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Defesa Individual em situações de bola parada II

Em Março de 2015 publicámos um artigo sobre a Defesa Individual nos pontapés de canto:

http://www.sabersobreosabertreinar.pt/index.php/2015/03/12/defesa-individual-nos-cantos/

Como defendido na altura, é um tema não circunscrito apenas ao domínio dos pontapés de canto, mas também a todas as situações de bola parada defensivas, e num plano ainda ainda maior, a todo o momento de organização defensiva. Porém, vamos novamente partir de uma situação de bola parada, neste caso, de um livre lateral, dada a análise realizada à situação que aqui trazemos:

Não nos interessa discutir esta opinião, ou mesmo apenas uma opinião, mas uma ideia que se repete inúmeras vezes. Revela a incoerência do pensamento sobre a situação em causa e fundamentalmente ilustra as insuficiências da Defesa Individual no jogo de Futebol.

De acordo com (Carvalhal, 2010), “entende-se por marcação Homem a Homem uma marcação de responsabilização individual, isto é, independentemente de onde estiver o meu adversário, eu vou ser o responsável por anular a sua acção ofensiva. Nesta marcação é importante referir que temos que manter o nosso corpo entre o adversário e a baliza que estamos a defender, não perdendo de vista não só a trajectória da bola, mas principalmente a movimentação do adversário! Reforço aqui a posição dos apoios (nunca deverão estar paralelos) de forma a respondermos rapidamente à acção do adversário”.

Defesa Individual em situações de bola parada - 3

Cruzando esta opinião com a análise que o video nos traz, transparece a confusão de objectivos que este método defensivo encerra. O defensor tem de marcar o adversário directo, não lhe permitindo muito espaço, mas tem simultaneamente de manter a bola no seu campo de visão. Se reduzir, como é indicado na análise, o espaço entre si e o atacante, será ainda mais difícil observar simultaneamente a bola. Por outro lado, observar a trajectória da bola, implica no comportamento, uma preocupação final com a bola, de forma a interceptá-la se esta se aproximar do seu adversário directo. Ora, este é o objectivo da Defesa Zona nas situações de bola parada defensivas: interceptar a bola em determinadas zonas fulcrais à finalização adversária. Então no momento final da marcação individual, defende-se o mesmo que a Defesa Zona. O objectivo deixa de ser o adversário e passa a ser a bola! Entre outras justificações, abordadas no artigo anterior, a Defesa Zona, tem as vantagens de poder preencher antecipadamente os espaços fulcrais e de poder permitir aos defensores o foco total na trajectória da bola. Poder, porque observam-se muitos comportamentos diferentes em Defesa Zona e muitos deles sem qualidade.

Há ainda outra perspectiva, mais radical mas também comum, avançada na análise: “se estás a marcar, marcas até ao fim“. A preocupação aqui terá que ser com o atacante até ao final da situação. Se este se prepara para atacar a bola, então nesta lógica terá que ser demovido dessa acção. Neste enquadramento há uma colisão com as leis do jogo, e talvez por esta razão, os defensores em Defesa Individual, dão hoje mais espaço aos seus adversários directos pois procuram evitar a falta dentro da área, uma vez que actualmente cresce a sensibilidade das equipas de arbitragem para estas infracções. De facto o Futebol não é Basquetebol. No Basquetebol os contactos nos comportamentos defensivos são muito penalizados e se isso acontecesse no Futebol, mesmo “apenas” como as Leis do Jogo de Futebol o determinam, as grandes penalidades surgiriam em grande quantidade. Ou então, assistia-se, como eventualmente está a começar a acontecer, a uma menor agressividade no comportamento de marcação, consequentemente mais golos sofridos, consequentemente a mudança de método defensivo nas equipas.

Perante a natural dificuldade em articular estes conceitos e objectivos comportamentais, e em analisar este tipo de situações, a responsabilização individual prevalece e uma explicação generalista, mas tão acessível e fácil, surge: falta de concentração! Se a acção táctica é difusa, a concentração perante a mesma também o é…

“Sem olho no acontecer

desliga-se mesmo a não querer,

antecipar é interpretar

indispensável p’ra bem jogar.”

(Frade, 2014)

Esta visão, leva-nos a pensar que se hoje há uma ideia generalizada, na qual o pensamento analítico no treino, quer através do isolamento do “factor” Físico, quer do “factor” Técnico, quer do “factor” Psicológico, se trataram de erros epistemológicos que o homem introduziu no treino do Futebol, por outro lado, o pensamento analítico transportado para uma visão individual na organização das equipas de um jogo que é colectivo, também o poderá ser.