Exercício gratuito
Publicamos um novo exercício gratuito: “Posse por zonas“.
O exercício surgiu num caderno de exercícios que José Mourinho terá colocado à disposição do Chelsea F. C. na sua primeira passagem pelo clube.
Na articulação de sentido entre momentos e princípios de jogo, dados os objectivos e características do exercício, o foco deverá estar no momento de transição ofensiva, respectivo sub-momento “Reacção ao ganho da bola”, mas principalmente no momento de organização ofensiva e respectivo sub-momento “Construção”, mas especificamente, na “Posse e circulação de bola”.
Será um trabalho que comportará algum risco de descontextualização pela ausência de alvos, portanto deverá surgir numa fase inicial da sessão de treino e deverá ser seguido de progressão de forma a enquadrar a Posse e os princípios aí treinados numa organização estrutural e noutras fases de construção que tragam o direcionamento do ataque e a procura da baliza adversária. O exercício apresenta-se muito propenso a progressões e adaptações, em função das necessidades de cada equipa.
Do exercício emerge uma necessidade dos atacantes sem bola garantirem várias soluções ao portador da bola, levando-os, entre outros comportamentos, ao Ajuste. O Ajuste, configura-se para nós como um deslocamento / desmarcação mais curto do atacante sem bola, de forma a que lhe garanta continuar a ser opção ao companheiro com bola. Os autores (Correia, et al., 2014), descrevem “o ajustar como a acção em que um jogador se movimenta e / ou orienta no sentido de se posicionar melhor para ser solução de passe. Desde já fica a noção de que os jogadores deverão estar sistematicamente a analisar tudo o que os envolve para que, desta forma, se possam ajustar o melhor possível. Por isso, ter jogadores permanentemente concentrados é absolutamente fundamental. Durante um jogo de futebol, é possível observar várias situações que dizem respeito à questão do ajustar, sendo que nem sempre o contexto é o melhor para a obtenção de sucesso. Por exemplo, há momentos do jogo em que um mau ajustamento por parte de um médio, o obriga a receber a bola de costas para a baliza do adversário, na ligação do sector defensivo com o intermédio, ficando sob pressão. Outra situação onde o ajustar ganha importância refere-se àqueles momentos em que o bloco defensivo adversário acompanha o movimento de circulação de bola. Nestes casos, alguns jogadores da equipa que se encontra de posse de bola estão “escondidos” por detrás de adversários, não podendo ser solução de passe por não se terem ajustado convenientemente”.
“O que faço é procurar espaços. A toda a hora. Estou sempre à procura. (…) Na actualidade, é quem não tem a bola que tem a missão de procurar espaços, de oferecer opções ao portador da bola, para que a equipa vá progredindo no campo. há tantas opções de passe. Às vezes, até penso para comigo: o não-sei-quem vai ficar aborrecido porque fiz três passes e ainda não lhe dei a bola. É melhor dá-la ao Dani Alves, porque ele já subiu pela ala três vezes. Quando o Messi não está envolvido, é como se ficasse aborrecido… e então o próximo passe é para ele.”
Xavi Hernández, 2010
O ajuste, portanto, o “Garantir permanentes apoios ao portador da bola” deve suceder, mesmo que a decisão posterior do companheiro com bola não seja o passe para o jogador que se movimenta sem bola, isto porque aumentará as possibilidades atacantes da equipa, tornando o seu jogo mais imprevisível. A compreensão disto pelos jogadores é fundamental, mas difícil, pois um jogador que realize consecutivos movimentos de desmarcação, e que por alguma razão não foi alvo de nenhum passe, tem alguma tendência a desvalorizar o que fez e a reduzir esses comportamentos. A bola é naturalmente o centro do jogo e a maior fonte de motivação de quem o joga, contudo, compreender a importância do jogo sem ela, quer nos momentos defensivos quer nos ofensivos, torna-se cada vez mais decisivo.
“As melhores equipas são as que conseguem envolver todos os jogadores neste jogo de apoios, de linhas de passe permanentes (sempre à direita, à esquerda, à frente e atrás do portador da bola). Quanto mais opções o portador da bola tiver, maior imprevisibilidade terá o jogo da sua equipa.”
(Bouças, 2011)