Tag Archive for: ideia de jogo

“A melhor coisa que aprendi contigo foi não pedir a jogadores coisas que não conseguem mas adaptar-me para tirar o melhor rendimento deles.”

“Como treinador, necessito encontrar e saber pressionar a “tecla” exata para que essa ordem tática sem a bola se transforme numa “desordem organizada” com a bola e o jogador tenha liberdade, capacidade de tomar decisões e improvisação, assuma riscos, invente e seja criativo para desenvolver assim todo o seu potencial. Se o sistema tático te tira criatividade, não serve.”

Ricardo Zielinski citado por (Gérman Castaños, 2018)

“Quando eles começam a sentir o gosto por aquilo que estão a fazer…”

“Uma equipa pode jogar de qualquer maneira. É mesmo assim: de qualquer maneira. Desde que se trabalhe de modo a sistematizar as coisas para esse objectivo, de maneira a que todos acreditem. Se o treinador acredita; se os adjuntos acreditam; se os jogadores acreditam, tudo é possível.”

(José Mourinho, 2004) citado por (João Romano, 2007)

Sub-Princípio Ofensivo | Privilégio pelo passe vertical

Publicamos um novo sub-tema na área Ideia de Jogo proposta. Trata-se do sub-princípio ofensivo Privilégio pelo passe vertical. Sendo uma ideia que pode surgir tanto em Transição Ofensiva como em Organização Ofensiva, é no primeiro momento do jogo que ganha especial relevo.

“Com a quantidade de oportunidades que criámos contra o Bilbao, pudemos ver que o conceito de “primeiro passe para a frente” estava realmente a funcionar.”

(Pep Lijnders, 2022)

A Ideia de Jogo no Programa de Treino

“É importante que os conteúdos a desenvolver nos diferentes dias da semana estejam inter-relacionados, sendo reforçados a cada dia através de situações diferentes, quer estruturalmente, quer na sua complexidade, facilitando as aquisições por parte dos jogadores.”

(Vítor Gouveia, 2023)

Abordámos recentemente a adaptabilidade e flexibilidade do Programa de Treino que propomos em função de diferentes Ideias de Jogo. Propriamente, o propósito do mesmo não foi servir em Especificidade determinada Ideia de Jogo, mas sim múltiplas. Referimo-nos à programação, à escala dos conteúdos e forma como estes estão construídos e distribuídos. E na maioria dos casos, mesmo os próprios exercícios.

Podemos dar dois exemplos sem aprofundar muito as sessões e respectivos exercícios. Tal ficará para as páginas respectivas que estamos a publicar. Esta explicação procurará ideias simples mas dispares, para que a explicação seja mais clara. Um treinador que defina na sua Ideia em Organização Ofensiva numa Construção e Criação num jogo mais directo e em defesa individual em Organização Defensiva, e outro que deseje que a sua equipa ataque de forma mais curta e apoiada no momento ofensivo e numa defesa zona, ou seja, colectiva, no momento defensivo.

Vamos tomar como exemplo a semana A do Programa. Primeiro treino da semana, Transição Ofensiva como grande objectivo. Exercícios de Reação ao ganho, decisão sobre a entrada no sub-momento de Contra-ataque ou Valorização da posse de bola e seu desenvolvimento. Conteúdos, para nós, transversais a todas as ideias de jogo. Desenvolve-se ainda um situação de jogo colectiva de compensação para os jogadores menos utilizados. Aí, liberdade para o treinador prescrever ideias, corrigir coisas e experimentar.

No segundo dia, Transição Defensiva. Exercícios de Reação à perda, Recuperação defensiva para a sua estrutura defensiva e Defesa do contra-ataque, serão desta forma geral, também transversais a todas as ideias. Todas dependem destes sub-momentos para terem qualidade e sucesso.

Terceiro dia, Organização Ofensiva. Exercícios de Acções individuais ofensivas reforçam, na dimensão individual, todas as ideias. Posteriormente situações de Construção, Criação e Finalização em diferentes escalas estruturais e espaciais, porém com margem para saída do Guarda-Redes curta ou longa, uma posterior construção mais curta ou longa, privilegiando o corredor central e lateral, como também em sub-momento de Criação. Todos articulados com a Transição Defensiva. Uma vez mais, espaço nos exercícios para a Especificidade.

Quarto dia, Organização Defensiva. Um exercício de objectivo diferente, velocidade e coordenação gerais, outro que apele à coesão, competitividade e Acções individuais defensivas. Posteriormente situações de Impedir a construção, Impedir a criação e Impedir a finalização. Espaço para diferentes ideias defensivas, métodos defensivos, diferentes estruturas e diferentes profundidades de posicionamento do bloco. Em bloco alto, médio ou baixo. Independentemente da Ideia de Jogo do treinador dar privilegiar uma dessas opções, cremos ser importante dominar todas elas. Diferentes contextos, diferentes situações de jogo, diferentes necessidades. Uma equipa pode defender em bloco baixo com qualidade, mas algum jogo irá estar em desvantagem. E se nesse caso o adversário optar por um maior privilégio à posse e a “defender com bola”, a equipa terá a necessidade de subir o bloco e tornar a sua pressão mais alta e mais agressiva.

Quinto dia, dia anterior à competição, situações de team-building em regime técnico, coordenativo e velocidade. Posteriormente situações de consolidação / estratégicas onde o treinador terá espaço para tais ajustamentos.

Depois poderão existir diferenças nos princípios ou no detalhe das acções individuais. Se, por exemplo, o treinador deseja valorizar mais a posse, se procura forçar mais o Contra-ataque e o privilégio pelo passe vertical, mesmo que mais longo, tal será principalmente através de um eventual condicionamento do detalhe do exercício e através do feedback e apresentação da Ideia. O mesmo sucede com as acções individuais. Haverá espaço para as mesmas nas 4 semanas do Programa, porém, dependendo do escalão e da Ideia, o treinador poderá privilegiar determinadas variantes das ações. Por exemplo, mais passe longo em detrimento do curto. Ou noutro exemplo, que o desarme seja mais estimulado quando em contenção e com o adversário enquadrado, e menos quando este ainda se encontra de costas para a baliza.

O próprio Programa propõe diferentes variantes para cada exercício (que vão sendo publicados semanalmente) que servindo de variações e progressões dos objectivos macro, permitem também dar espaço de escolha ao treinador de forma a adequar com maior precisão a Ideia ao exercício.

“No que diz respeito à tarefa de planear, o treinador terá que fixar objectivos, seleccionar conteúdos de treino e definir a melhor metodologia a implementar para concretizar os objectivos definidos.”

(Jorge Braz, 2006)

Acções Individuais Defensivas

Publicámos uma nova página no trabalho Saber Sobre o Saber Treinar. Inserido na Ideia de Jogo, trata-se de uma introdução às Acções Individuais Defensivas. Sendo um introdução desenvolvemos ideias gerais sobre as mesmas e identificamos, segundo a nossa perspectiva, as que integram a nossa Ideia de Jogo. A sua explicação uma a uma ficará para sub-páginas dedicadas às mesmas.

“(…) do ponto de vista da acção defensiva, por exemplo, podemos / devemos avaliar o desempenho individual na tabela (jogador perde o domínio espacial em relação ao marcador directo), na cobertura (salta na pressão quando devia manter posição), no cruzamento (perde domínio do campo visual e, consequentemente, a orientação corporal), no desarme / tempo de entrada (toma a iniciativa quando devia ter temporizado) ou posicionamento / deslocamento (devia ter acompanhado a desmarcação / não soube retirar a profundidade).”

(Miguel Quaresma, 2021)

Os princípios de jogo e a necessidade dos mesmos na resolução de uma situação de contra-ataque II. Agora em 3×3+GR e 1×1+GR. Mas também o pensamento divergente de David Neres. Exemplos do Benfica x Vizela.

Acções Individuais Ofensivas | Drible | Bergkamp turn

Publicámos uma nova página no trabalho Saber Sobre o Saber Treinar. Inserido na Ideia de Jogo, trata-se de uma Acção Individual Ofensiva, mais especificamente, um Drible: o Bergkamp turn.

“Se conhecerem alguém que jogue melhor do que ele, avisem-me”. E eu digo: Se tiver existido um jogador superior a ele em termos técnicos, convido a deixarem o nome na caixa de comentários. Bergkamp nem se destacava especialmente pelos dribles, mas era o rei da técnica, em todas as dimensões. Técnica de passe, técnica de recepção, técnica de remate, técnica de condução…tudo parecia fácil nos pés do holandês que fez alguns dos mais incríveis golos da primeira década do novo século.”
(Arsène Wenger)

 

 

Os princípios de jogo e a necessidade dos mesmos na resolução de uma situação de contra-ataque 2×2+GR

A especificidade e a Especificidade do Programa de Treino

“Romário só tinha uma tarefa defensiva”

Acções Individuais Ofensivas | Drible | Roleta

Publicámos uma nova página no trabalho Saber Sobre o Saber Treinar. Inserido na Ideia de Jogo, trata-se de uma Acção Individual Ofensiva, mais especificamente, um Drible: a Roleta.

“Apesar do drible Roleta ter ficado associado ao francês Zinedine Zidane, a verdade é que já sugira no jogo muito antes da década de 90. Segundo a (Wikipedia, 2022), também conhecida como o “360, Spin, Mooresy Roulette, Roulette, Girosflin”. Associada em determinado momento ao histórico Diego Maradona, foi de facto com o francês Zinedine Zidane que se tornou mais célebre ficando mesmo como uma das suas imagens de marca. A mesma fonte acrescenta que “com tantos nomes diferentes, a origem exata desta habilidade é desconhecida. A “Marseille turn” foi popularizada na Europa pelo avançado francês Yves Mariot na década de 1970. Diego Maradona e Zinedine Zidane foram, sem dúvida, os expoentes mais notáveis da jogada, sendo também conhecida como “Maradona turn” e “Zidane turn””.”

Flexibilidade e adaptabilidade do Programa de Treino

“Os exercícios apenas são potencialmente específicos”

Guilherme Oliveira, citado por (Esteves, 2010)

Continuamos a explorar o Programa de Treino que temos vindo a desenvolver, aprofundando a flexibilidade do mesmo.

Sublinhamos que o Programa não é dirigido a nenhuma Ideia de Jogo Específica. Porém, será ele exequível para todas as Ideias? Essa foi uma das nossas preocupações e intenções, mas lançamos um verdadeiro desafio à criatividade. Será possível criar uma Ideia de Jogo que não seja operacionalizável desta forma? Caso afirmativo, por outro lado, será um óptimo tónico à evolução do trabalho realizado.

À imagem de um Microciclo ou Morfociclo padrão, no qual a preocupação seja transmitir uma Ideia de Jogo à equipa, enquadrando uma série pressupostos para que a “óptima” aquisição deva acontecer, por sua vez o Programa enquadra um ciclo mais alargado (quatro semanas), nas quais são abordadas todas as dimensões da Ideia de Jogo da equipa.

Se a Ideia de Jogo (o projecto do treinador) é o ponto de partida e o Modelo de Jogo (o jogar propriamente dito da equipa) o ponto de chegada, o Programa será um dos veículos, através dos quais podemos fazer esse trajecto. Cremos nós, e esse foi o principal objectivo na sua elaboração, com grande eficiência e eficácia.

No passado texto escrevemos o seguinte sobre o tema:

“Também procurámos que o Programa fosse, por um lado, suficientemente fechado para se conseguir um razoável controlo do processo de aquisição e repetição num plano macro, por outro, que também fosse suficientemente aberto para poder ser implementado com diferentes Ideias de Jogo, diferentes níveis competitivos e ainda diferentes escalões etários.”

Para tal, usámos a Sistematização do Jogo que desenvolvemos no passado, para definir diferentes escalas de actuação. Os momentos, os sub-momentos, os princípios, os sub-princípios e as acções individuais.

Relativamente aos momentos, temos uma sessão por semana direccionada para cada um deles. Quanto aos sub-momentos, procurámos dar maior volume aos que surgem mais vezes no jogo. Por exemplo, em relação à Transição Defensiva é facilmente perceptível que as equipas passam mais tempo na Reação à perda e menos na Defesa do contra-ataque, logo, será lógico dar maior propensão a um sub-momento que pode até evitar que a equipa não tenha que defender um contra-ataque adversário.

Em relação aos princípios, tratam-se de ideias comuns a todas as equipas. No mesmo enquadramento, Transição Defensiva, sub-momento de Reação à perda, damos o exemplo da “Pressão imediata na bola”. É algo que todas as equipas procuram. Se é para procurar recuperar imediatamente a bola ou apenas para conter, não permitindo o contra-ataque adversário e procurar garantir a reorganização defensiva da equipa, isso será território específico da Ideia de Jogo de cada treinador. Como exemplo de sub-princípio, “Referências de pressão”, ou seja, em que circunstâncias a equipa passa da contenção à pressão para recuperar a bola, ou se simplesmente não o faz nunca. Importa referir que os sub-princípios são comuns a diferentes princípios. O exemplo que acabámos de dar confere isso, pois “Referências de pressão” estará também presente noutros sub-momentos do jogo, nomeadamente nos de Organização Defensiva.

O mesmo sucede com as Acções Individuais. Neste caso, defensivas, e damos o exemplo da “Posição de base”, através da qual o defensor procura orientar-se, posicionar-se, adoptar determinada postura corporal, etc., para, da forma mais eficiente possível, passar da contenção à eventual pressão com objectivo de recuperar a bola.

Ora bem, nesta lógica, o Programa define o quando (momentos e sub-momentos do jogo) e o quê (princípios, sub-princípios e acções individuais). Contudo, não define o como e porquê, ficando esse domínio contemplado na Ideia de Jogo Específica de cada treinador.

Deste modo, o Programa também se torna ajustável a cada nível de jogo. Se, por exemplo, o nível é o da Etapa de Iniciação do Futebol de Formação, a Ideia (extremamente simples, reduzida, necessariamente aberta e ampla) e a intervenção do treinador deverão ter determinado carácter. O que não implica que não hajam conteúdos programados, tal como sucede nos programas nacionais do ensino básico. De uma forma geral, abordados de forma mais elementar e muitas vezes apenas usando um exercício / jogo simples como estímulo ao conteúdo desejado, e sem grande intervenção do treinador. Noutro exemplo, se o Programa é aplicado no Futebol de Rendimento Profissional, o detalhe, a exigência, o plano estratégico, etc., deverão estar contemplados através da Ideia de Jogo, conteúdos e da actuação do treinador em cada exercício. Mesmo que não haja intervenção do treinador no exercício. Isso deve ser deliberado e fruto de um pensamento estratégico e operativo naquele contexto específico. Não porque o nível de intervenção pressupõe isso.

Haverá sempre uma questão pertinente no nível de Rendimento. Se o Programa engloba quatro semanas, dado que uma não será suficiente para se atingir todas as dimensões do jogo da equipa na propensão desejada, então, atendendo à eventual necessidade de investimento na dimensão estratégica em função do próximo jogo, essa semana do Programa poderá não atingir em volume de forma satisfatória determinado sub-momento do jogo e / ou da forma desejada (espaço do campo onde determinados princípios se desejam trabalhar). Neste caso, a manipulação do exercício, nomeadamente na sua operacionalização, torna-se decisiva.

Não modificando conteúdos, ao longo da semana o treinador vai encontrar momentos e sub-momentos contrários aos objectivos estratégicos que persegue. Nesses momentos, pode usar o contra-exercício, ou seja, os objectivos inversos aos do Programa em determinado exercício para intervir e tornar-se o protagonista maior no foco e, possivelmente feedback, que pretende. Por exemplo, na semana C do Programa, no exercício C-3OO2B:

Os objectivos, sub-momentos da Organização Ofensiva, são a Criação e Finalização, e ainda com ligação à Reacção à perda na Transição Defensiva. O exercício é passado no meio-campo adversário.

Se, em função do próximo adversário, o treinador tem a preocupação de preparar determinado(s) princípio(s) da Organização Defensiva, sub-momento, Impedir a Criação em bloco médio ou baixo, poderá escolher este e eventualmente outro(s) exercício(s) para garantir essa intervenção. Nesta semana do programa, para além deste, surgem mais 5 exercícios em que pode atingir, ou no objectivo principal, ou no contra-exercício, este propósito. Assim, no enquadramento da equipa técnica e definição de tarefas no treino, poderá trocar o seu papel, inicialmente no objectivo principal, com outro treinador responsável pela equipa / grupo de jogadores que se encontram no objectivo inverso. Ou seja, trocar a sua intervenção para a equipa que, com maior propensão no exercício em causa, defende e transita ofensivamente no exercício. Deste modo, o programa não perde os objectivos iniciais e a estimulação sistemática de determinadas ideias. Simultaneamente o treinador encontra o espaço e o momento para dar mais ênfase a determinada preocupação e objectivo estratégico.

Estamos, e não nos cansamos de repetir, perante um processo altamente complexo. O Programa de Treino, torna-se para nós um caminho muito interessante para o treinador ter um satisfatório controlo sobre o jogo da sua equipa. No caso particular do Futebol de Rendimento, controlo sobre a dimensão da sua Ideia de Jogo e também sobre a dimensão estratégica.

“Treinar deve implicar

que a percepção cumpra sua função

não é a de memorizar, mas de percepcionar

a complexidade do jogo na complexificação.

Resultante…

De cada instante

duma e outra equipa na acção.”

(Vítor Frade, 2014)