Defesa Individual em situações de bola parada

Apesar de neste espaço evitarmos a análise a treinadores, equipas e jogadores, há situações que nos parecem incontornáveis, também pelas as ideias que desenvolvemos.

Defesa Individual em situações de bola parada - 1

No Chelsea x PSG dos oitavos de final da Liga dos Campeões em 2015, três dos quatro golos da partida foram obtidos de pontapé de canto. Ambas as equipas apresentaram métodos defensivos individuais nestes sub-momentos do jogo. Se no golo do Chelsea, a defesa individual do PSG desposiciona-se sucessivamente após três disputas de bola, criando possíveis espaços de finalização, sendo que a “quarta bola” dá golo, por outro lado, nos golos do PSG a finalização é directa após o primeiro cruzamento, beneficiando de espaços criados pela confusão de tantos duelos individuais em tão pouco espaço. No segundo golo do PSG, os dois Defesas-Centrais do Chelsea chegam a colidir um com o outro, libertando espaço para o adversário finalizar facilmente. Há assim, espaço no local mais importante… onde a bola vai cair, e a preocupação em interceptá-la passa também ela a secundária.

Defesa Individual em situações de bola parada - 2

“Na opinião de (Bouças, 2011), DEFENDER O QUÊ? “deve ser a primeira pergunta que se deve colocar, quando se pretende definir o método defensivo. Se não há certo ou errado, garantidamente que há melhor e pior.” O autor explica, que “a melhor resposta é seguramente, a que afirmar que se deve defender a baliza. Não o adversário. A baliza. O posicionamento defensivo que se centra no tapar o caminho para a sua baliza, é francamente melhor que aquele que pretende defender os adversários”. O treinador português (Carvalhal, 2010) acrescenta a sua experiência como jogador: “fui defesa central e percebo muito bem esta posição! Mais importante que perseguir adversários e fazer carrinhos nas laterais do campo, é absolutamente necessário saber guardar o seu espaço e não permitir que qualquer adversário (não só os avançados) possa entrar nesse espaço para fazer golo”. Assim, o autor (Lumueno, 2013) defende que “o objectivo da defesa zonal é fechar todos os caminhos mais próximos da minha baliza, através da criação de superioridade numérica na zona da bola e de uma cobertura equilibrada dos espaços em redor dessa zona”.”

“Segundo (Castelo, 1996), citado por (Batista, 2006), falando no conceito de marcação em organização defensiva, “é em função da bola, dos adversários, da baliza e dos companheiros que esses comportamentos se deveriam manifestar”, assim, o autor atribui uma acentuada dimensão colectiva ao sucesso da marcação. Deste modo, (Amieiro, 2004), reforça que “de forma sumária, na defesa à zona a grande preocupação é «fechar como equipa» os espaços de jogo mais valiosos e, deste modo, colocar a equipa adversária sob constante constrangimento espácio-temporal. Procura-se, no fundo, gerir colectivamente o espaço e o tempo no jogo.”

“Quem marca ao homem corre por onde o adversário quer. Essa caçada tem por fim capturar o inimigo, mas o meio usado converte o caçador em prisioneiro.”

(Valdano, 2002)

Defender à Zona, independentemente do sub-momento defensivo do jogo, é colocar a máxima inteligência no momento defensivo, procurando a iniciativa a defender, pensando o jogo de forma colectiva, e também no fundo, procurando antecipar o futuro.

Ensino, Individualidade, Criatividade…

Antigamente, sobravam tempo, espaço e oportunidades para as crianças jogarem longe das regras dos adultos. Nesses espaços não havia limite de toques ou caminhos proibidos. Muito menos caminhos obrigatórios.

Paulo Sousa

Animação adaptada de uma palestra dada na RSA por Sir Ken Robinson.

“Jogar de forma destruturada, em espaço livre, com reduzida supervisão é o berço de qualquer criança. Para que a próxima geração cresça saudável, equilibrada e apta para beneficiar da sua educação, devemos assegurar que as crianças vão para a rua jogar”.

Sue Palmer, escritora e especialista em crianças, citada por (Cooper, 2007)

A Descoberta Guiada surge na mesma linha do método psicogenético, um ideal educativo criado por Lauro de Oliveira Lima, estruturado a partir das descobertas científicas de Piaget. Este método defende que “O professor não ensina; ajuda ao aluno a aprender”. Segundo (Bello, 1995), “professor deve deixar de lado sua postura de “professor-informador” para assumir a postura de “professor-orientador“, assim como um “técnico de Futebol”, que organiza a equipa em campo. A discussão entre todos é a didáctica fundamental”, e citando (Lima, 1972), “trabalho, deixando de ser manual para ser intelectual, deixando de ser individual para ser grupal, deixando de ser linha de produção (linear) para ser uma decisão (circular), transformar-se-á em discussão”. Assim sendo, o “indivíduo irá aprender através de actividades planeadas pelo professor como, por exemplo, pesquisas, leituras, passeios, etc., sempre orientados pelo professor. Atentando-se que estas actividades são sempre grupais para que todos possam educar a todos, construindo o conhecimento na interacção entre eles”. Bello fundamenta a necessidade deste método de ensino com a imprevisibilidade que o futuro nos traz, portanto há que preparar o indivíduo para resolver situações-problema. Bello explica através de um exemplo prático, citado pelo professor Lauro de Oliveira Lima: “as criança estavam utilizando o escorrega com perfeição, subindo pela escada e descendo pelo escorrega. O professor Lauro sugeriu que a professora estimulasse o inverso: subir pelo escorrega e descer pela escada. Com esta atitude a professora estará incentivando a criança a se superar, a sair daquele estágio em que se encontra para alcançar um outro nível de complexidade de desenvolvimento. Se as crianças estavam cumprindo a tarefa de subir pela escada e descer pelo escorrega com perfeição, elas estavam acomodadas naquele nível de desenvolvimento. Quando a professora sugere uma tarefa de complexidade superior ela está ajudando as crianças a assimilar um novo nível de equilíbrio”. Com este exemplo, Bello expõe que “a professora poderia “mostrar como se faz” para as crianças, o que não teria nenhum valor no esforço de conquista da nova aprendizagem a ser enfrentada pelos alunos. Portanto, a aula expositiva (conhecida no jargão pedagógico como “aula de salivação”) é incompatível com o esforço para inventar que deveria estar sendo empreendido pelos alunos. Para Lauro de Oliveira Lima todo desenvolvimento requer esforço para que se possa construir estruturas ou estratégias de comportamento cada vez mais complexas”. José Bello vai mais longe e sustenta que “a aula expositiva torna-se então quase um “anti-estímulo” à criatividade ou uma ofensa contra o aluno, já que pressupõe uma incapacidade de interpretação e leitura de mundo por parte dele. O surgimento do livro condenou a aula expositiva à morte”. O treinador (Mourinho, 2009), corroborando a aprendizagem através da dinâmica de grupo ao invés da aula expositiva, explica que, em conversa com ex-colegas universitários, “no outro dia, quando falámos lá no ISEF, chegámos à conclusão que aprendemos muito mais entre nós e nos intervalos entre as aulas”. Num programa televisivo não identificado, o psiquiatra português Daniel Sampaio reforça esta ideia através das mudanças sociais e tecnológicas das últimas décadas. Segundo Sampaio, até aos anos 80/90 as crianças cresciam perante fontes de informação limitadas e essencialmente expositivas como eram por exemplo, os poucos canais de televisão disponíveis. Após a revolução tecnológica que a Internet, os computadores, os tablets, os próprios telefones, a televisão por cabo e a sua enorme oferta trouxeram, as crianças tornaram a descoberta do conhecimento um processo de enorme interactividade. Porém, Daniel Sampaio explica que os métodos de ensino não acompanharam esta evolução e consequentemente tornou-se muito difícil manter crianças concentradas em aulas de uma ou duas horas nas quais o professor debita o conhecimento e o aluno interage e descobre pouco.

“O treinador é importantíssimo por todos os conhecimentos que poderá transmitir. Mas se fizer mal as coisas, será mais interessante juntar as crianças e deixá-las organizar a sua própria actividade. Verá que se dividirão por duas equipas e jogando descobrirão o caminho.”

(Bouças, 2013)