Qualidade Colectiva

Brasil x Alemanha 2014

Brasil x Alemanha, meia-final do Campeonato do Mundo do Brasil, 2014.

O Brasil x Alemanha foi, provavelmente um dos melhores exemplos da história recente do jogo, que ilustra a importância da qualidade colectiva no Futebol. Deixamos uma parte do capítulo dedicado ao tema, na qual dois autores relativamente desconhecidos do público em geral têm vindo a sublinhar a importância da mesma. Incrível como por outro lado, uma industria que move biliões de pessoas e consequentemente enormes recursos financeiros, tem como muitos dos seus gestores de topo, treinadores que não percebem o mesmo.Segundo (Bouças, 2012), uma ideia que se difundiu durante décadas no Futebol é que “o jogo não mais, são onze jogadores soltos às suas próprias iniciativas individuais. Os carregadores de piano como Jaime Pacheco os designa, a fazer o trabalho árduo, a correr por quatro ou cinco, os dois extremos bem abertos e dribladores, sempre com o intuito de ganhar o 1×1 para cruzar para a área, onde um avançado espera finalmente o seu momento para entrar no jogo. A finalização”. Para (Amado, 2013), “o futebol não é um jogo de individualidades, e que trabalhadores não servem para compensar craques, nem criativos servem para compensar trabalhadores. Cada acção individual só faz sentido colectivamente”. O avançado espanhol Fernando Torres, citado por (Bouças, 2012), reforça esta ideia tacticamente, explicando que no seu caso, jogando a ponta-de-lança da selecção espanhola, “é preciso ter paciência. É complicado jogar. Deves fixar o central, é um papel secundário, porém é o melhor para a equipa. É um luxo jogar nesta selecção. Aqui pode acontecer que te contenhas mais na partida e não faças golos, mas é o melhor para a equipa. Há dias que pensas: “Que partida fiz! Oxalá jogue assim sempre.” E ouves críticas por todos os lados. E no dia em que estás lento, mal e erras, mas marcas dois golos, aplaúdem-te. Aprendi a viver com isto.” O autor remata, descrevendo que “estamos numa era em que perceber o futebol é muito mais complexo que o que na realidade parece. Há onze jogadores, e todos devem ser responsáveis por tudo dentro do campo. Uns dias ganhas notoriedade, noutros parece que o jogo te passa ao lado. Há é que decidir bem a cada instante. Se assim for, a equipa estará sempre mais próxima do sucesso”. Ainda (Amado, 2013), sublinha que “o futebol é um jogo de relações, um jogo em que é melhor não a equipa que tiver os onze melhores especialistas a fazerem o melhor que podem, mas um jogo em que é melhor a equipa em que os onze jogadores se compreendem melhor uns aos outros”. Amado reforça que “a qualidade da equipa mede-se essencialmente pela forma como os onze jogadores se relacionam entre si”. O jogador Belga Jan Vertonghen, citado por (Bouças, 2014), testemunha no mesmo sentido após o confronto com o Benfica de Jorge Jesus em 2014 para a Liga Europa, descrevendo: “tentámos reajustar mas o posicionamento deles era melhor, jogavam uns para os outros. O Benfica foi melhor em todos os setores e dói perceber isso. Individualmente temos tanta qualidade quanto o Benfica mas não como equipa”.

“Ser um atleta excepcional, ou até genial, é sem dúvida distinguir-se, pelos primores técnicos, pela inteligência táctica e pelo alto rendimento, em relação aos demais colegas de equipa, mas é também estar essencialmente em relação com todos eles. Fora desta dialéctica de distinção e integração, o atleta excepcional não se compreende. A autonomia do singular não constitui um dado absoluto, dado que assim se lançaria ao esquecimento a plurideterminação do real”.

(Manuel Sérgio, 1991) citado por (Neto, 2012)