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Por vezes não não necessárias palavras para definir Liderança…

“Estive dezoito anos no Mainz e quando saí pensei: da próxima vez vou ter de trabalhar com menos coração. Disse isso porque todos chorámos durante uma semana. A cidade organizou uma festa de despedida que durou uma semana. Para uma pessoa normal é demasiada emoção. Pensei que não era saudável trabalhar assim. Mas ao fim de uma semana em Dortmund tinha voltado ao mesmo. Encontrar esta situação duas vezes, ser atingido pela fortuna desta forma, é muito raro”.

(Jürgen Klopp, 2013)

“Havia algo irresistível em estar perto desses grupos que me fazia desejar mais conexão.”

No livro “The Culture Code” de (Daniel Coyle, 2018) encontramos um texto interessante sobre a coesão de equipa, a qual, nalguns casos de sucesso atinge o estatuto de “família”. De facto, também no Futebol vai emergindo internamente nas melhores equipas a denominação “família” perante um alto nível de ligação, alinhamento, solidariedade e cumplicidade. No fundo, o tal tão desejado entrosamento. Tal, nem sempre significará resultado desportivo pois para o mesmo também concorrerá a qualidade individual dos jogadores e a qualidade da oposição. Contudo, a qualidade colectiva estará então conquistada.

“Quando se pede às pessoas dentro de grupos altamente bem-sucedidos para descreverem a sua relação umas com as outras, todas tendem a escolher a mesma palavra. Essa palavra não é amigos ou equipa ou tribo, ou qualquer outro termo igualmente plausível. A palavra que usam é família. Além disso, tendem a descrever o sentimento dessas relações da mesma maneira:

“Não consigo explicar, mas as coisas simplesmente parecem certas. Na verdade, tentei sair algumas vezes, mas continuo a voltar. Não há sensação igual. Estes caras são meus irmãos.” (Christopher Baldwin, SEAL Team Six da Marinha dos EUA)

“Não é racional. Ninguém que seja puramente racional faz as coisas que acontecem aqui. Existe um trabalho em equipa que vai muito além de equipa e se sobrepõe ao resto da vida das pessoas.” (Joe Negron, escolas charter KIPP)

“É uma adrenalina, saber que podes correr um grande risco e essas pessoas estarão lá para te apoiar, aconteça o que acontecer. Somos viciados nessa sensação.” (Nate Dern, Upright Citizens Brigade, grupo de comédia)

“Somos todos sobre ser um grupo familiar, porque isso permite correr mais riscos, dar permissão uns aos outros e ter momentos de vulnerabilidade que nunca se poderia ter num ambiente mais normal.” (Duane Bray, IDEO design)

Quando visitei esses grupos, notei um padrão distinto de interação. O padrão não estava nas grandes coisas, mas nos pequenos momentos de conexão social. Essas interações eram consistentes, fosse o grupo uma unidade militar, um estúdio de cinema ou uma escola no centro da cidade. Fiz uma lista:

  • Proximidade física estreita, frequentemente em círculos
  • Grandes quantidades de contacto visual
  • Toque físico (apertos de mão, toques de punho, abraços)
  • Muitas trocas curtas e energéticas (sem longos discursos)
  • Altos níveis de mistura; todos falam com todos
  • Poucas interrupções
  • Muitas perguntas
  • Escuta intensiva e activa
  • Humor, risos
  • Pequenas cortesias atentas (agradecimentos, abrir portas, etc.)

Mais uma coisa: descobri que passar tempo dentro desses grupos era quase fisicamente viciante. Estendia as minhas viagens de reportagem, inventando desculpas para ficar mais um ou dois dias. Encontrava-me a sonhar acordado com mudar de profissão para poder candidatar-me a um emprego com eles. Havia algo irresistível em estar perto desses grupos que me fazia desejar mais conexão.

O termo que usamos para descrever este tipo de interação é química. Quando se encontra um grupo com boa química, percebe-se instantaneamente. É uma sensação paradoxal e poderosa, uma combinação de excitação e profundo conforto que surge misteriosamente com certos grupos especiais e não com outros.”

(Daniel Coyle, 2018)

“É por isso que me levanto para trabalhar todos os dias com um sorriso no rosto”

Etapa de integração na equipa A

“Acho que é com o tempo, com a repetição, com o número de jogo, com o número de estágios, aos poucos… E aquele “uau! estou a jogar com «não sei quem»!” acaba por desaparecer aos poucos. E quando nos sentimos realmente parte da equipa deixamos de olhar para o lado e pensar o “uau!”. Já nos sentimos parte dessa grandeza. Acho que a forma como as pessoas mais velhas recebem e tentam integrar os mais novos é sem dúvida o mais importante.”

(Bernardo Silva, 2024)

“Temos um balneário muito forte em que os jogadores foram seleccionados a dedo, mais do que pelas razões futebolísticas, pelo carácter”

“É o homem que se é que triunfa no treinador que se pode ser.”

(Manuel Sérgio, 2009)

O Celtic de Jock Stein e a histórica vitória do Jamor

A primeira Taça dos Clubes Campeões Europeus ganha por um clube Britânico aconteceu em Lisboa, mais precisamente no Estádio do Jamor, a 25 de maio de 1967. No Diário de Notícias podia-se ler: “Uma das mais belas tardes do Jamor: o “duche escocês” apagou o Inter… Um jacto que durou 90 minutos e deslumbrou milhões de espectadores”.

O Celtic enfrentou a então poderosa equipa italiana do Inter de Milão, liderada pelo revolucionário Helenio Herrera, treinador argentino-italiano conhecido pela sua abordagem táctica inovadora, descrita como “catenaccio”. Herrera foi uma figura icónica no futebol, tendo conquistado vários títulos importantes durante a sua carreira de treinador. No entanto defrontavam-se dois treinadores lendários. O Celtic, liderado por Jock Stein, conquistou a vitória por 2-1, tornando-se então o primeiro clube britânico a vencer a competição. Este foi um momento histórico não só para o futebol escocês, mas para toda a Grã-Bretanha. Mas perante tal confronto de culturas, a vitória do Celtic foi celebrada em toda a Europa.

Isto porque o Celtic era visto como um clube representante do “futebol dos homens comuns”, uma vez que sua equipa era principalmente composta por jogadores da própria Escócia e de outras partes das Ilhas Britânicas, em contraste com o Inter de Milão, que contava com uma equipa de jogadores icónicos internacionais. Além disso, a vitória do Celtic quebrou a hegemonia dos clubes italianos, espanhóis e portugueses, que vinham a dominar a competição até então. Isso trouxe uma sensação de renovação e esperança para os fãs do futebol de outras partes da Europa e culturas, que se viram representados por um clube menos tradicional nestes contextos e menos poderoso.

Deste modo, a disparidade cultural e táctica refletiu-se no estilo de jogo apresentado pelas equipas. O Celtic apresentava uma abordagem mais ofensiva e apaixonada, enquanto o Inter de Milão jogava numa estratégia mais cautelosa e defensiva. Portanto, o confronto não foi apenas sobre futebol, mas também sobre diferentes filosofias e ideologias que cada clube representava. Deste modo, a vitória do Celtic, derrotando na final uma equipa tão forte como o Inter de Milão com uma exibição apaixonada, emocionante e determinada, contribuiu para que a sua vitória transcendesse fronteiras e rivalidades clubísticas.

“Se algum dia vão ganhar a Taça dos Clubes Campeões Europeus, então este é o dia e este é o lugar. Mas não queremos apenas ganhar esta taça, queremos fazê-lo a jogar bom futebol – para fazer os neutrais contentes por termos ganho, contentes por se lembrarem como o fizemos.”

(Jock Stein em discurso à equipa antes do jogo)

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