escondendo a decisão. A não linearidade da percepção-leitura-execução.

“(…) é possível considerar uma simultaneidade de decisão e de acção, visto que é necessário responder constantemente aos constrangimentos colocados pelo jogo.”

(Joaquim Pedro Azevedo, 2011)

A situação passou-se no jogo da Youth League entre Estrela Vermelha e Manchester City de 13 de Dezembro passado. O jogador que a protagonizou é um talentoso médio sérvio, Jovan Sljivic.

Imediatamente fez-nos recordar o fantástico e disruptivo trabalho de Friedrich Mahlo de, imagine-se… 1970. Apesar da colonização do pensamento linear e mecânico durante o século passado, o autor já imaginava o comportamento táctico de forma complexa.

“o processo de percepção e de análise da situação, assim como a solução mental do problema, fazem-se em movimento (em corrida, durante um passe, uma finta ou um pontapé). Pode-se falar aqui duma modificação contínua da actividade motora como consequência de processos intelectuais. A actividade motora é modificada na sua qualidade, na sua quantidade e na sua orientação espacial.”

(Friedrich Mahlo, 1970)

Se virmos com atenção as repetições em câmara lenta da situação, Sljivic lê a situação, especialmente a baliza adversária, 2 segundos antes de rematar, o que é muito tempo tendo em conta o contexto e processo de leitura, decisão e execução no jogo de futebol. Apesar disso, adapta-se no tempo-espaço para ajustar o remate (solução motora do problema de acordo com Mahlo), realizando-o de forma perfeita. Isto invalida o pensamento linear porque a decisão e os ajustamento da mesma em função da nova posição no espaço, têm de suceder continuamente até de facto a execução suceder.

Salientamos também um dos benefícios do jogador não estar permanentemente a ler a baliza ou a solução que procura: esconder a decisão e consequentemente provocar a dúvida e atrasar a resposta adversária. Perante a acção de Sljivic em sub-momento de Criação ou Finalização, até ao derradeiro momento da execução instalou a dúvida sobre a opção pelo remate, combinação ou último passe / cruzamento.

“Enquanto se resolvem mentalmente as situações, devem subsistir relações mútuas entre as três fases de acção (percepção e a análise da situação, solução mental do problema e solução motora do problema), graças às percepções marginais da situação exterior e da sua, própria motricidade. Pode-se, assim, ter em conta, a todo o momento, a dinâmica da situação. Esta percepção marginal pode conduzir a uma percepção central nova, uma modificação, ou um aperfeiçoamento da situação mental e da acção motora. Graças a ela, a continuidade da percepção encontra-se assegurada durante toda a acção e, logo, durante a actividade em jogo.”

(Friedrich Mahlo, 1970)