O jogo como ciência, e as crianças como cientistas

Se atendermos à definição de ciência no “sentido restrito”, a qual “refere-se ao sistema de adquirir conhecimento baseado no método científico bem como ao corpo organizado de conhecimento conseguido através de tais pesquisas”, expresso na (Wikipédia, 2017), então a frase que intitula o artigo deve ler-se no sentido figurado. Isto claro, se também entendermos o método científico pela visão clássica de Descartes e Newton. Obviamente que o futebol tem uma margem reduzida de pesquisa em laboratório e de comprovação teórica através destes pressupostos. Esse foi um dos erros que o pensamento analítico e mecanicista introduziu no jogo, no seu treino e na sua liderança, concretizado por exemplo em ideias de jogo que privilegiam a resolução individual, na Periodização Física, na excessiva importância dada à estatística, em lideranças que separavam a equipa em partes, dando mais importância a determinados elementos entendidos como mais valiosos, em detrimento de outros.

No entanto, segundo a mesma fonte, a ciência (do latim scientia, traduzido por “conhecimento”) refere-se a qualquer conhecimento ou prática sistemáticos“. Assim, nesta interpretação mais lata, pode surgir o futebol, pelo conhecimento que emerge da prática sistemática dos seus intervenientes. Neste enquadramento, e na perspectiva técnica, o treinador português (Jesus, 2015), explica que criou e desenvolveu uma metodologia com a sua equipa técnica ao longo dos anos que treinou. Jorge Jesus ressalva que não sendo uma ciência exacta”, criaram “uma ideia, uma ideia de treino, uma ideia de jogo, trouxemos muitas coisas novas para o Futebol”, e remata “o Futebol tem ciência, e ela começa no treino”.

“As pessoas riram-se muito quando Jesus disse que tinha inventado uma ciência, fartaram-se de rir disso, e é uma estupidez porque uma ciência é um corpo organizado de conhecimentos, e portanto o que o Jorge Jesus fez foi isso de facto. Ele tem, provavelmente até tomou apontamentos e armazenou, um conjunto sistematizado de conhecimentos sobre uma determinada matéria e que põe em prática com óptimos resultados, coisa que boa parte dos cientistas não se pode gabar.”

Ricardo Araújo Pereira

Na mesma linha de pensamento, Jorge Maciel, acrescenta que treinar tem muito de Ciência, mas não menos de Arte, e é a articulação bem conseguida entre estes dois planos que permite o sucesso”. O mesmo autor refere ainda que é uma ciência que se encontra “na esteira do pensamento sistémico e como tal coloca a ênfase nas relações, na qualidade e nos padrões, sem refutar na sua evolução a intuição, mostrando assim que tal como treino, também a Ciência de qualidade requer Arte“. Manuel Sérgio defende ainda que “o futebol “é uma ciência, tem de ser estudado e praticado como uma ciência humana, porque são homens e cada ciência humana estuda o homem à sua maneira“.

“Passado meio-século, a nossa visão da natureza mudou radicalmente. Onde a ciência clássica falava de equilíbrio e de estabilidade, vemos agora flutuações, instabilidades, processos evolutivos. E isto a todos os níveis, desde a cosmologia à biologia, passando pela química.”

Prefácio do livro de Prigogine e Dilip Kondepudi, editado pelo Instituto Piaget, Termodinâmica – dos motores térmicos às Estruturas Dissipativas, citado por (Sérgio, 2016)

Se mudarmos ligeiramente a perspectiva, podemos ir mais longe e interrogarmo-nos se o jogador não poderá assumir o papel do tradicional investigador e o jogo, o seu laboratório. Porque no fundo é, em primeiro lugar, ele que experimenta, ele que erra, ele que aprende, ele que evolui, ele que constrói um corpo de conhecimento, mesmo que este surja predominantemente no domínio do saber fazer. E desta forma também nos interrogamos se, assim, o jogo também não se torna numa ciência que se desenvolve nos pés, ou melhor, na cabeça de quem o joga.

Este pensamento conduz-nos a outro problema no contexto do Futebol de Formação. O papel do adulto enquanto condicionador das experiências que a criança obtém através do jogo. Isto, claro, partindo do pressuposto que o treino para o adulto é jogo. Cada vez vai ganhando mais força a ideia da importância do Futebol de Rua, das suas características singulares, e da prática sistemática que este promove. Da forma como esse contexto, desprovido de adultos, liberto da pressão que o erro significa para os mesmos, leva a criança a ser o “cientista”, experimentando, aprendendo o jogo com este como o professor, proporcionando-lhe evolução, fazendo emergir o talento e até conhecimento. Em conversa com um amigo e treinador de futebol de formação, ele relatava que “engraçado foi os miúdos dizerem que o melhor jogador do jogo de sub-14 era o… mais pequeno da equipa deles!!! Até eles sabem que o tamanho conta pouco quando a qualidade é muita!” Portanto, é constantemente o adulto, baseando-se em lugares comuns, em experiências castradoras, no pensamento analítico que o domina fruto do paradigma educativo e social vigente em que cresceu, que acaba por deseducar futebolisticamente a criança, castrando-lhe pelo caminho, a criatividade e o pensamento divergenteComo esse treinador referia… “o problema das crianças é… tornarem-se adultos”.

“Antigamente, sobravam tempo, espaço e oportunidades para as crianças jogarem longe das regras dos adultos. Nesses espaços não havia limite de toques ou caminhos proibidos. Muito menos caminhos obrigatórios.”

Paulo Sousa citado por (Amieiro, 2009)

Exercício gratuito

Publicamos um novo exercício gratuito: “Perda em construção na primeira linha“.

O exercício que trazemos reforça a importância da articulação de sentido, desta vez predominantemente no Modelo de Jogo Idealizado, mais precisamente na articulação entre os diferentes momentos do jogo. Segundo (Frade, 1998), citado por (Amieiro, 2009), a propósito da articulação de sentido entre exercícios, “os «exercícios», em si mesmos, têm pouco valor. Têm unicamente informação potencial. A ênfase que eu coloco nisto e naquilo enquanto o «exercício» acontece, o modo como eu ligo isto com aquilo e a articulação entre «exercícios», são os aspectos mais importantes e os mais difíceis de dominar. E dependem exclusivamente do treinador. Por isso é que eu digo que os «exercícios» nunca são novos. Têm de estar sempre relacionados uns com os outros”.

Sendo que neste caso, o próprio grande objectivo deste exercício é preparar a equipa para um momento perigoso de perda da bola, quando a mesma está no sub-momento de construção, pela sua primeira linha. Independentemente de ninguém querer a perda da bola nesta situação, a consciência que mais tarde ou mais cedo isso irá suceder será sintoma de inteligência e a antecipação de um futuro inevitável. Conter, recuperar a organização possível e saber defender o contra-ataque tornam-se aqui decisivos, portanto, alvo necessário do treino.

Nesta lógica estamos perante um reduzir sem empobrecer, porque, segundo Edgar Morin, “o todo está nas partes que estão no todo”. Ainda (Frade, 2012) explica que reduzir sem empobrecer, é estar “consciente de que o que está a suceder com cada jogador é aquilo que em termos de intermitência sucede na sua função durante a partida, quando treinamos em espaços reduzidos, por exemplo”. Também de acordo com (Batista, 2006), “aos exercícios de treino está implícito, um carácter fractal, porque na perspectiva evidenciada anteriormente deverão contemplar a singularidade do todo. Através dele treina-se um princípio ou sub-princípio do Modelo de jogo, ou seja, os padrões fractais do comportamento (Oliveira, 2004; Frade, 2004)”. Ainda Pedro Baptista conclui que “no processo de treino podemos e devemos treinar “pedacinhos” do nosso jogo, isto é, treinar este ou aquele princípio de jogo deste ou daquele momento, mas cada pedacinho deve ter a matriz do todo, subentenda-se todo, como o “jogar” que queremos para a nossa equipa, no fundo devemos respeitar o todo que está na(s) parte (s) que está (ão) no todo (Frade, 2004)”.

“Não atender à fractalidade do Jogo e de um «jogar», torna-se uma fatalidade”.

(Maciel, 2008)

Intensidade no Futebol V

“Jogo de grande Intensidade… Não há pausas! Futebol rijinho… De grande intensidade. A bola até faz faísca.” Imbuída num êxtase incompreensível para quem gosta deste jogo, este foi mais um comentário de um jornalista, proferido nos últimos dias durante a transmissão de um jogo do campeonato brasileiro.

Porém, parece surgir entre os jornalistas e analistas, uma visão diferente da intensidade… no futebol. Consequentemente, ou consequência de…, surge também um entendimento mais evoluído e complexo do jogo. Assim provam que, à semelhança de jogadores e treinadores, esta classe profissional também pode evoluir o seu conhecimento e tornar o fenómeno globalmente melhor.

“Falta Intensidade Táctica. Poderei chamar de Intensidade Táctica, a razão entre o aplicar da minha forma de jogar e o tempo de jogo. Quanto maior for o tempo de jogo que a minha equipa conseguir aplicar a sua forma de jogar, reduzindo a do adversário, é tanto maior a sua Intensidade Táctica.

(…)

Então, é preciso treinar a/em concentração. Como? Treinando com exercícios de complexidade elevada, que exijam concentração, “obrigando” a equipa a estar concertada durante os 90 minutos, cumprindo as missões no jogo, mantendo uma Intensidade Táctica elevada.”

Rui Sá Lemos, 2007, em carta à redacção do website MaisFutebol, portanto há… 10 anos.

“Não se remata de bico!”

Não se remata de bico!” ou “Não se passa de trivela!” eram, e ainda são, exemplos de frases ouvidas no futebol de “formação”. Da bancada, e mais grave, da boca de alguns treinadores. Mais uma expressão do pensamento redutor, que em determinado momento da evolução do jogo quis passar a mensagem que apenas algumas acções individuais seriam úteis, conduziam o jogo para um mecanicismo estéril. Acções que saíam “fora da caixa” seriam condenadas e catalogadas como excessos e traços de jogadores inconsequentes. Assim, para aqueles que ambicionavam chegar ao futebol profissional e tinham essa oportunidade, ou desenvolviam estes recursos durante o seu percurso no jogo informal ou estavam condenados a serem os “operários” da equipa.

Portanto, em auto-descoberta tal como sucedia na rua, o jogo ensinava-nos outra coisa. Que qualquer acção podia ser útil e tudo dependia da sua adequação ao contexto e à situação. Se Romário não tivesse experimentado, sentido o jogo e criado o seu jogar na liberdade que a rua lhe permitia, provavelmente não tinha desenvolvido o seu remate tão característico e eficaz.

“A bola rolava expontaneamente pelas ruas da Vila da Penha, em campos improvisados ou nas «quadras» de futebol de sala. Cada porta era uma baliza, cada duas pedras marcavam o lugar de outra. Bolas improvisadas, joelhos rasgados, faltas na escola, a infância de Romário foi igual à de tantos rapazes brasileiros, que nasceram antes ou depois dele.”

(João Pedro Silveira, 2011)

“Não tem padrão

a precisão,

o exacto

depende de cada acto,

na semelhança da configuração

a dimensão técnica está no padrão,

configurando a variabilidade

que como execução

só o exacto da precisão

acerta com complexidade.”

(Frade, 2014)

Um copo meio vazio, ou demasiado cheio?

“Desmontar os absurdos que condicionam o nosso pensamento e nos acompanham, disfarçados de tópicos, preconceitos, ideais pré-concebidas, clichés, falsos paradigmas, lugares comuns e demais formas de pensamento não é tarefa fácil.”

Mateo, J; y Valle J. citados por (Moreno, 2009)

Já tocámos no assunto no passado, num artigo em que abordámos a fraca formação que o dirigente desportivo neste momento apresenta, tendo em conta o poder de decisão que carrega e subjacente responsabilidade. Porém, não é o único agente desportivo, que de uma forma geral, se apresenta nesta situação. No Futebol de Formação os pais, tendo em conta que a sua grande maioria são de áreas profissionais muito distintas, são com naturalidade outro exemplo. No Futebol Profissional, os agentes desportivos, juntam-se ao grupo. Salvaguardamos, claro, vários exemplos em todas estas funções, que começam a caminhar noutro sentido.

Colocamos ainda, num patamar idêntico ao dos dirigentes, pelo poder que manifestam e que pode até influenciar o desempenho das equipas, muitos jornalistas e “comentadores” desportivos. Profissionais, que para nós, deveriam fazer da investigação um dos seus grandes bastiões, apresentam tantas vezes um desconhecimento gritante do jogo, do treino e até da própria liderança. O argumento de apenas se deverem preocupar com o que a maioria dos espectadores procuram no jogo é deveras redutor. Na nossa opinião o jornalista e o “comentador” desportivo são, tal como os jogadores, treinadores, árbitros, etc., agentes que têm a oportunidade de mudar o jogo e a sua envolvência para melhor. Assim, desperdiçar essa condição é menosprezar a sua própria actividade e importância.

A situação já foi difundida amplamente, mas não podemos perder a oportunidade de elogiar treinadores como Luís Castro, que perante um contexto de tanta adversidade às ideias de qualidade (para nós aquelas que aproximam as equipas do sucesso), resistem, mantém-se corajosos e confiantes no seu pensamento. Luís Castro explicou claramente, a sua forma de pensar o jogo, justificando-a como forma de procurar garantir o tal trinómio estética-eficácia-eficiência, procurando portanto colocar a sua equipa mais perto do controlo do jogo e da vitória. O “pragmatismo” específico do Futebol é isto. Hoje insiste-se num pragmatismo abstracto, que ninguém sabe explicar exactamente o que é, a não ser no “ganhar”, e a verdade é que este pensamento também se estende a muitos outros treinadores. Mas nesta situação, a incompreensão do jornalista pelo discurso de Luís Castro é confrangedora.

Mas perante este cenário, se constatamos um baixo nível de conhecimento, transversal à maioria dos agentes desportivos, não estaremos então a ver a questão pela perspectiva errada?

Também. Porque por outro lado, é evidente a enorme a evolução que o jogo, o treino e a liderança das equipas registaram, resultado da qualidade que muitos treinadores portugueses hoje apresentam, colocando-os no top mundial. Simultaneamente, em todos os níveis do jogo muitos outros crescem, nas ideias e na experiência e preparam-se para mais uma vaga, quem sabe ainda melhor. Facto, valorizado ainda, pela menor dimensão do país, no número de praticantes e de equipas, comparativamente com muitos outros. Também não é assunto novo neste espaço, pois ainda noutro artigo recente, trazíamos o professor Silveira Ramos elogiando o treinador português, pelo seu conhecimento do jogo e pensamento estratégico. Hoje, em vários pontos do mundo o treinador português é visto como sinónimo de qualidade. Constitui-se como mais um “produto” português de enorme sucesso.

Perante isto, provavelmente foram os treinadores que evoluíram tremendamente, o que não teve paralelo nos outros agentes desportivos. Ou seja, não são os outros agentes que estão muito atrás, até porque o seu nível de conhecimento é idêntico noutros países, são é vários os treinadores portugueses que estão muito à frente…

“O treinador não é um resultado, mas é uma competência que tem de ser avaliada.”

(Lobo, 2014)

“Os treinadores não são bons porque ganham. Antes, ganham porque são bons.”

(Bouças, 2010)

Exercício gratuito

Publicamos mais um exercício gratuito: Saída de jogo do Guarda-Redes em “quem perde sai”

Desta vez trazemos um exercício cujo objectivo principal é o sub-momento de construção do momento ofensivo do jogo, especificamente a Saída de jogo do Guarda-Redes, a Construção pela primeira linha e a penetração da primeira linha de pressão adversária. Contudo, tem também uma preocupação com a articulação de sentido para o momento da Transição Defensiva e defesa da baliza após a perda da bola. O exercício aproxima-se de uma fase de consolidação, uma vez que tem um carácter competitivo muito acentuado, o que pode desfocalizar a aquisição destes comportamentos numa primeira fase de trabalho.

O exercício garante propensão aos comportamentos identificados, porém não condiciona para uma forma de jogar específica e sua consequente estrutura. É assim aberto ao modelo idealizado por cada treinador, permitindo diferentes formas de saída do Guarda-Redes, através de passe curto e médio, garantindo também espaço para diferentes ideias para ultrapassar a primeira linha de pressão e nesse seguimento chegar ao interior do bloco adversário, neste caso, a finalização nas balizas sobre o meio-campo. Por outro lado, no contra-exercício, a equipa que inicia o exercício a defender, pode, por sua iniciativa ou por determinação estratégica do treinador, posicionar-se num bloco médio junto ao meio-campo ou num bloco mais alto procurando desde logo condicionar o primeiro passe do Guarda-Redes. Desta forma, o exercício pode ser invertido nos seus objectivos, caso a preocupação seja o momento defensivo do jogo e o condicionamento da construção adversária, caso a mesma seja curta.

De acordo com (Manna, 2009), “sair jogando é dar prioridade ao passe desde o início da construção de jogo. O pontapé de baliza ou a participação dos defesas na construção ofensiva torna-se fundamental. Uma perda de bola na zona dos defesas centrais pode ser terrível. Todos evitam realizar o que Pep dá prioridade. Riscos que permitem, facilitar o ciclo de jogo, no qual Pep irá sempre tentar construir desde a sua baliza”. Guardiola sublinha que saindo a jogar bem, podemos chegar ao alvo jogando bem, ao contrário de um mau início de construção que torna tudo mais difícil e aleatório. E lembra que se o primeiro passe é bom, tudo é mais fácil a seguir.

“É de estética vazia

e o Futebol assim jaz…

Jogo directo nada cria

correm, correm, mas nenhum sabe o que faz.”

(Frade, 2014)

Francisco Silveira Ramos

Para os menos conhecedores do futebol português e da evolução metodológica vivenciada, o professor Francisco Silveira Ramos é sem dúvida uma figura incontornável do jogo. Durante os anos 90 e princípio do século XXI, momento em que o treino era determinado pela dimensão física, no qual quem pensava “fora da caixa” era hostilizado pelo pensamento vigente, Silveira Ramos foi um dos poucos, que com coragem, assumiu que a preocupação central do treino deveria ser o cérebro e a decisão táctica. Defendendo a “integração dos factores do rendimento”, a sua visão diferia de forma abissal do “treino integrado” muito típico no Futebol Espanhol, mas também com expressões no Futebol Português. Como sustentámos no tema de Saber Sobre o Saber Treinar, “O treino integrado e sintético” tinha na mesma como preocupação central a dimensão física, porém aqui camuflada por exercícios com bola e acções do jogo. Silveira Ramos não só anteviu outro rumo que hoje se concretiza, como formou muitos técnicos em cursos de treinadores e licenciaturas, e ainda ajudou a crescer, nas selecções jovens portuguesas alguns dos maiores talentos do futebol português. Finalmente, revelou ainda grandes preocupações com o Futebol de Formação e o desaparecimento do Futebol de Rua.

Assumimos que o professor Francisco Silveira Ramos foi decisivo na forma como hoje vemos o jogo e o treino e dos que mais nos inspiraram a criar este espaço. Apesar do facto passar despercebido à maioria da comunicação social, Portugal pode-se orgulhar em contar com alguns dos maiores pensadores deste jogo, que contribuíram para a tal ruptura de conhecimento que já descrevemos. E sem dúvida que Silveira Ramos é um deles. Deixamos várias ideias do professor num recente programa televisivo, que dado o conhecimento dos intervenientes e das ideias abordadas, fugiu à norma do panorama televisivo português.

O Treinador Português:

A dimensão estratégica:

O treinador de “formação”:

O jogo mecânico e a música:

A crescente riqueza comportamental de cada função e a repercursão na dimensão física:

A era das dinâmicas:

Jogo curto e apoiado:

Criatividade defensiva:

Individualização do treino:

“Cabe-nos encontrar as metodologias que permitam que o processo de treino se adapte a essa realidade, adaptando os praticantes às exigências da competição.

Francisco Silveira Ramos, 2003

Intensidade no Futebol IV

Tal é profundidade do pensamento analítico na nossa cultura que é extremamente difícil a compreensão do paradigma da complexidade. A intensidade específica do jogo de Futebol é um bom exemplo, e como tal temos recorrido a este tema com insistência.

Hoje trazemos uma acção individual ofensiva, mais concretamente um drible. Não analisando a decisão de o efectuar, olhamos para acção concreta que acabou por resultar em sucesso, uma vez que provocou uma falta adversária numa situação de 1×2 e posteriormente de 1×3. Na perspectiva tradicional, ser intenso aqui significava acelerar, ininterruptamente, a execução e o deslocamento. A acção que que se mostrou eficaz perante uma situação desfavorável, para além de mudanças de direcção, implicou também temporizar, acelerar, temporizar, e novamente acelerar. No fundo na perspectiva complexa da intensidade, a específica do jogo de futebol, fazer bem, no tempo certo.

O treino integrado e sintético

Sub-tema de História do treino de Futebol, situado entre Periodização Física no Futebol, e a A ruptura epistemológica, publicamos o O treino integrado e sintético. Referimos que apesar da adição de algumas citações mais recentes, grande parte destes textos sobre a história do treino do futebol foram redigidos há alguns anos. No entanto, na nossa opinião, não só continuam actuais, como trata-se de uma evolução que se estende muito além do futebol, e que ainda não foi compreendida por muitas pessoas.

Estrutura actual de Saber Sobre o Saber Treinar.

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Exercício gratuito

Publicamos mais um exercício gratuito: Construção em bloco médio e defesa de duas balizas

Trata-se de um exercício que procura dar propensão à organização ofensiva, especificamente num momento de construção mais perto do meio-campo adversário e perante uma equipa que se posiciona, no seu momento defensivo, num espaço médio ou baixo. A propensão ao objectivo é garantida não só pela forma como o exercício é reiniciado, como também pela ausência de pontapés de baliza ou cantos. Anular os lançamentos laterais garantirá uma ainda maior propensão. Por outro lado, ter que defender duas balizas sem Guarda-Redes, isto na progressão máxima do exercício, conduzirá a que a equipa que inicia o exercício em construção, dê maior segurança à sua posse e circulação de bola, de forma a evitar a sua perda e difícil defesa das duas balizas. Porém, quando isso suceder, a equipa terá que reagir colectivamente, com qualidade e determinação à perda da bola, evitando uma imediata finalização do adversário.

Deste modo, ao articular no objectivo dois momentos de jogo diferentes, o exercício cumpre o princípio metodológico da Periodização Táctica – a Articulação de Sentido.

Segundo (Maciel, 2011), a Articulação de Sentido, “trata-se de um conceito que vai precisamente ao encontro do cerne do pensamento sistémico. A ênfase no pensamento sistémico é colocada nas relações, o segredo está nas conexões. Ou seja, o sucesso do processo de treino tem a ver com isto, depende muito do modo como eu articulo as coisas, isto é, como as relaciono e partir daí teço a minha teia dinâmica. A Articulação de Sentido tem precisamente isto subjacente e tem a ver com a conexão coerente que se faz entre as partes implicadas no processo, e vale a nível da operacionalização dos Princípios Metodológicos e a nível da manifestação e vivenciação dos princípios de jogo. Portanto, a matriz conceptual para manifestar fluidez na sua concretização deve revelar internamente uma determinada articulação de sentido, que sendo coerente permite o emergir de uma realidade consistente, um Sentido, o nosso jogar, ou o sentido que queremos dar ao nosso jogar.”

Exercício gratuito

Publicamos mais um exercício gratuito: Duas situações de criação sobre linhas de finalização.

Desta vez trazemos um exercício colectivo, no nosso entender, principalmente direccionado para o sub-momento ofensivo de criação e para o sub-momento da transição defensiva: a reacção à perda da bola. No entanto, progredindo o exercício e solicitando que mais defensores joguem no seu meio-campo em organização defensiva, o exercício passará a dar foco também a construção. Por outro lado, com uma equipa técnica alargada, numa visão mais complexa do trabalho, poderemos também dar foco ao “contra-exercício” e portanto aos outros momentos: a organização defensiva e transição ofensiva.

Na forma como apresentamos cada exercício no website, não publicamos a classificação que atribuímos aos mesmos. Esta classificação tem para nós em conta critérios que consideramos decisivos, como são a aproximação que o exercício garante à realidade competitiva e a propensão que dá aos objectivos propostos. Isto para dizer que este exercício acaba por não garantir uma grande aproximação no momento de organização ofensiva, uma vez que lhe estão retirados alguns momentos de criação e a finalização. Um elemento fundamental do jogo não está presente: a baliza. Contudo, se é pretendido um foco maior e maior propensão a acções de criação antes da grande-área adversária, pode-se constituir como parte de um caminho. Simultaneamente permite espaço para o trabalho específico dos Guarda-Redes nas grandes-áreas, ou para outras estações de exercícios, como por exemplo de finalização de cruzamentos ou de marcação de pontapés de canto. Assim, uma vez mais emerge como decisivo no trabalho a determinação de um rumo… para nós o Modelo de Jogo Idealizado e os objectivos traçados para cada sessão. Depois, o conhecimento do jogo, a liderança, a criatividade do trabalho, entre outros aspectos, para garantirem uma máxima qualidade.

A ruptura epistemológica

Sub-tema de História do treino de Futebol, e na continuação da Periodização Física no Futebol, publicamos A ruptura epistemológica. Referimos que apesar da adição de algumas citações mais recentes, grande parte destes textos sobre a história do treino do futebol foram redigidos há alguns anos. No entanto, na nossa opinião, continuam actuais, e um tema que não está claro para muitas pessoas.

Estrutura actual de Saber Sobre o Saber Treinar.

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