Programa de Treino

“Independentemente das metas a que se propõe cada equipa no início de cada época desportiva, terá que existir um trabalho programado, que oriente o processo de treino desde o seu começo até ao final.”

(José Mourinho, 2001)

Iremos em breve iniciar a publicação de uma nova parte do nosso trabalho, intimamente ligada ao “todo” que vamos progressivamente construindo. A sua publicação será progressiva, exercício a exercício, objectivos e com várias variantes, até ficar completa a estrutura do Programa, ou seja, o ciclo das 4 semanas.

O Programa de Treino torna-se um desafio e uma descendência do conhecimento e experiência obtidas na investigação que vamos realizando paralelamente à intervenção directa no treino. Estas experiências trouxeram questões e fizeram crescer determinadas necessidades metodológicas visando a eficiência e eficácia do processo.

Deste modo, propomos um Programa de Treino que se constitui numa programação hierarquizada e sistematizada de temas (Momentos do Jogo), sub-temas (Sub-Momentos do Jogo) e Princípios. Procurando também atingir um nível mais profundo de operacionalização, acrescentamos ainda um conjunto de variantes para cada exercício proposto pelo Programa.

Naturalmente usámos a Sistematização do Jogo que desenvolvemos em 2015 e que continua a servir-nos no presente para mapear o jogo e a partir daí garantir vários propósitos ao processo de organização de informação, análise, planeamento e ensino / treino. Também procurámos que o Programa fosse, por um lado, suficientemente fechado para se conseguir um razoável controlo do processo de aquisição e repetição num plano macro, por outro, que também fosse suficientemente aberto para poder ser implementado com diferentes Ideias de Jogo, diferentes níveis competitivos e ainda diferentes escalões etários. Nesta lógica, no âmbito da Ideia de Jogo, será num plano mais micro que se ditarão as diferenças no contexto de cada equipa que adopte este Programa, o que não quer dizer que desse modo estas diferenças sejam menos impactantes do que uma mudança no plano macro (Organização dos Momentos, Sub-Momentos e Grandes Princípios). Recordamos que estamos perante um sistema complexo de extrema sensibilidade às condições iniciais, e como tal, tais diferenças poderão ditar Modelos de Jogo muito diferentes entre si.

“Devemos, por isso, ter em atenção os perigos de treinar só a olhar para o próximo jogo. Recentemente, um treinador partilhava comigo a dificuldade dessa gestão. Imaginem que preparamos a semana toda para enfrentar uma linha de 5 e, durante 3 semanas seguidas, vamos enfrentar linhas de 5. No final dessas 3 semanas, provavelmente, haverá coisas importantes que se podem perder. Coisas que se relacionam com outro tipo de problemas. Por isso, entendo que ao longo de todas as semanas é preciso ir cuidando do todo, para que não arrisquemos empobrecer partes importantes.”

“Fazer muita coisa com qualidade é difícil. É difícil apresentar diversidade de comportamentos bem trabalhados. Mas não é impossível. É preciso tempo, qualidade de treino e qualidade nos intervenientes. Mas teremos de estar sempre conscientes que não podemos treinar tudo. Não podemos ter tudo na nossa forma de jogar, pelo menos para quem acredita na força do pormenor. Para haver padrão tem de haver repetição e entendimento. Isso leva tempo. Temos então de escolher muito bem o que treinar e a quantidade de coisas em que queremos ser fortes. Podemos ter maior variabilidade mas menor pormenor ou ter mais pormenor e menor variabilidade. O que não podemos é ter tudo.”

(Bruno Fidalgo, 2022)

Procurando dar um exemplo, no Programa proposto, o exercício:

B-2OO2A

Semana: B

Sessão de Treino: -2

Tema / Momento do Jogo: Organização Ofensiva

Parte da Sessão de Treino: 2

Exercício: A

O tema da sessão, Momento de Organização Ofensiva estará neste exercício ligado ao momento seguinte, a Transição Defensiva, cumprindo assim o Princípio Metodológico da Articulação de Sentido. Neste enquadramento, e realizando “zoom” no exercício, este terá como sub-temas (Sub-Momentos) a Construção + Criação + Reação à perda, e ainda de forma mais específica, os Princípios o Equilíbrio defensivo em construção + Saída de jogo do GR + Decisão pelo ataque rápido + Construção pela primeira linha + Construção pelo corredor lateral. Assim, se todas as equipas terão, ao longo do jogo, que passar obrigatoriamente por estes e restantes Sub-Momentos, estes grandes Princípios também se situam na mesma lógica.

“a beleza desta forma de pensar o treino, é que no mesmo exercício nós treinamos muitas coisas e é difícil explicar o objectivo de cada exercício, já que ele é muito rico”

(José Mourinho, 2010)

Por uma via ou por outra, ou seja, através dos “comos”, os jogadores terão que saber ler, decidir e executar os diferentes Momentos, Sub-Momentos e Princípios de Jogo. Especificamente relativamente aos últimos, todas as equipas deverão cumpri-los não só para jogar bem, e em alguns casos mesmo, simplesmente para poderem… jogar, como é o caso da Saída de jogo do GR. Agora, se a equipa sai de forma aberta ou fechada, curta ou longa e de que forma(s) específica(s) (que posicionamentos?, que decisões?), o “como”, já estará dependente da Ideia específica de cada treinador. E em função do nível de liberdade permitido pela Ideia (a concepção), se este este assim o entender, da criatividade e aporte que cada jogador, tendo conta a bagagem que possui (a qualidade) possa acrescentar ao Modelo (o real). No mesmo exemplo, o mesmo sucede com o Equilíbrio defensivo em construção e de que forma ele é garantido. Também a Decisão pelo ataque rápido e em que circunstâncias a equipa deve (ou simplesmente não deve) decidir acelerar a progressão e tornar-se mais vertical e agressiva na procura de chegar ao Sub-momento de Criação ou mesmo à baliza adversária se existir essa possibilidade. No mesmo sentido, de que forma, e que variantes adopta na Construção pela primeira linha, podendo, por exemplo, o objectivo ser chegar ao espaço entre-linhas e ao Sub-Momento de Criação, ou então atacar imediatamente a profundidade (o espaço entre a última linha adversária e o seu GR) em passes mais longos verticais saltando assim o momento de Criação para se chegar de imediato à Finalização, ou ainda procurar a variabilidade e explorar ambas as soluções. E finalmente que posicionamentos e decisões se pretendem para a Construção pelo corredor lateral, se é desejada por exemplo em combinações curtas, se em passes mais longos, que variabilidade, se é garantida mobilidade e trocas posicionais e quais as circunstâncias para a equipa o fazer, se procura atrair o adversário fora, para depois procurar a progressão por dentro ou variar o corredor lateral, etc, etc.

Como vemos, emergem ilimitadas possibilidades de configurar a equipa de acordo com a Ideia e até ligá-la ao plano estratégico num contexto de rendimento ou próximo. Podemos então afirmar que as diferenças de equipa para equipa não se situarão no que fazer, mas sim no como o fazer.

“(…) os «exercícios», em si mesmos, têm pouco valor. Têm unicamente informação potencial. A ênfase que eu coloco nisto e naquilo enquanto o «exercício» acontece, o modo como eu ligo isto com aquilo e a articulação entre «exercícios», são os aspectos mais importantes e os mais difíceis de dominar. E dependem exclusivamente do treinador. Por isso é que eu digo que os «exercícios» nunca são novos. Têm de estar sempre relacionados uns com os outros.”

(Vítor Frade, 1998) citado por (Nuno Amieiro, 2009)

Perante este cenário percebe-se que se trata de um desafio extremamente ambicioso e complexo, principalmente se o programa deseja ser transversal a todos os escalões etários. Contudo, acreditamos que tal seja exequível tendo em conta as ideias que vamos abordando e a especificidade do processo que idealizamos. Compreendendo simultaneamente que o exercício de treino é o elemento básico e decisivo na intervenção do treinador. Desta forma, em idades mais baixas, adotando os exercícios propostos pelo programa ou criando novos de menor complexidade, ajustando e cortando também conteúdos em função do escalão etário e tendo em conta o desejável volume de treino nessas etapas de desenvolvimento, o objectivo parece-nos alcançável. Por outro lado, nesse género de processo, serão também importantes, e em função da dimensão do Projecto de Formação, a criação de outras actividades complementares, que garantam outra riqueza e multilateralidade à formação do jovem jogador. Será um outro desafio que o nosso projecto poderá abordar no futuro.

Diversos autores e treinadores, tendo em conta o entendimento que têm do processo, defendem o trabalho semanal através de um Microciclo ou Morfociclo padrão. Independentemente do entendimento e da consequente terminologia, a grande maioria, na actual fase de desenvolvimento do Treino de Futebol, concorda com a importância da sistematização do processo, pelo menos a este nível. Tal terá sucedido, consequência da necessidade de cumprir pilares fundamentais do processo adaptativo, como é exemplo a necessidade de recuperação aos estímulos obtidos. Seja a recuperação decorrente do último jogo disputado, da última sessão de treino, ou do último exercício. Também porque diferentes estímulos pressupõem diferentes períodos de recuperação, não só do ponto de vista físico-energético como também nervoso. Como temos vindo a defender, o processo de adaptação e a consequentemente fadiga, é um todo complexo do qual se torna muito difícil distinguir a maior ou menor influência a suas diferentes dimensões.

Estamos alinhados com os autores que defendem a importância desse padrão no ciclo semanal em função, por um lado, das competições e do desgaste decorrente das mesmas, mas também pelas necessidades decorrentes do próprio processo aquisitivo. Isto, principalmente no caso dos contextos de rendimento. E concordamos também com a visão de Vítor Frade que se materializou no Morfociclo. No entanto sentimos idêntica necessidade de encontrar outro ciclo a maior prazo, que além de salvaguardar as necessidades referidas, também promova uma repetição sistemática de temas tendo em conta a complexidade do jogo, a sua especificidade, a sua lógica acontecimental e determinada cultura que se pretende alcançar, que por sua vez deverá estar alinhada com os princípios fundamentais e específicos do próprio jogo.

Neste enquadramento, pegando no ciclo semanal que vínhamos a desenvolver, o qual já garantia em cada Sessão de Treino protagonismo a um Momento do Jogo diferente, sendo que, como vimos atrás, em cada Exercício esse Momento estaria pelo menos ligado ao Momento imediatamente antes ou imediatamente seguinte de forma a cumprir o Princípio da Articulação de Sentido, chegámos a uma proposta programática de um ciclo de 4 semanas. Deste modo, procuramos promover uma diferenciada densidade de temas em função da sua importância no jogo, mas também que permita uma repetição e consolidação ao longo da época, a qual poderá ser gerida de forma progressiva ou regressiva tendo em conta a avaliação que se vai fazendo do processo. E para tal, como também vimos atrás, o Exercício é o principal meio que o treinador possui, neste e em qualquer outro processo, para garantir essa operacionalidade. No entanto, como Frade defende, por si só o exercício tem pouco valor. Para além da sua eficácia relativamente ao seu propósito e em função disto, da sua lógica interna, torna-se também fundamental que interaja com o “ecossistema” em que actua, por exemplo, com os exercícios da restante Sessão de Treino, com o Ciclo Semanal, com o Ciclo Programático das 4 semanas e com o Ciclo Anual. E no caso do Futebol de Formação, também com os Ciclos Anuais anteriores e seguintes, ou seja, o Ciclo Plurianual.

Assim, na perspectiva do ciclo semanal de um momento competitivo, defendemos os dias de dominância dos Momentos de Transição no início da semana e os de Organização nos treinos -3 e -2, ou seja um ciclo semanal com competição ao Domingo, as Transições seriam Terça e Quarta e as Organizações Quinta e Sexta. Esta lógica foi encontrada pela observação e experiência sobre o género de exercícios que defendemos dedicados a cada um destes Momentos, tendo em conta os regimes que exacerbavam, a complexidade dos mesmos, portanto, a fadiga promovida e os dias subsequentes de possível recuperação. Sendo verdade que podemos manipular a grande maioria dos exercícios de forma a atingir tais regimes a determinado dia da semana, por outro lado, estaremos desse modo, novamente a trabalhar na lógica de periodização física, dado que será essa a prioridade que estamos a dar ao nosso processo de planeamento. Desse modo, esse género de manipulação também tenderá a afastar o exercício do seu contexto e especificidade ideal, podendo daí resultar menos impacto naquilo que é realmente importante para nós: o comportamento desejado, seja ele de objectivo dominante de posicionamento, decisão ou execução.

Continuando a explicação, os dias dedicados às Transições serão alternados a cada semana, ou seja, na Semana A a Sessão -5 será dedicada à Transição Ofensiva enquanto a Sessão -4 à Transição Defensiva. Na semana seguinte é invertida a sequência de forma a possibilitar, a ambos os Momentos, diferentes níveis de complexidade e diferentes géneros de exercícios e consequentemente outro nível de desgaste. O mesmo se passa com as Organizações. Se na primeira semana, na Sessão -3 o tema dominante é a Organização Ofensiva, no -2 é a Organização Defensiva. Na semana seguinte, o inverso. Deste modo, no Programa, ou seja, no ciclo das 4 semanas, teremos sempre 2 treinos no mesmo dia para cada Momento.

O treino -1, para as equipas que o contemplam na sua estrutura semanal (níveis de rendimento semi-profissional e profissional, e pré-rendimento de clube profissional), será para nós dedicado a questões emocionais, de plano micro, estratégicas e de possível reforço às situações de bola parada.

Sublinhando que este Programa surgiu por necessidade prática, estamos convictos que pode ser um upgrade ao processo metodológico. Não só do ponto de vista da eficiência do mesmo, como da sua eficácia. Para os treinadores que estão à procura de uma orientação, mas também para colocar questões aos que já têm o seu processo definido. Acreditamos então que este pode ser um passo decisivo na evolução da intervenção do treinador.

“Agir local, pensar global.”

(Silveira Ramos, 2004)

10 ideias / exercícios para desenvolver a Organização Ofensiva em geral

“(…) em primeiro lugar temos que perceber em que nível nos encontramos. É decisivo percebermos o que é a cultura individual dos jogadores em termos do jogo, é fundamental perceber as qualidades dos jogadores e perceber isso em função do que se pretende. Se pretendemos que haja sucesso em termos do que fazemos no treino e queremos que isso se constitua como uma aprendizagem em termos de cultura de jogo, em termos de comportamentos colectivos é necessário que se compreenda esta evolução em termos de complexidade. Isto é decisivo, mas também é decisivo fazer uma avaliação do que é a nossa equipa, os nossos jogadores e do que é o conhecimento do jogo por parte da equipa e portanto a antecipação é tão mais facilitada quanto maior for a cultura de jogo da equipa.”

Rui Faria citado por (Carlos Campos, 2007)

Na sequência da publicação do tema Organização Ofensiva, adicionamos 10 ideias ou exercícios para desenvolver ou avaliar o momento de Organização Ofensiva de uma forma geral. Recordamos que, mais importante do que serem identificados como exercícios, devem ser entendidos como ideias para serem usadas na totalidade ou parcialmente de forma a estarem adequadas à especificidade, necessidades e / ou planeamento, de cada contexto colectivo ou individual da responsabilidade de cada treinador.

Sendo exercícios gerais do ponto de vista ofensivo, podem desde logo proporcionar objectivos avaliativos do nível de jogo ofensivo colectivo, sectorial e individual. Por outro lado, importa também sublinhar que se desenvolvemos o tema Organização Ofensiva, para já de uma forma geral, portanto, procurando não ir assim à especificidade de cada sub-momento (Construção, Criação ou Finalização) ou a outros princípios / comportamentos em particular, o alvo procurado torna-se assim, também ele, geral. Aparentemente pode parecer um objectivo fácil para o treinador, mas na realidade não o é. Se excluirmos a exercitação sob forma de jogo formal, seja ela intra equipa, seja recorrendo a adversários externos (o enquadramento mais específico para recriar a realidade competitiva), a criação de outras formas para atingir este objectivo mais generalista, no fundo formas que garantam uma grande complexidade comportamental no momento ofensivo, torna-se um desafio à simplicidade.

Explicando um pouco melhor a ideia, a partir do momento em que, através do exercício de treino, manipulamos significativamente o jogo, seja pelas suas regras, espaço, tempo ou número de jogadores, isso vai levar o exercício a determinada especificidade comportamental, afastando-o assim de comportamentos gerais. Portanto, em situações gerais, mais abertas, livres de constrangimentos, logo, induzidas por exercícios mais simples tendo em conta as suas regras, teremos então mais comportamentos, para não dizer a totalidade do jogo. Sendo assim, uma maior riqueza comportamental trazida por um exercício mais simples traduzirá uma situação de jogo mais rica e complexa. Então, se condicionar um exercício para obter determinada propensão comportamental revela-se um desafio, manter o jogo numa dimensão mais geral, também o é.

Assim, as ideias apresentadas procuram cumprir esse desafio. Já excluindo a variável tempo, mas condicionando o sistema competitivo, o resultado, o número de jogadores, a forma de reinício e o espaço de jogo, procurámos criar formas jogadas que proporcionassem o momento de Organização Ofensiva numa máxima totalidade. Importa referir que manipular o espaço e o número de jogadores de forma considerável irá aproximar as situações de determinados sub-momentos do jogo, contudo, serão mantidos comportamentos ofensivos gerais e será esse o grande objectivo deste trabalho.

Disponibilizamos um dos exercícios de forma gratuita, o Exercício 148 | Jogo colectivo com vantagem máxima de um golo. A ideia, condicionando o resultado do jogo ao não permitir às equipas uma vantagem maior do que de um golo, será estimular o critério com bola, levando-a a decidir em que momentos deve aumentar a agressividade sobre a baliza adversária, em relação a outros, que pela vantagem obtida no resultado, necessita de conservar a bola e diminuir o risco de perda de mesma. Isto não significa que defendamos que a partir da vantagem as equipas não devem procurar mais golos e uma vantagem maior, mas sim, que se torna decisivo melhorar o critério com bola na globalidade do jogo. Por outro lado, sendo a situação disputada em vários jogos, o tempo de jogo de cada um será mais reduzido, permitindo assim recriar a ideia de um jogo que está perto do final e de que a equipa procura garantir mais posse de bola que o adversário para evitar que este crie oportunidades de finalização. Evidentemente que contendo este risco de condicionar o jogo ofensivo para uma menor agressividade com bola após vantagem, o exercício deve, à imagem de todos os outros, ser doseado, tendo em conta um planeamento geral, ou a necessidade de jogo de determinada equipa.

“O treino desportivo não é apenas um problema de escolha de exercícios (o que fazer), é também e principalmente um problema de doseamento (quando e quanto treinar).”

(Monge da Silva)

Exercício 144

Exercício 145 Exercício 146

Exercício 147

Exercício 148

Exercício 149

Exercício 150

Exercício 151

Exercício 152

Exercício 153

 

Organização Ofensiva [Subscrição Anual]

Publicamos o tema Organização Ofensiva. Importa transmitir que esta publicação, à imagem de outras futuras direcionadas para os outros três momentos de jogo, trará nesta primeira abordagem uma perspectiva eminentemente macro. Trata-se porém, de um tema muito vasto e com tanto potencial para explorar ao nível do detalhe, o que irá suceder no futuro. Deste modo, antecipamos, que a partir deste tema, traremos outros, sub-dividindo-o para esse efeito, nos seus três sub-momentos e a partir daí, a uma escala ainda mais micro, em princípios e sub-princípios.

Contudo, a abordagem que aqui fazemos, ainda que uma “fotografia” ao quadro geral do momento de Organização Ofensiva, tendo em conta o potencial do tema, acabou por necessariamente se tornar extensa e, na nossa opinião, um passo fundamental para compreender não só o momento em si, mas também o jogo no seu todo.

O tema Organização Ofensiva encontra-se enquadrado em:

Por outro lado este tema será constituído pelos seguintes capítulos:

  1. Enquadramento
  2. Um jogo “descerebrado”
  3. Desconstruir e compreender o momento de Organização Ofensiva
  4. Jogar… ofensivamente… “bem”
  5. A dinâmica – tempo, espaço, número e… qualidade
  6. Defender começa quando se ataca e… atacar… começa quando se defende
  7. Traços de qualidade ofensiva
  8. Máxima variabilidade para… máxima adaptabilidade
  9. Situações de bola parada ofensivas

Deixamos alguns excertos do tema Organização Ofensiva. Dada a extensão do tema, partilhamos aqui um pouco mais do que o habitual.

“Sem a bola, não podes vencer.”

(Johan Cruyff)

Parece-nos claro que a grande atracção que o Futebol traz aos seus entusiastas provém de acções elementares do jogo como o drible, o passe que rompe linhas, o último passe que coloca o atacante na cara do guarda-redes adversário, ou aquele seu “descendente”… o cruzamento perfeito que descobre um atacante livre para finalizar. Mas também a difícil recepção, o detalhe técnico invulgar, a simulação que engana toda a equipa adversária, a ideia divergente que ninguém esperava e trouxe sucesso à jogada, etc., etc… Ou ainda por outras um pouco mais complexas como a combinação, mobilidade e permutas entre jogadores, e até do ponto de vista colectivo, a dinâmica que algumas estruturas das equipas trazem ao espectador, jornalista e técnico, tal qual um bando de aves a voar numa sincronia perfeita. Porém, acima de tudo isto, claramente que se posicionam a finalização e o golo. Estes momentos são sem dúvida o epicentro do jogo de Futebol.

O denominador comum entre todas estas acções, manifesta-se em serem as que se enquadram no jogo ofensivo das equipas, independentemente se depois, em função de cada contexto de jogo, sucedam em Transição Ofensiva ou Organização Ofensiva. Por outro lado, sendo verdade que se tem assistido ao longo da evolução do jogo a uma crescente “espectacularidade”, mediatização e valorização das acções realizadas nos momentos defensivos, é no entanto, sem grande dúvida, o ataque e a expectativa em relação à forma como os jogadores dão uso à bola, os comportamentos que ainda promovem a maior atracção à maioria dos apaixonados pelo jogo.

(…)

Uma ausência de critério e intencionalidade, o tal jogo “descerebrado” transmite uma ideia de navegação à deriva que só por acidente, trará o sucesso desejado. Sucesso esse que perante tal enquadramento, será muito provavelmente pontual. Com naturalidade, esta era uma característica do jogo das equipas nos primórdios do Futebol, até que as experiências e a reflexão de jogadores e treinadores fizeram-no evoluir para o nível actual. Hoje, no jogo de nível superior, a grande maioria das equipas mostram intencionalidades e ideias, independentemente, depois, da sua maior ou menor qualidade. Que sublinhamos… qualidade essa… ditada pela regularidade da eficácia que tais ideias potenciam, em interacção com a qualidade individual dos jogadores. É sobre essas ideias que nos debruçamos, procurando a provável utopia do melhor caminho para chegar a um sucesso… regular. Mantendo também, sempre a consciência que tal caminho estará sempre em permanente construção e evolução.

(…)

Neste sentido, (José Laranjeira, 2009) conclui que assim é imperioso tornar o processo ofensivo mais objectivo e concretizador, conduzindo à criação de um maior número de oportunidades de golo e correspondente concretização“. Com um pensamento praticamente idêntico, (Pedro Bessa, 2009) também sublinha que “para todos que pretendem ver um Jogo revestido de qualidade e de espectacularidade, existe a necessidade de tornar o processo ofensivo mais objectivo e concretizador, para que se criem mais oportunidades de golo e se atinja uma maior eficácia em jogo (Luhtanen, 1993, cit. por Pereira, 2008)”. No mesmo sentido surge ainda (Pedro Barbosa, 2009), defendendo que perante “a raridade existente de golos num jogo, é provavelmente essencial que as equipas para ter sucesso, necessitem de possuir um processo ofensivo eficaz e eficiente (Yamanaka et al. 1988; Szwarc, 2007)”. Para tal, (José Laranjeira, 2009) acredita que só através da criação de desequilíbrios, por comportamentos individuais e colectivos, se consegue provocar surpresa no adversário“.

Se foi uma realidade, que a determinado momento do jogo a evolução da organização defensiva das equipas se sobrepôs ao investimento na organização ofensiva, por outro lado, como abordamos atrás, tem havido uma confusão entre eficácia, eficiência e estética. Muitas análises e avaliações do jogo, tendo em conta determinados contextos culturais, preferências pessoais e atracção por determinada estética de jogo, que muitas vezes, até está desfasada das próprias regras do jogo, tem levado a que determinadas ideias sejam defendidas e difundidas, mesmo estando pouco relacionadas com a eficiência, consequentemente com a eficácia, e portanto, com o sucesso. Porém, devemos compreender que tal realidade faz parte da evolução natural do jogo, tal como sucedeu, numa perspectiva mais macro, com a espécie humana. Torna-se então fundamental entender o jogo, os potenciais caminhos que geram aproximações à obtenção de sucesso no mesmo, e o consequente trajecto da sua evolução.

(…)

Mais tarde, procurando caracterizar de forma mais específica o momento ofensivo, no qual a equipa já se encontra organizada coletivamente para atacar, no estudo que realizou, (Júlio Garganta, 1997) defende que “no plano da organização ofensiva das equipas de Futebol, não obstante a natureza aleatória e diversificada das acções de jogo, é possível detectar vias e formas preferenciais de acção dos jogadores, expressas na forma como se comportam algumas variáveis e do modo como elas se agrupam para interagir. Ou seja, embora não exista um determinismo absoluto, a análise das sequências de jogo permite apurar regularidades e variações exibidas pelas equipas que exprimem uma lógica observável“. Deste modo, torna-se importante procurar “mapear” o jogo para que seja mais fácil a sua leitura, interpretação, análise, e posterior investimento no trabalho sobre determinadas “regiões” do mesmo.

(…)

Perante estas ideias propomos três sub-momentos para o momento de Organização Ofensiva: a Construção, a Criação e a Finalização com a seguinte lógica:

  1. Construção: quando ambas as equipas se encontram dentro da sua organização para atacar e defender e quando a bola se encontra fora do bloco da equipa que defende.
  2. Criação: quando a equipa que ataca consegue penetrar no bloco da equipa que defende e surge perante a última linha adversária ou a última linha e mais um médio em contenção. A excepção é quando a equipa que ataca procura um jogo mais directo, de ataque à profundidade, ou seja, de passe directo para o espaço entre a última linha de quem defende e o seu Guarda-Redes, o que acaba por se configurar como uma situação de último passe, independentemente do grau de dificuldade superior da acção. Neste sub-momento, integram-se também todas as situações de bola parada ofensivas que poderão permitir um último passe ou cruzamento e finalização. Devemos referir que compreendemos as opiniões que distinguem as situações de bola parada como um quinto momento do jogo, porém a nossa interpretação é que, independentemente do jogo estar parado ou em movimento, se uma equipa está organizada para defender essas situações e a outra para atacar, então estarão dentro da sua Organização Defensiva e Organização Ofensiva, respectivamente.
  3. Finalização: todas as acções que visam o momento final de ataque à baliza adversária, portanto, a acção individual ofensiva de remate, independentemente da superfície corporal envolvida. Aqui também se integram as situações de bola parada ofensivas que poderão permitir um remate directo à baliza. Importa ainda referir que a finalização pode até surgir quando a equipa que ataca tem pela frente todo o bloco adversário ou parte do mesmo. Contudo, se quem ataca conseguiu chegar ao remate, esses momentos de organização defensiva adversários falharam de alguma forma.

Organização Ofensiva – Sub-momentos do jogo.

(…)

Regressando a uma perspectiva macro do jogo, na opinião de (Lobo, 2007), citado por (Rodrigo Almeida, 2009), “uma das virtudes das Equipas que jogam bem é a capacidade de criar oportunidade de golo através de jogadas elaboradas”. No entanto, o mesmo autor, recorredo a (Castelo, 1994), também adverte que “há formas de organização incompletas sendo caracterizadas por todas as formas de processo ofensivo que não chegaram a zonas predominantes de finalização”. Por outro lado, (Júlio Garganta, 1997) refere que “Sledziewski & Ksionda (1983a) chamam também à atenção para situações que ocorrem durante um jogo de Futebol, nas quais uma equipa, encontrando-se momentaneamente em posse da bola, não manifesta a intenção de finalizar, nem de se aproximar da baliza adversária. Estes casos surgem, frequentemente, quando uma equipa pretende jogar para manter um resultado que lhe é favorável“. Assim, (Jorge Castelo, 1996) acrescenta que a equipa que “está em posse de bola, para além de poder concretizar o objectivo do jogo – o golo, poderá igualmente:

  • Controlar o ritmo específico do jogo, pois, em função do resultado (numérico) momentâneo é que se poderão contrapor acções técnico-tácticas que acelerem ou diminuam este ritmo;
  • Surpreender a equipa adversária através de mudanças contínuas de orientação das acções técnico-tácticas e atempadamente fazer uma ocupação racional do espaço de jogo em função dos objectivos tácticos da equipa;
  • Obrigar os adversários a passarem por longos períodos sem a posse da bola, levando-os a entrar em crise de raciocínio táctico e, consequentemente, a expô-los a respostas tácticas erradas em função das situações de jogo;
  • Recuperar fisicamente com o mínimo de risco.”

No vídeo, a Croácia decide utilizar a posse e circulação da bola para defender a vantagem nos minutos finais do jogo. Jorge Castelo acrescenta então, que “as equipas ao encontrarem-se em posse de bola, não significa que realizem qualquer acção ofensiva, verificando-se que a finalidade destas situações se resume à “perda de tempo”, “jogar para manter o resultado” ou “quebrar o ritmo ofensivo do adversário””.

No entanto, o autor, adverte que a posse da bola não é um fim em si e torna-se utópico, se não for conscientemente considerada como o primeiro passo indispensável no processo ofensivo, sendo condição “sine qua non” para a concretização dos seus objectivos fundamentais: a progressão / finalização e a manutenção da posse da bola“. Na mesma linha de pensamento surge (Faria, 2003) citado por (Abílio Ramos, 2005) ao defender que “é importante ter a posse de bola se ela tiver um objectivo claro como, por exemplo, atacar. Posse de bola por si só não tem significado absolutamente nenhum se não tiver um objectivo claro“. Também (José Pedro Loureiro, 2022) explica que “um dos exemplos mais recorrentes no futebol de hoje em dia é a posse de bola inconsequente: “muitas vezes, observa-se que a equipa (principalmente no início da fase ofensiva) fica empenhada em passar a bola, sem manifestar qualquer intenção de ataque à baliza adversária” (Araújo & Volossovitch, 2005). Ou seja, a ação de passar a bola enquanto fim, e não enquanto meio, viola o conceito de representatividade da tarefa. Fosse eu um apostador obsessivo e arriscaria todas as minhas fichas como o tiki-taka simplesmente aconteceu (emergiu), não se treinou (propriamente com esse intuito)!”

(…)

(…)

Porém, fundamentalmente as equipas têm de procurar um jogo de qualidade… ou seja… um “jogar bem“. Para tal, o traço principal desse jogo deverá ser o sucesso regular, tendo-se naturalmente em conta o contexto. Deste modo não há sucesso regular sem eficácia… regular. Uma eficácia regular só se atinge fazendo mais vezes bem as coisas, portanto, ao nível do posicionamento, decisão e execução. Falamos assim, da procura da eficiência. No domínio particular da Organização Ofensiva das equipas, o autor (Pedro Barbosa, 2009) sustenta então que as equipas terão que arranjar mecanismos e formas de atingir mais vezes a baliza adversária e se possível com grande eficácia. Esta situação solicita aos investigadores em Futebol a capacidade das suas análises abrangerem, não apenas, os momentos do golo, mas também a análise de todas as oportunidades criadas, de forma a tentar objectivar-se esse mesmo golo (Garganta, 1999; Yiannakos & Armatas, 2006)”.

(…)

Assim, (Rodrigo Almeida, 2009) chama a atenção para que a Objectividade subjacente salientada como uma Intencionalidade não pode ser confundida com “jogo directo”. Objectividade tem duas vias de acordo com o termo, a primeira via é a objectividade do jogo, i.e., destinar-se à baliza [o que leva a muitos ao jogo frenético e directo], jogo vertical, onde o meio campo assume um papel fundamental na recuperação das segundas bolas e no aproveitamento destas em espaços mais profundos (Pedro Sousa, 2009), a segunda via é a objectividade circunstancial, ou seja, ser objectivo, ser oportunista, não perder o momento porém acima de tudo ser experto, não perdendo o foco do principal sabendo que para onde ir e o que fazer. Camacho (2003a; cit. por Amieiro, 2005, p.60) colmata esta opinião ao referir que é preciso «saber-se jogar Futebol». E saber jogar bem não é só dominar a bola, driblar, chutar e marcar um golo. “Saber jogar é perceber o que a Equipa precisa em cada momento do jogo…”“. Na mesma linha, (Pedro Bouças, 2014) defende então que não pode existir um dualismo entre o jogo directo e indirecto. Dando um exemplo, para o autor, ser da boa tomada de decisão não é ser de posse ou de contra-ataque. É ser de posse quando o adversário está organizado e o espaço escasseia e é ser de contra-ataque quando há espaço e situação numérica para tal“. Na mesma linha de pensamento, também relacionando os momentos de Transição Ofensiva e Organização Ofensiva, (Tiago Margarido, 2015) sustenta que “quando não for possível aproveitar a desorganização posicional do adversário devemos ter a capacidade de realizar uma rápida circulação de bola e trocas posicionais eficazes com vista a criar uma forte dinâmica ofensiva de modo a desorganizar a equipa adversária e a criar situações de finalização”.

(…)

Estas ideias sobre a Organização Ofensiva das equipas reflectem uma enorme importância no pensamento relativamente à dimensão espaço. Deste modo, surgem de alguma forma influenciadas por Johan Cruyff e os seus mentores, que apontavam o espaço como elemento decisivo no jogo. O autor (Winner, 2000), descreve que Barry Hulshoff, companheiro de equipa de Cruyff na selecção holandesa de 1970, realatava que discutiam espaço o tempo todo. Cruyff falava muito sobre para onde os jogadores deveriam correr, onde deveriam permanecer e para onde não se deveriam mover. Sempre com a intenção de criar espaço e utilizar esse espaço“. Também o jogador espanhol (Juan Mata, 2016), citado por (Wikiquote, 2018), confessa que considera Cruyff “o pai ideológico do Futebol. Aquele que procura imitar em campo e aquele com quem procuro aprender quando, como espectador, assisto a um jogo. A inteligência na gestão da bola e dos espaços, a importância do talento sobre o físico e o entendimento do Futebol enquanto jogo de equipa, são conceitos que definitivamente eu abracei“.

(…)

A propósito do trabalho marcante de Helenio Herrera no Inter de Milão, e de acordo com (Ignacio Benedetti, 2021), quando lhe perguntavam pelo trabalho dos seus discípulos, ou pelo trabalho dos treinadores que procuravam replicar as suas ideias, o treinador franco-argentino declarava que não os entendia porque apenas haviam tentado copiar “as formas de defender, e não as formas de atacar a partir da forma como se defendia“. De acordo com o autor, este pensamento revela basear-se em aspectos “geográficos“, que se podem isolar, “como defende aquela equipa ou como ataca a outra equipa, porque nos deixamos levar pelas etiquetas. Este é um treinador defensivo e este é um treinador ofensivo”. Porém segundo o mesmo autor na realidade, os grandes treinadores não conceberam o jogo de forma isolada, de forma separada”, mas segundo uma visão global do jogo e da forma como o sentem. Reforçando a ideia, Benedetti acrescenta que “as equipas “defensivas” de Mourinho fizeram uma quantidade impressionante de golos. As equipas “defensivas” de Helenio Herrera fizeram um enorme número de golos. As equipas “ultra-ofensivas” de Guardiola foram equipas que evitaram que os seus adversários pudessem chegar à sua baliza. É aqui que o futebol se torna apaixonante porque nos leva a essa rebeldia de pensar e não nos deixar levar pela imediatez do dos meios de comunicação e de todos os que se querem postular como analistas do jogo, mas que na realidade apenas o pensam de forma superficial. O Futebol é um todo“.

(…)

Para (Vítor Frade, 2013), torna-se então fundamental compreender que “o que nos distingue das outras espécies é de facto… e nós chegamos a esta espécie e chegamos a ser o que somos pela criatividade. Contrariamente ao que se pensa, é a autoengendração que assegura que nós possamos superar as dificuldades, isto num sentido individual. O que acontece por isso, em termos de grupo, hoje fala-se na inteligência de massas, ou não sei o quê, ou da inteligência enxame, mas é de facto uma necessidade imprescindível, mesmo aí, a criatividade. Eu costumo dar uma metáfora que é assim: eles estão perante um tema, mas quem faz a redacção são eles e a redacção é condizente com o contexto, e com o momento, com a capacidade momentânea e muitas coisas, mas essa é deles! E essa muitas das vezes é à la long, e na continuidade da causalidade excepcional repercute-se numa melhoria, na melhoria da coordenação, da organização da própria equipa. Uma condição da existência das pessoas é serem criativas!“.

(…)

Também citado por (Pedro Bessa, 2009), outro treinador português, José Gomes, afirma que estas situações de jogo “podem ser aproveitados para tornar determinado momento de transição de uma ou de outra forma” (Anexo III)”. Assim, no pensamento do treinador, as situações de bola parada sãomomentos de jogo que são ofensivos e defensivos e que estão incluídos nestes” (Anexo III)”. Portanto, de acordo com (Pedro Bessa, 2009) para José Gomes, tal como de Carlos Carvalhal, as situações de bola parada estão incluídas “nos momentos ofensivos e defensivos, como todos os outros momentos destas fases, não fazendo sentido falar em momento alternativo de jogo”. Contudo, importa perceber que estas situações não estão apenas incluídas nos momentos de Organização. Como é facilmente entendível, por exemplo, um livre, lançamento lateral e até canto ou mesmo pontapé de baliza, nos quais a equipa que defende ainda não recuperou a sua Organização Defensiva, estará então no sub-momento Recuperação Defensiva da Transição Defensiva e quem ataca estará em condições de explorar o sub-momento contra-ataque da Transição Ofensiva. Se efectivamente o fará já será depois uma decisão a tomar.

(…)

“(…) não existe treinador que no seu íntimo não pretenda ser o “deus de Laplace” – conseguir prever com uma certeza infinitésimal a evolução do jogo, controlar esse sistema multivariável. Por isso, talvez ele preferisse substituir a variabilidade pela estereotipia na expectativa de que as atitudes dos seus jogadores fossem previstas e articuladas com a máxima certeza, de que as propriedades topológicas do movimento que eles manifestam fossem as menos variáveis. Ele deve, no entanto, aperceber-se que a máxima estereotipia, correspondendo à mínima variabilidade, corresponde, também, à mínima adaptabilidade…”

P. Cunha e Silva (1995) citado por (Júlio Garganta, 1997)

 

Planeamento [Subscrição Anual]

Publicamos o tema Planeamento. Trata-se de uma abordagem geral partindo do entendimento do conceito no plano teórico, para que mais tarde publiquemos ideias mais práticas, relativas ao plano operacional. Porém, como referido, “constatamos que a importância das ideias sobre o processo de Planeamento não se resumem ao domínio teórico e conceptual. A ideia com que se parte deste plano irá influenciar de forma decisiva, entre outros aspectos, as decisões na definição dos objectivos, conteúdos, operacionalização do trabalho e avaliação”.

O tema “Planeamento” encontra-se enquadrado em:

Por outro lado este tema será constituído pelos seguintes capítulos:

  1. Enquadramento
  2. Um destino e o caminho para o alcançar
  3. Antecipar o caminho

Deixamos alguns excertos do tema “Planeamento“:

“(…) o planeamento parte sempre de uma ideia de futuro, e é, antes de tudo, a consequência dessa ideia.”

(Pires, 1995) citado por (Pedro Silva, 2006)

(…)

Também de acordo com Sérgio Figueiredo em (Carlos Filipe Mendonça, 2006), uma das condições de sucesso é a “perspectiva de médio prazo, a sustentabilidade do projecto”. É fundamental compreendermos o passado, fazermos “bem” no presente, mas torna-se igualmente decisivo pensar no futuro. O mesmo autor sublinha que “é um a frase feita, mas conserva a utilidade: mais difícil que chegar ao topo é manter o nível“. Para (Ângela Mendes, 2009), “num Desporto cada vez mais desenvolvido e profissionalizante o treinador deve então ser um agente embrenhado e consciente das suas tarefas: que concebe (planeia), orienta a acção (comanda os treinos e jogos) e faz o enquadramento geral das acções executadas (avalia o processo) pois tal como diz Bento (1993) “a prática (treino e competição) do treinador é um campo de realização de decisões tomadas e consciencializadas anteriormente pelos momentos da reflexão, da análise, da avaliação, do planeamento, de preparação“”. Neste contexto, (Filipe Cândido, 2012) descreve que o metodólogo “Bompa (1999) concebe o treino desportivo como uma atividade sistemática de longa duração, a qual é progressivamente e individualmente nivelada. Depreendemos que esta situação requer um planeamento refletido e só assim será possível estruturar a atividade de treino, de modo a ajustá-la as suas necessidades e ao que condiciona a realidade envolvente”. Consequentemente, (Jorge Gomes, 2004) aponta que “do ponto de vista da metodologia do treino, parece ser fundamental planear e organizar racionalmente o processo de preparação desportiva para um atleta / equipa alcançar resultados de elevado nível. Nesta perspectiva, o planeamento do treino é nuclear para o treinador (Bompa, 2002), na medida em que, contribui para um maior controlo do processo e para a rentabilização do tempo, do espaço e das condições materiais (Garganta, 1991; 1993). Contudo, entendemos também, que o papel do treinador na determinação dos princípios e características do planeamento do treino é igualmente relevante, apesar de se revelar uma área que urge aprofundar“.

(…)

Torna-se importante definir o nosso entendimento dos conceitos, uma vez que tal irá condicionar todo o trabalho. Assim, a organização do processo de uma forma global, entendemo-lo como planeamento. Os autores incluem no mesmo, o programa, as actividades, tarefas, estratégias, objectivos, e a sua organização temporal. Desta forma, a programação constituir-se-á como um aspecto específico do planeamento. Aquele que apontará o que treinar, definindo com precisão os conteúdos a adquirir e consolidar, do ponto de vista colectivo e individual. Finalmente, a periodização apresentar-se-á como outra especificidade do planeamento que contemplará, de forma precisa, o como e o quando treinar. Deste modo, os métodos para que a operacionalização do trabalho obtenha eficiência e eficácia. Assim, como o autor Tudor Bompa refere, a Periodização dependerá do Planeamento e da Programação, pois será da inteligibilidade dos conteúdos e da relação destes com o tempo disponível para os desenvolver que emergirá o método. Porém, algumas decisões de Planeamento e Programação também dependerão da Periodização. O método e os timings que a Periodização propõe influenciarão a selecção, hierarquização e organização dos conteúdos. Se por exemplo, o objecto do método escolhido for a dimensão física do atleta / jogador, então as actividades, os meios, as estratégias e os conteúdos deverão respeitar esse objecto. Concluindo, a consciência sobre a relação entre os três é decisiva para o sucesso do processo.

Planeamento, Programação e Periodização.

(…)

Também (José Santos, 2010) defende que “planear é uma das tarefas fundamentais no Processo de Treino. No entender de Garganta (1991), planear implica descrever e organizar previamente, as condições em que o treino irá decorrer, os objectivos a atingir, bem como a metodologia a aplicar. Ou seja, o treinador tem que saber o que pretende, traçando um rumo para si e para a equipa. Por outro lado, tem que reflectir sobre a prática, no sentido de conferir qualidade ao Processo de Treino. A partir do planeamento percebe-se que os aspectos estão interligados. O Treinador planeia, conduz o que planeia e avalia o que conduz e planeia. O Treinador planeia no sentido de melhorar o estado inicial, comparando posteriormente esse estado com um estado final. No entanto, a reflexão (avaliação) não tem necessariamente que se tratar de um período final. Pode e deve ser levada a cabo de modo permanente durante todo o Processo de Treino nas mais diversas escalas. Reflectir sobre o treino, sobre os desempenhos dos jogadores de modo individual e colectivo, sobre os desempenhos da equipa nos jogos, sobre a evolução da forma de jogar, sobre as informações que emanam do contexto. A reflexão vai permitir ajustar ou reajustar a condução do Processo de Treino“.

(…)

O autor (Figueiredo, 2015), conclui então também que ser treinador implica possuir conhecimento em várias áreas para depois ter a capacidade de planear. O treinador deve ser versado em domínios de organização, área administrativa, financeira e de comunicação. O treinador é um gestor de recursos e estratégias, ao contrário da representação social que lhe é atribuída, isto é, não é apenas uma pessoa que orienta o processo de treino e lidera somente os jogadores do plantel. Assim, a multidisciplinariedade dos treinadores nos clubes evidencia o reducionismo da ideia de que o treinador apenas se limita a operacionalizar o processo de treino. Liderar, neste contexto de elevada exigência, trata-se de uma tarefa árdua que não se esgota nas competências inerentes ao planeamento e operacionalização do treino, mas antes transforma a liderança numa forma de gestão de recursos humanos e põe em perspetiva o conhecimento em acção do treinador. A natureza multidisciplinar, bem como estas necessidades de gestão, tornam a aquisição de competências para se “Ser Treinador” bastante morosa. Obriga a uma aprendizagem constante, onde a dúvida tem lugar-chave e o pensamento crítico é instrumento determinante“.

(…)

Também (Ribeiro, 2008) vai ao encontro disto mesmo referindo que “a modelação do jogo de Futebol de uma equipa, irá condicionar e orientar o processo de planeamento e de periodização (Santos, 2006) no caminho da construção de um “Jogo” para essa equipa. Neste caso, quanto maior for o grau de correspondência entre os modelos utilizados e o “Jogo”, melhores e mais eficazes serão os seus efeitos (Queiroz, 1986)”. Nesta lógica (Almeida, 2016) acrescenta que “para desenvolverem um processo de treino em que esteja de acordo com a lógica interna do jogo, o foco dos treinadores tem sido em planeamentos e programações fortemente influenciadas pelo: modelo de jogo, modelo de treino e modelo de jogador (Garganta & Pinto, 1998)”. Deste modo, o mesmo autor defende que uma reciprocidade em elevado grau do modelo de treino, através de metodologias a disposição do treinador, e o modelo de jogo idealizado pelo mesmo, aumentará as possibilidades de superação por parte da equipa e seus integrantes. Sendo assim, é de extrema importância que o modelo de jogo seja reproduzido sistematicamente através do modelo de treino no planeamento (sessões de treino) (Castelo, 2014)”.

(…)

Reforçado a importância do tempo no processo de planeamento, o autor (Rui Almeida, 2014) explica que “se por um lado existe a imprescindibilidade de se proceder a um criterioso e adequado processo de planeamento para o treino de futebol, pelo outro temos igualmente de considerar que este processo carece de tempo de elaboração devido à multiplicidade de competições existentes nos dias de hoje no contexto do futebol profissional. É por isso que segundo Meinberg (2002), o treinador deve evidenciar a “competência do tempo” permitindo o seu uso através de uma gestão eficiente. Neste sentido importa portanto escolher e adotar os meios e métodos mais eficazes e mais estimulantes que correspondam ás necessidades específicas da equipa e dos seus praticantes dentro do seu contexto de atuação, sabendo-se que são diversos e diversificados os fatores que determinam o sucesso desportivo”. Ainda sobre o processo de periodização, o mesmo autor reforça que “Garganta, (1993), diz-nos que esta divisão ajuda a organizar o processo de treino, tornando mais efetivo o conteúdo da preparação, face aos objetivos e o tempo a gerir”.

(…)

“Ninguém está tão sujeito ao erro como os que só fazem reflexões. A prática é o que afina o que pensamos.”

(Vítor Frade, 2017)

“O efeito Lage”

O projecto Saber Sobre o Saber Treinar associou-se ao Lateral Esquerdo e à Prime Books, tendo por objectivo o estudo das razões que levaram o Benfica de Bruno Lage 2018/2019 a se transformar, de uma equipa que se encontrava, à 16ª jornada a sete pontos da liderança do campeonato, na equipa campeã nacional. O livro, que resulta do trabalho desenvolvido, aborda:

  • A competência de Bruno Lage
  • A Liderança de Bruno Lage
  • Metodologia do Treino de Bruno Lage
  • O Conhecimento do Jogo de Bruno Lage
  • Modelo de Jogo
  • Crónicas
  • Análise Táctica / Estratégica
  • As individualidades

Uma vez que os quatro primeiros capítulos foram produzidos pelo projecto Saber Sobre o Saber Treinar, brevemente estarão também disponíveis aqui, em exclusivo para os subscritores.

A totalidade da obra, estará disponível à venda em livro, aqui.

“O objectivo é fazer melhor equipa. E esse é que é o caminho. Não é fazer a evolução deles, porque se chegam para vir jogar a este nível, à equipa do Benfica, é porque são jogadores de enorme qualidade. Acima de tudo aquilo que é o objectivo do treinador a este nível é tentar fazer com que eles joguem em equipa. E jogar em equipa é que eles tenham o mesmo comportamento nos vários momentos e saberem o que todos têm de fazer. Essa é a parte mais difícil. Meter onze, principalmente no jogo, a correr ao mesmo tempo, a pensarem todos ao mesmo tempo. É criar as relações quer humanas, quer desportivas, quer as ligações entre os jogadores e perceber essas dinâmicas, quer dentro e fora do campo, para que eles funcionem como uma unidade, como uma equipa, e esse é que é grande objectivo e é nesse sentido que eu vejo a tarefa de treinador.”

(Bruno Lage, 2019ae)

Metodologia geral do treino [Subscrição Anual]

Publicamos o tema Metodologia geral do treino.

O tema “Metodologia geral do treino” encontra-se enquadrado em:

Por outro lado este tema será constituído pelos seguintes capítulos:

  1. A ciência do Treino
  2. Metodologia
  3. Treino
  4. O principal meio de desenvolvimento da equipa

Deixamos alguns excertos do tema “Metodologia geral do treino“:

“(…) e como as pessoas passam pela Teoria e Metodologia do Treino, que é um cadeirão do caraças, mas decoram aquela merda e não sabem nada, depois como cada vez mais vão tendo menos tempo para a cadeira de opção, é só o «Modelo de Jogo para aqui, exercícios para acolá… Bioquímica e o caraças». 0 que é isso? Talvez seja merda… e só alguns é que se interessam pelo fundamental, os outros nunca sequer vêem…”

Vítor Frade em entrevista a (Tamarit, 2013)

(…)

O autor (Cândido, 2012), aponta que “Verjoshanski (2001) elucida que a enorme experiência prática acumulada na preparação dos atletas de alto nível, os progressos científicos da fisiologia e da bioquímica da atividade muscular, da medicina desportiva, da biomecânica dos movimentos desportivos e de alguns estudos fundamentais sobre a metodologia de treino desportivo têm criado pressupostos objetivos para a formação de uma moderna teoria e metodologia do treino desportiva e das suas principais bases científicas“. De acordo com (Cunha, 2016), “ainda que treino e competição se possam conceber como âmbitos distintos, as grandes questões da teoria e metodologia do treino desportivo procuram tratar os seus efeitos recíprocos”. Paralelamente, (Almeida, 2009) acrescenta que naturalmente, nas modalidades como os JDC, o tipo de periodização não é idêntico ao comumente observado nos desportos individuais. A teoria e a metodologia do treino têm evoluído no sentido de dar resposta às necessidades, cada vez mais específicas e exigentes, do desporto de alto rendimento, designadamente no caso das modalidades colectivas“.

(…)

Vítor Frade, em entrevista a (Tamarit, 2013), dada a sua experiência como professor e treinador e perante as questões com as quais se via confrontado, relata que “enquanto é geral… porque Teoria e Metodologia do Treino era geral, era para tudo, mas quando começo a estar no terreno, eu começo a dizer, «não, isto não pode ser», não pode ser pelo menos para o futebol“. Neste sentido o autor (Cândido, 2012) sustenta que “dentro desta linha de evolução da metodologia do treino, Garganta e Cunha (2000) entendem que o problema essencial diz respeito às configurações tácticas que induzem determinados comportamentos, ou seja, a complexidade, “um princípio transacional que faz com que não nos possamos deter apenas num dos níveis do sistema, sem ter em conta as articulações que ligam os diversos níveis””. Os autores (Casarin & Esteves, 2010) fundamentam o pensamento, explicando que “a especificidade-tática, distingue-se da especificidade que a metodologia do treino convencional desenvolveu”. Novamente (Cândido, 2012), descreve que “tenta-se verificar, através da seleção de conteúdos que identificam o jogo que se pretende, em que medida aquilo que queremos que apareça como representativo da forma de jogar surja de facto em termos de regularidade. A teoria de Frade suscitou um interesse tal que fez surgir um bom número de autores (Oliveira, 1991; Vieira, 1993; Faria, 1999; Carvalhal, 2002; Rocha, 2000, Resende, 2002; Martins, 2003; Oliveira, 2004; Gaiteiro, 2006; Oliveira, et al., 2006; Campos, 2008; Silva, M., 2008; Maciel, 2008), com trabalhos nos quais se constata uma certa aproximação a algumas das suas premissas e fundamentos, desenvolvendo e cimentando a sua importância dentro da comunidade científica da metodologia do treino do futebol e dos jogos desportivos, em geral”.

(…)

No Futebol, tal como noutras actividades, enraizou-se o pensamento que a mestria no jogo está apenas ao alcance dos predestinados, ou seja daqueles que nasceram com um dom para decidir e executar o jogo melhor que os outros. O autor (Pinheiro, 2013) refere que “Araújo (2004) refere que o conceito de talento tem servido para justificar tudo o que não se sabe explicar e está relacionado com o desempenho dos atletas”. Ainda, (Pinheiro, 2013) descreve que “a corroborar este pensamento, estão as palavras de Fonseca e Garganta (2006), ao afirmarem que “a existência, ou não, de um talento inato é uma questão controversa”. De facto, existem os defensores da ideia de que os grandes jogadores de futebol nascem já com um “Dom especial” que os predispõe para a prática desportiva, enquanto que do outro lado da “barricada”, estão os que defendem que o talento inato, só assume especial relevância, quando consubstanciado numa prática regular que inculque novos comportamentos e atitudes nos jovens”. Sem refutar o talento inerente às características genéticas do indivíduo em função das características do jogo de Futebol, até porque todos os seres humanos são diferentes entre si, para nós, uma criança não nasce com um saber jogar Futebol. O Futebol não é transmitido geneticamente. O Futebol é uma construção cultural humana e como tal não é anterior à própria existência do homem. Desta forma, não estará escrito no nosso código genético. Na realidade, a manifestação das nossas diferenças resulta do facto de possuirmos uma genética única, que se concretiza em diferenças morfológicas, energéticas e do sistema nervoso, que se consubstanciam em aptidões, que poderão ser rentabilizadas em utilizações culturais muito diferentes. Ou seja, o contacto cultural com determinada actividade, neste caso o jogo de Futebol é que irá levar ao desenvolvimento de uma qualidade de prática nessa mesma actividade. Antes desse momento, cada indivíduo apenas apresenta aptidão. Assim, as aptidões, são estruturas latentes que predispõem os indivíduos para determinadas actividades, que poderão ter aproveitamento ou não em diferentes contextos culturais. Deste modo, só a influência do meio, portanto, o contacto cultural e repetição dessa prática – treino, quer seja um processo consciente e planeado ou não consciente e espontâneo, é que irão transformar as aptidões em talento e qualidades. Esta ideia é reforçada por (Sérgio, 2016) que cita o livro A Biologia da Crença de Bruce H. Lipton, professor de biologia celular em várias universidades norte-americanas ao explicar que “a ciência da epigenética, que significa literalmente “controle sobre os genes”, altera profundamente o nosso entendimento de como a vida é controlada (…). Na última década, a investigação nesta área estabeleceu que os diagramas de ADN, passados através dos genes, não eram definidos em concreto à nascença. Os genes não são o destino! As influências ambientais, incluindo a nutrição, o stress, e as emoções podem modificar esses genes, sem alterar o seu diagrama básico””. Manuel Sérgio conclui que em todo o atleta, como em todo o ser humano, há o inato e o adquirido. Segundo a epigenética, o adquirido pode transformar, e muito, o inato”.

(…)

Segundo (Gomes, 2011), “a palavra Treinador contém implícito o conceito de treinar e por razões lógicas, de treinar para competir. Assim, vemos vários treinadores com metodologias diferentes, em virtude dos caminhos que seguem. Deste modo, conseguimos distinguir a capacidade do treinador na sua forma de estar no jogo, nas conferências, no treinar, na interpretação do que acontece e na antevisão do que poderá acontecer. Traçamos um perfil ao qual associamos uma forma de gerir o processo. No entanto, temos que reconhecer que ser treinador IMPLICA SABER TREINAR! E treinar é modelar uma realidade na qual se encontra, procurando SOBREdeterminar os acontecimentos da competição”. Para a autora, “o treinador é uma figura que MODELA a realidade. O que tem levado a que muitos treinadores procurem conhecimentos para poderem ter INSTRUMENTOS para DIRECCIONAR a evolução da realidade para o que pretendem. A ferramenta FUNDAMENTAL do treinador é o processo porque pode interferir no seu desenvolvimento. Os mais competentes (como os referidos) conseguem fazer com que determinados acontecimentos culminem noutros. A arte para conseguir fazer acontecer é apenas para os melhores porque são MILHARES os treinadores que SABEM como querem fazer, como os jogadores devem jogar, como a equipa se deve comportar mas…ISSO NÃO ACONTECE! A capacidade reside em FAZER ACONTECER!! Por isso é que o PROCESSO é o instrumento decisivo!

(…)

Exercício 138 [Subscrição Anual]

Publicamos o exercício 138, denominado como Meinho em duplas com baliza e Guarda-Redes. Este exercício encontra-se no nosso arquivo e estará disponível para subscritores.

A identificação meinho, pode sugerir que estamos na presença de um exercício de dimensão mais lúdica, ou de um exercício de complexidade reduzida, no qual no momento da recuperação da bola, o mesmo é interrompido para que os jogadores troquem de função. Não é o caso. Utilizamos a palavra meinho como forma mais fácil e prática de explicar a generalidade do exercício. No fundo trata-se de um exercício de posse de bola que se inicia e se joga em condições muito específicas e que traz características interessantes, não só do jogo, como também do ponto de vista da especificidade de uma determinada ideia de jogo. Aqui destacamos também a oportunidade para uma possível adaptação às novas regras do Pontapé de Baliza.

Dada a sua estrutura mais micro, quer em número, quer em espaço, será apropriado como um exercício introdutório ou complementar durante a Sessão de Treino. Dada a continuidade do jogo, garante ainda a Articulação de Sentido do ponto de vista dos momentos do jogo, pois para quem ataca vivencia, pelo menos, Organização Ofensiva e Transição Defensiva, e quem defende, pelo menos, Organização Defensiva e Transição Ofensiva.

Neste domínio, o exercício também apresenta no seu contra-exercício um estímulo de qualidade, ou seja, para a equipa que se encontra em oposição aos objectivos prioritários, nomeadamente no seu momento de recuperação da bola e consequente decisão sobre o Contra-ataque ou a Valorização da posse de bola. Desta forma, do ponto de vista do planeamento, o exercício poderá então, também servir esses propósitos opostos.

Exercício 138 | Meinho em duplas com baliza e Guarda-Redes

Acções Elementares [Subscrição Anual]

Publicamos o primeiro sub-tema de Ideia de Jogo. Ideia de Jogo, irá organizar-se pelos quatro momentos do jogo e pelas Acções Elementares, que por sua vez irão subdividir-se em Acções Elementares Ofensivas e Acções Elementares Defensivas. Justificamos a escolha de Elementares ao invés de Individuais no excerto que publicamos aqui. Mas resumindo, não conseguimos ver acções individuais num jogo que é… colectivo. Conseguimos, sim, ver acções mais ou menos complexas. E mesmo aí, como também justificamos, não é uma fácil e dependerá sempre do contexto.

Nesta organização teórica, as Acções Elementares encontram-se, separadas dos momentos do jogo por representarem acções, em geral de menor complexidade, que darão suporte a outras acções ou comportamentos mais complexos da equipa nesses momentos. Assim, as mesmas poderão ser identificadas como recursos que poderão / deverão ser utilizados quer em comportamentos de transição ou de organização.

Sistematização do jogo de Futebol.

O tema Acções Elementares encontra-se enquadrado em:

Por outro lado este tema será constituído pelos seguintes capítulos:

  1. Acções Individuais, Acções Elementares e a Técnica
  2. Um contexto micro sempre subordinado ao macro
  3. Um sistema… noutro sistema
  4. A operacionalização do individual
  5. Tendências futuras

Como excerto, deixamos o primeiro capítulo de “Acções Elementares“, com o título de Acções Individuais, Acções Elementares e a Técnica.

“São a escolha e execução (…), por parte dos jogadores, tanto no ataque como na defesa, do complexo de procedimentos técnico-tácticos com o objectivo de resolução das situações parciais do jogo.”

(Teodorescu, 1984)

 

Acções Individuais, Acções Elementares e a Técnica

“A acção (comportamento, procedimento) técnica individual, não é um objectivo em si, mas um meio para atingir uma capacidade, que deve ser dimensionada e equacionada com a constante mutação das situações (movimentações dos companheiros e adversários) de jogo e intenção táctica. Por outras palavras, a intenção táctica é o fim, enquanto que a técnica é um meio, não se podendo conceber um meio independentemente do fim a que se destina.”

(Castelo, 1996)

Numa fase inicial do projecto, considerávamos as acções menos complexas do ponto de vista do critério táctico Número, como Acções Individuais, que depois se subdividiam em Ofensivas e Defensivas. Porém, desde logo, identificá-las como simples, mesmo que apenas da perspectiva numérica, sentimos ser logo um erro de partida. Isto porque em tudo está presente a interacção, e sendo assim, uma acção pode ser simples na perspectiva numérica, mas depois, outros critérios, como o Espaço, Tempo e Qualidade tornam-na complexa. E em muitos casos, para além de complexa, a interacção entres estas dimensões da acção táctica, tornam a acção, inclusivamente difícil, para quem a realiza. Dando um exemplo, é comum dizer-se que uma situação de 1×1 é mais simples que uma de 2×2. Seja na perspectiva de quem ataca ou de quem defende, o 1×1 pode ser mais difícil que o 2×2, porque a qualidade do adversário é superior e porque a presença de um companheiro, potencialmente, faz aumentar o número de soluções tácticas, e desta forma o jogador pode não estar restringido a acções em que poderá não ser melhor que o adversário. Deste modo, a situação torna-se mais complexa, mas simultaneamente pode tornar-se mais fácil para determinado jogador.

Por outro lado, sentimos também não ser totalmente correcto identificar estas acções como individuais. É certo que, por exemplo o Drible, a Condução, a Protecção de Bola, a Intercepção, o Desarme a Carga, numa perspectiva de avaliação da qualidade da acção, estarão muito mais dependentes do jogador, e portanto, do individual, do que da sua relação com outro companheiro ou com a equipa. Mas mesmo nestes casos, tal não é completamente preciso. Por exemplo, a intercepção de um passe, pode ter sido realizada com sucesso, porque a pressão de um companheiro sobre o adversário com bola, levou-o a menos tempo e espaço para realizar o passe, o que fez com que essa intercepção fosse alcançada com mais sucesso. O autor (Sá, 2001) confirma esta ideia referindo no seu estudo sobre os exercícios de treino que “quanto menor for o espaço menor será o tempo para os jogadores percepcionarem, decidirem e executarem as acções individuais e colectivas que a situação exige (Queirós, 1986, p.54; Mombaerts, 1996:62)”. Uma vez mais… nada é linear no Futebol… tudo é complexo, mesmo ao nível das acções mais… elementares. Mas um dos melhores exemplos é mesmo, na perspectiva ofensiva, o Passe. Constantemente considerado como uma acção Individual, ele pode ser considerado, ao invés, a acção “colectiva” mais básica do jogo. No fundo a forma mais específica de comunicação no jogo e como tal, exigirá sempre, pelo menos, dois jogadores. O que o realiza, e o que o recebe. E da qualidade das acções dos dois, resultará o seu sucesso. Naturalmente podemos e vamos identificar a Recepção como outra acção elementar. No entanto, o que queremos explicar, é que para a eficiência e eficácia… de cada uma delas, cada uma das acções estará sempre dependente da outra, assim, de outro jogador. Ou seja, a avaliação da qualidade de um passe, estará sempre dependente da forma como um segundo jogador se disponibiliza para receber a bola e depois, pela forma como a executa.

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Assim, sentimos ser mais adequado designar estas acções, que sucedem a um nível mais micro do jogo, como Elementares. Mas temos que ser claros. Elementares, não do ponto de vista da sua complexidade, dado esta ser sempre relativa a diversos critérios, mas do ponto de vista da estrutura do jogo. Acções elementares porque envolvem um número mínimo de jogadores para a sua realização. Um, ou no máximo, dois jogadores.

Por outro lado, existem ainda fronteiras muito ténues, entre o conceito de acções individual ou elementar, e o conceito de técnica. Partindo da perspectiva de Teodoresco, desenvolvida por (Silveira Ramos, 2003), “o Futebol pode ser decomposto nas suas partes constituintes – técnica, táctica, física, psíquica, social, das leis de jogo, etc.; ou então pode ser decomposto em – acções individuais e colectivas – considerando que cada uma delas é constituída em termos técnicos, tácticos, físicos, psíquicos, sociais, etc.”Porém o autor português defende que o futebol é um todo indivisível que, por razões metodológicas, pode ser considerado pelas partes que o constituem – os factores – ou pelas acções individuais e colectivas, desenvolvidas no decurso dos processos ofensivo e defensivo. O que se pretende é conciliar estas duas posições diferentes, num caminho integrador que, partindo das referidas acções, as relacione com os factores que lhes dão expressão”. No mesmo sentido posiciona-se (Pacheco, 2002), defendendo que independentemente de qualquer uma das técnicas que se pretenda utilizar, estas são fortemente determinadas do ponto de vista estratégico-táctico (Castelo, 1994; Garganta, 1997a) o que se fica a dever ao sistema de referências utilizado, que apresenta várias componentes: companheiros, adversários, bola, objectivos (baliza) e terreno de jogo, onde todos os jogadores têm de se integrar, e com as quais se devem confrontar activa e constantemente (Konzag, 1991). Também Araújo (1992) sustenta que a acção de jogo está muito para além dos processos motores contidos na dimensão gestual da técnica, já que um jogador que recorre a uma dada técnica, no decurso de um jogo, fá-lo sempre em função de um contexto (Moreno, 1989). Neste sentido, as acções técnicas estão estreitamente associadas à componente táctica, condicionando-se e influenciando-se reciprocamente (Castelo, 1994 e Teodorescu,1984) pelo que qualquer elemento técnico só adquire sentido se for qualificado e avaliado em função da natureza específica do confronto desportivo (Garganta, 1997a). A dominante técnica está de tal modo associada dominante estratégico-táctica que, no entender de Teodorescu (1984), a técnica deve ser perspectivada como parte integrante da táctica individual, entendida como o conjunto de acções individuais utilizadas conscientemente por um jogador nas suas interacções com os seus colegas e adversários.”

” (…) a acção de jogo está muito para além dos processos motores contidos na dimensão gestual da técnica, já que um jogador que recorre a uma dada técnica, no decurso de um jogo, fá-lo sempre em função de um contexto.”

(Moreno, 1989) citado por (Pacheco, 2002)

Deste modo, e concordando com esta ideia, a Acção de Jogo, é algo que inclui Técnica, mas é muito mais do que isso. O autor (Garganta, 1997), refere que “na tentativa de ultrapassar alguns equívocos, Teodorescu (1975) preconiza que a técnica nos jogos desportivos deve ser perspectivada como parte integrante da táctica individual, entendida como o conjunto de acções individuais utilizadas conscientemente por um jogador nas suas interacções com os seus colegas e adversários. Na medida em que o jogador não executa isoladamente os procedimentos técnicos, mas acções de ataque e de defesa, as acções técnicas devem integram-se nos saber-fazer tácticos“. Assim, independentemente de elementar, ela, tal como uma fractal que representa o rendimento no jogo, é constituída, numa escala mais micro, por um complexo de qualidades cognitivas, técnicas, físicas, psicológicas, etc.. Portanto, usando a expressão do Professor Vítor Frade no Futebol, reduzir em empobrecer, este pensamento leva-nos ao estudo da acção e não apenas da sua técnica ou da sua execução.

“A sorte está nos detalhes.”

(Jorge Maciel, 2017)

(…)

Conhecimento do Jogo & Modelo de Jogo

“(…) enquanto sozinho no seu gabinete pensava sobre o que mudar, mas convencido de uma coisa: a minha ideia, a ideia de Cruyff, teria que ser mantida. Eu manteria-a, por mais difícil que fosse. E o suporte estava prestes a ser proveniente de uma fonte inesperada… Não parava de pensar sobre isso, quando alguém bateu na porta do meu gabinete…

“Pode entrar.”

“Olá, mister”.

Uma figura pequena entrou pelo gabinete dentro e falou calmamente. “Não se preocupe, mister. Nós vamos ganhar tudo. Estamos no caminho certo. Continue assim, ok? Estamos a jogar muito e a adorar o treino… Por favor, não mude nada.”

Pep Guardiola, citado por (López, et al., 2016)

Como fizemos questão de sublinhar no início deste projecto, o conhecimento que procuramos construir, terá o intuito de estar em permanente evolução, evitando cristalizar-se, e eventualmente consolidando-se como alguns dogmas idênticos aos que procuramos derrubar. Essa missão, em nosso entender, não só é fundamental, como se constitui no principal objectivo do projecto Saber Sobre o Saber Treinar.

Exposto na Introdução do projecto, sentimos uma primeira necessidade de caracterizar, dividindo… “sem empobrecer”, as principais dimensões na intervenção do treinador. Mas não só, e estamos a procurar expandir o conhecimento a outras funções técnicas que contribuem para o desenvolvimento da equipa. Nesse âmbito chegámos à Liderança, Metodologia e Modelo de Jogo. O Modelo de Jogo constituiria-se como o máximo conhecimento teórico sobre o jogo que conseguiríamos reunir.

Nesse domínio específico seria reunido, conhecimento do jogo, da sua sistemática, história e contexto cultural, que permita idealizar uma forma rica de disputar o jogo, que traga à equipa organização, mas que simultaneamente não a torne mecânica e incapaz de dar resposta à aleatoriedade e caoticidade do jogo. E ainda, que essas ideias que tenham também em conta a sua adaptação ao tal “espaço” / contexto e “tempo” / evolução do jogo.

Neste trajecto evolutivo, começámos a sentir que essa dimensão da intervenção do treinador seria vasta e que o conceito de Modelo de Jogo seria-lhe desajustado, dado tratar uma realidade mais específica. Recorrendo à (Wikipédia, 2019) um modelo científico trata-se de “uma idealização simplificada de um sistema que possui maior complexidade, mas que ainda assim supostamente reproduz na sua essência o comportamento do sistema complexo que é o alvo de estudo e entendimento“. Assim sendo, o Modelo de Jogo será uma leitura da realidade. Portanto, uma Ideia de Jogo, alicerçada no tal conhecimento do jogo, em interacção com o contexto onde é operacionalizada.

O professor Vítor Frade, em entrevista a (Tamarit, 2013), explica este entendimento. “Duas coisas distintas, uma coisa é a ideia de Jogo e outra coisa é o Modelo de Jogo. Pode parecer um paradoxo, uma coisa estranha, mas antes está a Ideia de Jogo e só depois está o Modelo de Jogo. O Modelo é o que se sujeita também às circunstâncias. O Modelo é tudo porque é a Ideia de Jogo mais as circunstâncias, e as circunstâncias podem relativizar aquilo que eu faria noutras circunstâncias, mas em termos de padrão é igual! Eu quero jogar mais ou menos assim. Agora, se eu fui treinador do Barcelona e depois vou treinar uma equipa da quarta divisão… é diferente, eu quero que passem de primeira e eles não o fazem nem de pistola na mão. A bola não se assusta! As pessoas têm que ter a inteligência suficiente. Estou a falar a Top. Acha que havia muitas diferenças do Chelsea para o Inter? Não há, não há. Há mais de jogo para jogo em função das circunstâncias… mesmo no Porto, só que o Porto não tinha Zanetti, não tinha o não sei quê, e tenho que ver isso. Agora a Ideia de Jogo é uma coisa, a fabricação da Ideia tem a ver com as circunstâncias e esse é o Modelo de Jogo, o que implica também a dinâmica existencial dos Princípios Metodo­lógicos. E o Modelo é tudo, até algo que às vezes desconheço, e que me «incita» à modelação, porque se eu não o contemplei, lixei-me!“.

O autor (Azevedo, 2011) reforça esta posição, explicando que “o Modelo de Jogo em Futebol é normalmente mal-entendido pelas pessoas. Fala-se dele como sistema de jogo implementado ou a estrutura inicial que a equipa apresenta em campo. No entanto, o Modelo de Jogo é muito mais do que isso, o Modelo é tudo (Frade, 2006). Entendemos que um Modelo de Jogo é algo que identifica uma determinada equipa, não é apenas um sistema de jogo, não é o posicionamento e disposição dos jogadores, mas sim a forma como os jogadores estabelecem as relações entre si e como expressam a sua identidade, uma determinada organização apresentada em cada momento do jogo que se manifesta com regularidade“.

Também (Maciel, 2011), refere que “o Modelo é constituído por um conjunto de inúmeros aspectos, alguns mais relacionados com opções do treinador, como a concepção de jogo, a metodologia de treino, a operacionalização do processo, outros mais relacionados com os jogadores e com a própria realidade do clube e o contexto envolvente. Aspectos que vão desde as crenças de jogadores ou dirigentes, à história do clube, dimensão estatuto e competência do departamento médico, a realidade competitiva, até as picardias e rivalidades históricas que possam existir dentro e fora do clube. Pode dizer-se que o Modelo é tudo. E por isso mesmo penso que a imagem mais capaz de o retratar é a de um iceberg, à superfície, isto é a face visível, parece ser uma realidade circunscrita a uma determinada dimensão e complexidade, mas na verdade é bem mais complexa e edificada sobre muitos aspectos que não são visíveis à superfície, mas que se assumem como fundamentais para a dimensão visível do Modelo. O Modelo é tudo e resulta da interacção altamente dinâmica entre os aspectos visíveis e dizíveis com os aspectos invisíveis e indizíveis que o compõem. A melhor definição que conheço de Modelo é a do Professor Vítor Frade quando afirma que “o Modelo é qualquer coisa que não existe, mas que todavia se pretende encontrar”. Trata-se portanto de uma espécie de impossível necessário, que nós em termos ideais concebemos, mas que depois na sua concretização não conseguimos reproduzir tal e qual, pois ao nível do pormenor ele vai assumir contornos únicos resultantes da interacção com o que o envolve“.

Deste modo o Modelo não é o antes. É uma “fotografia” da realidade. Neste caso, da realidade de uma equipa.

Perante isto, faz-nos mais sentido falar em Conhecimento do Jogo para descrever essa dimensão mais “generalista” da intervenção do treinador. Partindo dela, influenciada sempre por traços de liderança e mesmo metodológicos, o treinador / equipa técnica, chega(m) à Ideia de Jogo. A sua operacionalização, deste modo, no domínio “do real”, implica no contexto específico onde acontece, uma interacção profunda com a Metodologia e Liderança exercidas. Podemos então entender, que daí resulta o… Modelo de Jogo.

Dimensões da intervenção do treinador e Modelo de Jogo.

“Mourinho tinha uma definição, uma exclamação, quando lhe faziam essa pergunta, ele dizia: Para mim, modelo é tudo! E é. É tudo e mais alguma coisa. Porque muito desse tudo a gente não conhece. Muito desse tudo está pra vir. Agora eu não posso perder o azimute. É por isso que eu lhe dizia, digo sempre, num processo de treinabilidade, o futuro é o elemento causal da interacionalidade. Mas o futuro como perspectiva, como ideia. Por isso é que eu digo, o modelo de jogo é qualquer coisa que não existe em lado nenhum… não existe como tal, mas a configuração… É como eu, aqui, quando estive agora a falar consigo, eu sabia do que vinha falar, porque você tinha me dito, mas não sabia e não sei o que vai sair daqui. E é isso que se deve aspirar que aconteça, na treinabilidade.”

(Frade, 2015)

Três ideias (exercícios) para desenvolver a decisão e a qualidade do contra-ataque [Subscrição Anual]

“(…) (o contra-ataque tem por) objectivo principal, a partir da recuperação da bola, a desorganização da equipa adversária, de forma a progredir para espaços abandonados e conseguir encontrar condições significativas que nos possibilitem oportunidades de golo antes da reorganização do adversário.”

(Moreno, 2009)

Na sequência de recentes artigos que abordaram o sub-momento contra-ataque, publicamos três ideias, pela forma de exercícios, dentro do mesmo tema, juntando-os a outros presentes no nosso arquivo de exercícios. Como abordado recentemente, para o contra-ataque suceder, tem de existir uma reacção ao ganho da bola, manifestada essencialmente pela saída da primeira zona de pressão adversária, e antes disso, tem de existir obrigatoriamente, recuperação da bola. Deste modo, estes exercícios visam essencialmente a decisão da equipa pelo contra-ataque e o seu desenvolvimento. Dois deles possibilitam mesmo, a decisão entre o contra-ataque ou a valorização da posse de bola, uma decisão que cremos ser fundamental no jogo ofensivo da equipa e que tendo em conta a articulação de sentido do jogo, terá também assim, consequências no seu jogo defensivo.

O treinador português (Miguel Cardoso, 2018), está de acordo com a importância desta decisão, referindo a propósito do trabalho realizado no Rio Ave, que sentiu o sucesso no “critério na transição ofensiva, porque nós conseguimos muito bem tirar a bola da pressão em muitos momentos, fosse para a frente, fosse para a largura, e depois tínhamos critério suficiente para entender se devíamos entrar em ataque organizado ou em (contra-ataque)“. Na mesma linha de pensamento, o autor (Santos, 2010), explica o “caso específico de uma equipa que ataca precipitadamente. Obviamente não percebe os “quandos” e o resultado é um jogo em transições permanentes, com perdas e conquistas de bola sucessivas”. O autor confessa que “ver uma equipa a jogar em transições sistemáticas, sabendo que essa mesma equipa tem jogadores com capacidade para jogar de uma forma que lhe confere mais sucesso, privilegiando a posse de bola e a circulação objectiva, é algo que me inquieta. É como se visse um grande actor num filme fraco e sem reconhecimento nenhum por parte da indústria cinematográfica”. Contudo, o treinador espanhol Julen Lopetegui, confesso devoto de equipas que hiper-valorizam a posse de bola, citado por (Bouças, 2014) sustenta que uma equipa que “queira ter a bola não significa que não possa jogar em contra-ataque quando o adversário deixa espaços. Nesses casos podemos fazer transições rápidas, com amplitude e velocidade”. Deste modo, a autora (Gomes, 2015) explica a importância do Contra-Ataque, pois “quando a bola é recuperada o adversário pode:

  • “Estar desorganizado;
  • Ficar em inferioridade numérica;
  • Ser lento a reagir;
  • Ter uma reacção rápida e impetuosa;
  • Criar muito espaço entre os sectores;
  • Criar muito espaço entre a sua linha defensiva”.

Se o jogo e o seu treino são complexos, elevar a complexidade dos exercícios, também o é. É redutor pensar que elevar ou baixar essa complexidade passa apenas por relações numéricas, ou pela introdução de determinadas regras. Ela surge da manipulação do todo complexo constituído pelo espaço-tempo-número-regras, sempre em função do contexto, ou seja, do nível / ideias / evolução dos jogadores ao qual o exercício é proposto. O técnico português Rui Faria, citado por (Sousa, 2007), explica que quando diz que a complexidade é dada pelo estorvo mental é, no fundo, pela necessidade de fazer uma determinada acção pretendida num conjunto de condicionantes que envolvem e que pode ser a dificuldade natural da própria acção, o espaço, o número de jogadores. É óbvio que o número de jogadores condiciona essa acção e condiciona esse pensamento ou a complexidade é condicionada pelo número de jogadores envolvidos, pelo espaço de jogo envolvido e a partir daí o comportamento que tens de ter é condicionado por isso tudo. No fundo, isto é que aumenta a complexidade ou diminui a complexidade do exercício. Toda esta relação entre estas componentes“. 

A exclusão da idade neste pensamento, não é inocente. Na realidade há exercícios, tendo principalmente em conta as suas dimensões espaço e número, que não deverão ser utilizados frequentemente em idades mais baixas, mas mesmo aqui, as características de alguns jogos escolhidos pelas crianças no Futebol de Rua e o que eles lhes podem potenciar demonstram-nos muitas vezes que o pensamento “nunca”, torna-se perigoso. A idade não é indicador do nível de jogo. Há crianças aptas para um jogo, que no pensamento do treinador se perfila de maior complexidade, e simultaneamente há adultos sem nível para tal. Por outro lado, também porque a “bagagem” de conhecimento constitui-se como mais uma variável decisiva em tudo isto, e nem sempre essa bagagem significa melhores ideias e evolução. O treinador português (Jesus, 2013), explica que “existem jogadores que para renderem aquilo que tu queres tens de lhes explicar concretamente qual é a tua ideia, caso contrário eles perdem-se, e existem outros que sem lhes determinar alguma tarefa eles conseguem desenvolver o que tu pretendes”. Deste modo, novamente Rui Faria, citado por (Campos, 2007) defende que “em primeiro lugar temos que perceber em que nível nos encontramos. É decisivo percebermos o que é a cultura individual dos jogadores em termos do jogo, é fundamental perceber as qualidades dos jogadores e perceber isso em função do que se pretende. Se pretendemos que haja sucesso em termos do que fazemos no treino e queremos que isso se constitua como uma aprendizagem em termos de cultura de jogo, em termos de comportamentos colectivos é necessário que se compreenda esta evolução em termos de complexidade. Isto é decisivo, mas também é decisivo fazer uma avaliação do que é a nossa equipa, os nossos jogadores e do que é o conhecimento do jogo por parte da equipa e portanto a antecipação é tão mais facilitada quanto maior for a cultura de jogo da equipa”.

Por outro lado, a explicação das regras, eventualmente dos objectivos, o feedback durante a operacionalização do exercício, a sua análise e avaliação, etc, são também fundamentais para o seu sucesso. E como é referido que Albert Einstein terá defendido… “é possível ensinar física quântica a uma criança. Desde que coloquemos a linguagem ao nível da sua compreensão”. Deste modo, o exercício de treino é no fundo um veículo de comunicação de ideias, e como tal, é fundamental perceber, que como em qualquer outro processo comunicacional, que a sua essência é interactiva e não diapositiva, portanto, o seu sucesso, depende de uma relação, estabelecida e influenciada, pelo menos por dois intervenientes. No caso do futebol, existindo mais intervenientes, o processo densifica-se. No entanto, torna-se para muitos treinadores, dada a sua consciência da tremenda complexidade do fenómeno, um enorme desafio e fonte de motivação e prazer. Tal como um maestro numa orquestra, o treinador procura sintonizar-se e sintonizar toda a equipa em torno de um projecto comum pelos meios que dispõe. O exercício de treino emerge como um dos fundamentais.

Perante esta ideia, os exercícios que trazemos, sendo formas jogadas procuram aproximar-se da realidade do jogo e apresentam uma progressão complexa em função do número de jogadores / estrutura da equipa, do espaço, dos alvos e principalmente da complexidade da decisão sobre o contra-ataque. No entanto, como referido atrás, essa complexidade estará também sempre condicionada pela qualidade de jogo dos jogadores. Se o exercício 131 garante propensão ao contra-ataque para a equipa que inicia a defender e recupera a bola, o exercício 132 já contempla a decisão sobre contra-ataque numa estrutura de equipa mais reduzida, e finalmente, o exercício 133 potencia estímulos idênticos, porém em mais espaço, número e sobre balizas regulamentares.

131 | Pressing e contra-ataque para qualquer das baliza (exercício grupal)

132 | Decidir atacar as mini-balizas ou resgatar o companheiro (exercício sectorial + intersectorial)

133 | Defender a baliza, posse ou sair da área e contra-atacar

Valores humanos – Capítulo VII – A transmissão de valores [Subscrição Anual]

Finalizamos o tema Valores humanos, com o seu sétimo capítulo – “A transmissão de valores“. Como referimos na publicação anterior, voltaremos ao tema no futuro, principalmente para aprofundar os valores que entendemos ser fundamentais. Não só na dimensão colectiva, mas também na individual. Não só no papel de treinador mas primeiramente enquanto seres integrados numa sociedade. Perante esta ideia, voltamos a sentir a teia complexa em que nos movemos e a interdependência de todas as dimensões humanas. Nesta linha de pensamento, se podemos analisar, teoricamente, os valores humanos do ponto de vista abstracto, por outro lado, no “terreno”, se nos orientamos pelo tal Supraprincípio da Especificidade, para que a comunicação seja coerente e específica do Futebol, os valores terão que se manifestar em em todas as atitudes e ideias transmitidas pelo treinador. A tal noção de teia complexa, de interdependência e de interactividade leva-nos a este rumo. Portanto… em última, ou em primeira instância dependendo da perspectiva da observação, o jogo da equipa tem para nós, obrigatoriamente de manifestar estes valores.

O tema Valores Humanos encontra-se enquadrado em:

Por outro lado este tema será constituído pelos seguintes captítulos:

  1. Os alicerces do homem… e consequentemente do seu desempenho
  2. Uma sociedade em mudança
  3. Treinador e… educador
  4. O “jogar” expõe e cultiva valores
  5. Priorizar os (bons) valores humanos
  6. Que valores?
  7. A transmissão de valores

Deixamos um excerto do sétimo capítulo publicado, “A transmissão de valores“.

“No Futebol, portanto, o jogador deve desenvolver-se em equipa, sem ser reduzido à equipa. E assim o treinador, nos seus momentos de reflexão, poderá levantar, no mais íntimo de si mesmo, esta questão: qual o tipo de pessoa que eu quero que nasça dos jogadores que lidero? Reside aqui, no meu modesto entender, o momento essencial do treino.”

(Sérgio, 2011), citado por (Esteves, 2011)

(…)

Segundo (Gonçalves, 2012), “os valores… os princípios… as atitudes e comportamentos não são transmissíveis de pais para filhos, de acordo com as leis genéticas… o que implica a obrigatoriedade o seu ENSINO e fundamentalmente a sua prática”. O autor (Rosado) é claro quando aponta que “os valores devem ser reconhecidos e tornados explícitos através do treinador. Os atletas deverão ser ajudados a clarificar os seus valores pessoais e a determinar as suas posições relativamente ao que é defendido por outras pessoas ou grupos”. António Rosado expõe ainda que o treinador deve permitir aos jogadores que “identifiquem, revejam e avaliem os seus próprios valores e os da sociedade e reconheçam os que afectam os seus pensamentos e acções”. 

(…)

Nós vamos um pouco mais longe, nesse mesmo sentido de especificidade. Acreditamos que, seguindo uma metodologia que elege o “jogar”, ou seja, os comportamentos tácticos como centrais no processo, então, à imagem das especificidade que esse jogar cria ao nível da dimensão física, técnica e psicológica… o mesmo deve criar uma especificidade sócio-moral, fruto dos princípios e ideias que sustentam essa forma escolhida de ver e jogar Futebol. Dando exemplos práticos, se é eleita e trabalhada uma organização defensiva sustentada por princípios colectivos e não individuais, como será exemplo a Defesa Zona, onde a solidariedade e o respeito pela equipa enquanto um todo tem de imperar, será então, nesse contexto prático muito mais fácil e coerente ao líder, exigir um pensamento colectivo em detrimento de um individual em todos os aspectos que envolvam a equipa. O autor (Amieiro, 2004) explica que “no fundo, ao manifestar-se, a «zona» expressa:

  • Um «padrão defensivo colectivo»;
  • Complexo, é verdade;
  • Mas também dinâmico e adaptativo;
  • Compacto, homogéneo e solidário.

Serão estas «propriedades», emergentes da coordenação colectiva, a dar verdadeira coesão defensiva à equipa. Esta forma de organização defensiva revela-se, como tal, não só a mais eficaz defensivamente, mas também a que, de longe, melhor responde à «inteireza inquebrantável do jogo». Revela-se, assim, uma necessidade face à «inteireza inquebrantável» que o «jogar» deve manifestar. Não é de estranhar, portanto, que este seja o «padrão defensivo» das equipas de top”. O treinador alemão (Klopp, 2013), a propósito da influência de Wolfgang Frank, que treinou Klopp no Mainz e era um admirador dos métodos de Arrigo Sacchi no Milan descreve que então “apesar de estarmos II Divisão, fomos o primeiro clube alemão a jogar em 4x4x2 sem libero. Vimos um vídeo muito chato, mais de 500 vezes, com o Sacchi a treinar a defesa, sem bola, com o Maldini, Baresi e Albertini. Pensávamos que se os outros fossem melhores tínhamos de perder. Depois aprendemos que tudo é possível, podemos bater os melhores usando táticas“.

(…)

“O carácter não é um dom, é uma vitória.”

Ivor Griffith citado por (Cubeiro, et al., 2010)

Valores humanos – Capítulo VI – Que valores? [Subscrição Anual]

Publicamos a continuação do tema Valores humanos, e o seu sexto capítulo – “Que valores?“. Desta vez, procuramos, de uma forma geral, compreender que valores devem guiar o jogador e a equipa. Em futuras publicações, iremos aprofundar cada um dos valores que defendemos como fundamentais. Na nossa opinião, não só no desporto, como em todas as dimensões da nossa vida.

O tema Valores Humanos encontra-se enquadrado em:

Por outro lado este tema será constituído pelos seguintes captítulos:

  1. Os alicerces do homem… e consequentemente do seu desempenho
  2. Uma sociedade em mudança
  3. Treinador e… educador
  4. O “jogar” expõe e cultiva valores
  5. Priorizar os (bons) valores humanos
  6. Que valores?
  7. A transmissão de valores

Deixamos um excerto do sexto capítulo publicado, “Que valores?“.

“Um dos valores que ensinamos é que temos de ter espírito de superação. Muitos madridistas choraram ontem, mas hoje levantaram-se e é essa a grandeza.”

(Butragueño, 2004) citado por (Lemos, 2005)

(…)

O autor (Rosado) descreve que “existe um grande consenso em torno de valores sociais e morais tais como honestidade, justiça, cuidado, consideração e respeito pelos outros”. Na obra institucional, publicada por (Rosa, 2014) dedicada à Ética no Desporto, o autor identifica “os seguintes princípios como estruturantes dos valores do desporto:

  • Performance e realização: o desempenho deve ser sempre associado ao esforço utilizado para a concretização dos objetivos.
  • Cumprimento de Regras: o desempenho é meritório se efetuado no cumprimento das regras.
  • Igualdade de oportunidades: todos sem exceção têm acesso à prática desportiva, usufruindo nesta dos mesmos direitos e dos mesmos deveres. As condições de prática (e competição) devem também ser as mesmas para os diferentes praticantes, não devendo haver benefício prévio de uns sobre os outros.
  • Respeito: necessidade de manifestação de tolerância e aceitação em relação a todos os envolvidos no desporto e fora dele.
  • Saúde: a prática desportiva e os comportamentos a ela associados nunca devem colocar em causa a saúde e o bem-estar dos praticantes e seus companheiros/adversários.
  • Satisfação pelo esforço: desenvolvimento de habilidades
  • físicas e mentais através do permanente desafio a si próprio e aos outros.
  • Fair-play: desenvolvimento do fair-play nas diferentes dimensões da vida através da aprendizagem deste no contexto desportivo.
  • Respeito pelos outros: desenvolvimento da tolerância relativamente à diferença e à diversidade.
  • Busca pela excelência: desenvolvimento de cultura de excelência associada ao bem-fazer.
  • Equilíbrio entre corpo, mente e espírito: promoção de competências intelectuais e éticas através do desenvolvimento da literacia motora.”

(…)

O autor (Neto, 2012) sustenta que “a prática desportiva, que se define, primeiro que tudo, pela combinação entre a dimensão genuinamente lúdica e a dimensão agonística, isto é, a componente intersubjectiva no âmbito da qual duas vontades se confrontam em busca da vitória (Manuel Sérgio, 2001), constitui, por via disso e pelo facto de promover, acessória mas significativamente, o respeito pelas normas, a solidariedade, a festa e o convívio humano, perfila-se como instrumento privilegiado de socialização e de recreação (no duplo sentido: recreio e reestruturação interior)”. Desta forma, podemos então compreender os valores de cada pessoa como o seu carácter”. Também (Lemos, 2005) salienta que “segundo Sá, são três os principais valores fomentados ao longo do processo de formação: “o jogador tem de possuir espírito colectivo muito forte disponibilizando-se para as tarefas que o treinador lhe pede e que lhe solicite; que seja leal, que tenha espírito desportivo; e, que tenha uma grande capacidade de superação“.

(…)