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Coragem… Específica

Haverá tanto a dizer sobre o discurso de Paulo Fonseca, após uma derrota de “digestão” difícil. Porém, mais do que palavras, interessa-nos aplaudir. Pela mensagem que transmite aos seus jogadores e restante clube, mas não só. Pela mensagem que nos deixa a todos. Porque como o próprio Paulo Fonseca explica, entre um golo sofrido e uma derrota, e todos os outros ganhos a curto e longo prazo há um claro balanço positivo. Quer queria, quer não, também pela homenagem que acabou por fazer a Johan Cruyff.

Isto leva-nos a outra questão… a tão aclamada Especificidade e a própria reflexão sobre a Intensidade que temos realizado neste espaço.

A preocupação pela Especificidade impôs a táctica como nuclear no treino dos Desportos Colectivos, dada da caracterização do seu rendimento. Numa primeira fase dessa evolução, como uma táctica abstracta ou geral da modalidade, numa segunda fase, como uma táctica específica de um determinada ideia ou Modelo de Jogo. Surgia no horizonte o fim do treino físico descontextualizado, e a sua tentativa de adicionar rendimento aos jogadores.

Numa linha similar, apesar de menos discutida, surge a dimensão Psicológica-Mental. Sempre se procurou adicionar “mentalidade” por palavras e pelos discursos nos balneários. A coragem é um bom exemplo, mas também podemos falar em agressividade, solidariedade, da própria concentração, etc.. Se acreditamos que a forma de estar do treinador, os seus actos e as suas palavras são fundamentais na liderança que exerce, nos valores que incute e no próprio jogo que idealiza, também acreditamos que por si só, diluem-se no processo, nomeadamente a longo prazo. Pior ainda perante determinadas ideias para o jogo para a sua equipa, antagónicas a esses valores.

Assim, coragem… Específica, é isto mesmo que Paulo Fonseca defende até ao derradeiro momento… uma determinada ideia de jogo, também ela corajosa. Como (Neto, 2012) defende, acontece uma variedade de reacções humanas ao mesmo tipo de factores e de situações porque não é reacção o que propriamente se dá, mas, antes, uma acção – e esta é iniciada intencionalmente por um todo que, de todo, jamais o é da mesma forma que o todo de outro: é o todo que enforma as partes e não estas que determinam aquele“. Portanto, é a ideia de jogo que tem de levar à coragem e não a coragem abstracta à qualidade de jogo.

Uma vez mais, dada a realidade complexa que nos envolve, é fundamental não a esfacelar e aproximar as nossas ideias e conceitos da tal Especificidade que a realidade exige. A Intensidade, é outro bom exemplo.

Para fazermos uma equipa funcionar, para fazermos uma verdadeira equipa, nós temos que ter os onze jogadores com a coragem de ter iniciativa, terem a coragem de quererem a bola, a coragem de quererem assumir o jogo”.

Paulo Fonseca, no programa ReporTV, “O Jogo”

“O indivíduo todo, inteiro

emerge da cultura táctica

que sustenta o bom jogo, primeiro

no jogar o jogo como prática!”

(Frade, 2014)