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A juventude não está na quantidade… está na qualidade

“O valor das coisas não está no tempo em que duram, mas na intensidade com que acontecem. É por isso que existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”

Fernando Pessoa citado por (Romano, 2007)

É inegável que tempo traz consigo potencial para o ser humano se tornar mais conhecedor, mais complexo, mais competente, em qualquer que seja a área. Isto porque, por norma, mais tempo, eventualmente maior número de experiências e eventualmente maior conhecimento. Mas nem sempre. Algumas vezes tempo não traduz maior número de experiências e outras vezes essas experiências não são capitalizadas em ganhos e conhecimento. Acontece que por vezes o ser humano aprende algo e depois repete sem critério e auto-renovação, talvez porque o sistema social em que vive, lhe impõe pressa, rotina, mecanização, e não lhe torna fácil essa necessidade fundamental de auto-renovação. É mais um exemplo de que mais do que quantidade, interessa-nos a… qualidade. No caso, a qualidade da nossa acção sobre sobre o nosso tempo e as nossas experiências.

Isto para falarmos de Mateus Galiano. Quase nos 38 anos, com mais de 500 jogos como sénior, manifesta a juventude de um adolescente. Porque continua a capitalizar todas as experiências que usufrui, sendo um claro exemplo de que o jogador, espelhando o exemplo do homem em geral, está permanentemente em formação. E acima de tudo porque demonstra uma paixão genuína pelo jogo e dessa forma, naturalmente isso hierarquiza todas as outras coisas menos importantes na sua vida, permitindo-lhe apresentar uma motivação, alegria, “frescura” e disponibilidade incríveis. Para quem tem a felicidade de conviver com Mateus, testemunha o exemplo que é, e que sabendo-se a velha máxima de que o todo é maior que a soma das partes, aprende também que o todo ganha uma força maior quando há uma parte incrível.

No passado Sábado, após marcar, numa final, o golo com que todos sonhávamos quando éramos crianças, que ajudou a abrir caminho para um título de campeão nacional, o apetite de Mateus por mais felicidade, é fenomenal. Há algum tempo, em conversa com amigos, dizia que ao contrário do que muitas vezes se diz, o tempo não é o bem mais precioso. É a felicidade. Mateus é um exemplo incrível dessa ideia.

“A principal razão que me mantém assim, é o amor e a paixão enorme que tenho em jogar Futebol”.

(Mateus Galiano, 2022)

Tempo-Espaço-Número e… Qualidade

“Vejo um animal menos forte do que alguns, menos ágil do que outros, mas que, ao fim e ao cabo, é de todos o mais bem organizado”.

Jean-Jacques Rousseau citado por (Romano, 2007)

Numa sociedade ainda tremendamente influenciada pelo pensamento Newtoniano-Cartesiano, não são surpresa, nas mais diversas áreas, as análises quantitativas em detrimento, ou destituídas, das qualitativas. Os Desportos Colectivos não foram excepção e emergiu a análise da acção de jogo, e consequentemente, do treino, na óptica do tempo-espaço-número. Sendo a mesma interessante pelos critérios identificados, surge como iminentemente quantitativa e órfã da dimensão qualitativa da acção. Deste modo, será fundamental adicionar a qualidade da acção à sua análise e concepção do exercício de treino. Este é um tema ao qual regressaremos no futuro em maior profundidade.

Como em muitos outros exemplos, a acção de jogo seguinte demonstra a ideia. Apesar do tempo ser curto porque se trata de uma bola aérea, à qual a finalização a um ou dois toques poderá garantir maior eficácia na mesma, por outro lado, a equipa Portuguesa surge em clara vantagem numérica e espacial. No entanto, esse número, torna-se excessivo e acaba por retirar espaço à execução da finalização. Portanto… pensando no princípio fundamental do jogo, “Criar Superioridade Numérica”, por si só não é garante de sucesso pela perspectiva quantitativa. Neste caso ela até se torna inimiga da qualidade da acção.

“Para treinadores e investigadores, as análises que salientam o comportamento da equipa e dos jogadores, através da identificação das regularidades e variações das acções de jogo, afiguram-se claramente mais profícuas do que a exaustividade de elementos quantitativos, relativos a acções individuais e não contextualizadas. Face às necessidades e particularidades dos Jogos Desportivos, justifica-se a construção de sistemas elaborados a partir de categorias integrativas, configuradas para caracterizar (Garganta, 1997):

  1. A organização do jogo a partir das características das sequências de acções (unidades tácticas) das equipas em confronto;
  2. Os tipos de sequências que geram acções positivas;
  3. As situações que induzam ruptura ou perturbação no balanço ofensivo e defensivo das equipas que se defrontam;
  4. As quantidades da qualidade das acções de jogo.”

(Garganta, 2001)