Faleceu Horst Wein, antigo seleccionador de Hóquei em campo, treinador de Futebol de Formação, formador de treinadores, e autor de várias obras dedicadas ao ensino do jogo, das quais destacamos “Fútbol a la medida del niño” publicado pela Federação Espanhola, “Developing Game Intelligence in Soccer“. Detentor de um impressionante currículo, destacamos porém, as ideias que procurava transmitir.
Em entrevista à revista DOZE em 2010 explicou que no Futebol “tudo começou quando me encontrava a estagiar com a selecção de hóquei em campo, perto do Nou Camp, o estádio do Barcelona. Carlos Rexach – antigo jogador, treinador e director-técnico dos “blaugrana”, n.d.r. – viu os treinos, começámos a falar e acabei por estar uma semana a ensinar os meus métodos aos treinadores do clube. Os meus livros são publicados pela Federação Espanhola há 20 anos. O antigo treinador de Xavi, actual jogador do Barcelona, reconheceu o meu trabalho e fiquei satisfeito quando me ligaram a contar que Guardiola tinha comprado os meus livros”. Wien na mesma entrevista, relatou ainda que ficou também muito feliz “quando Arrigo Sacchi – treinador de clubes como o AC Milan, n.d.r – recomendou o “Futebol a la medida del niño”, um dos meus livros, e isso é sinal que o meu trabalho é importante”.
Horst Wein.
Participou em várias acções de formação em Portugal, mas faz agora precisamente dez anos, que falou na Universidade Lusófona num seminário internacional dedicado ao treino de jovens futebolistas. Acoplado ao recém sucesso de José Mourinho, vivia-se um momento de ruptura na história do treino dos Desportos Colectivos no qual a essência da Periodização Táctica do professor Vítor Frade finalmente conquistava a confiança de muitos treinadores e aspirantes à função. Paralelamente a Frade, vários autores como Wein, travavam a mesma batalha ideológica, na qual elegiam a decisão, a inteligência, consequentemente a táctica como dimensão estruturante do jogo e do treino dos desportos colectivos. No entanto, muitos agentes desportivos e até consagrados professores universitários, não perceberam naquele momento a mensagem do autor alemão, o que revelou o carácter transgressivo das suas ideias face ao paradigma vigente.
Modelo competitivo proposto por Horst Wein.
Horst Wein teve a particularidade de dedicar a sua obra à especificidade do Futebol de Formação. Entre muitas ideias centradas no desenvolvimento da inteligência táctica e da criatividade da criança, salientamos a defesa dos valores do Futebol de Rua, a sua proposta de progressão formativa e competitiva do jovem futebolista, o treino orientado para o jogo, a defesa do protagonismo do jogador no treino e no jogo e a apresentação de problemas e não de soluções pelos treinadores, ao que a Periodização Táctica chamou Descoberta Guiada. Neste enquadramento foi também o criador do jogo reduzido que denominou por Mini-Futebol, jogado originalmente em situação de 3×3 sobre 4 mini-balizas, o qual propunha maior contacto com a bola, permanente participação do jogador no centro de jogo e o consequente desenvolvimento da inteligência e lateralidade.
Jogo de Mini-Futebol proposto por Horst Wein.
Passados dez anos, ideias que parecendo hoje óbvias para muitos, foram na realidade de uma importância tremenda pela ruptura que manifestaram e evolução que proporcionaram ao treino do Futebol. Outras ideias, aguardam no entanto, uma ainda maior mudança de mentalidades, nomeadamente ao nível de quem define a filosofia, organização geral e os modelos competitivos do Futebol de Formação. No fundo, orientadoras das prioridades no desenvolvimento da criança em geral, e no jovem futebolista em particular.
“No futebol, um grama de tecido cerebral pesa mais que cem gramas de músculo.”
Horst Wein
“O miúdo deve ser o maestro, o descobridor. Um bom professor deve ajudar os seus alunos a descobrir o que eles pretendem. O jogo é que deve ensinar-te: não o treinador.”
Horst Wein
“A natureza decreta que as crianças devem ser crianças antes de se tornarem adultos. Se tentarmos alterar esta ordem natural, elas vão chegar prematuramente a adultos, mas sem conteúdo nem força.”
Jean-Jacques Rousseau citado por Horst Wein