Um contra-ataque, ataque rápido ou ambos?

Hoje trazemos uma situação ofensiva do jogo Manchescter City x Liverpool desta época. A equipa de Manchescter encontra um caminho para chegar à baliza adversária. Porém, uma questão se levanta: estamos perante uma situação de contra-ataque, de ataque rápido ou ambos são válidos em simultâneo?

Na próxima semana trazemos a nossa perspectiva sobre tema.

A importância do desenvolvimento do pé não dominante

Uma justificação mais profunda sobre a importância do desenvolvimento do membro inferior não dominante ficará para mais tarde e para o tema Metodologia do Saber Sobre o Saber Treinar. No entanto, tal como noutros temas, iremos abordá-lo sempre que uma situação da actualidade nos demonstre a sua importância.

É o caso da acção que trazemos de Di María, até porque seria difícil encontrarmos um exemplo melhor. Pelo jogador em causa e pelo contexto. É conhecida a mestria do Argentino na execução com o seu pé dominante, o esquerdo. Faz praticamente tudo com ele, inclusive cruzamentos e remates de trivela, mesmo quando a maioria dos jogadores, com maior ou menor dificuldade, sentiria-se mais confortável em recorrer ao pé direito. Na situação em causa, o remate de trivela, ou com a face externa do pé esquerdo, seria extremamente difícil dada a elevação da bola e a orientação corporal de Di María. Perante um enquadramento privilegiado com a baliza, para fazê-lo rapidamente e evitar a intercepção adversária, o remate teria que ser de pé direito. Foi o que sucedeu, e numa acção rara do argentino, acabou por revelar que o seu pé não dominante não é inábil.

Mas o mais importante, é percebermos a importância da lateralidade, neste caso, da funcionabilidade dos dois pés, e mais que isso, que eventualmente o não dominante atinja um nível similar ao dominante. Até porque, e regressando ao exemplo, mesmo para um destro o remate naquela situação apresentava um nível de dificuldade elevado.

“Da análise dos resultados destes estudos emergem duas ideias: que a capacidade de utilização dos dois pés, com semelhante proficiência, aumenta a qualidade de desempenho do jogador, e ainda que o aumento de proficiência do pé não preferido resulta de uma exercitação direcionada para esse efeito. Todavia a qualidade técnica de um jogador não pode ser analisada de uma forma isolada e descontextualizada do jogo, pois, é aí que se encontram as adversidades e variabilidades no espaço e no tempo que permitem ao jogador melhorar a sua performance (Garganta, 2006).”

(Edgar Cambão, 2014)

Franz Beckenbauer

“Num terraço em Lisboa, Franz Beckenbauer faz o milésimo discurso da sua vida. “Eu amava Lisboa antes mesmo de ter estado aqui,” revela o alemão mais celebrado da atualidade com aquele tom sereno de canto bávaro, “porque aos vinte anos li toda a obra de Erich Maria Remarque, algumas delas várias vezes, e amei A Noite em Lisboa.” Até mesmo os observadores mais experientes de Franz ficam surpreendidos. Poucas pessoas leram algum dos romances de Remarque além de Nada de Novo no Front, e, de qualquer forma, esperava-se que Beckenbauer produzisse um hino suave a Portugal. O Kaiser encantou mais uma audiência.”

(Simon Kuper, 2011)

Franz Beckenbauer, também conhecido pela alcunha “Der Kaiser” (O Imperador), teve uma carreira brilhante como jogador e treinador, tornando-se uma figura lendária no Futebol e irónica do Desporto, reverenciado pelas suas qualidades excecionais como jogador, em particular pela sua revolucionária visão táctica que deixou uma marca duradoura no jogo de Futebol.

Como exemplo da lenda em que se tornou, quando alguém na “Rua” ou no Futebol de Formação de um clube se destacava como um Defesa-Central que procurava progredir com bola e contribuir na construção do jogo ofensivo da equipa, tendo sucesso ou não, era rapidamente baptizado de “Beckenbauer”. Portanto, de forma elogiosa ou irónica.

De acordo com (Simon Kuper, 2011), o Futebol da Alemanha “ainda moldado pela ética nazi, produzia principalmente Kämpfer, ou lutadores, como a equipa alemã que venceu o Campeonato do Mundo na lama de Berna em 1954”. O autor relata que “Beckenbauer é a fénix das cinzas da Alemanha Nazi. Concebido no inverno mais sombrio do país, nasceu numa Munique bombardeada em Setembro de 1945, a ‘Hora Zero’ da Alemanha. Seu pai trabalhava nos correios. Os Beckenbauer não comiam carne frequentemente. Franz trabalhava como agente de seguros e assinou um contrato semi-profissional com o Bayern de Munique, na época um clube local de dimensões modestas”. No Bayern rapidamente se destacou como um talentoso defensor. Ao longo da década de 1960, ajudou o Bayern a conquistar vários títulos, incluindo três campeonatos da Bundesliga e uma Taça das Taças, antiga competição da UEFA.

Como explica (Jonathan Wilson, 2016), Beckenbauer, tal como Netzer, foram produtos de um crescimento “da autonomia cultural” que naquele momento se vivenciou em vários países, entre os quais Alemanha e Holanda, e que segundo o autor “acabou conduzindo ao pluralismo de estilos de vida”, com o Futebol a fazer parte desse movimento cultural mais amplo. Também (Simon Kuper, 2011) explica a liderança dos contemporâneos Johan Cruyff e Franz Beckenbauer como “produtos do seu tempo”, tal como os “estudantes nas ruas de Paris em 1968”. Kuper descreve que “eles eram bebés do pós-guerra impacientes por assumir o poder. Os baby boomers queriam reinventar o mundo. Não se submetiam à deferência”. O autor acrescenta ainda que “Cruyff e Beckenbauer não assumiram apenas a responsabilidade pelos seus próprios desempenhos, mas também pelos de todos os outros. Eles eram treinadores em campo, apontando e dizendo constantemente aos colegas de equipa para onde se mover. Eles ajudavam os treinadores a escolher as equipas e a sua organização. Não se submetiam. Exigiam uma grande quota do sucesso no jogo”.

Porém, regressando à comparação com o Alemão Günter Netzer, que detinha um pensamento político de esquerda, (Jonathan Wilson, 2016) acrescenta que embora este “fosse a figura abertamente mais rebelde, especialmente em termos de estilo de cabelo e modo de se vestir, Beckenbauer era quem tinha a vida pessoal mais turbulenta. A sua imagem, no entanto, graças a seu apoio público ao partido conservador CSU — e ao fato de jogar no Bayern — era percebida como mais convencional”. Kuper reforça que fora do campo, Franz “personificava a ambiciosa República Federal jovem e orientada para o dinheiro. Nunca foi um hippie ou de esquerda, Beckenbauer era um burguês instintivo”. Mais tarde, como dirigente, foi mesmo criticado pela esquerda alemã e até internacional pelo receio de vir a presidir à UEFA e dar maior protecção aos grandes clubes europeus.

Como jogador, Beckenbauer personificou a elegância e a inteligência dentro de campo. A sua versatilidade era notável, destacando-se tanto na defesa quanto no meio-campo, uma qualidade que o tornou verdadeiramente excecional. Dotado de uma leitura e interpretação do jogo extraordinárias, Beckenbauer não era apenas um defensor sólido, mas também um construtor de jogo magistral. Distinguia-se pela qualidade dos seus passes. Ora longos, ora curtos, mas normalmente, verticais. A sua capacidade de ler as situações, antecipar o pensamento  adversário e iniciar jogadas ofensivas fez dele um jogador completo.

Contudo, foi na sua abordagem funcional e posicional que Beckenbauer deixou a sua grande marca. Como jogador do Bayern de Munique e da seleção alemã, ele desafiou as convenções sobre um Defesa-Central. Em vez de se limitar a uma função puramente defensiva, Beckenbauer frequentemente progredia para o meio-campo, actuando como um médio disfarçado de líbero, influenciado o Futebol Alemão e até internacional nas décadas seguintes. Para (Jonathan Wilson, 2016), o alemão “foi tão essencial para o desenvolvimento da Alemanha Ocidental quanto Cruyff tinha sido para a Holanda. Ele actuou como líbero pelo Bayern desde o final dos anos 1970, encorajado por Čajkovski, que crescera num ambiente de valorização dos defesas centrais que sabiam jogar (não é coincidência que o primeiro grande líbero do Ajax, Velibor Vasović, tenha sido produzido pela mesma cultura)”. Posteriormente, na Alemanha, Lothar Matthäus, Matthias Sammer, Thomas Hässler, Olaf Thon seguiram-lhe as pisadas nessa função, enquanto Gaetano Scirea, Franco Baresi e Ronald Koeman são uns dos grandes destaques a nível internacional pelas mesmas razões. Hoje, o jogo do John Stones no Manchester City de Guardiola apresenta semelhanças interessantes.

A sua carreira atingiu o auge na década de 70, quando capitaneou a seleção alemã ocidental na vitória do Campeonato do Mundo de 1974, disputado em casa. A liderança e a abordagem táctica revolucionária de Beckenbauer foi fundamental para o sucesso da Alemanha Ocidental nesse Campeonato do Mundo, onde não apenas conquistaram o título, mas a par do outro finalista, a Holanda capitaneada por John Cruyff, redefiniram também os padrões que o jogo ia vivenciando até à data. Nesse dia, o duelo entre Alemanha e Holanda, e particularmente entre Beckenbauer e Cruyff, foi dos mais icónicos que o Futebol protagonizou.

A sua qualidade a organizar o momento defensivo, na construção do futebol ofensivo da equipa e até mesmo a finalizar destacou-o como um dos maiores líderes da história do Futebol. Além do sucesso internacional, Beckenbauer continuou a brilhar a nível de clubes. Transferiu-se para o New York Cosmos na Liga Norte-Americana de Futebol (NASL), onde inclusive acabou por jogar com Cruyff, clube pelo qual adicionou mais troféus à sua colecção.

Após o fim da sua carreira como jogador, Beckenbauer embarcou num também bem-sucedido papel de treinador. Comandou o Bayern de Munique e a seleção Alemã, levando-a à final do Campeonato do Mundo de 1986, derrotada pela Argentina de Maradona e posteriormente à vitória no Campeonato do Mundo de 1990, no qual a Alemanha terminou a prova invicta. De acordo com (Simon Kuper, 2011), “naquela noite em Roma, enquanto os seus jogadores ficavam loucos, Beckenbauer passeava sozinho pelo campo, a medalha de ouro ao redor do pescoço, olhando ao seu redor como alguém que passeia o seu cão. Mais tarde, explicou que estava a dizer adeus ao futebol”. Contudo, o autor expõe que afinal “foi mais um Auf Wiedersehen: até logo. Logo voltou na sua terceira encarnação como político do futebol. Sozinho entre os antigos grandes do futebol, ele nasceu para o papel. (…) Apesar de ser alemão, Beckenbauer é querido em todo o mundo”. Entre outras papéis, tornou-se presidente do Bayern de Munique e envolveu-se de forma importante na organização do Campeonato do Mundo da Alemanha em 2006.

Para percebermos a dimensão da figura em que Beckenbauer se tornou, (Simon Kuper, 2011) explica que na Alemanha deixou de precisar de “se aliar ao establishment. É o establishment que tenta se aliar a ele. Todos os políticos alemães tentam associar-se ao Kaiser. Quando Beckenbauer visitava o seu antigo fã Gerhard Schröder na chancelaria, e Schröder abria uma garrafa de vinho tinto, ficava claro qual dos dois homens precisava mais do encontro. Quando Schröder implementou uma grande reforma fiscal, o comediante alemão Harald Schmidt brincou: “E a maior surpresa é: sem a ajuda de Franz Beckenbauer!””.

Beckenbauer trouxe uma mentalidade inovadora para o jogo, introduzindo conceitos tácticos que influenciaram posteriores gerações de jogadores e treinadores, subindo a fasquia ao futebol moderno. Este legado transcende a sua carreira como jogador, destacando-se como uma das mentes mais brilhantes e influentes do desporto.

“Ele sempre, naquela época e posteriormente, tomou cuidado em se dissociar das deficiências do futebol alemão pós-Kaiserzeit. Dias antes da final, conversando com amigos, disse em voz alta os nomes de vários dos seus jogadores e deu uma gargalhada. “O que foi tão engraçado?” perguntaram-lhe. “Pensem só,” disse Beckenbauer, “em um dia ou dois esses rapazes poderiam ser campeões do mundo!” Eles não foram: perderam para a Argentina. “Felizmente, porque se tivéssemos ganho, teria sido uma derrota para o futebol”, escreveu Beckenbauer mais tarde.”

(Simon Kuper, 2011)

O erro de Tsimikas e o conhecimento do jogo e liderança de Virgil van Dijk

A situação de Criação surge por duas tentativas sucessivas de intercepção falhadas pelos médios do Liverpool. Pelo menos Endo, dado o insucesso do companheiro, deveria ter garantido contenção e protegido o espaço à frente dos Defesas-Centrais. Não foi a sua decisão e abriu oportunidade para que o adversário, através de um passe vertical, ficasse em situação de ataque rápido, e Criação, perante a última linha do Liverpool. Mas não é sobre essa situação que nos desejamos focar. É para o posterior erro de Tsimikas e a liderança de van Dijk.

Perante a condução do jogador Crystal Palace a última linha do Liverpool, bem, contém, baixa e mantém-se alinhada. Podia no entanto baixar e retirar profundidade mais rapidamente para minimizar o espaço entre si o seu Guarda-Redes. Por outro lado, Quansah, o 78 do Liverpool, deveria ter deixado a contenção ao portador para van Dijk, pois era este que se posicionava no corredor central e assim ficaria com cobertura à sua direita e esquerda.

Mas o maior erro é de Tsimikas. Bem num primeiro momento, porque perante o espaço ainda existente na profundidade acompanha Odsonne, de forma a controlar a desmarcação de ruptura do jogador do Palace, até porque é um movimento pelo lado cego de van Dijk. Contudo, uma vez que o último passe não saiu, até porque a contenção foi eficaz, o grego deveria ter quebrado essa acção mais cedo e regressado rapidamente ao alinhamento com van Dijk, que era nesta situação, a referência para tal.

Tsimikas não só não o fez como tardou a perceber o que tinha que fazer, permitindo uma situação de eventual progressão, finalização, último passe ou cruzamento a Jordan Ayew e obrigando a última linha a posicionar-se já no interior da grande-área, o que possibilitou uma maior aproximação do adversário à sua baliza.

De elogiar Virgil van Dijk, pela sua interpretação e liderança na situação, que por duas vezes solicita a Tsimikas que passe para a sua frente e garanta contenção a Ayew. Podemos ir mais longe falar em liderança Específica. Porque estamos perante uma liderança táctica. E não uma qualquer. A de van Dijk, que supomos estar alinhada com a de Jürgen Klopp.

Querem matar o Futebol! A história e a irracionalidade sobre a regra mais importante do jogo.

“Ok temos de jogar bem. Mas o que é jogar bem ou jogar mal? Para mim, sempre foi uma questão de distância (entre jogadores)!”

(Johan Cruyff, 2014)

Será o título demasiado dramático? Acabar com o jogo de Futebol tal como o conhecemos, é de facto o que está em causa. Se preferirem uma visão um pouco mais simpática, e à imagem de um clássico filme de ficção, a mudança em causa implicaria transformá-lo numa horrível “criatura” híbrida.

A regra do fora-de-jogo é provavelmente a mais complexa, controversa e que mais debate tem suscitado no Futebol desde a sua introdução em 1863.  Torna-se, em primeiro lugar, fundamental perceber todo o seu enquadramento para a podermos discutir. Tanto que o autor e antigo selecionador Brasileiro e posteriormente jornalista (João Saldanha, 1968) defendeu que a discussão do jogo, nomeadamente o seu treino, táctica e preparação dependeu de “quatro épocas marcantes:

  1. Antes da primeira lei do fora-de-jogo;
  2. Depois do aparecimento desta lei;
  3. O surgimento da segunda lei do fora-de-jogo;
  4. O surgimento da medicina desportiva e da preparação física dos jogadores”.

Antes da introdução da regra, (João Saldanha, 1968) descreve que apenas havia jogadores que corriam ou ficavam parados dentro do campo, sem posições definidas. O futebol era feio e esteve a ponto de sucumbir como jogo ou competição porque não tinha graça. Não adiantava ser um bom jogador, que soubesse driblar e dominar a bola, porque um perna-de-pau qualquer, comodamente encostado perto a uma das balizas, esperava a bola chegar e fazia o golo que dava tanto trabalho ao outro que era bom jogador. O facto de não existir “offside” levava a que um grupinho ficasse perto de uma baliza e outro lá do outro lado também esperando a bola”. Segundo a (Wilkipédia, 2023) “o jogo ficava sem emoção, ao mesmo tempo deixando um vazio no campo”. 

Assim, mesmo nesta fase da história do jogo, transparece então já existir uma sensibilidade e racionalidade sobre o mesmo e a sua evolução. Permitido pelo regulamento desse tempo dada a ausência da regra do fora-de-jogo, os jogadores encontravam oportunidades para finalizar com enorme facilidade. Jogava-se em demasiado espaço e desse modo estávamos perante um jogo diferente, “estranho” e até…. sublinhe-se… menos “emocionante”.  Disputava-se portanto, um jogo caótico que provocava a anarquia e onde a sua dimensão colectiva era assoberbada pelas relações individuais ou no máximo, grupais. Dadas algumas vozes de personalidades históricas no jogo que se têm levantado nos últimos anos contra a regra do fora-de-jogo defendendo mesmo até a abolição da regra, tal cenário caótico descrito atrás resultante dessa eventual decisão foi também referido em 2017 num artigo da JornalismoPortoNet, projecto da Universidade do Porto.

Por outro lado, ao contrário do que por vezes se supõe, sendo o golo raro no Futebol ao invés da grande maioria dos outros desportos colectivos, isso torna-o mais apetecível e mais desejado. E sendo mais difícil de obter, será consequentemente resultado de uma maior necessidade de qualidade individual e colectiva das equipas para o obterem. E deste modo, e não menos importante, maior motivo de celebração e felicidade. Ou seja, traz uma maior paixão ao jogo, facto que é comprovado com a quantidade de adeptos, de sentimentos e de emoções que provoca. Comer todos os dias uma determinada iguaria tenderá a torná-la banal.

Voltando à história do jogo, perante o cenário caótico descrito, o fora-de-jogo foi criado. A (Wilkipédia, 2023) descreve que em 1863 a primeira regra do fora-de-jogo dizia “que um atacante, para não estar em posição de fora-de-jogo, teria que ter, pelo menos quatro jogadores à sua frente”. A introdução da regra provocou às equipas uma maior necessidade de organização. De acordo com o website (História do Futebol), “com essa nova lei, as equipas obrigaram-se a adoptar tácticas relacionadas com posicionamento dos jogadores em campo, visto que o jogo não podia ser mais jogado de qualquer maneira. O sistema táctico começou a ser utilizada pelas equipas ingleses Nottingham Forest e Blackburn Rovers. O sistema era o 2-3-5 e tinha as posições de avançados, médios e defensores”. Deste modo, cada posição / função foi-se também especializando e conhecido determinada nomenclatura. Por exemplo, (João Saldanha, 1968), descreve o “”back” direito, esquerdo; “half” direito, “center-half”, etc.”.

Mas rapidamente se percebeu que a regra trazia outros problemas. Neste sentido, segundo a mesma fonte, “em 1866, vem a primeira alteração: a quantidade de jogadores à frente do atacante passava de quatro para três. Em 1907, vem a segunda alteração na regra: a infração só poderia ser sinalizada se o jogador estiver na outra metade do campo”.

Ainda assim, a regra estava longe da perfeição. Naturalmente, e como sempre, as equipas exploraram ao milímetro tudo o que a lei permitiria. Quem defendia partia a equipa e definia para um dos defensores uma missão especial, ao qual os brasileiras chamaram de “beque-avança” (os defensores eram, em inglês, backs). Segundo (João Saldanha, 1968), um seria o “”beque-espera” e “beque-avança””. Este jogador, como o próprio nome indica, avançaria no momento certo para provocar o fora-de-jogo ao deixar apenas um defensor mais o guarda-redes no seu meio-campo. Por outro lado, segundo vários autores, estes dois defensores, normalmente um com maior papel de marcação e o outro como líbero, seriam suficientes para anular as outras situações ofensivas que escapavam ao fora-de-jogo. Tal é referido pelo mesmo autor ao descrever que “dois beques sabidos paravam todo o ataque adversário”. Saldanha ainda acrescenta que “o ataque tentou defender-se desta artimanha e formava em linha porque a lei também dizia que se o atacante estivesse atrás da linha da bola não estava fora-de-jogo. Foi por isto, inclusive, que os atacantes ficaram sendo chamados de jogadores da “linha”. Mas a artimanha dos beques levava a melhor e enfeiava o jogo”. Como consequência, de acordo com (Rodrigo Vergara, 2016), os jogadores concentravam-se no meio-campo e os jogos acabavam sem finalizações, a não ser na marcação de faltas”.

O brasileiro (João Saldanha, 1968) foi então mais longe e sustentou que tal cenário era era uma contrariedade ao que há de mais puro no futebol – e o que mais deve ser defendido: o talento. Sempre o talento, que é o que desenvolve o futebol e apaixona a multidão. Por esta imposição, a lei teve novamente de ser modificada fazendo surgir a mais importante etapa do futebol”. Assim, segundo o (História do Futebol), quem estudava o jogo compreendeu a falha e foi promovida uma alteração à regra em 1925. A partir desse momento para que um atacante recebesse a bola de forma legal no meio-campo adversário seriam necessários apenas dois defensores entre si e a baliza adversária. A (Wilkipédia, 2023) expõe que deste modo “desafogou-se o meio-campo, já que provocar o fora-de-jogo com um só jogador ficou arriscado e a defesa foi recuada. Por conta disso, os jogos acabaram ficando mais movimentados e a quantidade de golos aumentou vertiginosamente. Como exemplo, a temporada 1924 / 1925 da Football League registrou 4700 golos em 1848 partidas. A temporada seguinte (a primeira após a alteração na regra), para a mesma quantidade de partidas, foram marcados 6373 golos (aumento de 35,6%)”.

Segundo (João Saldanha, 1968), a partir desse momento, “tudo teve de ser modificado, pelo menos onde a lei foi imediatamente compreendida”. Ainda do ponto de vista táctico, o autor (Rodrigo Vergara, 2016) descreve que o meio-campo passou a “lugar de craques. É ali que, trocando passes ou driblando, os bons jogadores avançam com a bola sob controle até o destino final: um remate à distância ou penetração de um atacante por trás da defesa até ao golo. Era do que brasileiros e latino-americanos precisavam”. O autor sustenta ainda que essas culturas de jogo “sempre preferiram carregar a bola e a possibilidade de jogar dessa maneira marcou uma supremacia. Coincidência ou não, o futebol brasileiro como o conhecemos só apareceu depois de 1925. Até então, a a Selecção brasileira só havia ganho um campeonato sul-americano, em 1919. O primeiro reconhecimento mundial veio com o terceiro lugar, em 1938, na Copa da França”. Consequentemente, estruturalmente as equipas também mudaram. O website (História do Futebol) explica ainda que “houve a necessidade de três defesas pelo menos, porque a nova condição do fora-de-jogo permitia que o atacante enfrentasse até um defensor e o guarda-redes. Aumentou a emoção e as oportunidades de golo e evidenciou o talento dos jogadores. Os sistemas tácticos também foram aperfeiçoadas e surgiram outros (…): o famoso WM: o 4-2-4, o 4-3-3, o 5-2-3, etc.“. O autor (João Saldanha, 1968) acrescenta que “aqueles dois espertalhões agora tinham também saber jogar à bola. Não bastava o artifício de um deles adiantar-se. Para deter o ataque era preciso que os três beques se adiantassem ao mesmo tempo, e deixassem apenas o goleiro entre o atacante que iria receber a bola, para colocá-lo em fora-de-jogo. Mas essa era uma manobra perigosíssima. Antes era feita por um só. Agora teria de ser feita por três, numa fração de segundos. Um que ficasse parado e tudo iria água abaixo”.

Como estes factos sucederam há um século atrás, numa sociedade sempre com pressa de viver, em que o presente já se torna um passado longínquo, infelizmente torna-se natural que essa memória se tenha perdido, e que os menos conscientes para a dinâmica do jogo não consigam percepcionar e antecipar o que seria o jogo sem esta lei. Que para nós e tantos outros, se tornou fundamental para o Futebol ser o fenómeno tão amado que é hoje.

Mas a ignorância sobre a regra não conhece tempo. Segundo a (Wilkipédia, 2023), mesmo no momento da sua instituição, já se levantavam vozes contra a regra pois “atrapalharia o espectáculo do futebol”, até porque “os defesas têm justamente a função de defender o adversário na sua própria área”. Ora… noutra perspectiva, será esse o caminho que o Futebol tem percorrido? O pensamento individual a sobrepor-se ao colectivo? O pensamento atomista e mecânico sobrepondo-se ao complexo? Com excepções pontuais dada essa mesma natureza complexa do jogo, todas as variáveis que influenciam o rendimento de uma equipa e ainda o sub-rendimento dos seus adversários, se recordarmos a história das últimas décadas, foram as equipas que abordaram o jogo de forma mais colectiva e complexa que alcançaram mais sucessos e principalmente, de forma continuada. Acreditamos que essa não será só uma das chaves do sucesso no jogo, mas também numa visão mais ampla… também da espécie humana, pois como disse Valdano, “a vida é um desporto de equipa”.

Recentemente, Marco Van Basten, lendário ex-futebolista mas sem grande sucesso no cargo de treinador, foi um dos que defendeu a abolição da regra, num momento, pasme-se, em que era director para o desenvolvimento técnico da FIFA. O que podemos retirar do seu discurso é que comprovou de forma clara que uma coisa é a esfera do saber-fazer, e outra mais profunda, do saber-sobre-o-saber-fazer, tal como abordámos noutro artigo nessa altura. Agora… treinadores que tiveram mais sucesso e que estiveram durante muito tempo tecnicamente ligados ao jogo é que nos causam estranheza como não conseguem antecipar as consequências do que defendem.

É certo que Arsène Wenger (agora também diretor técnico da FIFA!) não propôs o mesmo que Van Basten, mas o que defende terá algumas consequências idênticas à total abolição da regra. A jornalista (Isabel Dantas, 2023) cita o técnico francês:

“Com o VAR a detetar infrações mínimas, beneficiar o atacante em caso de dúvida desapareceu – e isso tem uma razão de ser.”

Sim, tinha. A falibilidade do ser humano, neste caso do árbitro auxiliar. E isso deveria ser algo considerado natural por um ser humano que deveria compreender e abraçar a sua imperfeição. Contudo, numa sociedade dominada pela competitividade, individualismo e egocentrismo, apenas o outro falha. Ou pior. Falha porque vários exemplos de personagens com muito maior responsabilidade social “erram” de forma consciente e como tal, se um árbitro erra e prejudica a equipa, é “óbvio” que tal também tem de suceder de forma deliberada. Mas esta será uma profunda e longa discussão que não desejamos continuar aqui. Contudo, por outro lado, é uma posição legítima defender a abolição total do erro arbitral no jogo de Futebol. Mas não será com esta medida que tal irá suceder. Apenas será modificar as suas consequências. Para quem defende a ausência do erro, bastará ser só um bocadinho mais paciente, pois tendencialmente a tecnologia dará essa resposta no futuro.

“Queremos uma regra que seja justa. Se um jogador está três centímetros fora de jogo na construção de uma jogada e muitas coisas acontecem até ser marcado um golo, é justo anular esse golo?”

Sim… parece-nos… óbvio. Na perspectiva micro e apenas nalguns exemplos, a leitura, o último passe, escondê-lo, o seu timing, a execução perfeita de quem assiste, por outro lado e noutros exemplos, a noção do comportamento dos defensores adversários, a desmarcação, a recepção que é realizada em simultâneo com a leitura do comportamento do Guarda-Redes adversário de forma a decidir rapidamente a finalização, são tão importantes como o que Wenger refere que acontecerá antes. E se o último passe for realizado directamente pelo Guarda-Redes? É menos justo anular esse golo porque não houve “assim tanta coisa” a acontecer antes? É a quantidade de coisas que torna a situação mais ou menos justa? Já vimos, por exemplo, Ederson Moraes a conseguir tais proezas.

E só estamos a olhar para a questão do pondo de vista de quem erra e fica fora-de-jogo. Porque… quem defende, e que de forma também complexa garante comportamentos individuais, sectoriais, inter-sectoriais e colectivos como a leitura, o subir e o retirar profundidade sem perder de vista a bola, quando dar mais largura, quando concentrar, quando cobrir, quando conter e quando pressionar, a coordenação com a restante última linha, a orientação dos apoios, a decisão de quando acompanhar a desmarcação de ruptura adversária e / ou quando voltar a alinhar para procurar colocar um ou mais adversários em fora-de-jogo, apenas nalguns exemplos, não têm igualmente mérito? Se o realiza de forma eficaz, não será de forma igualmente brilhante? E fundamentalmente… isto não é também jogar… bem… futebol? Como tantas vezes se diz… defender também é uma arte. Sejamos francos. Wenger foi um extraordinário treinador que revolucionou o futebol inglês e internacional. Mas aqui fica patente as razões da sua queda, tantas vezes expressas no jogo das suas equipas. A desvalorização de sub-momentos defensivos em relação aos ofensivos.

“Se um marcador está dois centímetros fora de jogo porque tem ombros mais largos do que o adversário, teve realmente a vantagem do fora de jogo para marcar?”

Arsène, o futebol é de todos… e para todos. E esse jogador, para chegar a esse nível também terá imensas qualidades e / ou vantagens. Não existe a perfeição nem saberemos o que isso é. O que sempre sucedeu, desde o alto rendimento até à “rua”, inclusive pela “selecção natural”, é o encobrimento ou desenvolvimento das fraquezas de cada um no jogo. Individual e colectivamente. Se tem ombros mais largos terá, por exemplo, que se posicionar mais atrás e de forma óptima para atacar o espaço em profundidade, terá que conhecer melhor o jogo e antecipar mais rapidamente a situação, a intenção e o timing do companheiro que realiza o passe, terá que conhecer melhor as desmarcações circulares, por onde as realizar e ser melhor a acelerar e na velocidade de deslocamento. A própria recepção também será decisiva para não perder a vantagem obtida em relação ao adversário. Mas ombros mais largos também são uma vantagem noutras situações, como nos duelos, para proteger a bola em situação de apoio frontal, até no plano do detalhe como é o caso da integração numa barreira. Esses centímetros podem fazer a diferença. Se chegarmos à conclusão que são só desvantagens e que o treino de qualidade não está a ajudar, ou estará então na função errada, ou não terá qualidade para o nível do jogo em que se encontra. Mas este argumento não servirá também para o opositor directo que o atacante defronta nessa desmarcação? Nesse caso, ombros mais largos, característica até mais tradicional nos defesas, também poderá colocar um adversário em jogo por centímetros…

“Acho que todos concordamos que não é o caso.”

Não caro Arsène. Nem todos. E diremos até que se compreenderem, pensarem… bem… no jogo e anteciparem o que é provável que suceda e explicarem isso a quem não o consiga fazer, desconfiamos que a maioria rejeitará tal proposta.

“É por isso que estamos a testar aquilo a que chamamos ‘regra da luz do dia’ para o fora-de-jogo, o que significa que teria de haver um determinado espaço entre os jogadores para que uma posição fosse considerada fora de jogo.”

Nesta linha de pensamento, se existem problemas e discussões sobre escassos centímetros em jogo ou fora-de-jogo, mudar a regra desta forma não manterá a questão, só que em vez da zona mais adiantada do atacante, a discussão passaria para os seus segmentos corporais mais recuados? Então isso não manterá a questão sobre a precisão da avaliação e sobre o timing / frame no qual a bola sai do pé do atacante que realiza o passe?

“Isto seria também uma evolução.”

Terminamos os comentários às declarações de Wenger, refutando, para nós, a mais importante. Tal não seria uma evolução. Seria sim, regressão. Regressão táctica aos primórdios do Futebol que descrevemos no início do texto. Isto porque a possibilidade do atacante estar à frente do último defensor, mesmo que por alguns centímetros, torna-se uma enorme vantagem para o último passe, e desta forma isto traria receio aos defensores em se posicionarem mais alto e até para manterem a última linha alinhada. Estar centímetros adiantado é o suficiente para ganhar vantagem, não só espacial, como também para usar o corpo para proteger a posição ganha e impedir o defensor de recuperar para o espaço entre o atacante com bola e a sua baliza, primeira condição da contenção. E nesta situação também o dissuade de tentar alguma intercepção ou desarme, pois uma potencial falta, provavelmente dará direito a expulsão. Perante este cenário, a tendência seria os defensores baixarem e defenderem junto da sua baliza e com isto perderem também a capacidade de pressionar alto no campo e de serem “ofensivas” sem bola. E como um princípio fundamental do jogo passa por procurar “criar superioridade numérica”, a equipa sem bola, quer defendendo colectivamente (zona), quer individualmente (homem) procuraria baixar outros jogadores para esse espaço, formando-se aglomerados de jogadores pelo campo todo. Sem fora-de-jogo ou com esta nova regra do fora-de-jogo, o mais provável seria assistirmos à regressão do Futebol aos seus primórdios.

No fundo a discussão não é sobre melhorar o jogo ou as suas regras. É sobre filosofia e crenças, ainda por cima… confusas. Mais precisamente sobre a prevalência do Futebol “ofensivo” sobre o “defensivo”. Uma vez mais, defender bem (uma obrigação no jogo para quem o quer vencer) não implicará obrigatoriamente defender mais, quer isso represente mais tempo, espaço ou número. Mas, defender bem, até poderá significar atacar melhor. Tal como atacar mais, em tempo, espaço ou número, não significará que se ataque com qualidade. Ah… e Arsène: pode-se “atacar”, defendendo. Inclusive até como algumas vezes as suas equipas no Arsenal nos prensenteavam com os sufocantes pressings a que submetiam os adversários. Não era no sub-momento defensivo Impedir a construção, nomeadamente no pressing, que as suas equipas revelavam graves problemas defensivos. Portanto, considerando a relatividade de “espectáculo” e da “estética” do jogo, a alteração proposta, afinal não “acabaria por favorecer mais o futebol de ataque e, consequentemente, o espectáculo”.

Por outro lado, aqueles que, dentro do campo, sentiram a evolução do jogo e o conseguiram racionalizar tornam-se preciosos para que se perceba o que está realmente em causa. Um desses exemplos é o ex-internacional brasileiro Tostão que, citado por (Rodrigo Vergara, 2016), aponta que o futebol perderia a graça”. Justificando, à imagem do artigo de 2017, que “no meio-campo, em vez de dribles geniais, veríamos poucos atletas disputando bolas perdidas. O futebol ficaria parecido com o basquetebol: jogadas concentradas sob os cestos e lances decididos em detalhes”. Citado pelo mesmo autor, o jornalista Armando Nogueira vai mais longe e defende mesmo que “isso mataria o futebol”.

Como (Vítor Frade, 2017) sustenta, “a regra do fora de jogo não é “uma”. É “a” lei fundamental do futebol. “Espero que a revolta dos treinadores seja suficiente para evidenciar que isto é uma aberração. Neste sentido: passa a ser outra coisa””. Deste modo, a questão à volta do fora-de-jogo não se torna apenas uma questão sobre as regras do jogo. É muito mais do que isso. É não só uma dimensão do DNA do jogo para ele ser o que hoje é, como também levanta questões mais amplas na nossa sociedade sobre a diferença entre o pensamento individualista e o pensamento colectivo. 

Quer no futebol, quer na sociedade em geral, chegamos à conclusão que, neste momento, os historiadores têm um papel “decorativo” e o seu trabalho não é valorizado. A hipótese alternativa não é melhor porque revela uma falta de inteligência absurda. A todos os níveis estamos na iminência de repetir erros do passado. Perante isto, recordamos o poema que Vítor Frade escreveu sobre o tema, já com 7 anos, mas ainda tão actual…

“Não foi Trump ser eleito
Que me trouxe dor ao peito,
Foram as condições a jeito…
Cruyff que diria
De van Basten ou até de Guardiola
Sobre os ‘devaneios-porcaria’
A infecionarem-lhe a tola?
Porquê Cruyff a medida?
Quase só ele foi ‘extraterrestre’
Como jogador
E treinador,
E no entender o jogo está o teste!”

(Vítor Frade, 2017)

Uma validação da proposta de análise qualitativa e o todo… sempre diferente da soma das partes. O exemplo do Benfica com Di María, Neres e… Rafa.

“Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todos são parte do continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa ficará diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do género humano. E por isso não pergunte por quem os sinos dobram; eles dobram por vós”.

(John Donne)

No passado mês de Agosto decidimos finalmente publicar uma proposta de análise qualitativa ao jogo de Futebol, que já vínhamos a desenvolver há alguns anos. Como descrito nesse momento, a mesma pode ser efectuada ao todo (equipa) ou a uma das “partes” (jogadores). Sendo qualitativa, também contemplará a relação infra-equipa e a interação com os adversários, e sendo assim, o termo “partes” acaba por se revelar desadequado. Mas não vamos por aí. No entanto, só procurando compreender essas relações e interações conseguiremos nos aproximar de uma ideia mais real de algo tão complexo como o comportamento táctico em jogo. E relembramos… não o táctico como mais um “factor” do jogo. O verdadeiro táctico enquanto supra-dimensão e que se manifesta pelos comportamentos em jogo da equipa e dos seus jogadores, emergindo da interacção da dimensão técnica, da física-energética, da psicológica-mental e das complementares.

Como exemplo abordámos os jogos que Ángel di María realizou nos jogos de preparação do Benfica. Pelos momentos do jogo chegámos a taxas de eficácia de:

  • Organização Ofensiva: 61%
  • Transição Defensiva: 58%
  • Organização Defensiva: 75%
  • Transição Ofensiva: 78%

Ampliando a escala da análise aos sub-momentos do jogo, o argentino registou as seguintes taxas de eficácia:

  • Construção: 73%
  • Criação: 44%
  • Finalização: 23%
  • Reacção à perda: 75%
  • Recuperação defensiva: 15%
  • Defesa do contra-ataque: Não foram registadas acções neste sub-momento
  • Impedir a construção: 75%
  • Impedir a criação: Não foram registadas acções neste sub-momento
  • Impedir a finalização: Não foram registadas acções neste sub-momento
  • Reacção ao ganho: 82%
  • Contra-ataque: 80%
  • Valorização da posse de bola: Não foram registadas acções neste sub-momento

No intencionalmente breve comentário à análise, procurando abstermo-nos de explicar estes números, escrevemos que “as principais qualidades do Argentino estão intactas. Quer ao nível dos recursos que evidencia, quer em Transição e Organização Ofensiva, mostrando-se ainda particularmente preparado para a Ideia de Jogo de Roger Schmidt e nomeadamente ao papel ofensivo que terá, que poderá potenciar as suas qualidades pelos corredores laterais e central. Parece-nos factual que a análise vai ao encontro do que Di María tem apresentado em competição. Como também nos parece factual que as debilidades que mostra e que têm afectado a equipa e as decisões de Roger Schmidt na escolha do onze também estejam relacionadas com a grande debilidade que apresentou: o momento de Transição Defensiva, em particular, o sub-momento de Recuperação Defensiva. Tal sub-momento apresentou uma taxa de 15% de eficácia nos jogos de treino analisados…

Se um jogador apresentar esta debilidade numa equipa, tal já se torna um problema nos momentos de Transição e Organização Defensiva, contudo, não decisivo e escamoteável na organização geral da equipa. Se em vez que um forem dois ou mesmo três jogadores com debilidades idênticas, já terão efeitos nefastos na mesma perante adversários que as explorem. David Neres, à imagem de Di María, independentemente da sua fenomenal qualidade ofensiva, apresenta os mesmos problemas em Recuperação Defensiva que o argentino. Tal também foi referido noutro artigo sobre as escolhas de Schmidt em determinado momento da época passada. Se bem que estando a jogar noutra função, podemos ainda acrescentar Rafa…

No programa Futebol Total no Canal 11 da passada Terça-Feira, numa brilhante análise, o Pedro não só chegou às mesmas conclusões como explicou tacticamente os porquês destas consequências negativas na equipa. Se uma equipa defender sistematicamente em GR+7 já se torna muito perigoso, que é o que sucede regularmente no Benfica quando João Mário ou Aursnes actuam como “Médios-Laterais”, defendendo em GR+6 torna-se negativamente decisivo contra adversários que atraiam os médios a um dos corredores (nomeadamente aos laterais) para depois explorarem os desequilíbrios criados nos outros corredores.

Se naquele momento, não nos precipitámos em conclusões e deixámos espaço para que Di María actuasse de forma diferente em competições oficiais, a realidade é que isso não aconteceu. Vamos ser sinceros… como seria expectável. Criou-se a ideia no trabalho com as equipas que “o jogo é o espelho do treino”. Se nos parece lógico o conceito, podemos acrescentar que também a competição poderá ser o espelho dos jogos de treino. Os hábitos, o entrosamento e o jogo de qualidade também se criam aí, pois caso contrário não faria sentido serem realizados. Uma vez mais… estamos perante um fenómeno complexo de extrema sensibilidade às condições iniciais. Os jogos de treino, como os treinos no período preparatório, são condições iniciais absolutamente decisivas para o que a equipa e os jogadores irão realizar semanas mais tarde em competição.

Será que mostrar estas análises, em vídeo e depois as taxas de eficácia iria ajudar jogadores como Di María e Neres a crescerem nas suas debilidades? Não temos resposta para isto pois, como o professor Silveira Ramos transmitia nas suas aulas, “cada ser humano é um universo de estudo”. Desta forma, não existindo receitas, pode ser sempre uma ferramenta e um recurso, tal como escrevemos atrás. 

“(…) este modelo também pode ser aplicado a cada jogador à luz da sua actuação individual, tendo por base exactamente as mesmas acções e lógica estrutural de análise. Isto permitirá que a equipa técnica potencie o desenvolvimento individual, ou noutro contexto, que o jogador se consciencialize dos seus erros, lacunas e qualidades, e partir daí, preferencialmente no contexto do clube, mas caso o nível de rendimento em que actua não lhe permita essa possibilidade, que recorra a auxilio de técnicos especializados tendo por objectivo o seu crescimento individual.”

Ainda sobre o todo complexo que é o jogo, a informação resultante da análise qualitativa e a análise do Pedro Bouças mostram também, uma vez mais, que o todo não é a soma das partes. O todo é sempre diferente da soma das partes. Para melhor ou para pior. Por muita qualidade individual que Di María e Neres tenham na grande maioria dos sub-momentos do jogo, as suas enormes debilidades actuais em apenas num deles provoca um “efeito borboleta” com grande potencialidade corrosiva no todo. Como foi referido, a equipa até ficará mais fraca nos momentos ofensivos porque, potencialmente, terá menos tempo a bola pois ao defender com menos jogadores, irá recuperá-la menos vezes. A excepção poderá ser uma fenomenal eficiência e eficácia nos sub-momentos de Transição Ofensiva. Deste modo, quando os dois, mais Rafa, coabitam no mesmo onze, esse todo será mesmo… potencialmente inferior à soma das partes…

“É da problemática da complexidade

a natureza do que é nela interacção,

esfacelar tal realidade

é o que promove a mono explicação.”

(Vítor Frade, 2014)

O erro de Descartes e de… Ricardo Araújo Pereira. O entrosamento, a forma, o flow e a necessidade do pensamento complexo. O caso do Benfica 22/23 de Roger Schmidt.

“(…) é na complexidade humana que se encontra o radical fundamento do futebol, para além da técnica, da táctica e da condição física.”

Manuel Sérgio em (José Neto, 2014)

Ricardo Araújo Pereira atinge a genialidade na sua área, mas também em diversos outros temas. No entanto, naturalmente influenciado culturalmente pelo paradigma de pensamento vigente, e à imagem da maioria de nós onde também se incluem outras figuras que atingiram um elevado nível de conhecimento e cultura geral, o humorista português aparenta ter dificuldades em observar os fenómenos de uma perspectiva complexa. Eventualmente ajudará, tendo em conta a própria sátira que faz de si mesmo, que nos momentos em que fala de Futebol e mais especificamente do Benfica, tornar-se, segundo o próprio, aborrecidamente sério perdendo por vezes até a racionalidade. De qualquer das formas, durante a apresentação do livro Schmidtologia de Luís Mateus, apontou que a direcção do clube devia ter antecipado o que sucedeu no PSV Eindhoven e agido. Que alguém deveria ter aconselhado Roger Schmidt a não dar folgas tão prolongadas. E que todos sabem, porque “está cientificamente comprovado” que tal período de paragem é nefasto para as equipas.

Ora bem… isto coloca-nos logo uma questão prévia. Um treinador de futebol não é o responsável técnico pelo processo da sua equipa? Não é contratado como especialista para o planear e operacionalizar? Para tomar as decisões que achará adequadas em benefício do rendimento da equipa? Não será o mais capaz no clube, pela sua formação, experiência, pela sua proximidade e conhecimento da equipa para o fazer? E se alguém participar nesse processo, ou se tomar as decisões pelo treinador, também será despedido se as mesmas resultarem em insucesso?

Através da forma como a equipa joga ligada nos quatro momentos do jogo, Schmidt mostra, no mínimo, uma sensibilidade para o todo complexo que é o ser humano e consequentemente, o jogo de Futebol. Nessa linha de pensamento, o técnico alemão, como os treinadores que subsistem nos mais altos patamares de rendimento (Ruben Amorim e Sérgio Conceição são outros exemplos por cá), dada a sua relação conhecimento / experiência / sucesso, terão necessariamente, nesta fase de desenvolvimento do jogo e do treino que perspectivar o rendimento de forma complexa. Seja de forma consciente ou inconsciente. O que é que isso significa? Que não separam o “físico” do “mental”, que acreditarão que esse rendimento, tal como a fadiga / desgaste serão alcançados por um todo, que na realidade não pode ser desconstruído em partes, apesar de algumas pistas e indicadores que se poderão obter no processo de forma a possibilitar uma intervenção mais precisa.

Portanto, nada disto, nomeadamente o referido – a tal semana de folga, está realmente “comprovado cientificamente” de que será algo prejudicará a equipa. Porque essa “cientificidade” com que o fenómeno é analisado é mutiladora, e como tal, desfasada da realidade. Deste modo, procurando isolar “partes” e as suas relações de um fenómeno complexo, tem tudo para estar errada. O ser humano não é só físico… Aliás, como já dissemos tantas vezes, o físico é só uma forma simplista e redutora de observar o comportamento humano.

“ (…) de acordo com Gaiteiro (2006) podemos afirmar que aquilo a que chamamos “parte” é apenas um padrão numa teia inseparável de relações, não existindo portanto, partes em absoluto.”

(Joaquim Pedro Azevedo, 2011)

Deste modo, a experiência e sensibilidade de Schmidt face ao contexto, leva-o a decidir, naturalmente pesando os prós e contras, que essa tal folga beneficiará mais do que prejudicará a equipa. Tantas pessoas nas mais diversas profissões, mais ou menos desgastantes, não dizem precisar, ou não fazem mesmo um período de férias a meio do ano para se “desligarem” da rotina e stress acumulado? Claro que que todas as actividades são diferentes. Claro que muitas delas não têm a exigência físico-energética que o Futebol contempla. Claro que a decisão tem riscos. Claro que se realizarmos o exercício teórico de isolarmos esses efeitos físico-enérgicos sobre a adaptação até aí alcançada haverá alguma perda. Mas todas as decisões perante um fenómeno complexo têm riscos. A função do treinador é gerir tudo isso, equacionar as oportunidades e ameaças e procurar a optimização do todo. Focando-se, obrigatoriamente no processo. E não no do PSV Eindhoven. No do Benfica. No “aqui e agora” porque os contextos são todos diferentes.

Não há qualquer linearidade ou receita para se obter sucesso desportivo. No máximo haverão ideias e experiências que levaram a tal, mas sublinhamos… sempre em contextos diferentes. Nem sequer, a paixão, o compromisso e o empenho, unanimemente defendidos, são suficientes por si sós para o alcançar.

Falou-se em “bizarria” perante as decisões de Schmidt. Perguntamos se na altura também não foi bizarro quando os treinadores deixaram de ir correr para o pinhal e para a praia e começaram a trabalhar sempre no campo através do jogo ou de fatias do mesmo? Também não foi bizarro quando Pitágoras anunciou a esfericidade da Terra, ou Copérnico que afinal o Sol não girava à volta do nosso planeta? Por outro lado, autores como Peter Tschiene ainda na década de 80, muitos outros depois disso, e por cá, os professores Monge da Silva, Francisco Silveira Ramos, Jorge Castelo entre outros, defendiam de facto esses períodos, a que chamavam “profilácticos”, nas pausas das competições, ao invés do reforço da “carga” que pressupunha o então paradigma instalado, encabeçado por Lev Matveyev.

“(…) o autor (Peter Tschiene, 1985) defende a manutenção de um alto nível de intensidade durante todo o processo de treino, utilizando fundamentalmente os exercícios especiais de competição, realizando um grande número de competições, tendo como objectivo o aumento da intensidade específica do treino. (…) por outra, a introdução de intervalos específicos “intervalos profilácticos” antes do período de treino, para que o atleta se encontre plenamente descansado para o início de um novo período competitivo.”

(Rui Afonso, et al., 2011)

O próprio (Roger Schmidt, 2023) explicou a decisão pelas mesmas razões, ao defender “que é crucial dar dias de folga aos jogadores neste tipo de calendário competitivo, com mais jogos, mais intensos, com intervalos mais curtos. Se conseguirmos dar algumas folgas aos jogadores, isso é essencial”. Também o treinador, professor e metodólogo (Jorge Castelo, 2022) a propósito do mesmo assunto também apresentou concordância com o treinador alemão. Castelo, formador de treinadores, com vasta experiência e obra no treino de Futebol defendeu ser “absolutamente oportuno, porque começaram a época mais cedo. Naturalmente que é uma situação compreensível, pode ser equacionado o tempo de cinco dias, mas é um tempo que parece ajustado, principalmente para os jogadores mais utilizados. Devem ser monitorizados no sentido do cuidado com o que comem e bebem. São profissionais, há sempre um bichinho de treino que poderão fazer algo durante os dias”.

Por outro lado, Peter Tschiene entre outros autores, também abordam o conceito intensidade, porém, não na perspectiva tradicional ilustrada pelas declarações de Ricardo Araújo Pereira. Elevar a intensidade através de exercícios específicos significa preservar nos mesmos a complexidade do jogo. Como o professor Vítor Frade refere… “reduzir sem empobrecer”. Portanto, estamos no âmbito de uma dimensão que não se circunscreve apenas ao físico-energético. Então… se o jogo é complexo, o treino também tem de o ser. E a tal “forma”? Também não o será? Obviamente que sim. A mesma não passa apenas por “estar bem fisicamente”. Recuperemos ideias de José Mourinho nos “longínquos” anos de 2001 e 2005:

“(…) no “flash interview” ouvi falar de quebras físicas e logo dei por mim a pensar que a minha cruzada vai ser mesmo difícil. É que não consigo mesmo que se perceba que isso não existe. A forma não é física. A forma é muito mais que isso. O físico é o menos importante na abrangência da forma desportiva. Sem organização e talento na exploração de um modelo de jogo, as deficiências são explícitas, mas pouco têm a ver com a forma física.”

(José Mourinho, 2005)

“(…) a forma desportiva é “o jogador estar fisicamente bem, inserido num modelo de jogo que ele domina na perfeição. Quanto ao aspecto psicológico, que é fundamental para poder jogar ao mais alto nível, o jogador em forma sente-se confiante e é solidário e cooperante com os seus companheiros e acredita neles. Ora tudo isto junto significa estar em forma e traduz-se em jogar bem.”

(José Mourinho, 2001)

Assim, nesta perspectiva complexa de forma desportiva, será que fará sentido chegar à conclusão que as quebras de rendimento do Benfica de Roger Schmidt sucederam por um eventual ligeiro declínio de rendimento físico-enérgico, ignorando por outro lado os efeitos positivos que as folgas terão trazido a todos? Sim, a todos. Porque equipa técnica e staff também necessitam de estar “frescos” e mentalmente bem para tomarem decisões e actuar. A equipa e o seu rendimento, também são… o todo. Ou seja… todos os que no processo influem.

E neste domínio, não terá, a saída de Enzo Fernandez também contribuído significativamente para a quebra de desempenho? Até à pausa competitiva para o Campeonato do Mundo, o argentino assumia-se como um jogador que claramente acrescentava outro desempenho à equipa. Tanto que, também por isso, acabou por sair por um valor incrível para o Chelsea. E já que estamos a falar do Mundial, na folga de 10 dias dada em Dezembro (a maior de todas), os jogadores com mais tempo de jogo ao momento até estavam ao serviço das suas selecções, portanto, nem sequer usufruíram desse prolongado período de folga. Tal como na folga de 5 dias no final de Setembro e na de uma semana em Março.

São portando diversas as hipóteses e é por isso que estamos perante um fenómeno complexo. Certezas nunca teremos em relação a nenhuma formulação. Nada na verdadeira especificidade do jogo pode estar “cientificamente comprovado” porque não há uma linearidade no processo. Pelo menos através do actual conhecimento científico. E na situação em causa, que decidindo uma semana de folga, irá, com certeza, implicar uma quebra de rendimento. Diferentes contextos, seres humanos diferentes, equipas diferentes, lideranças diferentes, trabalho diferente, formas de jogar diferentes, etc., etc.,… resultados diferentes.

Posto isto, chegamos à principal motivação deste artigo. Sublinhamos que certezas sobre causas para determinados resultados, quer antes quer à posteriori, num processo / sistema complexo como é o caso do treino e rendimento de um equipa de Futebol, não existirão. Contudo, poderemos procurar explicações mais prováveis. Neste sentido, naturalmente acrescentando o mérito adversário (porque as equipas nunca jogam sozinhas e os jogos que protagonizaram a perda de rendimento do Benfica eram de dificuldade elevada para o Benfica), e também a saída de Enzo Fernández, no fundo até suspeitamos que terão sido de facto as pausas competitivas para as selecções que terão estado por trás dos três momentos de menor rendimento do Benfica. Porém… por razões diferentes.

Assim, tendo em conta o que José Mourinho sustentava, se o entendimento de forma no contexto do Futebol, nos planos colectivo e individual é estar a jogar bem no âmbito de determinado Modelo de Jogo, com os jogadores manifestando grande confiança em si e nos companheiros, recordamos os momentos em que o Benfica, nomeadamente até Dezembro, transparecia essa confiança, cooperação, solidariedade, criatividade, proximidade com o sucesso e até, felicidade. No fundo… o nosso entendimento de qualidade de jogo. Uma qualidade que parecia transparecer “invencibilidade” e que nem grandes clubes europeus, repletos de qualidade individual, conseguiram contrariar.

O autor (Pedro Bouças, 2011) descreve que “(…) não há diversão igual aquela que se retira quando se consegue jogar de olhos fechados. Aquela que sentimos quando as coisas saem com um entrosamento tal que deixamos o adversário só a cheirar a bola (…)”. Também (Antonio Gagliardi, 2023), num artigo recente em que aborda uma eventual nova tendência evolutiva do jogo, chamada de “relacionismo”, vai ao encontro deste pensamento explicando que tais ideias de jogo, que como o próprio nome indica têm por base os jogadores e as suas relações, portanto, o seu entrosamento, realçam “as qualidades, características e emoções dos jogadores, especialmente os mais técnicos, também porque ao ligar os jogadores entre si, torna todos um pouco mais felizes”.

Neste enquadramento, a forma, será, do ponto de vista colectivo a equipa, e individualmente cada um dos jogadores, manifestar qualidade ou entrosamento, conduzindo a desempenho e rendimento, tendo sempre em conta o contexto competitivo / adversários que defrontam. Passa por um entendimento ou “linguagem” comum, que simultaneamente os jogadores apresentam em relação ao jogo, antecipando até o comportamento de colegas e adversários. E não conseguimos deixar de relacionar este fenómeno, a uma escala incrivelmente mais diminuta, com o entrelaçamento quântico, o qual, segundo a (Wikipédia, 2023), “permite que dois ou mais objectos estejam de alguma forma tão ligados que um objecto não possa ser corretamente descrito sem que a sua contra-parte seja mencionada – mesmo que os objetos possam estar espacialmente separados por milhões de anos-luz”.

“É sobre esta representação que os Jogadores retiram do contexto que fundamenta o quesito comunicação, dado que é desenvolvido e elevado posteriormente a um carácter de Linguagem quando aplicado sobre condições mais complexas e inteligíveis (Capra, 1996). Esta linguagem se tornará na Linguagem da Equipa [Específica] que é um tanto mais «fluente» quando os Jogadores se apresentam entrosados. Tendo em conta as diferentes línguas da linguagem específica do Jogo de Futebol, esta Linguagem Específica da Equipa se torna um dialecto, específico a esta microsociedade (Teodorescu, 2003), fortalecendo que um aumento exponencial [quando em condições cada vez mais complexas] de códigos, e por sua vez informações deste «dialecto» a ponto de se tornar incompreensível para outras Equipas da mesma linguagem específica. A pegar nos exemplos do Brasil e Espanha ambos países com uma diversidade cultural muito grande, esta compreensão do dialecto colectivo Específico é a mesma maneira que a permanência e valoração que os Cearenses ou Gaúchos [respectivamente dos Estados do Ceará e Rio Grande do Sul] atribuem ao seu dialecto Específico e os Bascos sua língua basca, sendo ambas atribuídas à língua portuguesa e espanhola mas, um tanto Específica que os próprios brasileiros e espanhóis em momentos não a compreendem tão bem quando falado.”

(Rodrigo Almeida, 2009)

Como (José Neto, 2014) descreve, estar em forma é então “despertar para uma inteligência colectiva, subjacente a uma exigente adaptação às múltiplas situações, tão rigorosas quão simples, que a prática deste belo jogo impõe”. No entanto, se visamos o máximo rendimento, este articulação relacional não poderá inibir as qualidades individuais dos jogadores, mas sim  ponteciá-las, como também não deverá levar, colectivamente, a equipa a se tornar pouco criativa, mecânica e incapaz de se adaptar a novos problemas. Deste modo, o autor (Rodrigo Almeida, 2009), acrescenta que o entrosamento implica que a equipa consiga jogar em “condições Longe-do-Equilibrio e em níveis de complexidade cada vez maiores” e que a leve “a transcender o seu jogar por um grande nível de acções complexas disponíveis, numa forte relação entre os elementos”.

No fundo, a forma e o entrosamento, significam atingir uma fluidez ou estado de flow em que do caos natural do jogo, entre outras qualidades, emergem ordem, organização, cooperação, solidariedade, ambição, inteligência, criatividade, imprevisibilidade, naturalidade, sucesso e felicidade. Como (Óscar Cano, 2022) sustenta, “os jogadores começam a admirar-se entre eles, começam a ver a correspondência que há entre as capacidades de uns e as de outros. Começam a ver quão necessários são os outros para que eu possa fazer o que sei fazer”. Perante esta perspectiva emocional / sentimental, podemos então estar perante a possível justificação para a tal relação… “quântica”.

O treinador e autor (Jorge Maciel, 2012) refere que “quando tais desempenhos se verificam o que se observa é uma fusão intencional e funcional entre os vários Eus (especificidades) que compõem a equipa e que se concretiza pela fluidez e harmonia com que o todo (Especificidade), o jogar da equipa, se expressa”, concluindo que se trata de um processo “no qual partes e todo se harmonizam engrandecendo-se mutuamente”. É então nesse momento que o todo se torna maior que a soma das partes. E uma equipa entrosada, manifesta as partes (jogadores) no todo (equipa), e o todo (equipa / valores e inteligência colectiva) nas suas partes (jogadores / valores / inteligências individuais).

 

“O entrosamento

É ao acontecer

o acontecimento,

o fazer…

Cada um dos entrosados

faz-se útil no instante,

e mais do que é aqui chegados…

Se o colectivo é dominante.”

(Vítor Frade, 2014)

Nesta linha de pensamento a aquisição de entrosamento implica tempo e trabalho, para além de qualidade individual, se bem que mesmo dispondo de pouca, a equipa que atinge tal qualidade colectiva, irá esconder alguma das suas eventuais debilidades individuais.

Voltando ao exemplo do Benfica de Schmidt, a qualidade e fluidez que a equipa foi manifestando não foi excepção. Necessitou de trabalho de qualidade, quer no período preparatório, quer no competitivo e tempo de consolidação. Importa clarificar que este trabalho não é algo que se realiza apenas no campo de treino. Naturalmente que o sucesso e as vitórias catalisaram o processo, mas estas também surgiram pelo trabalho realizado. A relação é naturalmente recíproca.

Perante tudo isto… perguntamos: o que sucede objectivamente nas paragens para os jogos das selecções? A integração, normalmente dos jogadores mais utilizados noutros contextos e processos colectivos diferentes, com outras ideias de jogo, com outros líderes, com outros companheiros, com outros objectivos competitivos, noutro contexto de treino, operacional e organizativo. Já para não referirmos as viagens, estágios e desgaste daí decorrente, que são de facto extremamente influentes em todo o processo.

E se essa integração, numa selecção que treine com qualidade, que apresente sucesso e na qual o contexto individual seja favorável ao jogador logicamente já implicará influências e mudanças individuais relativas ao seu contexto no clube, ou seja, uma perda do entrosamento que os jogadores apresentavam antes desse momento no seu clube, imagine-se então nos casos em que o contexto é desfavorável ou de insucesso.

“A minha resposta foi que os jogadores, às vezes, vão para a seleção e alguns não jogam, estão 10 ou 12 dias no hotel, praticamente não treinam e por isso perdem alguma forma e intensidade. O problema não é só nosso, é de todos os treinadores, e mesmo assim ganham jogos. Não uso isso como desculpa.”

(Roger Schmidt, 2023)

Portanto, Roger Schmidt até partilha a mesma opinião. Como seria expectável de um treinador deste patamar competitivo. Os que atingem este contexto, como referido atrás, possuirão uma sensibilidade tal para o processo que compreendem-no enquanto sistema complexo, no qual qualquer micro mudança poderá resultar num macro impacto. E neste caso nem estamos perante pequenas mudanças. As diferenças entre o que os jogadores fazem nos clubes e nas selecções são na maior parte das vezes, enormes. Deste modo, a perda de entrosamento tem que ser previsível. No caso do Benfica, perante a qualidade de jogo manifestada até às paragens, ainda mais.

Estar em forma, o emergir de entrosamento, ou o flow é como uma relação de duas pessoas apaixonadas. Os problemas tornam-se desafios, os envolvidos conhecem-se de “olhos fechados” e antecipam os comportamentos um do outro. Emanam cumplicidade, fluidez e o bem mais precioso que o ser humano pode alcançar… felicidade. E nesse contexto, se as partes e todo “não se harmonizarem engrandecendo-se mutuamente” não haverá “rendimento”, ou seja… não haverá amor e felicidade. E é principalmente por isso, ao reproduzir no seu contexto específico o comportamento humano em geral, que este jogo é tão especial.

“Devemos redefinir o que é ordem e organização. O intercâmbio de posições que vimos outro dia no Real Madrid-Sevilha é de jogadores que não olham para o banco, que não olham para o treinador, estão a fluir, a jogar. Tenho um filho de 17 anos e já sabes que têm um vocabulário distinto do nosso, mas há uma palavra que me fascina: flow. Aí está o futebol, no flow. Quando vês uma equipa a fluir, que não se detém, que ninguém pensa onde tem de estar, que ninguém está a pensar, mas sim a sentir, estão a jogar… isso é imparável. Isso é ordem. O caos, ou o aparente caos, é uma forma sublime de ordem. O que acontece é que se reduziu a ordem ao que podemos controlar, e isso é distinto: isso não é ordem, é controlo. Uma coisa é a organização de um conjunto de jogadores, que é uma organização em si; a ordem está sempre, sempre marcada por algo que não se pode medir, que não se pode atestar, que se intui, que se sente. É algo que a ciência não pode definir, é o flow. Quando estou a treinar, a minha grande preocupação é misturar os jogadores até encontrar esse flow que me permite ser menos treinador, não dar tantas instruções, não ser tão invasivo no dia a dia. Afinal, o treinador converteu-se, infelizmente, numa pessoa que oferece e emite informação. E o treino não é isso, não é isso o futebol. Estamos a comunicar: eu através da palavra, porque não posso jogar, e eles através da conduta e comportamento.”

(Óscar Cano, 2022)

Exercício A-5TO3A [Subscrição Anual]

Publicamos um primeiro elemento do Programa de Treino. O exercício A-5TO3A. Lembramos que não se trata de um exercício concreto, mas de um tema numa perspectiva micro do Programa, que obedece a determinada lógica da respectiva sessão, do ciclo semanal e do programa ao nível da distribuição de conteúdos. Porém, associado a ele, publicamos também 6 propostas de exercícios concretos. Deixamos uma amostra do que ficará disponível na subscrição anual.

Deixamos alguns excertos da página do exercício A-5TO3A:

(…)

Ainda abordando a duração na sua relação com a pausa, mais concretamente, a densidade, torna-se fundamental que o(s) treinador(es) responsáveis pela operacionalização dos exercícios A-5TO3A e A-5TO3B, num ciclo semanal que sucede à competição, promovam pausas óptimas entre repetições e entre exercícios, para que os objectivos se mantenham em aquisição ou consolidação e paralelamente ajudem na recuperação e não resultem em significativo aumento de fadiga acumulada. Para tal, é fundamental a sensibilidade dos treinadores aos indicadores subjectivos de fadiga e engenho, criatividade e comunicação de forma a manipular a competitividade dos exercícios e os “quandos” e formas de os pausar. Neste contexto, de acordo com a treinadora (Marisa Gomes, 2011), jogadores em estado de fadiga, apresentam-se “contraídos, lentos e com uma enorme incapacidade para jogar com sucesso, com passes errados, com más decisões e com uma execução (drible, remate, desmarcação, etc)”. Segundo Paco Seirul·lo em (Zona Mister, 2016) um jogador fatigado apresenta “músculos tensos, menor tempo de reacção, e menor destreza mental”. Carlos Queiroz citado por (João Romano, 2007), partilha a mesma opinião ao referir “que quando uma equipa tem de enfrentar um jogo sem conseguir uma regeneração completa, do ponto de vista fisiológico e emocional, se ressente, através de menor concentração, menor entusiasmo, menor alegria, menor disponibilidade e menor eficiência. Assim, o surgimento da fadiga reflecte-se, em suma, numa diminuição da intensidade das acções”. Jogadores e outros autores, entre outras qualidades, referem também uma perda substancial de criatividade quando o jogador está sob fadiga, o que se torna facilmente explicável pela menor disponibilidade nervosa para a tarefa, levando o jogador a procurar se concentrar no essencial e no que apresenta padrão e conforto.

(…)

““como” tirar da zona de pressão para manter a posse de bola poderá estar no “proteger, rodar, passar”. Mas, tão importante como os “comos” são os “porquês”. Partindo do princípio que a equipa pretende ter a bola, quando não a tem deve ter o objectivo de a recuperar. Por sua vez, quando a recupera deve ter o objectivo… de a manter! Manter, com a consciência do que se pretende com essa manutenção. Não a posse pela posse, que fique claro. O que se pretende é desequilibrar a equipa adversária.”

(Mauro Santos, 2010)

 

Deixamos algumas ideias para o desenvolvimento deste exercício:

Exercício 166 | A-5TO3A-1 | Impedir a criação + Reação ao ganho + Valorização da posse de bola | Garantir imediatos apoios ao portador + Garantir imediata cobertura ofensiva + Tirar a bola da pressão + Aproveitar os espaços livres + Reorganização ofensiva + Critério na posse

Exercício 167 | A-5TO3A-2 | Impedir a criação + Reação ao ganho + Valorização da posse de bola | Garantir imediatos apoios ao portador + Garantir imediata cobertura ofensiva + Tirar a bola da pressão + Aproveitar os espaços livres + Reorganização ofensiva + Critério na posse

Exercício 168 | A-5TO3A-3 | Impedir a criação + Reação ao ganho + Valorização da posse de bola | Garantir imediatos apoios ao portador + Garantir imediata cobertura ofensiva + Tirar a bola da pressão + Aproveitar os espaços livres + Reorganização ofensiva + Critério na posse

Exercício 169 | A-5TO3A-4 | Impedir a criação + Reação ao ganho + Valorização da posse de bola | Garantir imediatos apoios ao portador + Garantir imediata cobertura ofensiva + Tirar a bola da pressão + Aproveitar os espaços livres + Reorganização ofensiva + Critério na posse

Exercício 170 | A-5TO3A-5 | Impedir a criação + Reação ao ganho + Valorização da posse de bola | Garantir imediatos apoios ao portador + Garantir imediata cobertura ofensiva + Tirar a bola da pressão + Aproveitar os espaços livres + Reorganização ofensiva + Critério na posse

Exercício 171 | A-5TO3A-6 | Impedir a criação + Reação ao ganho + Valorização da posse de bola | Garantir imediatos apoios ao portador + Garantir imediata cobertura ofensiva + Tirar a bola da pressão + Aproveitar os espaços livres + Reorganização ofensiva + Critério na posse

Exercício A-5TO2A [Subscrição Anual]

Publicamos um primeiro elemento do Programa de Treino. O exercício A-5TO2A. Lembramos que não se trata de um exercício concreto, mas de um tema numa perspectiva micro do Programa, que obedece a determinada lógica da respectiva sessão, do ciclo semanal e do programa ao nível da distribuição de conteúdos. Porém, associado a ele, publicamos também 6 ideias para exercícios concretos. Deixamos uma amostra do que ficará disponível na subscrição anual.

Deixamos alguns excertos da página do exercício A-5TO2A:

(…)

O fundamental passará por garantir a propensão desses princípios do Sub-Momento Reação ao Ganho e alguma variabilidade comportamental na concretização dos mesmos. Isso passará muito pelas regras de pontuação. Se por exemplo, o ponto for alcançado no momento de transição ofensiva garantirá esse maior foco dos jogadores, por outro lado, se é alcançado, por exemplo, saindo de da área de jogo em condução, passe ou finalizando em mini-balizas irá dessa forma promover outra riqueza comportamental preparando os jogadores para diferentes problemas. Deste modo, as variantes do exercício e a repetição do mesmo em ciclos posteriores deverá ter em conta esta preocupação.

Ao nível estrutural das equipas o exercício estimula uma dimensão grupal, não elevando nesta perspectiva a sua complexidade. Ou seja, não é imposta uma estrutura ou sub-estrutura posicional, deixando aos jogadores a auto-organização, nomeadamente ao nível posicional dentro de cada equipa. Contudo, se assim o entender como necessidade, e também dependendo do nível etário do contexto em questão, o treinador poderá solicitar a determinados jogadores, por exemplo, Médios-Centro, que estejam mais tempo na zona central das áreas de jogo, colocando-os assim mais próximos das circunstâncias que irão encontrar em jogo formal.

(…)

Assim, salvo alguma excepção estratégica para determinado treino ou para preparação de determinado jogo em contextos de rendimento, como defendemos que no início da semana os grupos / equipas na sessão deverão ser heterogéneos na perspectiva dos mais ou menos utilizados ou do rendimento que apresentam no momento, o treinador deverá promover constante variabilidade dos mesmos grupos / equipas ou mesmo manipulá-los em função de um eventual equilíbrio ao nível do rendimento colectivo. Indo mais longe nesta ideia, registando o trabalho realizado, a equipa técnica poderá identificar que jogadores estarão mais desnivelados neste trabalho, e perante isso a organização dos grupos / equipas poderá até potenciar sucesso ou insucesso levando a maior ou menor volume de trabalho de reforço para determinados jogadores. É um exemplo de preocupação ao nível do detalhe. Por outro lado, a realização deste trabalho entre exercícios promoverá também uma importante descontinuidade na intensidade e variabilidade do estímulo na sessão em causa, que como já vimos, torna-se muito importante neste dia do ciclo semanal.

(…)

“na crucial fase de transição (posse-perda-posse), os jogadores têm de saber «fazer a melhor escolha», e como elucida Rui Faria (2002): “evitando o passe de primeira estação, procurando que o passe não permita que a pressão que estava próxima, se transfira rapidamente para o colega que recebeu a bola” [exemplo de um subprincípio], e «adoptar a melhor posição» [que pode implicar troca de posições específicas], mais eficaz e possível, quando os jogadores estão identificados com os comportamentos e acções de uma outra posição (Rui Faria, 2002)

(Abílio Ramos, 2005)

(…)

Deixamos algumas ideias para o desenvolvimento deste exercício:

Exercício 160 | A-5TO2A-1 | Reação ao ganho + Reação à perda | Garantir imediatos apoios ao portador + Tirar a bola da pressão + Aproveitar os espaços livres

Exercício 161 | A-5TO2A-2 | Reação ao ganho + Reação à perda | Garantir imediatos apoios ao portador + Tirar a bola da pressão + Aproveitar os espaços livres

Exercício 162 | A-5TO2A-3 | Reação ao ganho + Reação à perda | Garantir imediatos apoios ao portador + Tirar a bola da pressão + Aproveitar os espaços livres

Exercício 163 | A-5TO2A-4 | Reação ao ganho + Reação à perda | Garantir imediatos apoios ao portador + Tirar a bola da pressão + Aproveitar os espaços livres

Exercício 164 | A-5TO2A-5 | Reação ao ganho + Reação à perda | Garantir imediatos apoios ao portador + Tirar a bola da pressão + Aproveitar os espaços livres

Exercício 165 | A-5TO2A-6 | Reação ao ganho + Reação à perda | Garantir imediatos apoios ao portador + Tirar a bola da pressão + Aproveitar os espaços livres

Dawn of the Dead

“A única forma de construir uma equipa é reunir jogadores que falem a mesma língua e que saibam jogar em equipa. Não se consegue atingir nada sozinho e, se o fizer, isso não dura muito tempo. Costumo citar o que Michelangelo disse: ‘O espírito guia a mão’.”

(Arrigo Sacchi)

Tal como o filme Dawn of the Dead de 1978 foi alvo de um remake por Zack Snyder em 2004, hoje assistimos no Futebol a um remake do método defensivo individual. E tal como nos filmes, estamos perante um fenómeno “morto-vivo” e os momentos de “terror” vão-se acumulando dentro do campo.

“Quem marca ao homem corre por onde o adversário quer. Essa caçada tem por fim capturar o inimigo, mas o meio usado converte o caçador em prisioneiro.”

(Jorge Valdano, 2002)

Vários treinadores e analistas defendem o regresso da defesa individual com argumentos que favorecem uma maior agressividade e capacidade pressionante das equipas e de pressão sobre jogadores considerados fundamentais na Construção e Criação adversária. Este último também ele um argumento clássico, como a responsabilização individual de quem defende, entre outros mais. Ora, jogadores e equipas que individual e colectivamente tenham essa predisposição e maior agressividade no momento defensivo podem esconder em alguns jogos ou momentos as razões para a falência da ideia. Tal como sucedeu no passado. Na actualidade, a recuperação do método também apresenta sucesso, a espaços, por ser algo diferente e inovador do que se tornou norma. Consequentemente muitas equipas não se apresentam preparadas para defrontar adversários que defendam dessa forma.

Seja na preparação de uma equipa de Rendimento, mas também em debilidades identificadas do processo formativo dos jogadores, que julgando a Defesa Individual totalmente ineficaz e mesmo, morta, determinadas decisões técnicas não confrontam os jogadores com esse género de problemas. Mas evidentemente, de forma mais basilar, este fenómeno também revela lacunas ofensivas no processo formativo não só nos princípios específicos da Mobilidade e Espaço, mas também na própria Progressão / Penetração. Por outro lado há que reconhecer que tudo o que é novidade e pensamento divergente (neste caso apenas aparentemente), trará problemas e desafios. Mesmo algo que se considerava menos eficiente e mesmo em vias de extinção.

Hoje, determinados Modelos, assentes numa Ideia de jogo posicional muito rígida e cristalizada, gerando pouca mobilidade e permutas entre jogadores apresentam natural dificuldade contra equipas que defendam individualmente adversários directos, cortando assim todas as soluções de passe, ou pelo menos as mais próximas e seguras. Naturalmente nos casos onde, individualmente, a qualidade dos jogadores é similar. Nos outros casos, potenciar duelos de 1×1, será natural que o jogador de maior qualidade impere. Um dos melhores jogadores de todos os tempos, Diego Armando Maradona citado por (Tobar, 2010), vai ao encontro desta ideia e explica que “com os anos, compreendi que eu gostava mais que me marcassem homem a homem porque me livrava facilmente deles e ficava livre. Ao contrário da marcação a zona que era muito mais complicado”. É muito provável que estivesse aí a incluir o AC Milan de Arrigo Sacchi, equipa que defrontou em Itália. Noutro exemplo, porém colectivo, a Holanda de 74, de Rinus Michels, fez verdadeiramente diferente da norma naquele momento da evolução do jogo, e entre outras qualidades, e uma das razões para o seu reconhecido sucesso, perante a enorme mobilidade com que os seus jogadores actuavam, acabou por criar grandes problemas e mesmo colocar em causa o método individual.

Segundo o autor (Jorge D., 2011) e reforçado pelas situações retratadas do AC Milan actual, quem defende com referências individuais, “em vez de se preocupar em cortar espaço ao portador da bola, condicionando assim a sua decisão e roubar a profundidade da desmarcação, decide acompanhar as desmarcações que se aproximam da baliza, pelas quais foram arrastados, originando assim o alargamento do espaço entre linhas assim como dos indivíduos da própria linha (Defesas-Centrais e Defesas-Laterais)”. Também de acordo com (Pedro Bouças, 2010), “equipa que marca homem a homem, torna-se na presa, quando o adversário abusa do princípio da mobilidade. Move-se por onde o adversário quer”.

Porém, apesar de casos de pontual sucesso, isso não quer dizer, numa visão macro do fenómeno, que métodos individuais tragam igual ou mais rendimento que métodos colectivos. Existe por vezes a tendência de afirmar que não há coisas melhores nem piores no Futebol. Tal como na vida. Mas se a realidade é complexa e não linear, e tudo tem pelo menos um limiar mínimo de diferença, então, coisas, acontecimentos, fenómenos, decisões, etc… diferentes, irão produzir resultados… diferentes. Por vezes até, e trazendo o clássico exemplo da borboleta da Teoria do Caos, produzindo resultados muito díspares perante acontecimentos aparentemente apenas ligeiramente diferentes. Se reconhecidamente estamos no âmbito de um sistema complexo e dinâmico, então estamos perante extrema sensibilidade às condições iniciais. Portanto, nos Desportos… Colectivos, tal qual vemos a sociedade em geral, um método de jogo, seja defensivo ou ofensivo, Individual e não… Colectivo, irá trazer problemas, ineficiência e ineficácia, dado o desfasamento das necessidades da realidade em causa. Tal como na sociedade. Até podemos ter sucesso pontual individual, mas não iremos subsistir a prazo enquanto espécie. Deixamos também a questão no âmbito da Ciência Militar. Será que algum General alguma vez definiu uma estratégia para um confronto assente no individualismo? Mesmo ao nível mais elementar dos exércitos, do ponto de vista estratégico ou táctico, se possível, o pensamento é no mínimo, grupal…

Nesta linha de pensamento, recuperando ideias ainda actuais, na opinião de (Pedro Bouças, 2011), “DEFENDER O QUÊ? deve ser a primeira pergunta que se deve colocar, quando se pretende definir o método defensivo. Se não há certo ou errado, garantidamente que há melhor e pior”. O autor sustenta que “a melhor resposta é seguramente, a que afirmar que se deve defender a baliza. Não o adversário. A baliza. O posicionamento defensivo que se centra no tapar o caminho para a sua baliza, é francamente melhor que aquele que pretende defender os adversários”. Johan Cruyff reconhecido pelas suas ideias ofensivas, torna expressa a interdependência dos momentos ofensivos e defensivos, ao defender que a qualidade defensiva é directamente influenciada pela quantidade de espaço que um jogador tem que defender. Deste modo, o lendário jogador e treinador holandês descreve que se um jogador tem de defender o campo todo, será potencialmente um terrível defensor, porém se defender um espaço reduzido poderá ser um bom defensor, sustando assim ser tudo uma questão de espaço! Também o treinador português (Carlos Carvalhal, 2010) reforça a ideia através da sua experiência como jogador: “fui defesa central e percebo muito bem esta posição! Mais importante que perseguir adversários e fazer carrinhos nas laterais do campo, é absolutamente necessário saber guardar o seu espaço e não permitir que qualquer adversário (não só os avançados) possa entrar nesse espaço para fazer golo.

“No segundo ano de iniciado no Braga, começámos a experimentar esta nova solução porque, tanto eu como o meu novo colega de equipa (Boticas), não éramos o protótipo do libero e possuíamos características idênticas. As vantagens eram muitas porque dividíamos o espaço: se o avançado viesse para a esquerda, eu marcava e ele fazia cobertura; se fosse para a direita, ele marcava e eu fazia cobertura. Sentíamo-nos confortáveis a jogar assim, corríamos menos e tínhamos a convicção de que era mais complicado para o avançado contrário, porque tinha os espaços bloqueados. No fundo, a grande diferença era que não andávamos atrás do avançado, ele vinha ter connosco. Começámos também a entender que, embora exigisse mais concentração no fechar dos espaços, criava muitas dificuldades às equipas que pretendiam que outros jogadores fizessem desmarcações de rutura em função da mobilidade do avançado. Era o início do entendimento do que era “Jogar à zona”. Nessa altura, comecei a perceber a importância de “fechar espaço” para quem está a defender e “criar espaço” para quem está a atacar. A relação com os laterais era também importante para fechar os espaços. Pelo facto de sofrermos alguns golos, porque o defesa do lado contrário marcava em cima o adversário e existia um grande espaço entre o defesa central e este, fui tentando ajudar a organizar as minhas defesas. (A preocupação dos treinadores com a defesa não era uma prioridade, na altura! Se cada um marcasse o seu, a defesa estava organizada — não estava ainda desenvolvido o conceito de zona). Assim, ia sugerindo aos defesas laterais que fechassem o espaço interior, quando a bola estava do lado contrário, e tentava explicar as vantagens de fechar esse espaço. Umas vezes, era entendido. Mas, muitas vezes, o receio de deixar o extremo sozinho sem marcação era tal que esta tarefa era impossível. Até porque, na altura, existia muita responsabilização individual por falta de marcação ao adversário direto. Recordo-me, uma vez, de insistir com o defesa esquerdo para fechar o espaço entre mim e ele, quando a bola estava no lado contrário. Ele ia-me dizendo, “Carlos eu fecho e, depois, o extremo fica sozinho! Se ele marca golo ou cruza, o treinador vai-me dar cabo da cabeça!” Eu lá lhe ia explicando que era mais importante fechar os espaços interiores, porque tinha sempre tempo para pressionar o seu adversário direto enquanto a bola viajava de um lado para o outro.”

(Carlos Carvalhal, 2014)

O relato de Carlos Carvalhal torna-se precioso, mas não novidade. Se nos recordarmos do Futebol que jogávamos na “rua”, sem treinadores, em regime de auto-descoberta, na interacção que estabelecíamos com os nossos companheiros e adversários, o próprio jogo ensináva-nos que o melhor caminho para defender era de forma… colectiva. E dificilmente nos ensinava outro. Havia sempre alguém que tinha assistido, ao vivo ou na televisão, a um grande desempenho de um jogador em marcação individual, ou ouvido adultos a comentar algo desse género, e como bom imitador de ídolos tal qual todos éramos, informava… “hoje marco o João que é o melhor jogador deles!”. Perante a falta de liberdade, desgaste, e condicionamento que a missão lhe proporcionava nos seus momentos ofensivos, ao fim de 5 minutos de jogo, desistia do “João” e empenhava-se em realmente… jogar. O jogo ensinava-nos então, aquando da bola na posse do adversário, que as prioridades deviam ser a nossa baliza, a bola, os espaços, as linhas de passe mais próximas, a posição dos nossos companheiros e finalmente a dos nossos adversários. Jogando sem fora-de-jogo como usualmente sucedia na “rua” e no Futsal, a única excepção seria o adversário esperto que se colocava entre o nosso último defensor e o nosso Guarda-Redes. Nesse caso esse precisava de maior vigilância.

Analisando o Futebol de uma perspectiva macro, e mesmo a evolução científica e filosófica em geral, somos levados a acreditar, que na sociedade dos adultos, impregnada pelo pensamento cartesiano, analítico, mecânico, e pelo reducionismo e atomismo clássicos, tal qual muitas outras ideias como também se torna exemplo a evolução dos métodos de treino, a defesa individual foi algo que o treinador trouxe para o jogo, numa tentativa de simplificar o complexo, de dividir o indivisível, de controlar o incontrolável, de reduzir empobrecendo… Neste enquadramento, ao contrário do que o próprio jogo nos ensinava, o treinador passou a última prioridade: os adversários, para o topo da lista. Indo mais longe, influenciado também pela clássica visão egocêntrica da realidade, na qual o homem tem que estar sempre no centro de tudo.

Mas na verdadeira realidade, a… complexa, temos como consequência a também não linearidade da evolução. Deste modo, também num contexto de esquecimento de uma história assim não tão antiga, mas fundamentalmente como vimos atrás, pela renovidade que a ideia traz ao jogo e sucesso pontual que promove, também não é de espantar estarmos, na nossa opinião, a dar um passo atrás. Esperando sempre que, à boa imagem do que tem sido até agora a história evolutiva da nossa espécie, seja para posteriormente darmos dois à frente.

O autor (Nuno Amieiro, 2004), na sua tese e livro sobre a Defesa Zona, expunha que “no seu livro, Jorge Valdano falava apaixonadamente sobre a «zona», parafraseava Menotti (“A zona é liberdade”), Maturana (“A zona faz da defesa a arte de atacar”) e deliciava-me com as descrições da «zona» inteligente, agressiva e harmoniosa do Milan de Sacchi. A «zona» de que Valdano falava aproxima-se da «zona» com que tive, pela primeira vez, contacto, aquela a que, superficial e esporadicamente, o professor Vitor Frade fazia referência nas aulas”. Neste sentido, trazemos outra ideia. A Defesa Zona, induz muitas vezes as pessoas em erro, pela interpretação literal que dela fazem. Defender Zona não implica defender só zonas ou espaços, como vimos atrás. Implica uma preocupação até maior com outras referências do jogo como a nossa baliza e a bola, e ainda outras como as linhas de passe mais próximas, companheiros e adversários. Mas acima de tudo uma preocupação pelo sistema dinâmico que o jogo representa, e dessa forma pela implicitude da interacção. Como Vítor Frade sustentou no seu projecto de Doutoramento em 1990: A interacção, invariante estrutural da estrutura do rendimento do Futebol. A Defesa Zona implica então um pensamento… colectivo. Logo, também em contra-ponto à Defesa Individual, não será mais apropriado lhe chamarmos… Defesa Colectiva?

Novamente (Nuno Amieiro, 2004), parece concordar e apresentar argumentos reforçando essa ideia ao descrever que “são três pressupostos tácticos fundamentais desta forma de organização defensiva. São estas referências defensivas colectivas que, quando correctamente perspectivadas, nos permitem obter superioridade posicional, temporal e numérica na defesa. No fundo, ao manifestar-se, a «zona» expressa:

  • Um «padrão defensivo colectivo»;
  • Complexo, é verdade;
  • Mas também dinâmico e adaptativo;
  • Compacto, homogéneo e solidário.

Serão estas «propriedades», emergentes da coordenação colectiva, a dar verdadeira coesão defensiva à equipa. Esta forma de organização defensiva revela-se, como tal, não só a mais eficaz defensivamente, mas também a que, de longe, melhor responde à «inteireza inquebrantável do jogo». Revela-se, assim, uma necessidade face à «inteireza inquebrantável» que o «jogar» deve manifestar. Não é de estranhar, portanto, que este seja o «padrão defensivo» das equipas de top”.

Arrigo Sacchi, a propósito do seu AC Milan, relata que conseguiu “convencer Gullit e Van Basten dizendo-lhes que cinco jogadores organizados seriam capaz de vencer dez jogadores desorganizados. E eu também consegui provar isto. Peguei em cinco jogadores, Galli na baliza e depois Tassoti, Maldini, Costacurta e Baresi. Do outro lado, coloquei 10, Gullit, Van Basten, Rijkaard, Virdis, Evani, Ancelotti, Colombo, Donadoni, Lantignotti e Massaro. O grupo composto por 10 elementos tinha 15 minutos para marcar contra os meus organizados. Só havia uma única regra, se nós recuperamos a bola, a outra equipa tinha de começar desde trás novamente, 10 metros antes do meio campo. Continuei a fazer. A equipa com 10 elementos nunca conseguiu marcar, nem uma vez”. Não queremos imaginar Sacchi, e mesmo Capello, a assistirem à “organização defensiva” do actual AC Milan…

“Apesar de estarmos na II Divisão, fomos o primeiro clube alemão a jogar em 4x4x2 sem libero. Vimos um vídeo muito chato, mais de 500 vezes, com o Sacchi a treinar a defesa, sem bola, com o Maldini, Baresi e Albertini. Pensávamos que se os outros fossem melhores tínhamos de perder. Depois aprendemos que tudo é possível, podemos bater os melhores usando táticas.”

(Jürgen Klopp, 2013) sobre a influência de Wolfgang Frank, que treinou Klopp no Mainz e era um admirador dos métodos de Arrigo Sacchi no AC Milan

“Porque é que David Neres não é a solução que o Benfica precisa nesta fase da época?”

Roger Schmidt, tem na gestão da titularidade David Neres, um grande desafio transversal a todos os treinadores. Na perspectiva do “mapa” do jogo, ou seja, vendo o jogo à luz dos seus momentos, o treinador Alemão com certeza reconhecerá ao brasileiro tremendo potencial em Transição e Organização Ofensiva e lacunas em Transição, mas principalmente em Organização Defensiva. De facto Neres, apresenta nesta perspectiva, um grande desequilíbrio nas suas qualidades e parece-nos a principal razão para que Schmidt o esteja a manter fora do onze, procurando uma abordagem inicial aos jogos mais equilibrada.

Neres mostra inequivocamente qualidades invulgares em sub-momentos de criação e de contra-ataque, especificamente no 1×1, criatividade, no último passe, cruzamento, na condução diagonal interior, na combinação e na finalização. Porém, a sua reactividade na perda da bola não é constante, a recuperação defensiva lenta, o equilíbrio emocional em momento defensivo também não é o ideal e em momentos de pressão, fá-lo por vezes com insuficiente intensidade. Intensidade… fruto do deslocamento e agressividade, mas antes disso, do critério que se garante a essas acções.

Deste modo, estamos perante o dilema que retrata a decisão entre o “clássico” jogador “da rua”, com todas as suas raras qualidades e as suas debilidades, e um jogador mais equilibrado sob todos os pontos de vista, competente nos momentos defensivos, criterioso com bola para que a equipa não a perca com facilidade e “viaje junta”, não só de forma a permitir constantes múltiplos apoios ao portador da bola, mas também para que quando de facto a perca seja mais fácil a sua imediata recuperação, dada a densidade de jogadores que coloca nesses espaços. “Viajar juntos” tal qual Alejandro Sierra se referiu ao Sevilha de Sampaoli, mas podemos acrescentar o Barcelona de Guardiola, o Ajax de Louis van Gaal entre outros exemplos.

Daí que a decisão de Schmidt seja colocar jogadores originários ou igualmente com perfil de Médios-Centro na funções de Médios-Laterais. Por isso, e porque na realidade, em Organização Ofensiva, estes jogadores acabam por apresentar, na maioria do tempo, posicionamentos interiores, nos quais Neres também apresenta muita qualidade, porém, parece-nos que é pelos corredores laterais que o brasileiro apresenta maior potencial de criação, nomeadamente nas competições internas com equipas que se fecham muito e por vezes bem na maior parte dos jogos.

O desafio maior seria acrescentar as qualidades em falta a Neres, porém, perante o perfil que conseguimos identificar, será um objectivo extremamente ambicioso e que trará outros riscos. Por exemplo, Jorge Jesus tem neste domínio, no seu histórico, exemplos de sucesso, mas também acumula outros que acabaram por ditar a perda de inúmeros talentos de perfil idêntico nas suas equipas. Para ambos os casos, muito à custa de uma Liderança autoritária e autocrática, longe da que Roger Schmidt protagoniza. No fundo, independentemente de também dever ser o papel do treinador de Rendimento, formar e potenciar, o seu primeiro objectivo deverá ser fazer render e gerir os seus valiosos recursos. Ao invés do treinador de Futebol de Formação.

Schmidt tem optado por outro caminho sempre que dá a titularidade a Neres. Coloca-o como Avançado, o que implicará menos riscos nos momentos defensivos da equipa. Aliás, tal como fez com Rafa. Mas como Ramos e Rafa têm realizado as eventuais melhores épocas das suas carreiras, a vida de Neres no que toca à titularidade da equipa, não se apresenta fácil.

 

Opinião solicitada ao Ricardo Ferreira num artigo do MaisFutebol sobre a situação de David Neres no actual Benfica de Roger Schmidt. Artigo completo em:

https://maisfutebol.iol.pt/benfica/liga/porque-e-que-david-neres-nao-e-a-solucao-que-o-benfica-precisa-nesta-fase-da-epoca