A falência dos sistemas II

Na sequência do artigo  “O importante não são os números, mas sim a dinâmica da equipa.”o treinador português Vítor Pereira, sempre com intervenções ricas em conteúdo, reforça a ideia que temos vindo a explorar:

Contudo, voltamos a colocar a mesma questão. Quando caracterizamos que uma equipa joga num determinado sistema, é através de um ponto de partida de que momento do jogo? E de que sub-momento? E porquê esses?

Este é talvez o maior exemplo da forma como, à imagem da Liderança e da Metodologia de Treino, o pensamento reducionista também atingiu a cultura táctica no Futebol e consequentemente o Modelo de Jogo das equipas. Simplificar uma teia de relações altamente complexa com uma simples distribuição posicional estática da equipa no campo, será como explicar o funcionamento do sistema solar através de um simples mapa tradicional.

“O padrão da estrutura aparente

é p’ro século vinte e dois

a face oculta das interacções não mente

p’ra imaginar o que virá depois.”

(Frade, 2014)

Dois passes que fazem a diferença… táctica

Dois passes que fazem a diferença... táctica - Cruzamento de Eliseu

Trazemos duas situações que têm em comum uma acção técnica: o passe. Mas será que devemos descrever estas acções como técnicas? Não se entendermos a técnica de forma analítica, idealizando uma qualidade que pode viver isolada das demais, materializada naquela visão tradicional do jogador “bom executante”. O passe, demasiadas vezes associado exclusivamente ao domínio da execução, é, como todas as outras acções do jogo, influenciado decisivamente por outras qualidades. Podemos pensar no passe do ponto de vista biomecânico pela forma como o jogador contacta fisicamente com a bola, imprimindo-lhe trajectória e força. Podemos também pensar no passe do ponto de vista psicológico. Quando Pablo Aimar assistiu de “letra” David Suazo, Ronaldinho Gaúcho assistiu de costas Giuly (sim, um passe com as costas) ou Ibrahimovic de calcanhar assistiu Lavezzi, revelou em todos eles um estado emocional acima do normal. Podemos ainda pensar no passe do ponto de vista social, e na comunicação que envolve. Não a comunicação tradicional, a qual Vítor Frade descreve de forma curiosa:

“”Pede, pede…

Pede a bola”,

é gritaria que fede

inibindo até quem tem tola.”

(Frade, 2014)

Mas de uma comunicação, talvez a mais específica do jogo de Futebol. Isto porque estamos perante uma acção de jogo que envolve uma relação entre emissor e receptor, preferencialmente não verbal. Por um lado, num primeiro momento numa comunicação corporal que transmite a disponibilidade para um jogador receber a bola do seu companheiro, por outro e num segundo momento, na bola enquanto mensagem, sendo o seu conteúdo as características do passe, o seu destino, e por vezes até a forma de resolver o problema seguinte, quando falamos do passe orientado, daquele que sugere, ou seja, aquele que indica uma decisão a tomar a seguir. Porém, o que determina a qualidade do passe é a interacção de tudo isto e muito mais, que se constitui numa (supra)dimensão táctica do passe, expressa pela decisão e execução a si acopladas e respectivo sucesso.

Assim, nas duas situações em causa destacamos dois passes, ambos decisivos no seu desfecho. Passes de características diferentes mas determinados por uma qualidade fundamental, a consciência no jogo, portanto a dimensão táctica.

O primeiro, em sub-momento ofensivo de construção, mostrando uma prévia inteligência colectiva na procura do espaço de progressão, e depois pela forma vertical como rompe o bloco adversário e coloca imediatamente a equipa numa situação favorável de criação.

“Tem que se jogar à largura, com paciência, até se encontrar o espaço entre-linhas, o espaço para meter o passe vertical e para acelerar o jogo.”

Vítor Pereira

O segundo, no sub-momento ofensivo de criação, caindo na muitas vezes “zona nublosa” do cruzamento, no fundo um passe horizontal para finalização, no qual a leitura da situação, como a imagem que ilustra este artigo mostra, foi decisiva. Leitura tantas vezes desvalorizada nos cruzamentos, até pelo jogador que, através dela, aqui obtém sucesso.

Cultura de jogo

Sub-tema de Modelo de Jogo publicamos Cultura de jogo.

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Intensidade no Futebol III

Regressamos ao tema intensidade. Tema que futuramente será de novo publicado no novo website. Os exemplos da visão que defendemos da intensidade sucedem-se em quase todos os jogos, no entanto quando temos exemplos dos melhores, estes ganham para nós toda a pertinência. Uma visão que como tudo o resto é específica deste jogo. Deste modo, a intensidade no atletismo da corrida de 100m é algo completamente diferente da intensidade que o jogo de futebol exige. Assim, como já referido no passado, existe actualmente uma forte tendência para interpretar a intensidade do ponto de vista físico ou psicológico. Respetivamente, expressa pela quantidade e velocidade de execução ou pela agressividade mental. Para nós estas interpretações, à imagem do que sucedeu no passado com toda a metodologia do treino, ideia hoje vulgarmente aceite, estão descontextualizadas. A intensidade no futebol tem que ser táctica. Logo, trata-se de decidir a melhor acção perante as circunstâncias. Mesmo que esta decisão implique travar ou abrandar, portanto, do ponto de vista da execução, fazer menos naquele instante.

Desta forma Iniesta e Messi mostram-nos que agir rápido nem sempre é o melhor caminho. O que também é diferente de ler e interpretar rapidamente o jogo e decidir bem o que fazer antes de todos os outros, e isto sim é a intensidade no futebol. Iniesta e Messi demonstram aqui que temporizar, atrair, fixar e depois soltar ou finalizar, foram melhores soluções do que acelerar em condução ou acelerar na finalização, na vertigem da intensidade física ou psicológica.

 

Valores Humanos IV

Como já referido antes, não sendo objectivo deste espaço o destaque individual a jogadores e treinadores que se mantêm em actividade, isto pela visão colectiva que temos do jogo, existirão porém sempre excepções, às quais não devemos fugir. E com toda a justiça. Maior importância ganham, se por motivos de natureza humana, pois como já salientámos por diversas vezes, são para nós os alicerces de tudo o resto. O caso em questão é valorizado ainda pelo contexto não profissional em que se insere, contexto esse muitas vezes não abordado nestes espaços.

Conhecendo o homem e o trabalho de Filipe Martins, não foi surpresa para nós o que sucedeu hoje na Taça de Portugal. Num tempo em que a dimensão liderança surge hiper valorizada, acumulam-se os exemplos de lideranças premeditadas e artificiais, que muitas vezes têm grande impacto nos momentos de sucesso, mas que facilmente se desmoronam perante o insucesso. A sua liderança, construída sobre respeito, autenticidade, ambição, e como até refere no vídeo, crescendo de forma progressiva, garantiram-lhe solidez e o respeito de todos. Não é só no futebol profissional que teremos exemplos a seguir.

Exercício gratuito

Publicado o exercício gratuito Criação com defesa por zonas.

Trata-se de uma adaptação de um exercício que José Mourinho entregou num dossiê de 39 exercícios às equipas de formação do Chelsea, na sua primeira passagem pelo clube.

Voltando à questão da especificidade do exercício, importa aqui contextualizar o Modelo de Jogo, por exemplo na respectiva estrutura da equipa perante o exercício em causa. Por exemplo, se a equipa partir de um posicionamento no momento ofensivo com dois jogadores na última linha, o exercício pode apresentar-se adequado como está aqui representado. Caso a equipa apenas apresente um jogador nessa última linha, será importante colocar a estrutura e médios e avançado em 3+1 e permitir liberdade para que todos os jogadores entrem em todas as áreas, garantido no entanto, sempre uma cobertura ofensiva.

Por outro lado, independentemente do objectivo principal do exercício ser para a equipa que ataca a baliza regulamentar, podemos pensar também no “contra-exercício” e consequentemente na equipa que defende. Assim, por exemplo, dada a propensão que o exercício pode levar a situações de cruzamento, nomeadamente quando instituída a regra “nenhum jogador no interior da área de jogo pode jogar na área contrária“, o que dada a igualdade numérica nas áreas levará muitas vezes a equipa que ataca a baliza regulamentar ao jogo exterior, fará sentido, dependendo das necessidades e objectivos da equipa técnica, que coloque ou Defesas-Centrais dentro da grande área e Defesas-Laterais fora da área ou vice-versa, tendo em conta a estimulação na defesa do jogo aéreo que procurará nestes jogadores.

Estímulo

Alterada o título da página “Definição” para O processo adaptativo e publicada a sua sub-página, Estímulo.

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Ainda o “Bacalhau à Brás”, os princípios de jogo numa perspectiva histórica, a recusa da defesa individual e nova passagem pela… intensidade

Se em artigos anteriores falávamos do pensamento disruptivo que alguns autores estão a trazer ao Futebol, o artigo O Futebol e o Bacalhau à Brás: A falácia dos princípios de jogo de Nuno Amado, o autor do blogue Entre Dez é mais um excelente exemplo e veio no mínimo lançar a discussão sobre um tema considerado sagrado no ensino e treino do Futebol. Como tantas vezes a história nos demonstrou, os paradigmas serão sempre muros a transpor no trilhar da evolução. Portanto, mesmo conceitos aceites pela generalidade das pessoas, nas quais logicamente nos incluímos, tenderão a ser substituídos por teorizações mais complexas, e dessa forma mais próximas da realidade, sem contudo nunca a conseguir reproduzir na sua totalidade. Arriscamos que a compreensão que toda a complexidade que o Universo nos proporciona será o derradeiro desafio com que a humanidade se confrontará, o qual eventualmente perderá.

Assim sendo, os princípios do jogo defendidos no trabalho que Carlos Queiroz realizou em 1983, desenvolvidos a partir das obras de Friedrich Mahlo e Leon Teodorescu em 1977, procuraram teorizar uma realidade complexa – o jogo de futebol – que como qualquer outra teoria e paradigma, encontraria mais tarde ou mais cedo limitações. Na sua génese, Teodorescu definiu que os princípios “constituíam regras de base segundo as quais os jogadores dirigem e coordenam a sua actividade – consideradas individualmente e em colectivo – durante as fases”.

Ainda o "Bacalhau à Brás", os princípios de jogo numa perspectiva história, a recusa da defesa individual e nova passagem pela... intensidade - Análise sistémica do jogo: Fases e Princípios de jogo, original de (Queiroz, 1983).

Análise sistémica do jogo: Fases e Princípios de jogo, original de (Queiroz, 1983).

Olhando para a evolução do próprio jogo, a mesma condiciona o transfer entre os princípios e a realidade do jogo. Houve com certeza um momento primitivo no jogo onde jogadores e treinadores não apresentavam consciência para os próprios Princípios Fundamentais do jogo: recusar inferioridade numérica, evitar igualdade numérica e criar superioridade numérica. Jogava-se com total ausência de consciência táctica. Pensamos, no dribbling game ou no kick and rush, nos quais, por exemplo, os princípios específicos do ataque, à excepção da progressão, seriam inexistentes. Naturalmente, o conhecimento do jogo evoluiu e do ponto de vista teórico os princípios fundamentais tornaram-se muito curtos para sustentar o jogo das equipas. Os Princípios Específicos ganharam importância e o trabalho teórico de Queiroz foi aplicado com sucesso pelo próprio nas selecções jovens portuguesas. Potenciou um número invulgar de talentos até esse momento e consequentemente, os desempenhos das equipas levaram mesmo a títulos inéditos futebol de formação português.

Hoje, com a enorme evolução da organização defensiva das equipas, surgem novos desafios ao momento ofensivo, por forma a desorganizar quem defende. E neste novo quadro, como Nuno Amado evidenciou, os quatro princípios específicos são insuficientes para resolver muitos problemas, nomeadamente no sub-momento ofensivo de construção. Isto se os interpretarmos no seu sentido literal, o que até parece acontecer com muitas personagens e equipas que fazem da progressão e do jogo vertical lei, as mesmas que com essa filosofia confundem o “fazer rápido”, o “fazer muito” e a agressividade com a verdadeira intensidade do jogo de futebol, que como já defendemos, é uma intensidade táctica. Contudo, na sua obra o próprio Leon Teodorescu ressalvou a importância da “manutenção da posse de bola. Respeitar este princípio significa evitar o risco irracional, presente nalguns jogadores, através do qual se perde o esforço colectivo dos companheiros. Se as acções individuais ou as combinações tácticas utilizadas na preparação do ataque não resultam, recomenda-se que as mesmas se retomem calmamente e não numa aventura”. Portanto Teodorescu leva-nos a uma interpretação dos princípios de jogo. Já Francisco Silveira Ramos, em 1996, considerava que os princípios “constituem uma forma ordenada e extremamente rica de orientar a acção dos jogadores, generalizando de forma abstracta, um conjunto de regras de natureza táctica, que permitem uma adequada intervenção nos diversos casos concretos que o jogo coloca”. Silveira Ramos, com ideias também à frente do seu tempo, sublinha o seu carácter abstracto perante a realidade e posiciona-os, não como condicionadores, mas como orientadores dos jogadores. Assim, esclarece desde logo que quem comanda é sempre o jogador.

Talvez pelas limitações conceptuais que aqui constatamos, deparou-se a necessidade de evolução da teorização e modelagem do jogo. Surgiram princípios operacionais, comuns a diversos Desportos Colectivos, que procuravam objectivos comuns nos diferentes jogos. Porém na busca de uma ainda maior complexidade e especificidade, adaptado de Guilherme Oliveira, citado por (Esteves, 2010), emergem os Princípios Culturais. Estes são caracterizáveis numa equipa, região, país, etc., observáveis na forma como uma determinada equipa joga. Portanto, estes princípios são variáveis em função de cada modelo de jogo, emergindo como regularidades nos quatro momentos do jogo. O autor (Maciel, 2011) reforça que estes princípios “são padrões de intencionalidade relativos ao jogar que sustentam os critérios expressos pelas várias escalas da equipa (individual, sectorial, intersectorial, colectivo), e que ao se manifestarem com regularidade lhe conferem identidade e funcionalidade nos vários Momentos de Jogo. São portanto ideais de interacção (cooperante e conflituante) que acontecem em termos probabilísticos”. Dependem assim, como o próprio nome indica, das bases culturais e consequentemente das ideias do treinador, do contexto da equipa, do clube e da própria região onde o jogo é praticado. Tem sido a partir os princípios culturais que o futebol tem evoluído nos últimos anos.

Mas mesmo afastando uma interpretação no seu sentido literal, a problemática dos princípios específicos do jogo permanece para nós relevante. Apesar da sua limitação em cobrir todo o jogar das equipas, são eficazes a resolver muitos dos seus problemas. Talvez por isso e pelo seu carácter inovador quando Carlos Queiroz os apresentou, que o seu ensino tornou-se obrigatório nos cursos de treinadores e licenciaturas em Educação Física e Desporto. Segundo (Queiroz, 1983) as formas reduzidas do jogo com que as crianças jogam em contextos informais levam à aquisição dos princípios, tornando-se essas formas um meio fundamental de ensino do jogo. Deste modo, no contexto puro do Futebol de Rua, o mesmo ao ser vivenciado em volume, ensinará então o jovem praticante, por exemplo, no momento defensivo, a colocar-se entre o adversário e a sua baliza (contenção), ensinará um companheiro a garantir uma ajuda para o caso da contenção ser ultrapassada (cobertura defensiva), trará um terceiro companheiro para centro de jogo caso o adversário também faça o mesmo (equilíbrio) e propiciará, caso a situação não esteja controlada a que os restantes companheiros se juntem a defender (concentração). No fundo, o jogo ensina valores colectivos, reflectindo a sua própria natureza colectiva. No entanto, o jogo não ensina os jogadores a defenderem individualmente os seus adversários. Não ensina de forma analítica o “cada um com um” ou o “jogo de pares”, na lógica da responsabilização individual. Se na rua alguém surgia com a pretensão de marcar o melhor jogador da outra equipa, era porque tinha assistido ou ouvido tal comportamento de um adulto. Contudo, aos 5 minutos de jogo a sua atenção já estaria em coisas mais importantes… como a bola e o espaço, em função da bola, da sua baliza e dos seus companheiros. Assim, é nossa convicção que à imagem da Periodização Física, a marcação individual como método de jogo defensivo foi também um erro que o homem, influenciado pelo pensamento cartesiano e analítico, introduziu no jogo e no seu treino como forma de o melhor compreender, avaliar e controlar, realizando o exercício impossível de tornar simples o complexo. Consequência destas ideias, as equipas tornavam-se, como Valdano apontou, reféns do adversário, como Amieiro descreveu, desorganizadas quando recuperavam a bola e nós acrescentamentos individualistas e pouco solidárias num jogo, que recorde-se, é de natureza colectiva. Perante o exposto, estas ideias não cumprem então os princípios específicos defensivos do jogo, e consequentemente, os fundamentais.

Cabe-nos portanto a missão de interpretar os princípios específicos e criar princípios culturais para que estes, mesmo que de forma abstracta, possam acompanhar a evolução natural que o jogo vai vivenciando. Aplaudimos ainda reflexões como a de Nuno Amado, que põem em causa o status quo do actual conhecimento, obrigam a pensar, levantam a discussão, potenciando assim a evolução.

“Adoro a regra

que calibra a emoção,

apaixona-me a emoção que não se nega

a levar a regra à correcção.”

(Frade, 2014)

Livro

Livro - Construir uma equipa campeã, Pedro Boulas, 2016.

O autor não dispensa apresentações, porque durante vários anos escreveu sob pseudónimo. Mas muitos que em Portugal intervêm no Futebol, ou que são simplesmente apaixonados pelo jogo, já leram pelo menos um dos seus artigos. E arriscamos que desses, a maioria voltou a fazê-lo. Muitos elogios foram feitos pelos seus leitores nas caixas de comentários, descrevendo as suas ideias como inspiradoras, ricas em conteúdo e expressas em linguagem acessível. Fundador e principal dinamizador do blog Lateral Esquerdo, Pedro Bouças lançou o seu primeiro livro que reforça ideias difundidas na internet desde 2008, acrescentando ainda experiência como principal responsável pela equipa feminina do Futebol Benfica, bi-campeã nacional Portuguesa e vencedora das duas últimas edições da Taça de Portugal.

“Quem só teoriza, não sabe. Quem só pratica, repete. O saber nasce da conjugação da teoria e da prática.”

Manuel Sérgio

Dado o seu percurso, a frase do professor Manuel Sérgio assenta na perfeição à intervenção de Pedro Bouças no Futebol. Sendo o projecto Saber Sobre o Saber Treinar fortemente bibliográfico, o nosso elogio ao seu trabalho traduz-se nas inúmeras citações que lhe realizámos ao longo do mesmo e que prevemos continuar a realizar no futuro.

Neste contexto não podemos ainda perder a oportunidade, paralelamente aos treinadores e autores mais mediáticos, de também elogiar todas as outras pessoas citadas neste projecto. Os treinadores menos mediáticos, autores de livros, de trabalhos, de páginas, blogues e grupos de discussão presentes na internet, que como referimos no artigo Um novo começo, constituiem-se com actores decisivos na evolução que o jogo e o treino estão a presenciar. É para nós ainda evidente, que o blogues como o Lateral Esquerdo e o Entre Dez, seguidos por outros espaços, foram enormes catalisadores desta evolução, não só pelo pensamento disruptivo que trouxe ao jogo, mas também resistência à hostilidade com que o pensamento vigente se defendeu.

“Desmontar os absurdos que condicionam o nosso pensamento e nos acompanham, disfarçados de tópicos, preconceitos, ideais pré-concebidas, clichés, falsos paradigmas, lugares comuns e demais formas de pensamento não é tarefa fácil.”

Mateo, J; y Valle J. citados por (Moreno, 2009)

O processo adaptativo

Publicada em Saber Sobre o Saber Treinar a página sobre o O processo adaptativo.

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Mário Wilson

Faleceu ontem Mário Wilson. A alcunha “Capitão” subentende desde logo o reconhecimento da sua liderança. Diversos relatos transmitem que a mesma acompanhou-o de jogador a treinador. O ex-jogador e treinador Carlos Manuel em (SportTV, 2016) confirma esta qualidade ao explicar que Mário Wilson tinha “liderança em todos os sítios por onde passou. (…) A alcunha vem da Académica onde já o tratavam por capitão. (…) Ele era realmente uma pessoa extremamente afável e com uma liderança enorme. Era um líder nato”. Talvez a melhor homenagem a Mário Wilson esteja no facto de estar entre os treinadores que marcaram o futebol pelos valores humanos que transportava. Toni, citado em (Record, 2016), transmite isso mesmo referindo que era “um um homem bom, uma figura incontornável do desporto português. Um treinador que marcou os jogadores que treinou e que se vai embora. O seu “filho branco” verga-se perante aquele que foi o seu segundo pai“. João Vieira Pinto citado em (Record, 2016) segue a mesma linha elogiosa ao referir que “todos nós temos de fazer uma vénia ao ‘capitão’. De facto, onde o ‘capitão’ estava presente havia força, sabedoria e paz. Quando estávamos ao pé dele sentíamos isso tudo. (…) do ‘mister’ Mário Wilson vou ficar com muitas e boas, porque foi uma pessoa que me marcou imenso. Ganhei uma Taça de Portugal com ele, fiz questão de festejar com ele, porque quando havia turbulência e ele aparecia as pessoas ficavam mais calmas. Era um grande homem, era um ótimo treinador e foi uma pessoa que me marcou imenso”. João Vieira Pinto não tem problemas em assumir que com Mário Wilson teve uma relação de quase de pai para filho“.

Mário Wilson - Mário Wilson e Toni

Com certeza pelas mesmas qualidades, Mário Wilson era também elogiado pelos seus discursos. Alguns foram mesmo públicos, mas ex-jogadores referem que as suas palavras nos balneários tocavam-lhes intensamente. Pedro Henriques em (SportTV, 2016) descreveu que “talvez tenha sido o único homem do futebol que me tenha empolgado com um discurso. Tinha essa capacidade. Tinha uma oratória fantástica, pelo timbre, pela voz e do bater da mão tradicional e característico nele. (…) Um homem fantástico”. Mas Pedro Henriques salienta acima de tudo a autenticidade de Mário Wilson. O ex-jogador defende que “é muito difícil encontrar alguém com disponibilidade para ouvir, ainda para mais no futebol que muitas vezes os discursos são tão ocos e é tudo mais do mesmo. É tudo dito com interesse e com segundas intenções. Aquilo é que eram de facto discursos. (…) O que ele dizia causava impacto”.

Se temos dificuldade em diferenciar a importância das, para nós, três dimensões da intervenção do treinador: Liderança, Metodologia de Treino e Modelo de Jogo (explicação desta visão aqui), sentimos que pela condição humana e a consequente importância das relações, nomeadamente num jogo colectivo, que a Liderança pode marcar uma maior diferença em muitos momentos e contextos. Manuel Sérgio defende que a condição humana deveria ser o objeto primeiro de todo o ensino. Procurando ir mais longe, dentro da Liderança, e como iremos no futuro publicar, dentro das “Qualidades do Líder”, sentimos ainda que os “Valores Humanos” são de basilar importância. Será em cima deles que tudo o resto se edificará. Se estes forem frágeis”, todo o edíficio materializado na qualidade do trabalho do treinador, tenderá a ruir. Tendo em conta a grande evolução que o Futebol viveu, com naturalidade Mário Wilson poderia até estar longe do actual conhecimento metodológico e táctico, porém, baseando-nos na multiplicidade de relatos que nos chegam, em Liderança e principalmente, em termos humanos, todos teríamos a aprender com ele.

Mário Wilson - Mário Wilson e João Vieira Pinto

Metodologia de treino

Publicada em Saber Sobre o Saber Treinar a primeira página do tema Metodologia de Treino.

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