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“Não se remata de bico!”
“Não se remata de bico!” ou “Não se passa de trivela!” eram, e ainda são, exemplos de frases ouvidas no futebol de “formação”. Da bancada, e mais grave, da boca de alguns treinadores. Mais uma expressão do pensamento redutor, que em determinado momento da evolução do jogo quis passar a mensagem que apenas algumas acções individuais seriam úteis, conduziam o jogo para um mecanicismo estéril. Acções que saíam “fora da caixa” seriam condenadas e catalogadas como excessos e traços de jogadores inconsequentes. Assim, para aqueles que ambicionavam chegar ao futebol profissional e tinham essa oportunidade, ou desenvolviam estes recursos durante o seu percurso no jogo informal ou estavam condenados a serem os “operários” da equipa.
Portanto, em auto-descoberta tal como sucedia na rua, o jogo ensinava-nos outra coisa. Que qualquer acção podia ser útil e tudo dependia da sua adequação ao contexto e à situação. Se Romário não tivesse experimentado, sentido o jogo e criado o seu jogar na liberdade que a rua lhe permitia, provavelmente não tinha desenvolvido o seu remate tão característico e eficaz.
“A bola rolava expontaneamente pelas ruas da Vila da Penha, em campos improvisados ou nas «quadras» de futebol de sala. Cada porta era uma baliza, cada duas pedras marcavam o lugar de outra. Bolas improvisadas, joelhos rasgados, faltas na escola, a infância de Romário foi igual à de tantos rapazes brasileiros, que nasceram antes ou depois dele.”
(João Pedro Silveira, 2011)
“Não tem padrão
a precisão,
o exacto
depende de cada acto,
na semelhança da configuração
a dimensão técnica está no padrão,
configurando a variabilidade
que como execução
só o exacto da precisão
acerta com complexidade.”
(Frade, 2014)