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Exercício 139 [Subscrição Anual]

“(…) existe na mente de muitos treinadores a presunção, que qualquer exercício de treino independentemente do seu nível de especialização (que reproduza de forma mais ou menos aproximada a natureza – lógica do Jogo de Futebol) transfere sempre algo de positivo para a capacidade objectiva do jogador ou da equipa. Todavia, é preciso ter presente que a transferibilidade, isto é, a influência de um exercício sobre outro que é realizado num ambiente contextualmente diferente ou na aquisição de uma outra competência não é um fenómeno positivo por natureza.”

(Jorge Castelo, 2003)

Publicamos o exercício 139, denominado como Saída do GR após atraso em metade lateral. Este exercício encontra-se no nosso arquivo e estará disponível para subscritores.

Podendo ser um exercício realizado por vagas, possibilitando a integração de mais jogadores e assim apresentar tempos de pausa maiores e um desgaste menor, pode então, ser realizado numa fase introdutória do treino, logo após uma breve mobilização inicial. Mas não será apenas pelo desgaste que promoverá, o seu carácter introdutório. Na dimensão táctica, a menor complexidade que proporciona na acção de Saída do Jogo do Guarda-Redes em espaço e número, leva-o também a um género de experienciação da situação. Nos casos em que apenas estará disponível meio-campo para o treino nessa fase do treino, por utilização da metade contrária por outra equipa ou pelo treino específico de Guarda-Redes, se o exercício for realizado na estrita metade do campo, ele pode ainda ser realizado em duplicado na metade contrária, multiplicando-se assim o número de repetições e de experiências realizadas.

Contudo, como todos os exercícios, apresenta contras, ou desvios do jogo que poderão ser perigosos. Como referimos no passado, será sempre assim a partir do momento em que a realidade do jogo é manipulada e tudo residirá na sensibilidade do treinador para avaliar a evolução das aquisições. Neste caso, algo que nos parece logo muito importante, é a impossibilidade da equipa poder jogar nos três corredores de jogo, promovendo assim um jogo um pouco mais vertical. No entanto parece-nos interessante para compreender contextos mais micro e algumas acções individuais. A forma como é iniciado, também prevê um contexto particular, porém esse também pode ser recriado numa situação de complexidade maior.

Como abordámos num recente artigo, o exercício não obriga o Guarda-Redes a decidir pela saída curta. Obriga sim, neste caso, a equipa a uma saída aberta. Depois, tendo em conta o posicionamento e as decisões adversárias, o Guarda-Redes pode optar por realizar um primeiro passe curto, ou pela realização de um mais longo,  ou melhor, de média distância, que no caso, estará simbolizado pelo passe nas mini-balizas.

Tendo também em conta o seu carácter e organização, o exercício pode em simultâneo promover a experienciação de todas as funções envolvidas, por todos os jogadores da equipa, desenvolvendo assim a sensibilidade para o posicionamento, decisão e execução do companheiro, o que poderá levar ao desenvolvimento de comportamentos micro, mas que poderão ser decisivos na eficiência e eficácia global da acção. Isto poderá ser importante num contexto de Rendimento, mas será fundamental num de Formação. E esta é uma forma de manifestação da multilateralidade do Futebol. Ou seja, num contexto específico como o Futebol, existirá sempre, nesse universo de se potenciar a sua multilateralidade. Para muitos conhecida, ainda que de forma parcial, pela “polivalência”. Por outro lado, regressando ao contexto do Futebol de Rendimento, as restrições de tempo de treino e desgaste, levarão a que a aposta nas especialização das funções envolvidas no exercício seja uma decisão mais lógica.

Desta forma, isto leva-nos a pensar que um exercício não é destinado ao Futebol de Formação ou ao de Sénior tendo apenas em conta a sua complexidade. Essa deverá ser definida tendo em conta o nível de jogo, e para isso a idade é um indicador, mas não é decisiva. Existem equipas de Infantis a jogar um jogo mais complexo e qualitativo do que muitas equipas de séniores. O escalão para o qual um exercício se destina, deve sim, por exemplo, equacionar a sua multilateralidade ou especialização como exemplificámos com o presente exercício, no parágrafo anterior.

Exercício 139 | Saída do GR após atraso em metade lateral

Organização Ofensiva

Recuperando novamente o pensamento do Rui Jorge:

“(…) mas o importante é o que se faz para que isso aconteça. Não o resultado em si, mas tudo o que fazemos para lá chegar.”
(Rui Jorge, 2017)

Corredor central

“As senhoras da limpeza também fazem o corredor todo e nem por isso jogam Futebol!”

Vítor Frade, citado por (Jorge D., 2012)

https://www.facebook.com/SaberSobreOSaberTreinar/videos/399194524170070/

Organização Ofensiva | Construção + Criação + Finalização | Construção pela primeira linha + Jogo entre-linhas + Passe vertical + Apoio frontal + Finalização à distância | Manchester City 2019

5 ideias (exercícios) para desenvolver o jogo entre-linhas [Subscrição Anual]

“Ao falar em circulação de bola, pensa-se muitas vezes no seguinte: sair curto, jogar num corredor, está fechado variar rápido para o outro. Mas circular, também é entrar no interior do bloco adversário.”

(Tactic Zone, 2013)

O jogo entre-linhas tem sido uma das ideias de jogo que tem crescido e conquistado mais adeptos nos últimos anos. Sendo verdade que se já era explorado no passado, mesmo que por vezes de forma não consciente, pelo posicionamento de jogadores na estrutura ofensiva da equipa que os levava a explorar esses espaços, por outro lado, os métodos defensivos individuais então utilizados, acabavam por reduzir esses espaços pois um atacante aí presente arrastava consigo um respectivo defensor. Nessa fase, seria geralmente através da mobilidade, que o momento ofensivo das equipas conseguia continuar a gerar tais espaços. Hoje, pela evolução de métodos defensivos mais colectivos que dão prioridade a estruturas defensivas sectoriais e colectivas, mais preocupadas em anular espaços do que adversários, paradoxalmente, acabam por gerar mais espaços entre os seus sectores médio e defesa, uma vez que, frequentemente, a referência defensiva “o meu companheiro”, se sobrepõe à referência defensiva “espaço”, ou “antecipação de linhas de passe adversárias”.

Deste modo, ganhou importância a exploração destes espaços, caminho reforçado pela evolução que o jogo ofensivo das equipas apresentou, o qual procurou abandonar a aleatoriedade, a inspiração individual ou a espera pelo erro do adversário… e aproximar-se da racionalidade, de um jogo mais eficaz e de um pensamento colectivo, como base da criatividade e do talento individual. De acordo com a fonte (Tactic Zone, 2013), através desta ideia “a preferência é conquistar espaço no meio e progredir a partir daí. Se adversário consegue ser eficaz a ajustar defensivamente no centro, então já se criou muito espaço nos corredores que pode agora ser usado”.

https://www.facebook.com/SaberSobreOSaberTreinar/videos/1966180873678170/

Na nossa Sistematização e Modelo de Jogo Idealizado, o Jogo entre-linhas situa-se como princípio de jogo, no Sub-Momento Construção da Organização Ofensiva e constitui-se como uma forte ideia para a equipa atingir o sub-momento de criação, e procurar criar de forma mais eficaz, oportunidades de finalização. Torna-se importante salvaguardar que este princípio pode ser explorado de múltiplas formas, tendo também aqui a criatividade um papel vital.

Sendo para nós, o exercício de treino, o melhor caminho para atingir estas ideias em jogo, deixamos 5 ideias para desenvolver este princípio de jogo, juntando a muitas outras já presentes na nossa biblioteca de exercícios. Procurando atingir níveis de complexidade estrutural diferentes, as ideias presentes nestes exercícios podem, por exemplo, ser desenvolvidas numa lógica progressiva, ao longo de uma ou várias sessões de treino.

Exercício 127 | Posse com apoio frontal (exercício grupal)

Exercício 123 | Jogar no espaço entre-linhas e último passe (exercício grupal)

Exercício 126 | Chegar aos apoios frontais (exercício inter-sectorial)

Exercício 124 | Penetração de um adversário partido (exercício colectivo)

Exercício 125 | Progressão beneficiando da zona neutra (exercício colectivo)

“É complicado viver no corredor central, decidir em pouco espaço, dentro da estrutura adversária. Os estímulos surgem de todas as direções e, para além dos atributos técnicos, é necessária uma rápida adaptação a um contexto que varia a cada instante.”

(Fidalgo, 2016)

Cultura de jogo III. “Atrás não se brinca”.

“Atrás não se brinca”. Um dos tantos lugares comuns que fazem parte da cultura de jogo tradicional. Mas na realidade, brinca-se. Brinca-se por todo o campo, porque o futebol, é antes de tudo o resto… prazer… divertimento. A expressão pode no entanto querer identificar zonas, sectores, funções, nas quais os “riscos” das consequências da perda da bola, podem ser mais elevados. Contudo, à imagem da saída curta do Guarda-Redes, tudo depende do contexto. Das ideias… ou qualidade colectiva, da qualidade individual e dos adversários. Assim, uma vez mais não há uma receita. Existem diferentes decisões, perante diferentes contextos.

Johan Cruyff, no momento mais importante até à data do seu país no Futebol – a final do campeonato do Mundo de 1974 na Alemanha, decidiu, logo após o pontapé de saída da sua equipa, na primeira posse de bola que a sua equipa dispunha, enquanto “último homem” da sua equipa, driblar e penetrar no bloco adversário até à grande-área, acabando por sofrer grande penalidade. O penálti, convertido por Neeskens, viria a garantir o primeiro golo do encontro para a Holanda. Cruyff assim o decidiu dada a sua qualidade individual e a mobilidade que a sua equipa protagonizava, que arrastou as marcações individuais alemãs. Decidiu-o em função do contexto, ignorando os preconceitos vigentes, e influenciado pela sua conhecida irreverência.

Quase 50 anos depois, no mesmo país, Frenkie de Jong, aos 20 anos, provavelmente influenciado pelas mesmas ideias de jogo que ainda pairam no Ajax de Amesterdão, apresenta a mesma cultura de jogo. Sem receio, conduz, fixa, dribla e penetra sistematicamente a primeira linha de pressão adversária. Derruba, novamente, preconceitos enraizados na nossa cultura.

https://www.facebook.com/SaberSobreOSaberTreinar/videos/1958054910890433/

Segundo video realizado por ty.

O website (Tactic Zone, 2013), cita Josep Guardiola no tempo de treinador do F. C. de Barcelona, que aconselha:gastem dinheiro com os defesas, sobretudo com os centrais!” e justifica: “pode parecer paradoxal, uma equipa com um futebol ofensivo, de posse, de muitos golos e tem que investir em defesas? Claro, é onde tudo começa. Se defesas (e Guarda-Redes dizemos nós) não conseguem construir, todo este conceito se complica e o jogo já não será o mesmo. Nas minhas ideias o Guarda-Redes e defesas centrais são os primeiros avançados. E um central ter a capacidade de construir não é ter boa capacidade técnica. Tem que ter um grande entendimento do jogo ofensivo e ser muito bom na capacidade de decisão. Por isso, é tão difícil encontrar centrais para este tipo de jogo. Por isso, o Barcelona opta muitas vezes por colocar médios na posição de defesa central”.

O autor (Bouças, 2013), sustenta que “ter jogadores capazes de desequilibrar ofensivamente logo desde trás no primeiro momento da construção será cada vez mais decisivo. Feliz de quem pode contar com defesas centrais para desbloquear situações e adversários.  Em equipas que passem demasiado tempo no momento de organização ofensiva, defesas centrais com tamanha qualidade ofensiva são tão importantes para se chegar ao golo, quanto os avançados. É que o jogo começa demasiadas vezes desde trás, e passa garantidamente, mais vezes nos pés dos centrais que nos de qualquer outro jogador”.

“Johan Cruyff dizia: o mais importante no Futebol é que os melhores jogadores sejam os defesas. Se estás com a bola, consegues jogar; se não, não fazes nada. Johan diz que a bola equilibra uma equipa. Se perde a bola, a equipa se desequilibra; se perde pouco, consegue manter o equilíbrio.”

(Gonzalez, 2012)

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