Mário Wilson

Faleceu ontem Mário Wilson. A alcunha “Capitão” subentende desde logo o reconhecimento da sua liderança. Diversos relatos transmitem que a mesma acompanhou-o de jogador a treinador. O ex-jogador e treinador Carlos Manuel em (SportTV, 2016) confirma esta qualidade ao explicar que Mário Wilson tinha “liderança em todos os sítios por onde passou. (…) A alcunha vem da Académica onde já o tratavam por capitão. (…) Ele era realmente uma pessoa extremamente afável e com uma liderança enorme. Era um líder nato”. Talvez a melhor homenagem a Mário Wilson esteja no facto de estar entre os treinadores que marcaram o futebol pelos valores humanos que transportava. Toni, citado em (Record, 2016), transmite isso mesmo referindo que era “um um homem bom, uma figura incontornável do desporto português. Um treinador que marcou os jogadores que treinou e que se vai embora. O seu “filho branco” verga-se perante aquele que foi o seu segundo pai“. João Vieira Pinto citado em (Record, 2016) segue a mesma linha elogiosa ao referir que “todos nós temos de fazer uma vénia ao ‘capitão’. De facto, onde o ‘capitão’ estava presente havia força, sabedoria e paz. Quando estávamos ao pé dele sentíamos isso tudo. (…) do ‘mister’ Mário Wilson vou ficar com muitas e boas, porque foi uma pessoa que me marcou imenso. Ganhei uma Taça de Portugal com ele, fiz questão de festejar com ele, porque quando havia turbulência e ele aparecia as pessoas ficavam mais calmas. Era um grande homem, era um ótimo treinador e foi uma pessoa que me marcou imenso”. João Vieira Pinto não tem problemas em assumir que com Mário Wilson teve uma relação de quase de pai para filho“.

Mário Wilson - Mário Wilson e Toni

Com certeza pelas mesmas qualidades, Mário Wilson era também elogiado pelos seus discursos. Alguns foram mesmo públicos, mas ex-jogadores referem que as suas palavras nos balneários tocavam-lhes intensamente. Pedro Henriques em (SportTV, 2016) descreveu que “talvez tenha sido o único homem do futebol que me tenha empolgado com um discurso. Tinha essa capacidade. Tinha uma oratória fantástica, pelo timbre, pela voz e do bater da mão tradicional e característico nele. (…) Um homem fantástico”. Mas Pedro Henriques salienta acima de tudo a autenticidade de Mário Wilson. O ex-jogador defende que “é muito difícil encontrar alguém com disponibilidade para ouvir, ainda para mais no futebol que muitas vezes os discursos são tão ocos e é tudo mais do mesmo. É tudo dito com interesse e com segundas intenções. Aquilo é que eram de facto discursos. (…) O que ele dizia causava impacto”.

Se temos dificuldade em diferenciar a importância das, para nós, três dimensões da intervenção do treinador: Liderança, Metodologia de Treino e Modelo de Jogo (explicação desta visão aqui), sentimos que pela condição humana e a consequente importância das relações, nomeadamente num jogo colectivo, que a Liderança pode marcar uma maior diferença em muitos momentos e contextos. Manuel Sérgio defende que a condição humana deveria ser o objeto primeiro de todo o ensino. Procurando ir mais longe, dentro da Liderança, e como iremos no futuro publicar, dentro das “Qualidades do Líder”, sentimos ainda que os “Valores Humanos” são de basilar importância. Será em cima deles que tudo o resto se edificará. Se estes forem frágeis”, todo o edíficio materializado na qualidade do trabalho do treinador, tenderá a ruir. Tendo em conta a grande evolução que o Futebol viveu, com naturalidade Mário Wilson poderia até estar longe do actual conhecimento metodológico e táctico, porém, baseando-nos na multiplicidade de relatos que nos chegam, em Liderança e principalmente, em termos humanos, todos teríamos a aprender com ele.

Mário Wilson - Mário Wilson e João Vieira Pinto