Tinhas que ser esperto e usar o que estava à tua volta. (…) Ser preciso, inventar… era essa a ideia.

“Nós jogávamos futebol o tempo todo, especialmente aqui. O Kade era mais largo naquela época e não havia tantos carros. Era um verdadeiro futebol de rua: quatro contra cinco ou cinco contra cinco ou quatro contra quatro. Tinhas que ter um certo nível de habilidade e equilíbrio porque o betão era duro e se caísses, magoavas-te. Uma das balizas era aquela árvore ali. Era uma sensação incrível marcar lá. A árvore era um alvo pequeno, por isso tinhas que ser muito preciso. E esta porta seria a outra baliza. Tinhas que ser esperto e usar o que estava à tua volta. Podias jogar uma tabela na parede, ou num carro, mas não podias acertar na porta do carro, por isso apontavas para a roda. Ser preciso, inventar… era essa a ideia. Estavas sempre à procura de soluções. Não é que houvesse algo de errado em apenas colocar camisolas como postes de golo e passar a maior parte do tempo a correr para apanhar a bola depois de um golo. Também fazíamos isso! E à noite tínhamos jogos no relvado atrás dos prédios. Com todas as crianças holandesas, turcas e marroquinas a viverem aqui, então seria Holanda contra Marrocos, ou Holanda contra Turquia ou o que fosse. Era muito interessante. Com os apartamentos todos à volta e as pessoas a assistir dos seus varandas após o jantar, era como um estádio.”