Sessões de Treino

Sendo que o nosso arquivo já ultrapassa a centena de exercícios de treino, decidimos enriquece-lo com sessões de treino.

Contudo, é importante sublinhar um aspecto, para a nós, fundamental. Se sentimos que a publicação de exercícios a vulso poderá abrir ao treinador / equipa técnica que planeia o treino um caminho de facilitismo, que o afastará do pensamento crítico, especificidade e necessidades do seu contexto, então a publicação de sessões de treino poderá potenciar este problema. Mas tal como os exercícios que publicamos, o nosso objectivo é exclusivamente propor ideias, metodologia e uma linha de pensamento no planeamento e operacionalização das sessões de treino. Copiar uma sessão inteira, não atendendo ao contexto, ao nível e aos objectivos de cada equipa é, quanto a nós, um erro primário. Neste pressuposto, para Manuel Sérgio, na apresentação de (Jesus, 2013), os treinos do treinador português são “modelares e autênticas aulas universitárias”. Para o treinador português, saber operacionalizar, “montar um treino em função da tua ideia de jogo, chama a tua criatividade”.

Segundo a nossa metodologia, geralmente cada sessão de treino encontra-se dedicada principalmente a um momento do jogo. Contudo, tendo em conta a articulação de sentido, os exercícios encontrar-se-ão intimamente ligados ao momento do jogo anterior ou seguinte, e em muitos desses casos, tal estará previsto nos objectivos.

Publicamos, gratuitamente, uma sessão de treino. Neste caso tendo por objectivo principal o momento de Transição Defensiva:

Na opinião de (Mourinho, 2010), o treinador deve ter “uma estrutura e um objectivo no treino. O treinador deve organizar as coisas com progressão, os jogadores devem perceber o objectivo de cada exercício, e eles devem trazer ao jogo, no puro 11×11, o que eles aprenderam, o que treinaram durante o treino, durante a semana, durante os meses, durante os anos da sua formação”. O treinador português acrescenta que “acredito verdadeiramente e a experiência diz-me que com repetição e progressões, os jogadores têm grandes condições para decidirem bem o jogo”.

“(…) o planeamento tem como missão prever ou antecipar, o máximo possível, todo o trabalho a desenvolver no sentido de reduzir ao mínimo a improvisação, o desenrascanço, conferindo mais rigor e maior eficácia ao processo de treino.”

(Costa, et al., 2015)

 

“Fisicamente mais forte”

Quantas vezes ouvimos e lemos a expressão… “o jogador x é fisicamente mais forte”. Mas o que isso significa exactamente no jogo de futebol? A qualificação atribui-se à morfologia? Às qualidades físicas? Ou à influência que a “imagem” morfológica, misturada com a agressividade, terá na mente dos adversários?

Se falamos de morfologia, face às leis do jogo, nas quais o único contacto físico permitido será no ombro a ombro, diga-se, acção rara ao longo do jogo, então a mesma torna-se pouco importante. A excepção é o jogo aéreo, onde ser-se mais alto pode ser relevante. Mas mesmo nesse caso, nem sempre. Antecipar o local onde a bola vai cair, calcular o tempo de salto ideal, garantir a melhor impulsão, ser corajoso para disputar uma bola, muitas vezes, no meio de um aglomerado de jogadores, e a técnica de cabeceamento, são exemplos de qualidades que serão bem mais decisivas na disputa do jogo aéreo do que apenas ser-se mais alto.

Quanto às qualidades físicas, sendo obviamente relevantes, desligadas de boas decisões em jogo, tornam-se no futebol, também obsoletas. Neste sentido, (Sampaio, 2013) defende que “no futebol, ao contrário de muitos desportos, não há um estereótipo de “atleta”. Como exemplo, na prova de 100 metros do atletismo, é normal vermos atletas altos e musculados; na maratona é normal os atletas serem muito magros; no futebol não é assim, o jogador de futebol não é um atleta, simplesmente é jogador de futebol. Alguém pode dizer que Pirlo, Xavi, Aimar, Messi, David Silva, etc., são atletas? Eu não acho que sejam, simplesmente são jogadores de futebol”.

Por outro lado, a influência da dimensão física na dimensão psicológica reflecte, não só a complexidade do jogo, mas no fundo a complexidade humana e o “erro de Descartes” que “segundo Damásio, terá sido a não apreciação de que o cérebro não foi apenas criado por cima do corpo, mas também a partir dele e junto com ele”, (Wikipédia, 2016). Nesta perspectiva, no futebol, o jogador ser fisicamente mais forte, não é relevante. O que será relevante é ser-se complexamente mais forte. E se assumirmos que a dimensão táctica, como Vítor Frade postulou, “não é psicológica, não é física, não é técnica, mas necessita de todas elas para se manifestar”, então, ser-se mais forte neste jogo significa ser-se mais forte tacticamente, que surge da interacção da morfologia com as qualidades físicas, com a mentalidade, com o conhecimento do jogo, o domínio da execução, etc. Conclui-se então que o aspecto ou o desempenho estritamente físico… garante pouco para este jogo.

Lionel Messi, Xavier Hernández, Andrés Iniesta, Andrea Pirlo, Pablo Aimar, Luka Modric e tantos outros, comprovaram tudo isto jogo após jogo, sendo mais fortes que os seus adversários. Aqui, Modric, não necessitou do ombro a ombro para recuperar a bola.

https://www.facebook.com/SaberSobreOSaberTreinar/videos/1828831890479403/

“O indivíduo todo, inteiro

emerge da cultura táctica

que sustenta o bom jogo, primeiro

no jogar o jogo como prática!”

(Frade, 2014)