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Integração na Equipa Principal – A diferença geracional

“(…) ficar no plantel principal do Benfica nunca é mau. Há aqui duas coisas que se devem analisar: ser emprestado logo de imediato e começar a competir noutras equipas e ter um ritmo de competição mais elevado, ou ter a possibilidade de aprender com os melhores, de estar junto dos melhores, de treinar diariamente com os melhores, o que dá uma bagagem melhor e uma capacidade de entender o que é funcionar numa equipa que joga para ganhar todos os jogos. Tudo isto depois mais tarde vai ser útil para todos eles.”
(Rui Costa, 2011)
“Uma das formas de fundir juventude e experiência era operada longe das câmaras de televisão. De vez em quando, jogadores sénior como Bryan Robson e Darren Fletcher jogavam com a equipa de reserva. Tratava-se de um grande incentivo para os jogadores com quem estávamos a contar no futuro. Mesmo que os jogadores experientes aparecessem e se limitassem a ficar a ver os mais jovens, estes recebiam uma grande dose de confiança. Bryan Robson, Steve Bruce, Brian McClair fizeram-no, e Gary Neville também ajudava os jovens a decidirem os contratos. Cada um tinha a sua maneira de ajudar os jovens. Gary estava sempre a repreendê-los, mas queria que fossem bem sucedidos. Curiosamente, quando Gary chegou à equipa, ele próprio sofrera uma pressão semelhante por parte de Peter Schmeichel. Quando Ryan Giggs chegou à equipa principal, foi muito ajudado por Paul Ince, que o acolhei debaixo da sua asa. Acontecera-me o mesmo no St Johnstone, quando três jogadores mais velhos – Jim Walker, Jimmy Little e Ron McKinven – me ajudaram. No United, Eric Cantona teve um dos gestos mais simpáticos para com os jovens jogadores quando, depois de toda a equipa ter feito apostas quanto à final da Taça de Inglaterra, cada indivíduo teve como alternativa ficar com a sua parte ou deixá-la para um sorteio. Todos os jogadores mais jovens, como David Beckham e Gary Neville, ficaram com a sua parte, mas Paul Scholes e Nicky Butt permaneceram. Quando Eric venceu o sorteio, ofereceu o prémio a Paul Scholes e Nicky Butt, acabados de chegar à equipa principal e para quem, na altura, £7500 equivaliam a dois meses de salário. O motivo adiantado era tipicamente à Eric: «Porque eles têm tomates». Para um jovem, é um grande incentivo ter um mentor em quem confiar e que lhe defenda os interesses. Existe um laço mais natural entre jogadores do que entre a equipa técnica e os jogadores. Parte disso deve-se ao fosso normal que existe entre funcionários e gestores. A outra parte deve-se à diferença de idades. Por exemplo, perto do final do meu tempo no United, James Wilson tinha muito mais facilidade em identificar-se com Patrice Evra do que comigo, pois eu tinha idade para ser avô dele. É muito importante saber escolher ou ter a sorte de ir parar às mãos do mentor certo. Os melhores mudam-nos a vida.”
(Alex Ferguson, 2015)

“Whenever a foreign footballer comes into a dressing room, he will be taught how to swear.”

“Whenever a foreign footballer comes into a dressing room, he will be taught how to swear. I’ve seen exactly the same thing with Brazilian players when I have been managing in Russia. They also taught me the correct way to address the manager of Manchester United.

Almost the first time I came across Alex Ferguson in the corridors of the Cliff, he said to me, ‘All right, Andrei, how’s it going?’

I smiled at him and replied, ‘F*ck off, Scottish b*stard.’ Ferguson stopped dead in his tracks and then began to smile as he heard laughter echoing down the corridor, while I stood there bewildered.”

(Andrei Kanchelskis, 2017)

Valores Humanos

Porque na nossa opinião não vale tudo para obter rendimento. E também, porque esse “tudo“, poderá no futuro ser uma causa para o insucesso. No Futebol e na vida.

(…)

Na opinião do treinador português (Carvalhal, 2014), “a sociedade pode evoluir ou (in)evoluir, mas há coisas que nunca passarão de moda e serão sempre importantes no êxito de qualquer atividade: o caráter humano”.

Segundo (Urbea, et al., 2012), “qualquer departamento de uma empresa é o reflexo do seu chefe. Qualquer família é o reflexo dos seus líderes. Se um chefe é caótico, o departamento é caótico. Se os pais são desorganizados, os filhos são desorganizados. Não vale a pena lamentarmo-nos. Somos responsáveis pelo que transmitimos, fazemo-lo querendo ou sem querer”. O autor (Neto, 2012) vai mais longe e descreve que “a expressão de uma prática de futebol é o reflexo e o projecto da sociedade donde nasce. O reflexo, porque nele está a sociedade que o gerou; o projecto, porque também o futebol pode e deve ajudar à transformação da sociedade. Como pode negar-se, atendendo à paixão multitudinária que ainda o vai envolvendo, que o Futebol tenha todas as condições para concorrer à transformação da sociedade?” O autor acrescenta que o “Futebol, para ser um jogo solidário, terá de existir sempre, como dizíamos, uma aliança entre o saber e a vida, porque só sabe quem vive e só a partir deste conhecimento vivido que é possível falar de valores que humanizam o Futebol”. Esta ideia é reforçada pela opinião de René Meulensteen sobre o treinador escocês Alex Ferguson, em (Brackley, 2011), que não considera Ferguson comoa apenas um dos melhores treinadores de sempre, mas também “um dos melhores seres humanos, com elevados normas, elevados valores para as coisas normais que são importantes na vida. Para além de ser um grande treinador é um fantástico “treinador” de vida”.

(…)

O treinador alemão (Klopp, 2009), descreve que através dos seus valores deve “fazer tudo o que está ao meu alcance para mudar o lugar onde estou para melhor. Para mim, em variadíssimas situações, é importante que as pessoas que me rodeiam estejam bem. Eu estou sempre bem. Desejo verdadeiramente fazer um trabalho que torne o Mundo melhor. Infelizmente, esse desejo não significa que seja bem-sucedido na tarefa de aceitar que há coisas – como as doenças ou a dor – que não posso mudar”.

(…)

O treinador português José Mourinho, citado por (Lourenço, 2010), considera que “relativamente ao mundo do futebol, se perguntarmos, hoje, à grande maioria dos jogadores que comigo trabalharam quais os momentos que eles guardam de mim, que momentos os marcaram mais, acredito que, mais do que responderem que foi esta ou aquela substituição no jogo tal, ou que na vitória X foi a decisão Y, mais do que qualquer aspecto técnico das minhas decisões, o que verdadeiramente os marcou, o que mais lhes ficou na memória foram as características da minha personalidade, se quisermos, as características da minha liderança, a forma como liderei o grupo, enfim, a forma como os marquei em termos humanos. É isto que eu acho, sem ter feito nunca esse tipo de pergunta a alguém, nomeadamente, a qualquer jogador com quem já tenha trabalhado no passado.”

“O carácter não é um dom, é uma vitória.”

Ivor Griffith citado por (Cubeiro, et al., 2010)

“No Futebol, portanto, o jogador deve desenvolver-se em equipa, sem ser reduzido à equipa. E assim o treinador, nos seus momentos de reflexão, poderá levantar, no mais íntimo de si mesmo, esta questão: qual o tipo de pessoa que eu quero que nasça dos jogadores que lidero? Reside aqui, no meu modesto entender, o momento essencial do treino.”

(Sérgio, 2011), citado por (Esteves, 2011)