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Saber sobre o saber jogar de… Kevin De Bruyne

Kevin De Bruyne deu uma fantástica entrevista a Jamie Redknapp na antevisão do Manchester City x Arsenal. Ninguém melhor para falar do jogo do que aqueles que o vivenciam e que sobretudo revelam conhecimento sobre o mesmo através da suas decisões dentro do campo. É uma realidade que a qualidade de muitos deles restringe-se à esfera do “saber fazer”. Porém, De Bruyne mostra mais, uma consciência sobre o jogo, e portanto o tal “saber sobre o saber fazer”. Provavelmente muito fruto da inteligência táctica que manifesta, porém será também consequência da liderança e metodologia de Pep Guardiola. Urgem mais programas deste género e a abertura para o diálogo com esta frontalidade.

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“Se toda a gente na equipa “compra” o modelo tudo fica mais fácil.(…) Tem que haver muita confiança entre nós para que o modelo resulte.”

“É posse com sentido. Guardiola odeia a palavra posse. É um jogo de passes para muitas vezes descobrir-me a mim e ao David Silva para que possamos criar. Ele não gosta da posse pela posse, a não ser para controlar o final dos jogos.”

“É esta confiança… (no início da construção) toda a gente tem de estar na sua posição para criarmos os espaços necessários.”

“O sistema varia todos os jogos um pouco. Naquele jogo ele disse para o Leroy e Raheem ficarem abertos até termos a bola no último terço e aí fariam o que quisessem. No início a intenção era fazer com que o Azpilicueta e o Alonso ficassem o mais baixos possível e assim ficávamos com superioridade numérica numa estrutura 3:4:3 com o Kyle Walker e o Fabian Delph a virem para dentro e o David Silva a jogar como número 10. Portanto depende sempre de como a outra equipa se organiza.”

“(Em construção) há muitas situações a 1 e a 2 toques, o jogo flui e toda a gente se movimenta em conjunto. (Em criação) nós podemos fazer o que quisermos. Não há uma restrição. Podemos ir para dentro, para fora, finalizar ou criar alguma coisa.”

“(já perto da área adversária, quando recebo um passe atrasado vindo do corredor lateral), primeiro olho para o lado contrário para perceber o que está a acontecer. Jogamos muito de um lado e toda a gente do lado contrário está a fazer um movimento. E depois sinto que se rematar eles vão bloquear o remate e sei que o David, Raheem ou Leroy vão também fazer o movimento e então é um pouco como saber e tentar ver se estão a fazê-lo e… confiar na equipa. Se não é um passe ridículo. Mas toda a gente estava com o mesmo pensamento, a mesma ideia e aqui foi muito bom.”

“Gosto mais de assistir do que de marcar. Dá-me outro sentimento. Marcar é sempre um grande sentimento, mas assistir é também algo especial para mim. Acho que se dá pouco crédito à assistência.”

“(quando alguém se está a desmarcar em ruptura) eu vejo-o. Não o vejo claramente, mas vejo-o a correr e já sei antes o que vai acontecer.”

“Assistir é um instinto que temos que ter no jogo. Leva tempo a perceber o que eles preferem. Joguei com um jogador, Bas Dost, ele era muito forte na área e eu só tinha que cruzar todo o tempo porque ele ia lá estar. Mas com o Sergio Agüero é diferente, com o Gabriel Jesus é diferente, então preciso de saber o que eles gostam. Se gostam mais no pé, Raheem ou Leroy gostam mais no espaço. O caminho é aprender o que eles gostam e como serão favorecidos perante as suas qualidades.”

“É uma questão de tomar decisões. Eu gosto de ver a NBA, sou um grande fã. Muitos jogadores jogam no físico, mas eu sou um grande fã do Lebron James, que pode fazer o que quiser, mas ele tenta sempre tomar a melhor decisão para a equipa. É o que eu gosto de fazer.”

“(nos livres directos) é algo que o staff técnico sempre nos transmitem. Se a barreira tem a tendência de saltar ou não.”

“acho o David Silva muito subvalorizado. Ele é classe. Jogou mais de cem jogos pela Espanha e ganhou tudo por eles. Ele dá-me o equilíbrio perfeito. Aprendi muito com ele a conservar a bola. Quando cheguei era um jogador de maior risco, de aproveitar e criar oportunidades, mas também perdia a bola mais vezes.”

“(a propósito da quantidade de passes bem sucedidos) nós fazemos sempre muitos meinhos. É estranho veres um treinador fazer meinhos como estes. Para ele isto é a “masterpiece” do futebol. Se fores bom a fazê-lo vais jogar bem no jogo. Normalmente fazêmo-lo no aquecimento. Não são permitidos toques da calcanhar e são sempre passes simples. Ele quer que os que estão no meio corram. Se fizermos 60 passes eles vão correr.”

“Nós agora jogamos com o Kyle Walker que é muito ofensivo. Às vezes temos que estar na posição dele. Podemos trocar, Kyle avança, os alas aparecem mais como médios-ofensivos e eu não fico como Defesa-Direito, mas fico num espaço intermédio. Funciona para manter a posse e parar os contra-ataques adversários.”

E quando a inferioridade numérica não é obstáculo

Escrevíamos no artigo anterior, sobre a má resolução de uma situação de contra-ataque em clara superioridade numérica, que se constituía “como um exemplo de que por vezes, uma maior superioridade numérica pode não tornar a situação mais fácil de resolver. Porém não pelo número de jogadores em si, que por si só é um dado extremamente redutor, mas pelas relações que os jogadores estabelecem – a qualidade colectiva, e restante configuração do jogo.” Referíamos ainda que “isto sucede em contextos de baixo conhecimento do jogo e consequentemente baixa qualidade individual e colectiva“.

Hoje trazemos uma situação oposta. Nova situação de contra-ataque (o vídeo não mostra mas é de facto antecedida de recuperação da bola), o mesmo número de atacantes, mas agora em inferioridade numérica de 3×4+GR. É certo que os defensores não apresentaram boas ideias para defender a situação e isso até poderia ser tema de análise, mas no contexto criado, dado o tema que abordamos, os atacantes mostraram a eficiência desejada. Usamos o plural porque no final a situação foi bem resolvida pelos três, se bem que em determinado momento, Kevin de Bruyne foi decisivo. É que até certa altura, Iheanacho, que parece-nos não se aperceber da presença de David Silva no mesmo corredor, comete o mesmo erro que trouxemos no artigo anterior. No entanto, de Bruyne dá uma ajuda, indicando-lhe o que fazer, abrindo a oportunidade para uma melhor resolução da situação.

Kevin de Bruyne demonstrou, uma vez mais, leitura e conhecimento do jogo, mostrou, qualidade individual. E neste caso, a mesma contribuiu inclusive para que a qualidade colectiva também crescesse. Nos festejos isso parece ser reconhecido por David Silva e Yaya Touré…