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Coragem… Específica III

“Because life constantly poses challenges, living demands courage.”
Manuel Neuer

Qualidade de jogo

É uma discussão permanente definir o que é qualidade de jogo no Futebol. Isto porque o conceito é muitas vezes associado à dimensão estética do jogo, e essa é naturalmente subjectiva e consequência das experiências, cultura, valores e sentimentos pessoais. Contudo se estamos perante uma actividade que exige rendimento, qualquer estética não sobrevive sozinha. Vítor Frade, 2013, descreve que “só se pode estar a Top estando sistematicamente preocupado com a objectividade, com a eficácia, com a eficiência. Agora tendo em conta o que é o futebol, eu tenho que estar permanentemente perturbado, estando preocupado com isso, e também estando permanen­temente preocupado com a estética do jogo. E a estética é a coisa mais nuanciável para que a objectividade seja objectividade. Se eu exagero na perda da estética vou perder aí, se eu exagero no aumento da estética vou perder ali, e isso é que não é para qualquer um. (…) sou um obcecado pela eficácia porque só se está no alto rendimento se se for eficaz, se se ganhar, mas eficácia é o resultado da eficiência, e a eficiência é o aparecimento regular de urna forma de fazer aparecer as coisas! E essa eficiência, e por isso eu disse, ser um angustiado e perturbado permanentemente pela estética. Portanto, a eficiência tem a ver com a estética, mas têm que se pesar as duas coisas!

Vítor Frade descreve ainda que “depois já iríamos para o lado estético do Jogo, nas dimensões colectiva e individual! Portanto, isto tem a ver, o que estou a evidenciar, com a eficiência e eficácia mas depois… isto é importante e sem isso não vale a pena pensar as coisas, porque eu penso o treino e jogo para ganhar, e por isso digo que estou permanentemente preocupado com a eficácia e a eficiência, mas continuadamente preocupado também, e até perturbado com o problema estético! Eu revejo agora o Brasil de 80, de 82 e dos anos 70, e deleito-me a ver aquilo. Mas aquilo não é absolutamente transferível para os dias de hoje? Em termos de ataque é, agora eu tenho é que ter preocupações com os equilíbrios da equipa, que eles não tinham naquela altura, porque não era preciso, para continuar a ganhar.

Na presente edição da Liga dos Campeões, três das equipas que reconhecidamente, actualmente apresentam melhor qualidade de jogo tendo em conta o trinómio Estética-Eficácia-Eficiência competiram no mesmo grupo. Assistimos, muito provavelmente ao futebol que aí vem. O tal que Vítor Frade aponta “para continuar a ganhar”. Um dos comandantes por trás deste sucesso é português, com naturalidade para nós dada a consciência que temos para o quanto os portugueses contribuíram nos últimos anos para a evolução do treino e do jogo. Contudo a coragem que sempre manifestou, não é para todos.

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Para fazermos uma equipa funcionar, para fazermos uma verdadeira equipa, nós temos que ter os onze jogadores com a coragem de ter iniciativa, terem a coragem de quererem a bola, a coragem de quererem assumir o jogo”.

Paulo Fonseca, no programa ReporTV, “O Jogo”, 2016

Os homens também choram

Porque são homens que jogam e que assumem as decisões. Portanto, antes de todos os outros, são eles que sentem.

“O próximo marco eu!”

Alex Ferguson, após quatro penaltis falhados pelo Manchester United.

Concentração ou coragem… específica?

“Nunca confunda movimento com acção.”

Ernest Hemingway

“Para fazermos uma equipa funcionar, para fazermos uma verdadeira equipa, nós temos que ter os onze jogadores com a coragem de ter iniciativa, terem a coragem de quererem a bola, a coragem de quererem assumir o jogo”.

Paulo Fonseca, 2016

Coragem… Específica II

Deixámos propositadamente o som dos comentários. Jornalistas, adeptos, pais, dirigentes, na sua grande maioria transmitem uma enorme falta de coragem na forma como sentem e pensam o jogo. Isto obviamente tem consequências em quem o treina e em quem o joga, porque o “nadar contra a maré” não é fácil. Neste contexto, devemos aplaudir uma equipa de escalão inferior, que a jogar no campo do campeão nacional e líder da primeira liga, a perder 3-0, procura a qualidade no seu jogo.

Há pouco tempo, num artigo publicado no Lateral Esquerdo, Nuno Amado ia na mesma direcção: “há um género de pessoas que, em dívida para com uma tradição que os ensinou a respeitar certas leis caducas, não conseguiram nunca perceber, não obstante as lições catalãs e bávaras dos últimos anos, as verdadeiras vantagens que há em procurar sair a jogar desde trás. As mesmas pessoas podem até acreditar que sair a jogar compensa de facto o risco quando os defesas conseguem suplantar a primeira zona de pressão adversária, e podem até reconhecer que a equipa que a isso se propõe acaba por beneficiar desse risco depois de superar esse obstáculo inicial. Não obstante, parece-lhes sempre demasiado arriscado.”

De acordo com (Manna, 2009), “sair jogando é dar prioridade ao passe desde o início da construção de jogo. O pontapé de baliza ou a participação dos defesas na construção ofensiva torna-se fundamental. Uma perda de bola na zona dos defesas centrais pode ser terrível. Todos evitam realizar o que Pep dá prioridade. Riscos que permitem, facilitar o ciclo de jogo, no qual Pep irá sempre tentar construir desde a sua baliza”. Guardiola sublinha que saindo a jogar bem, podemos chegar ao alvo jogando bem, ao contrário de um mau início de construção que torna tudo mais difícil e aleatório. E lembra que se o primeiro passe é bom, tudo é mais fácil a seguir.

Coragem… Específica

Haverá tanto a dizer sobre o discurso de Paulo Fonseca, após uma derrota de “digestão” difícil. Porém, mais do que palavras, interessa-nos aplaudir. Pela mensagem que transmite aos seus jogadores e restante clube, mas não só. Pela mensagem que nos deixa a todos. Porque como o próprio Paulo Fonseca explica, entre um golo sofrido e uma derrota, e todos os outros ganhos a curto e longo prazo há um claro balanço positivo. Quer queria, quer não, também pela homenagem que acabou por fazer a Johan Cruyff.

Isto leva-nos a outra questão… a tão aclamada Especificidade e a própria reflexão sobre a Intensidade que temos realizado neste espaço.

A preocupação pela Especificidade impôs a táctica como nuclear no treino dos Desportos Colectivos, dada da caracterização do seu rendimento. Numa primeira fase dessa evolução, como uma táctica abstracta ou geral da modalidade, numa segunda fase, como uma táctica específica de um determinada ideia ou Modelo de Jogo. Surgia no horizonte o fim do treino físico descontextualizado, e a sua tentativa de adicionar rendimento aos jogadores.

Numa linha similar, apesar de menos discutida, surge a dimensão Psicológica-Mental. Sempre se procurou adicionar “mentalidade” por palavras e pelos discursos nos balneários. A coragem é um bom exemplo, mas também podemos falar em agressividade, solidariedade, da própria concentração, etc.. Se acreditamos que a forma de estar do treinador, os seus actos e as suas palavras são fundamentais na liderança que exerce, nos valores que incute e no próprio jogo que idealiza, também acreditamos que por si só, diluem-se no processo, nomeadamente a longo prazo. Pior ainda perante determinadas ideias para o jogo para a sua equipa, antagónicas a esses valores.

Assim, coragem… Específica, é isto mesmo que Paulo Fonseca defende até ao derradeiro momento… uma determinada ideia de jogo, também ela corajosa. Como (Neto, 2012) defende, acontece uma variedade de reacções humanas ao mesmo tipo de factores e de situações porque não é reacção o que propriamente se dá, mas, antes, uma acção – e esta é iniciada intencionalmente por um todo que, de todo, jamais o é da mesma forma que o todo de outro: é o todo que enforma as partes e não estas que determinam aquele“. Portanto, é a ideia de jogo que tem de levar à coragem e não a coragem abstracta à qualidade de jogo.

Uma vez mais, dada a realidade complexa que nos envolve, é fundamental não a esfacelar e aproximar as nossas ideias e conceitos da tal Especificidade que a realidade exige. A Intensidade, é outro bom exemplo.

Para fazermos uma equipa funcionar, para fazermos uma verdadeira equipa, nós temos que ter os onze jogadores com a coragem de ter iniciativa, terem a coragem de quererem a bola, a coragem de quererem assumir o jogo”.

Paulo Fonseca, no programa ReporTV, “O Jogo”

“O indivíduo todo, inteiro

emerge da cultura táctica

que sustenta o bom jogo, primeiro

no jogar o jogo como prática!”

(Frade, 2014)