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Conhecimento do Jogo & Modelo de Jogo

“(…) enquanto sozinho no seu gabinete pensava sobre o que mudar, mas convencido de uma coisa: a minha ideia, a ideia de Cruyff, teria que ser mantida. Eu manteria-a, por mais difícil que fosse. E o suporte estava prestes a ser proveniente de uma fonte inesperada… Não parava de pensar sobre isso, quando alguém bateu na porta do meu gabinete…

“Pode entrar.”

“Olá, mister”.

Uma figura pequena entrou pelo gabinete dentro e falou calmamente. “Não se preocupe, mister. Nós vamos ganhar tudo. Estamos no caminho certo. Continue assim, ok? Estamos a jogar muito e a adorar o treino… Por favor, não mude nada.”

Pep Guardiola, citado por (López, et al., 2016)

Como fizemos questão de sublinhar no início deste projecto, o conhecimento que procuramos construir, terá o intuito de estar em permanente evolução, evitando cristalizar-se, e eventualmente consolidando-se como alguns dogmas idênticos aos que procuramos derrubar. Essa missão, em nosso entender, não só é fundamental, como se constitui no principal objectivo do projecto Saber Sobre o Saber Treinar.

Exposto na Introdução do projecto, sentimos uma primeira necessidade de caracterizar, dividindo… “sem empobrecer”, as principais dimensões na intervenção do treinador. Mas não só, e estamos a procurar expandir o conhecimento a outras funções técnicas que contribuem para o desenvolvimento da equipa. Nesse âmbito chegámos à Liderança, Metodologia e Modelo de Jogo. O Modelo de Jogo constituiria-se como o máximo conhecimento teórico sobre o jogo que conseguiríamos reunir.

Nesse domínio específico seria reunido, conhecimento do jogo, da sua sistemática, história e contexto cultural, que permita idealizar uma forma rica de disputar o jogo, que traga à equipa organização, mas que simultaneamente não a torne mecânica e incapaz de dar resposta à aleatoriedade e caoticidade do jogo. E ainda, que essas ideias que tenham também em conta a sua adaptação ao tal “espaço” / contexto e “tempo” / evolução do jogo.

Neste trajecto evolutivo, começámos a sentir que essa dimensão da intervenção do treinador seria vasta e que o conceito de Modelo de Jogo seria-lhe desajustado, dado tratar uma realidade mais específica. Recorrendo à (Wikipédia, 2019) um modelo científico trata-se de “uma idealização simplificada de um sistema que possui maior complexidade, mas que ainda assim supostamente reproduz na sua essência o comportamento do sistema complexo que é o alvo de estudo e entendimento“. Assim sendo, o Modelo de Jogo será uma leitura da realidade. Portanto, uma Ideia de Jogo, alicerçada no tal conhecimento do jogo, em interacção com o contexto onde é operacionalizada.

O professor Vítor Frade, em entrevista a (Tamarit, 2013), explica este entendimento. “Duas coisas distintas, uma coisa é a ideia de Jogo e outra coisa é o Modelo de Jogo. Pode parecer um paradoxo, uma coisa estranha, mas antes está a Ideia de Jogo e só depois está o Modelo de Jogo. O Modelo é o que se sujeita também às circunstâncias. O Modelo é tudo porque é a Ideia de Jogo mais as circunstâncias, e as circunstâncias podem relativizar aquilo que eu faria noutras circunstâncias, mas em termos de padrão é igual! Eu quero jogar mais ou menos assim. Agora, se eu fui treinador do Barcelona e depois vou treinar uma equipa da quarta divisão… é diferente, eu quero que passem de primeira e eles não o fazem nem de pistola na mão. A bola não se assusta! As pessoas têm que ter a inteligência suficiente. Estou a falar a Top. Acha que havia muitas diferenças do Chelsea para o Inter? Não há, não há. Há mais de jogo para jogo em função das circunstâncias… mesmo no Porto, só que o Porto não tinha Zanetti, não tinha o não sei quê, e tenho que ver isso. Agora a Ideia de Jogo é uma coisa, a fabricação da Ideia tem a ver com as circunstâncias e esse é o Modelo de Jogo, o que implica também a dinâmica existencial dos Princípios Metodo­lógicos. E o Modelo é tudo, até algo que às vezes desconheço, e que me «incita» à modelação, porque se eu não o contemplei, lixei-me!“.

O autor (Azevedo, 2011) reforça esta posição, explicando que “o Modelo de Jogo em Futebol é normalmente mal-entendido pelas pessoas. Fala-se dele como sistema de jogo implementado ou a estrutura inicial que a equipa apresenta em campo. No entanto, o Modelo de Jogo é muito mais do que isso, o Modelo é tudo (Frade, 2006). Entendemos que um Modelo de Jogo é algo que identifica uma determinada equipa, não é apenas um sistema de jogo, não é o posicionamento e disposição dos jogadores, mas sim a forma como os jogadores estabelecem as relações entre si e como expressam a sua identidade, uma determinada organização apresentada em cada momento do jogo que se manifesta com regularidade“.

Também (Maciel, 2011), refere que “o Modelo é constituído por um conjunto de inúmeros aspectos, alguns mais relacionados com opções do treinador, como a concepção de jogo, a metodologia de treino, a operacionalização do processo, outros mais relacionados com os jogadores e com a própria realidade do clube e o contexto envolvente. Aspectos que vão desde as crenças de jogadores ou dirigentes, à história do clube, dimensão estatuto e competência do departamento médico, a realidade competitiva, até as picardias e rivalidades históricas que possam existir dentro e fora do clube. Pode dizer-se que o Modelo é tudo. E por isso mesmo penso que a imagem mais capaz de o retratar é a de um iceberg, à superfície, isto é a face visível, parece ser uma realidade circunscrita a uma determinada dimensão e complexidade, mas na verdade é bem mais complexa e edificada sobre muitos aspectos que não são visíveis à superfície, mas que se assumem como fundamentais para a dimensão visível do Modelo. O Modelo é tudo e resulta da interacção altamente dinâmica entre os aspectos visíveis e dizíveis com os aspectos invisíveis e indizíveis que o compõem. A melhor definição que conheço de Modelo é a do Professor Vítor Frade quando afirma que “o Modelo é qualquer coisa que não existe, mas que todavia se pretende encontrar”. Trata-se portanto de uma espécie de impossível necessário, que nós em termos ideais concebemos, mas que depois na sua concretização não conseguimos reproduzir tal e qual, pois ao nível do pormenor ele vai assumir contornos únicos resultantes da interacção com o que o envolve“.

Deste modo o Modelo não é o antes. É uma “fotografia” da realidade. Neste caso, da realidade de uma equipa.

Perante isto, faz-nos mais sentido falar em Conhecimento do Jogo para descrever essa dimensão mais “generalista” da intervenção do treinador. Partindo dela, influenciada sempre por traços de liderança e mesmo metodológicos, o treinador / equipa técnica, chega(m) à Ideia de Jogo. A sua operacionalização, deste modo, no domínio “do real”, implica no contexto específico onde acontece, uma interacção profunda com a Metodologia e Liderança exercidas. Podemos então entender, que daí resulta o… Modelo de Jogo.

Dimensões da intervenção do treinador e Modelo de Jogo.

“Mourinho tinha uma definição, uma exclamação, quando lhe faziam essa pergunta, ele dizia: Para mim, modelo é tudo! E é. É tudo e mais alguma coisa. Porque muito desse tudo a gente não conhece. Muito desse tudo está pra vir. Agora eu não posso perder o azimute. É por isso que eu lhe dizia, digo sempre, num processo de treinabilidade, o futuro é o elemento causal da interacionalidade. Mas o futuro como perspectiva, como ideia. Por isso é que eu digo, o modelo de jogo é qualquer coisa que não existe em lado nenhum… não existe como tal, mas a configuração… É como eu, aqui, quando estive agora a falar consigo, eu sabia do que vinha falar, porque você tinha me dito, mas não sabia e não sei o que vai sair daqui. E é isso que se deve aspirar que aconteça, na treinabilidade.”

(Frade, 2015)

Valores humanos – Capítulo IV – O “jogar” expõe e cultiva valores [Subscrição Anual]

Publicamos a continuação do tema Valores humanos, e o seu quarto capítulo – “O “jogar” expõe e cultiva valores“. Ainda no contexto da importância fundamental que determinados valores têm não só no futebol, mas também na ligação que todo o seu contexto cultural tem com outras dimensões sociais humanas, desta vez abordamos a relação dos mesmos com a especificidade de cada jogar. Insistindo na ideia de estarmos perante um todo complexo, se diferentes formas de jogar, potenciam diferentes culturas, consequentemente irão também emergir daí, diferentes valores humanos. Na perspectiva inversa, enquanto gerador de cultura, se é uma responsabilidade do futebol, alicercar a sociedade de melhores valores, então há que idealizar formas de jogá-lo que sejam coerentes com essa pretensão.

O tema Valores Humanos encontra-se enquadrado em:

Por outro lado este tema será constituído pelos seguintes captítulos:

  1. Os alicerces do homem… e consequentemente do seu desempenho
  2. Uma sociedade em mudança
  3. Treinador e… educador
  4. O “jogar” expõe e cultiva valores
  5. Priorizar os (bons) valores humanos
  6. Que valores?
  7. A transmissão de valores

Deixamos um excerto do quarto capítulo publicado, “O “jogar” expõe e cultiva valores“.

“Aquilo que eu sou reflete-se no meu jogar e este jogar faz-me ser quem eu sou.”

(Miguel Cardoso, 2018)

Perante a visão analítica do homem, que o parte em indivíduo social, indivíduo desportista, indivíduo religioso, etc., o autor (Capra, 2005, p.09), citado por (Almeida, 2009), defende que “precisamos, pois, de um novo “paradigma — uma nova visão da realidade, uma mudança fundamental em nossos pensamentos, percepções e valores. Os primórdios dessa mudança, da transferência da concepção mecanicista para a holística da realidade, já são visíveis em todos os campos e susceptíveis de dominar a década actual”. Nesta nova perspectiva, o homem que joga é o homem que vive em sociedade e vice-versa. Como tal, os valores que ele transporta para o jogo, ou os valores que o jogo lhe transfere, serão os mesmos que o guiam socialmente. Neste enquadramento, o autor (Moita, 2008) descreve que na formação desportiva, o cuidado e a atenção atribuídos à formação ética são na generalidade muito reduzidos. A sociedade aponta, como referência quase exclusiva, para modelos de sucesso com resultados práticos imediatos, relegando para segundo plano outras questões menos palpáveis de carácter moral, social, etc…(Ramos, 2006). No entanto, os valores do desporto não se situam no plano de um “corpo motor”, mas sim, de um “corpo” que, ao realizar determinados movimentos, suscita o aparecimento de atitudes e condutas que reivindicam uma certa dimensão cultural, com consequências no plano educativo e formativo (Ramos, 2006). Segundo Pacheco (2001), a formação desportiva deve ser encarada como “um processo globalizante, que visa não só, o desenvolvimento das capacidades específicas (físicas, táctico-técnicas e psíquicas) do futebol, como também, a criação de hábitos desportivos, a melhoria da saúde e a aquisição de um conjunto de valores tais como a responsabilidade, a solidariedade e a cooperação, contribuindo desta forma para uma formação integral dos jovens“. No contexto de outro desporto colectivo, o Rugby, também o ex-seleccionador português (Tomaz Morais) defende que “é importante transmitir os valores do jogo para se atingir os mais jovens”.

Para (Lourenço, 2007), e “segundo Edgar Schein (2004), a cultura é um conjunto tácito de pressupostos básicos sobre como o mundo é e como deve ser, o qual é partilhado por uma comunidade de pessoas e determina as suas percepções, pensamentos, emoções, e em grande parte o seu comportamento. A cultura de uma organização, de um grupo, de uma equipa de futebol, no seu nível mais profundo, é os seus valores básicos, a sua ideologia, a razão de ser de quem está ali, da forma como está e como é. A cultura organizacional, seja de uma organização formal – como, por exemplo, uma empresa ou uma equipa de futebol –, seja de uma organização informal – como, por exemplo, um grupo de amigos –, constitui-se nos pressupostos que guiam e modelam os comportamentos dos indivíduos e do grupo. Trata-se como que de um filtro, através do qual tudo é percepcionado e imediatamente valorizado num sentido ou noutro”. Na mesma linha de pensamento surge (Cardoso, 2006), que concordando com (Figueiras, 2004), sustenta que as concepções e modelos de jogo são condicionados pela cultura e valores vigentes na sociedade em que se insere e assim, se a cultura dos povos se altera ao longo dos tempos, também esses necessariamente se alteram. Deste modo podemos verificar que esta dialéctica (ou interacção) entre a cultura e a cultura de jogo também se verifica“.

A autora (Gomes, 2008), expõe que “segundo Kaufmann & Quéré (2001), nos fenómenos colectivos o sujeito apreende normas, valores e desenvolve capacidades, adquire hábitos na socialização do todo ou seja, nas relações com os demais. Neste contexto, o desenvolvimento de uma dinâmica colectiva – entenda-se jogar – faz com que as exigências individuais sejam sobrecondicionadas pelo papel que desempenham nessa equipa. Novamente (Gomes, 2008), explica que “de acordo com esta perspectiva, a exacerbação da equipa enquanto colectivo faz com que as repercussões individuais adquiram determinados contornos. Por isso, José Mourinho (in Oliveira et al., 200:93) refere que a sua prioridade é o desempenho colectivo, que a equipa jogue como pretende, acrescentando ainda que não concebe a evolução de um jogador descontextualizada da equipa. A dinâmica colectiva resulta da participação individual dos jogadores de um modo Específico ou seja, enquadrado pelos princípios de acção que caracterizam a equipa. Através deles estabelece-se um conjunto de normas e valores sobre o qual se compreende a participação individual ou seja, os jogadores participam no jogo de acordo com determinados princípios. Desta forma, o jogador é um «agente normativo» ou seja, os comportamentos resultam de determinadas normas e valores (Ogien, 2001). De acordo com esta lógica, os jogadores apropriam-se desses valores e princípios no próprio processo de socialização ou melhor, nas relações que estabelecem com os colegas no desenvolvimento do jogo”.

(…)

A falta táctica

Recentemente, num programa televisivo, discutia-se a falta… particularmente a que se vulgarizou na gíria, como “falta inteligente”. Se logo à partida existe uma conotação que a pode identificar como um comportamento inteligente, revela que na opinião de muitos, falta pode significar uma boa decisão. Porém, evidentemente que isso por si só, não nos diz muito. O que não faltam no futebol são lugares comuns, tantas vezes repetidos e que não se questionam.

Se a falta marca presença no regulamento do jogo, obviamente faz parte do mesmo. A sua génese é simples. Numa análise fria, como sucedeu em todos os desportos, e num contexto mais amplo noutros domínios da sociedade, a determinado momento surgiram indivíduos que quiseram obter sucesso na actividade em causa recorrendo a a formas de actuar que a maioria condenou. Com tal, essa maioria criou leis e regras de forma a penalizar esses comportamentos. Ignorar esses comportamentos nesses momentos, não seria certamente a atitude certa para a evolução do jogo ou, na perspectiva mais ampla, de uma sociedade. Tal como ignorá-los agora, não será com certeza a atitude certa de forma a dar continuidade a essa evolução. Defende-se muitas vezes a ideia de que a evolução táctica do jogo, sucedeu nos seus momentos defensivos por resposta a novas ideias ofensivas, e vice-versa. Então o mesmo sucederá com a sua regulamentação.

Um exemplo concreto foi a situação do atraso de bola para o Guarda-Redes, recorrendo aos pés. Durante quase um século de jogo foi um comportamento permitido. Até que, a determinado momento, as equipas perderam um eventual “constrangimento moral”, ou então, noutra perspectiva, ganharam lucidez táctica, e uma vez mais numa análise fria e objectiva, utilizaram essa possibilidade que o jogo oferecia para manterem a posse de bola e evitarem que o adversário atacasse. Os opositores teriam então que pressionar muito alto para evitar a situação, algo que também devemos ter consciência, não muito habitual no jogo da época, pelo menos de forma organizada, o que trouxe problemas ao jogo das equipas. Outra leitura da situação, mais “romântica”, é que as equipas estariam a incorrer em comportamentos anti-desportivos e estavam a abdicar de jogar. A questão é que, na realidade, jogar, é tudo o que as leis do jogo permitem e sancionam. Enquanto se está em jogo… joga-se. Da forma “A”, “B”, “C”, etc… fazendo-se mais ou menos faltas… mas, joga-se. Jogar, não é o que a perspectiva, ou cultura, que cada um de nós tem do jogo, indica como importante. Todos nós formamos opiniões e convicções sobre cada jogar. Se é mais estético, se é mais eficiente, se é mais eficaz. Se esse jogar também expressa os valores humanos que nos alicerçam. Mas não é isso que está aqui em causa.

Portanto sublinhamos: enquanto um jogador está em campo e o jogo decorre, ele joga. Movimentando-se, posicionando-se, ou por exemplo, realizando uma intercepção, um passe, um remate… ou mesmo fazendo uma falta. Repetimos, não estamos a tecer juízos de valor às diferentes decisões que o jogador pode tomar em campo. Mas a realidade é que as leis do jogo permitem que o jogador possa decidir a falta como eventual recurso. Caso contrário seria expulso de imediato. Em determinado momento, o jornalista (Tadeia, 1999), identificou “a proliferação da falta táctica, estratégia usada para impedir o desenvolvimento do futebol do adversário sem causar grandes mossas no cadastro da equipa que as comete”. O mesmo autor opina ainda que “a falta táctica é um flagrante exemplo de benefício do infractor, uma vez que obriga o adversário a recomeçar a sua movimentação, pois permite a recolocação da defesa da equipa que a comete. Por isso, é urgente que este tipo de infracção seja punida nas leis do jogo”. Paralelamente, (Torrijos, 2001) descreve que “a “falta táctica” é efectuada mais pelos médios do que pelos defesas. A falta táctica é a cometida numa zona do campo pouco perigosa de forma a parar um contra-ataque e permitir tempo a que a equipa que a efectua se reorganize. A questão plantou-se quando Albelda fez dez faltas a Zidane no arranque da Liga. O resultado  do castigo (livre directo no centro do campo) é menos penoso que a ameaça de contra-ataque”. Foi então, nessa fase da evolução do jogo, identificado um problema com a acumulação de faltas deste género por determinado jogador. Nessa altura foi então solicitado às equipas de arbitragem que fossem menos permissivas e punissem, disciplinarmente, um jogador que recorresse sistematicamente à falta. A partir daí vemos o árbitro mostrar cartão amarelo enquanto sinaliza gestualmente a acumulação de faltas desse jogador. Um exemplo da evolução do jogo perante um problema identificado. Assiste-se hoje a uma redução no número dessas faltas, o que obrigou as equipas a desenvolverem outras formas de minimizar os contra-ataques perigosos do adversário. Serem mais rigorosas ao nível posicional e na gestão do espaço no equilíbrio defensivo no ataque, é um bom exemplo.

Assim, a discussão pode ser realizada em torno do peso da penalização em determinadas situações de jogo, mas sempre com a consciência que a penalização máxima por qualquer falta, nunca sucederá. Caso contrário, estaríamos perante outro jogo, que não Futebol. Desta forma, enquanto subsistir a falta que não expulsa o jogador da partida, não prejudicando com isso a sua equipa de forma grave, ela será sempre uma possível decisão. E como tal, entrando então no campo da cultura de jogo de cada um, determinada falta, poderá então ser perspectivada como má ou boa decisão. Como decisão inteligente ou não. Neste contexto o autor (Bouças, 2017), dá um exemplo, defendendo que “sem situação controlada em termos numéricos e de espaço, surgem as faltas tácticas como uma marca bem definida das equipas mais inteligentes. No passo à frente, encostar nas costas, e parar em falta com portador sem enquadramento, significa que não há sequer risco de admoestação disciplinar, e de transição defensiva, o jogo pára e entra-se no momento de organização. Onde é substancialmente mais difícil ferir quem tem os melhores, sobretudo quando bem organizados”. Também o espanhol Jesús Botello em (The Tactical Room, 2019), explica que acumulando muitos jogadores em organização ofensiva no meio-campo adversário, “a falta táctica afigura-se vital para evitar contra-ataques”.

Então, se a táctica se constitui como todo o comportamento voluntário em campo. A falta… nessas circunstâncias, torna-se assim, táctica. Prevendo e aceitando depois, o jogador e a equipa, as suas consequências. Na obra “Guía para jugar a fútbol”, os autores (Benigni et al., 2016) também concordam com esta perspectiva ao referirem que “uma das circunstâncias que ocorre cada vez mais no futebol moderno é a chamada falta táctica, que consiste em realizar uma acção voluntariamente incorreta para cortar uma acção contrária, que, continuando, coloca em grande perigo a equipa. Fala-se de uma falta táctica, porque a acção ocorre longe da grande-área, ou seja, na zona de meio-campo, onde, teoricamente, ainda não constitui um grande perigo para a equipe que defende”. O treinador Fran Beltrán em (Club Perarnau, 2013), vai mais longe e explica que o seu Modelo de Jogo “variará se sei que em determinado país são mais ou menos permissivos com o cartão amarelo perante a falta táctica”.

Para nós, a falta enquanto comportamento opcional tem de estar circunscrita aos valores que alicerçam o nosso jogo. Nunca colocando em risco o bem estar físico do adversário, nunca de forma a ludibriar o árbitro e as leis do jogo. Portanto aceitamos e definimos a falta como uma possível decisão, sempre como último recurso em situações nas quais outras acções falharam, e também sempre conscientes das respetivas penalizações que as mesmas enfrentam. Assim, trata-te para nós de uma decisão pontual e não recorrente, mas sim, uma decisão, que em determinadas circunstâncias, se revela… inteligente.

O jogo de Futebol não é aquilo que desejamos que seja. O jogo de Futebol é aquilo que de facto é. Ignorar isto é, ignorar as regras do jogo e jogar em desvantagem. E devemos ter a consciência que os mesmos que apelam ao romantismo do jogo sem faltas, serão os mesmos a crucificar esse romantismo quando o mesmo enfrentar o insucesso.

5 ideias (exercícios) para desenvolver o jogo entre-linhas [Subscrição Anual]

“Ao falar em circulação de bola, pensa-se muitas vezes no seguinte: sair curto, jogar num corredor, está fechado variar rápido para o outro. Mas circular, também é entrar no interior do bloco adversário.”

(Tactic Zone, 2013)

O jogo entre-linhas tem sido uma das ideias de jogo que tem crescido e conquistado mais adeptos nos últimos anos. Sendo verdade que se já era explorado no passado, mesmo que por vezes de forma não consciente, pelo posicionamento de jogadores na estrutura ofensiva da equipa que os levava a explorar esses espaços, por outro lado, os métodos defensivos individuais então utilizados, acabavam por reduzir esses espaços pois um atacante aí presente arrastava consigo um respectivo defensor. Nessa fase, seria geralmente através da mobilidade, que o momento ofensivo das equipas conseguia continuar a gerar tais espaços. Hoje, pela evolução de métodos defensivos mais colectivos que dão prioridade a estruturas defensivas sectoriais e colectivas, mais preocupadas em anular espaços do que adversários, paradoxalmente, acabam por gerar mais espaços entre os seus sectores médio e defesa, uma vez que, frequentemente, a referência defensiva “o meu companheiro”, se sobrepõe à referência defensiva “espaço”, ou “antecipação de linhas de passe adversárias”.

Deste modo, ganhou importância a exploração destes espaços, caminho reforçado pela evolução que o jogo ofensivo das equipas apresentou, o qual procurou abandonar a aleatoriedade, a inspiração individual ou a espera pelo erro do adversário… e aproximar-se da racionalidade, de um jogo mais eficaz e de um pensamento colectivo, como base da criatividade e do talento individual. De acordo com a fonte (Tactic Zone, 2013), através desta ideia “a preferência é conquistar espaço no meio e progredir a partir daí. Se adversário consegue ser eficaz a ajustar defensivamente no centro, então já se criou muito espaço nos corredores que pode agora ser usado”.

https://www.facebook.com/SaberSobreOSaberTreinar/videos/1966180873678170/

Na nossa Sistematização e Modelo de Jogo Idealizado, o Jogo entre-linhas situa-se como princípio de jogo, no Sub-Momento Construção da Organização Ofensiva e constitui-se como uma forte ideia para a equipa atingir o sub-momento de criação, e procurar criar de forma mais eficaz, oportunidades de finalização. Torna-se importante salvaguardar que este princípio pode ser explorado de múltiplas formas, tendo também aqui a criatividade um papel vital.

Sendo para nós, o exercício de treino, o melhor caminho para atingir estas ideias em jogo, deixamos 5 ideias para desenvolver este princípio de jogo, juntando a muitas outras já presentes na nossa biblioteca de exercícios. Procurando atingir níveis de complexidade estrutural diferentes, as ideias presentes nestes exercícios podem, por exemplo, ser desenvolvidas numa lógica progressiva, ao longo de uma ou várias sessões de treino.

Exercício 127 | Posse com apoio frontal (exercício grupal)

Exercício 123 | Jogar no espaço entre-linhas e último passe (exercício grupal)

Exercício 126 | Chegar aos apoios frontais (exercício inter-sectorial)

Exercício 124 | Penetração de um adversário partido (exercício colectivo)

Exercício 125 | Progressão beneficiando da zona neutra (exercício colectivo)

“É complicado viver no corredor central, decidir em pouco espaço, dentro da estrutura adversária. Os estímulos surgem de todas as direções e, para além dos atributos técnicos, é necessária uma rápida adaptação a um contexto que varia a cada instante.”

(Fidalgo, 2016)

Momentos e Sub-Momentos do jogo… uma proposta

Como prometido no passado, publicamos a nossa interpretação do jogo de futebol e proposta para a sua sistematização.

Em primeiro lugar poder-se-á questionar a relevância de sistematizar o jogo de e interpretá-lo teoricamente. Apesar do próprio jogo mostrar caminhos e promover a auto-aprendizagem, potenciar essa aprendizagem com outras ferramentas, é para nós fundamental, nomeadamente no papel de treinador. Neste sentido, um modelo simples que explique os momentos do jogo e a sua ligação, garantirá uma enorme ajuda à compreensão do jogo e ao seu ensino aos jogadores.

Isto, independentemente da idade e nível de jogo em que trabalhamos, uma vez que vão surgindo diversos exemplos de alto e baixo conhecimento do jogo em todos os escalões etários e níveis competitivos. Porém, o jogador não se constitui como o único destinatário deste trabalho. Todos os que gostam do jogo, e desejam compreender um pouco mais a sua complexidade e dinâmica, acreditamos que vão encontrar nesta sistematização um caminho acessível.

Para o próprio treinador, não só permite, a partir daqui, uma organização mais complexa das suas ideias de jogo (princípios, comportamentos, acções, etc.) dentro de cada sub-momento do jogo, como também lhe permite categorizar exercícios de treino face à interpretação da sua dominância. Consequentemente, esta proposta, possibilita ainda ao treinador ou ao analista catalogar videos de acções de jogo da sua equipa ou de terceiras de forma acessível. Este tem sido um trabalho que temos desenvolvido, o qual já nos possibilitou uma biblioteca que ultrapassou o milhar de vídeos, e que entre outros objectivos, servirá para ilustrar os comportamentos de jogo defendidos no tema do nosso projecto, a publicar futuramente – Ideia de Jogo.

A sistematização do jogo de Futebol já leva uma considerável história. Desde o momento em que outras modalidades contribuíram para o desenvolvimento da teorização do jogo, destacando-se os trabalhos de Friedrich Mahlo,  Leon Teodorescu e Jean-Grancis Grehaigne, passando pelo contributo fundamental em Portugal de Carlos Queiroz e Jesualdo Ferreira, quando em 1983 apresentaram uma proposta de sistematização do jogo de Futebol, à actual visão do jogo sob quatro momentos fundamentais: Organização Ofensiva, Transição Defensiva, Organização Defensiva e Transição Ofensiva, que entretanto se generalizou.

Momentos do jogo

A nossa proposta surge, não só de uma necessidade de desconstruir os momentos de organização para que sejam mais facilmente entendidos e treinados, como principalmente explicar os momentos de transição, os quais, apesar de actualmente aceites e reconhecidos pela sua importância capital no jogo, geram no entanto, ainda muitas dúvidas e por vezes interpretações erradas.

Explicando-a concretamente, a partir dos quatro grandes momentos de jogo, criámos três sub-momentos para cada um deles. Nos momentos de Organização, sentimos que a proposta de Queiroz e Jesualdo continua a garantir resposta para as necessidade desses momentos do jogo. No entanto, necessitámos de distingui-los de forma mais objectiva, uma vez que nos fomos apercebendo de visões muito díspares do que seriam a construção, criação, finalização e em oposição, o impedir a construção, impedir a criação e impedir a finalização.

Assim, no momento de Organização Ofensiva, identificado pela cor verde, entendemos os três sub-momentos:

  1. Construção: quando ambas as equipas se encontram dentro da sua organização para atacar e defender e quando a bola se encontra fora do bloco da equipa que defende.
  2. Criação: quando a equipa que ataca consegue penetrar no bloco da equipa que defende e surge perante a última linha adversária ou a última linha e mais um médio em contenção. A excepção é quando a equipa que ataca procura um jogo mais directo, de ataque à profundidade, ou seja, de passe directo para o espaço entre a última linha de quem defende e o seu Guarda-Redes, o que acaba por se configurar como uma situação de último passe, independentemente do grau de dificuldade superior da acção. Neste sub-momento, integram-se também todas as situações de bola parada ofensivas que poderão permitir um último passe ou cruzamento e finalização. Devemos referir que compreendemos as opiniões que distinguem as situações de bola parada como um quinto momento do jogo, porém a nossa interpretação é que, independentemente do jogo estar parado ou em movimento, se uma equipa está organizada para defender essas situações e a outra para atacar, então estarão dentro da sua Organização Defensiva e Organização Ofensiva, respectivamente.
  3. Finalização: todas as acções que visam o momento final de ataque à baliza adversária, portanto, a acção individual ofensiva de remate, independentemente da superfície corporal envolvida. Aqui também se integram as situações de bola parada ofensivas que poderão permitir um remate directo à baliza. Importa ainda referir que a finalização pode até surgir quando a equipa que ataca tem pela frente todo o bloco adversário ou parte do mesmo. Contudo, se quem ataca conseguiu chegar ao remate, esses momentos de organização defensiva adversários falharam de alguma forma.

Em oposição o momento de Organização Defensiva, identificado pela cor vermelha, sub-divide-se em três sub-momentos que irão procurar garantir oposição aos anteriores comportamentos ofensivos:

  1. Impedir a construção: os momentos em que a equipa que defende procura não permitir a entrada da bola no interior do seu bloco. Os comportamentos de pressing, quer seja alto, médio ou baixo, são um bom exemplo para este sub-momento defensivo.
  2. Impedir a criação: quando a equipa que defende não consegue impedir que a bola entre no interior do seu bloco e a sua última linha é a penúltima barreira entre si e a sua baliza. Ou então as acções que visem impedir ou interceptar um passe longo e directo para o espaço entre a última linha da equipa e o seu Guarda-Redes.
  3. Impedir a finalização: quando toda a equipa, menos o Guarda-Redes, foi ultrapassada. Portanto, contrapondo ao sub-momento ofensivo de Finalização, aqui, a última barreira é o Guarda-Redes e os seus comportamentos de defesa da baliza.

Esta proposta de distinção entre os momentos de construção e criação, parece-nos altamente pertinente. Durante muito tempo apercebemo-nos que muitos autores e treinadores identificavam estes sub-momentos / fases pelo espaço do campo onde as equipas atacavam e defendiam. Essa interpretação parece-nos errada, uma vez que uma equipa pode estar em construção junto à sua área ou perto da área adversária, pois nos dois casos, perante por exemplo adversários que respectivamente defendam com o seu bloco, posicionado alto ou baixo no campo, poderá estar com todos os jogadores adversários ainda por bater. Por outro lado, uma equipa que posicione a sua última linha alta no campo, um momento de ruptura ou último passe de quem ataca pode surgir ainda no meio-campo de quem ataca. Deste modo, a correlação dos sub-momentos ofensivos e defensivos com espaços no campo está para nós desfasada da realidade que é o jogo. Então, a relação entre as duas equipas, e se quem defende ainda está usar toda a sua organização defensiva ou apenas parte da equipa, e se ao contrário, quem ataca ainda tem duas / três linhas adversárias para ultrapassar ou apenas uma, parece-nos uma visão mais aproximada da interacção e realidade dinâmica que o jogo promove, e assim um melhor caminho para distinguir esses sub-momentos ofensivos e defensivos do jogo.

Mas será nos momentos de transição que a nossa proposta pretende ir mais longe. Independentemente da interpretação dos sub-momentos / fases, da Organização Ofensiva e Defensiva, já Carlos Queiroz e Jesualdo Ferreira procuraram sistematizar essas estruturas complexas do jogo. Há cerca de 15 anos atrás, com a difusão e aceitação dos momentos de transição, surgiram então mais dois momentos do jogo para compreender. Neste âmbito tem surgido alguma confusão de conceitos, e simultaneamente sentimos a necessidade de interpretar a Transição Defensiva e a Transição Ofensiva de forma a encaixar-lhes comportamentos e acções, para posteriormente explicar a sua lógica aos jogadores e trabalhá-los pelo Modelo de Jogo que cada treinador idealiza. Neste sentido, sentimos ainda a necessidade de lhes atribuirmos uma lógica sequencial teórica, tal como sucede nos dois momentos de Organização.

Desta forma, para o momento de Transição Defensiva, para nós representado pela cor amarela, propomos os três sub-momentos:

  1. Reacção à perda da bola: os instantes, ainda no centro de jogo, imediatos à perda da bola. Os comportamentos defensivos a adoptar nessa situação. Para a maioria dos treinadores, o objectivo fundamental será não só tentar de imediato a recuperação da bola, mas não permitir ao adversário a possibilidade de contra-atacar. Portanto, impossibiltá-lo ou atrasá-lo em sair com a bola dessa zona de pressão e procurar espaços para desenvolver o contra-ataque.
  2. Recuperação defensiva: na tal lógica sequencial, se o adversário conseguiu sair da zona de pressão, independentemente dos jogadores fora do centro de jogo (primeira zona de pressão) já deverem está a fechar a equipa e a recuperar o seu posicionamento defensivo, neste sub-momento, torna-se ainda mais importante a recuperação do máximo número de jogadores, contemplados pela organização defensiva da equipa, para trás da linha da bola. Alguns poderão até estar a compensar companheiros, mas a urgência é não permitir espaço nem número vantajoso ao adversário para desenvolver situações de contra-ataque. A própria falta táctica pode ser contemplada neste sub-momento do jogo.
  3. Defesa do contra-ataque: se ambos os sub-momentos anteriores da transição defensiva falharam, então, antes das acções de defesa da baliza do Guarda-Redes, a equipa tem ainda a possibilidade de defender o contra-ataque adversário. Perante relações numéricas diferentes, poderão ser adoptados comportamentos que poderão reduzir as possibilidades de sucesso de quem ataca. Tal como, em oposição, o contra-ataque, estas são situações muito trabalhadas no Futsal, dada a quantidade de situações deste género que surgem nesse jogo. Porém, se no Futebol elas não só surgem, como são decisivas nos desfechos dos jogos, porque não devem também ser alvo de treino?

Em oposição ao momento de Transição Defensiva, surge então o momento de Transição Ofensiva, para nós representado pela cor azul, e ao qual propomos três sub-momentos:

  1. Reacção ao ganho da bola: em oposição à reacção à perda da bola, surgem neste sub-momento os comportamentos e acções de quem recuperou a bola, e a procura de sair da primeira zona de pressão adversária. Seja ela realizada por um jogador ou por mais. Se possível, alcançá-la no sentido da baliza adversária, porém, em muitos momentos, esses espaços encontram-se fechados e portanto será necessário garantir outras soluções e uma boa decisão do jogador com bola. A eficácia na reação ao ganho da bola e na saída da zona de pressão influenciará os sub-momentos seguintes da transição ofensiva, que aqui, provavelmente, já não surgem numa lógica sequencial, mas sim como alternativas de decisão.
  2. Contra-ataque: se a equipa conseguiu sair com eficácia e rapidamente da zona de pressão, poderá encontrar espaço e / ou uma relação numérica com o adversário interessante para optar pelo contra-ataque. Nesse caso, é nosso entender que deverá explorá-lo na larga maioria das situações, procurando as suas vantagens, pois parece-nos mais difícil ultrapassar uma boa organização defensiva adversária. As excepções irão surgir por influência da dimensão estratégica. Neste caso, por exemplo, quando uma equipa se encontra com uma vantagem mínima no resultado ou numa eliminatória, está a poucos minutos do final do jogo, e não lhe interessa explorar uma situação de contra-ataque, que em caso de insucesso irá, provavelmente, lhe retirar na resposta do adversário alguns jogadores da sua organização defensiva, e mais importante, porque privilegiando a posse de bola, não só poderá descansará com bola, como retirará a possibilidade de atacar ao adversário.
  3. Valorização da posse de bola: se após a saída da zona de pressão a equipa não encontrar espaço e / ou uma relação numérica interessante para atacar a baliza adversária, deverá evitar a decisão de contra-atacar numa situação desvantajosa e possivelmente perder a bola. Ao invés, deve assim garantir a sua posse, ganhando tempo para se reorganizar para atacar, procurando esse momento seguinte do jogo para criar desequilíbrios na organização adversária.

Pelas ideias apresentadas, propomos a seguinte representação gráfica dos momentos e sub-momentos do jogo:

Momentos e Sub-Momentos do jogo.

Interpretando o jogo desta forma, para nós não faz sentido catalogar uma equipa como “uma equipa de contra-ataque” ou uma “equipa de ataque organizado“. Todas as equipas têm de saber jogar em todos os momentos e sub-momentos, para que possam responder às necessidades circunstanciais que o jogo lhes vai apresentando. Contudo, partindo deste modelo, cada treinador, acreditando nas suas ideias, procurando uma adaptação à qualidade, cultura e características individuais dos jogadores com quem irá trabalhar, poderá desenvolver o jogo idealizado, de forma a responder a estes momentos e sub-momentos, o que consequentemente potenciará o seu jogo para mais ou menos tempo nalguns destes momentos e sub-momentos. Assim, procurando ir aos extremos, acreditando num jogo curto e apoiado ou longo e directo, na defesa zona ou na defesa individual, todas as ideias podem ser concebidas a partir deste modelo.

Sentimos ainda que a nossa proposta não se esgota no jogo de Futebol e que poderá ter transfer para outros desportos colectivos, nomeadamente os com características de invasão do meio-campo adversário.

Deixamos ainda um video que procura ilustrar diferentes comportamentos, identificando os momentos e sub-momentos do jogo propostos:

 

“Vocês como não treinam é tudo muito fácil”

a vida de treinador, é ser constantemente ajuizado por quem não sabe o que se passa, não sabe o que é que o treinador pensa, como pensa e que constrangimentos enfrenta na operacionalização da sua ideia de jogo, na maior parte até podemos arriscar dizer que são completos analfabetos quanto ao jogo e ao treino… Mas a opinião coletiva desta massa tão importante para o fenómeno, condiciona e guia as decisões de quem decide rumos.”

(Antunes, 2014) em comentário a (Lumueno, 2014)

Exercício gratuito

Publicamos mais um exercício gratuito: Duas situações de criação sobre linhas de finalização.

Desta vez trazemos um exercício colectivo, no nosso entender, principalmente direccionado para o sub-momento ofensivo de criação e para o sub-momento da transição defensiva: a reacção à perda da bola. No entanto, progredindo o exercício e solicitando que mais defensores joguem no seu meio-campo em organização defensiva, o exercício passará a dar foco também a construção. Por outro lado, com uma equipa técnica alargada, numa visão mais complexa do trabalho, poderemos também dar foco ao “contra-exercício” e portanto aos outros momentos: a organização defensiva e transição ofensiva.

Na forma como apresentamos cada exercício no website, não publicamos a classificação que atribuímos aos mesmos. Esta classificação tem para nós em conta critérios que consideramos decisivos, como são a aproximação que o exercício garante à realidade competitiva e a propensão que dá aos objectivos propostos. Isto para dizer que este exercício acaba por não garantir uma grande aproximação no momento de organização ofensiva, uma vez que lhe estão retirados alguns momentos de criação e a finalização. Um elemento fundamental do jogo não está presente: a baliza. Contudo, se é pretendido um foco maior e maior propensão a acções de criação antes da grande-área adversária, pode-se constituir como parte de um caminho. Simultaneamente permite espaço para o trabalho específico dos Guarda-Redes nas grandes-áreas, ou para outras estações de exercícios, como por exemplo de finalização de cruzamentos ou de marcação de pontapés de canto. Assim, uma vez mais emerge como decisivo no trabalho a determinação de um rumo… para nós o Modelo de Jogo Idealizado e os objectivos traçados para cada sessão. Depois, o conhecimento do jogo, a liderança, a criatividade do trabalho, entre outros aspectos, para garantirem uma máxima qualidade.

Modelo de Jogo do FC Porto de José Mourinho 2002/2003

Deixamos um documento raro, entregue pelo próprio ao clube, na chegada de José Mourinho em 2002 ao FC Porto. Tratava-se da sua visão do Modelo de Jogo a adoptar no clube.