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“Havia algo irresistível em estar perto desses grupos que me fazia desejar mais conexão.”

No livro “The Culture Code” de (Daniel Coyle, 2018) encontramos um texto interessante sobre a coesão de equipa, a qual, nalguns casos de sucesso atinge o estatuto de “família”. De facto, também no Futebol vai emergindo internamente nas melhores equipas a denominação “família” perante um alto nível de ligação, alinhamento, solidariedade e cumplicidade. No fundo, o tal tão desejado entrosamento. Tal, nem sempre significará resultado desportivo pois para o mesmo também concorrerá a qualidade individual dos jogadores e a qualidade da oposição. Contudo, a qualidade colectiva estará então conquistada.

“Quando se pede às pessoas dentro de grupos altamente bem-sucedidos para descreverem a sua relação umas com as outras, todas tendem a escolher a mesma palavra. Essa palavra não é amigos ou equipa ou tribo, ou qualquer outro termo igualmente plausível. A palavra que usam é família. Além disso, tendem a descrever o sentimento dessas relações da mesma maneira:

“Não consigo explicar, mas as coisas simplesmente parecem certas. Na verdade, tentei sair algumas vezes, mas continuo a voltar. Não há sensação igual. Estes caras são meus irmãos.” (Christopher Baldwin, SEAL Team Six da Marinha dos EUA)

“Não é racional. Ninguém que seja puramente racional faz as coisas que acontecem aqui. Existe um trabalho em equipa que vai muito além de equipa e se sobrepõe ao resto da vida das pessoas.” (Joe Negron, escolas charter KIPP)

“É uma adrenalina, saber que podes correr um grande risco e essas pessoas estarão lá para te apoiar, aconteça o que acontecer. Somos viciados nessa sensação.” (Nate Dern, Upright Citizens Brigade, grupo de comédia)

“Somos todos sobre ser um grupo familiar, porque isso permite correr mais riscos, dar permissão uns aos outros e ter momentos de vulnerabilidade que nunca se poderia ter num ambiente mais normal.” (Duane Bray, IDEO design)

Quando visitei esses grupos, notei um padrão distinto de interação. O padrão não estava nas grandes coisas, mas nos pequenos momentos de conexão social. Essas interações eram consistentes, fosse o grupo uma unidade militar, um estúdio de cinema ou uma escola no centro da cidade. Fiz uma lista:

  • Proximidade física estreita, frequentemente em círculos
  • Grandes quantidades de contacto visual
  • Toque físico (apertos de mão, toques de punho, abraços)
  • Muitas trocas curtas e energéticas (sem longos discursos)
  • Altos níveis de mistura; todos falam com todos
  • Poucas interrupções
  • Muitas perguntas
  • Escuta intensiva e activa
  • Humor, risos
  • Pequenas cortesias atentas (agradecimentos, abrir portas, etc.)

Mais uma coisa: descobri que passar tempo dentro desses grupos era quase fisicamente viciante. Estendia as minhas viagens de reportagem, inventando desculpas para ficar mais um ou dois dias. Encontrava-me a sonhar acordado com mudar de profissão para poder candidatar-me a um emprego com eles. Havia algo irresistível em estar perto desses grupos que me fazia desejar mais conexão.

O termo que usamos para descrever este tipo de interação é química. Quando se encontra um grupo com boa química, percebe-se instantaneamente. É uma sensação paradoxal e poderosa, uma combinação de excitação e profundo conforto que surge misteriosamente com certos grupos especiais e não com outros.”

(Daniel Coyle, 2018)

“Temos um balneário muito forte em que os jogadores foram seleccionados a dedo, mais do que pelas razões futebolísticas, pelo carácter”

“É o homem que se é que triunfa no treinador que se pode ser.”

(Manuel Sérgio, 2009)

Solidariedade

“A solidariedade social é a condição do grupo que resulta da comunhão de atitudes e de sentimentos, de modo a constituir o grupo em apreço uma unidade sólida, capaz de resistir às forças exteriores e mesmo de tornar-se ainda mais firme em face de oposição vinda de fora.”
(Wikipédia, 2012)

Compensação. Um comportamento individual que garante uma qualidade colectiva.

Trazemos hoje um comportamento táctico, que sendo um detalhe para muitos, na realidade a sua importância é tremenda em todos os momentos do jogo, pela forma como procura garantir a sua natureza inquebrantável e colectiva. Como tal escolhemos uma situação em que o comportamento em causa surge em organização ofensiva e defensiva, ilustrando a sua importância no jogar da equipa.

Neste excerto de jogo, primeiro em Organização Ofensiva, Otamendi procura conduzir em construção. Depois de soltar a bola, ficando num espaço mais avançado aos seus companheiros de sector, indica a Touré o espaço a ocupar de forma a garantir a sua compensação e apoio interior a Stones, entretanto em posse. Ainda no momento ofensivo, após mobilidade e trocas posicionais dos jogadores mais avançados, Sané, originalmente Médio-Esquerdo, encontra-se no corredor central. Na perda de bola do City, Sané reage de imediato percebendo logo o espaço a fechar, compensando aqui De Bruyne. Será ele, por estar no espaço certo na relação com o resto da equipa, quem irá recuperar a bola. No momento final e após nova transição, a equipa regressa à sua estrutura inicial, com o corredor central a ser ocupado por Touré, De Bruyne e David Silva.

Para (Gomes, 2015), as compensações ou também conhecidas como permutas “são acções efectuadas pelos defesas para cobrir e ocupar espaços e assumir funções de outros companheiros envolvidos momentaneamente na realização de outras funções”. Para o autor, pretende-se com estas acções:

  • “Assegurar a ocupação racional do terreno de jogo;
  • Conferir segurança defensiva;
  • Assegurar a repartição equilibrada do esforço dos jogadores.”

Se bem que a interpretação anterior, provavelmente a mais comum, relaciona a compensação com o momento defensivo, segundo (Leitão, 2010), a mesma é “uma readequação posicional e/ou de operação, que permita, sob o ponto de vista organizacional, manter o equilíbrio da equipa (seja para estruturar o espaço de jogo, seja para fazer valer uma regra de acção)”. Portanto esta ideia é válida para todos os momentos do jogo.

Por outro lado, compensar significa não só promover uma ocupação racional do espaço de jogo, procurando contribuir para a qualidade de cada um dos momentos de organização, mas também antecipar os momentos seguintes, mantendo a equipa equilibrada ora defensiva, ora ofensivamente. O autor (Maciel, 2011) defende que este é “um aspecto também muito importante, e que passa pela coerência e pelo respeito pela inteireza inquebrantável que o jogar deve manifestar de modo a que se expresse de forma fluída, dinâmica, ou seja que revele ao nível da matriz conceptual articulação de sentido com um determinado sentido”.

Podemos ir mais longe e destacar a compensação como um dos comportamentos que defendem um jogo que é colectivo e que por inerência, tem de ser solidário. Quer a defender, quer a atacar. É também uma consequência de uma maior mobilidade que os jogadores ganharam dentro dos modelos, surgindo assim como um tendência evolutiva. O treinador português (Jesus, 2009), vai ao encontro desta ideia, ao referir que “vai ser esse o grande segredo e evolução do Futebol no futuro, em todo o mundo: Vários jogadores com capacidade para actuarem em várias posições.

“O padrão da estrutura aparente

é p’ro século vinte e dois

a face oculta das interacções não mente

p’ra imaginar o que virá depois.”

(Frade, 2014)